O que é a intolerância, o radicalismo? É antes de tudo a indisposição ao
diálogo para ouvir, aceitar e saber sobre o pensamento distinto do
outro. Esse clima pegou o Brasil de jeito. Colocou a Nação em módulo
indolente e refém, sem direito ao contraditório, ao questionamento das
opções. Tomou conta com tal virulência que difícil hoje é aplacar os
ânimos. Resgatar a convergência. Pacificar o debate. Ninguém se arrisca a
contrapor interlocutores, temendo ser tachado de corrompido visceral,
racista incorrigível, homofóbico enrustido ou coisa pior. De onde vem
tamanha resistência ao divergente? Existe forma e raiz para tal
resposta. O “nós contra eles”, que soube se impregnar no preconceito
rançoso do confronto – pregado às últimas consequências pelo Lulopetismo
-, impôs um modelo tão falacioso como oportunista.
Quem não se lembra
das ruas tomadas por black blocs a depredar patrimônio e a incitar a
baderna para fazer valer a tese de que o PT era injustiçado e precisava
se manter no poder? Quem apagou da memória declarações insolentes, como
as dos senadores Gleisi Hoffmann e Lindberg Farias, ameaçando incendiar o
País se o demiurgo líder Lula fosse preso? [ambos punidos pelo eleitorado; Lindbergh chutado da vida pública, agora um derrotado, um ex-senador arruaceiro e a Gleisi se acovardou e com o gesto covarde de não tentar a reeleição e sim ser deputada, conseguiu uma sobrevida sendo eleita deputada.
Tem contas a acertar com a Justiça e terminará presa ou no ostracismo.] Quem não levou a sério
quando o próprio criminoso, mentor e articulador da pilhagem bilionária
aos cofres públicos, arvorou-se o papel de Deus, comparável a Jesus
Cristo, e se disse transmutado em “uma ideia” a ser disseminada por
milhões de lulinhas País afora, estimulando a insubordinação à Lei? Há
algo mais fascista e totalitário que isso? [agora a 'ideia' está encarcerada, enjaulada, desprezada pelo seu próprio poste-laranja e ex-capacho, que o expulsou de sua campanha - Haddad decidiu que sendo inevitável sua derrota não quer um criminoso controlando-o, criminoso por criminoso, Haddad tem seus 32 processos a a responder.] Inexistem nesse ambiente as
condições mínimas para aproximar os dois polos gestados na rixa. O
tribalismo político está em voga.
Hoje a maioria dos brasileiros, mesmo a
contragosto, virou Lula ou anti-Lula. Não tem opção. Ou se alinha com
ele ou contra ele. Não interessa se do outro lado do ringue está um
radical, um mero pau-mandado ou um pacífico coroinha de paróquia. A
polarização pressupõe apenas o antagonismo extremo, as faces de uma
mesma e venenosa moeda com o espectro inquisidor do capo petista. Seu
oponente, no caso o capitão reformado de epítetos tão repulsivos quanto,
terá a projeção, intenção e estatura necessárias para se contrapor à
ameaça corrosiva do Lulopetismo? A dúvida é simples assim. Vista por
esse prisma a eleição deu verniz institucional a uma guerra. Não
ideológica apenas. De princípios, de modelos para o futuro, de ação e
reação. A hostilidade é o amálgama que sedimenta as candidaturas de
Bolsonaro e Haddad neste segundo turno. [Bolsonaro não tentou matar ninguém, o que inclui seu adversário.] É inútil e improdutivo se
colocar em cima do muro, pois um dos dois sairá presidente. Alguém
escolherá pelos indecisos e, em boa medida, tal escolha pode e deve
aborrecê-los. Os brasileiros são o esteio da democracia nativa.
Enalteceram e reiteraram apoio majoritário a ela até em pesquisa
recente. Muitos ainda, é verdade, incorrem no erro de se deixar levar
pelo teatro dos disfarces que cada candidato costuma usar nessas horas
para angariar votos desgarrados.
O Partido dos Trabalhadores é mestre na
arte da encenação. Recorreu à tática ainda na primeira vitória com o
mantra do “Lulinha paz e Amor”. Repetiu a prática com a Dilma toda pura
distribuindo promessas de luz e combustível baratos e agora dobra a
aposta tirando, como que por encanto, a bandeira vermelha da campanha de
Haddad, que passa a adotar o verde e amarelo e a evitar visitas ao
presidiário Lula na cadeia, para descolar em parte a imagem um do outro.
Até onde esse marketing do engodo é capaz de engabelar novos seguidores
só as urnas dirão. Decerto, a farsa não deveria servir de instrumento
na tentativa de convencimento. Em nenhuma hipótese. Mas o hábito tomou
especialmente o Partido de Lula. Lá, por exemplo, o falso conflito de
classes que rachou o País ganhou musculatura e fez escola. [bom ter presente que a tática de suprimir o vermelho (cor símbolo do 'partido dos trouxas = PT', pode reduzir os votos que Haddad teve no primeiro turno (tem petistas fanáticos pelo partido, pelas suas características originais e que não aceitarão votar no candidato do partido sem a bandeira vermelha, que foi escondida para dar à organização criminosa, pelos fanáticos ainda chamada PT, a aparência de ser BOLSONARISTA e que optarão por votar em branco ou anular o sufrágio.]
A modelagem
de defesa petista das classes menos favorecidas representou na prática a
submissão dos necessitados, sem resgate efetivo de sua condição,
levando-os a vivenciar a seguir a falta de perspectiva, o desemprego em
larga escala e, em muitos casos, a fome. O embuste acabou por gerar
revolta. Enquanto a agremiação aparelhava o Estado e saqueava seus
cofres resolveu colocar a culpa na oposição para evitar o rebosteio de
um projeto de poder. Muitos dos lesados foram agora à forra e o conflito
acabou armado. Cabe as agremiações não se comportarem mais como forças
messiânicas, tal qual seitas, que saem atrás de missionários alienados
para espalhar a mensagem do caos se o inimigo levar a contenda. Seria
desejável que em suas cartilhas a lição da harmonia, e não a da divisão
sectária, estivesse presente como princípio basilar a reger seus
seguidores. Só assim haverá o retorno da paz política.
Carlos José Marques, é diretor editorial da Editora Três
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