Submetido à crise provocada pelas caneladas virtuais de Carlos Bolsonaro
em Rodrigo Maia, o presidente da República poderia fazer um telefonema para o
presidente da Câmara. Poderia também mandar que seu 'Pitbull', como se refere
ao filho, fizesse a ligação. Mas Jair Bolsonaro não quis fazer nem mandar
fazer. Preferiu se fingir de desentendido. "Queria saber o motivo pelo
qual o Rodrigo Maia está saindo, estou aberto ao diálogo, qual o motivo?",
perguntou o presidente, desde o Chile. "Eu não dei motivo para ele
sair." Fazer um filho, como se sabe, é relativamente fácil. O
comportamento de Bolsonaro revela que difícil mesmo é ser pai.
Mais difícil
ainda é ser presidente tendo que administrar um filho expansivo. No último
sábado, Rodrigo Maia convidou Jair Bolsonaro para um churrasco íntimo. Iriam à
mesa, além do anfitrião e do inquilino do Planalto, os presidentes do Senado,
Davi Alcolumbre, e do Supremo, Dias Toffoli. Bolsonaro levou a tiracolo 20
ministros. Horas depois, o capitão dedicou-se a malhar no Twitter a "velha
política" e sua fome por cargos. Maia levou o pé atrás.
Nos dias
seguintes, Carlos Bolsonaro pôs-se a alfinetar a articulação de Maia ao redor
da proposta da Previdência. Na quinta-feira, Carlos tomou as dores de Sergio
Moro na queda-de-braço que trava com o presidente da Câmara para colocar seu
pacote anticrime e anticorrupção na pauta. "Por que o presidente da Câmara
anda tão nervoso?", fustigou o 'Zero Dois'.
Rodrigo
Maia retirou-se da articulação pró-reforma. Ao responder ao gesto com uma
interrogação —"Qual o motivo?"—, Bolsonaro exagera na dissimulação e
desrespeita a inteligência alheia. É como se tentasse apagar com gasolina o
fogo que consome a paciência do presidente da Câmara. A tática faz sucesso nas
redes. Mas não rende um mísero voto na Câmara.
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