O mundo político foi surpreendido com os resultados eleitorais do
último dia 7. Acreditavam que a velha política ainda continuaria dando
as cartas. Que os conciliábulos definiriam a vontade do eleitor, como se
o ato de escolha fosse meramente formal, ou seja, o cidadão iria
simplesmente referendar o que os caciques já tinham decidido. Contudo, o
desfecho foi outro. O cidadão tomou nas suas mãos o destino do País e
determinou uma mudança radical na política nacional. As grandes
manifestações de 2015 e 2016 — as maiores da História do Brasil — não
ficaram reduzidas apenas à memória. Foram muito mais que isso. Apontaram
que é possível construir — apesar de todas as limitações do sistema
político — alternativas produzidas pelo sentimento de enfado, de raiva,
indignação, com tudo que está aí, mesmo que restritas. O desafio será a
partir do início do próximo ano transformar a revolta em novas políticas
públicas que consigam, à curto prazo, resultados.
De antemão é possível
prever que não será nada fácil e a possibilidade de uma desilusão é
bastante provável. É patente que o eleitor referendou as ações moralizadoras da Lava
Jato. Boa parte dos políticos envolvidos com os escândalos de corrupção
foram derrotados, especialmente nos estados onde há vida política, ou
seja, onde a sociedade civil é independente, onde o voto é realmente
livre. Nesses locais foi dito de forma clara um sim à Lava Jato e,
principalmente, ao juiz Sérgio Moro. O repúdio dos eleitores não foi
dirigido somente aos políticos corruptos. Não. Foi também direcionado
àqueles que na estrutura jurídica se colocam como obstáculo ao exercício
efetivo da justiça, em especial os tribunais superiores de Brasília.
A velha política não se restringe ao Congresso Nacional ou
ao Palácio do Planalto. Ela atravessa a praça dos Três Poderes e atinge
em cheio o Supremo Tribunal Federal. Os eleitores deixaram isso claro.
Sabem muito bem o que não querem. Mas ainda não têm claro — o que é
absolutamente compreensível — o que querem e como vão construir um novo
Brasil. É um processo, certamente longo. Todavia já teve início. Quem
quiser negá-lo vai ficar pelo caminho. Foi feito o que na linguagem
popular chama-se rapa, uma limpeza ética fantástica. Poucos acreditavam
que seria possível. A maioria dos analistas não detectou porque não está
conectada com o sentimento das ruas. O Brasil mudou — e para melhor.
Marco Antonio Villa, historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura
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