Enquanto o governo patina no desenvolvimento de projetos e segue desarticulado no Congresso para a aceleração das reformas, a caserna trabalha sem alarde e faz a diferença
Os modos lhanos do hoje ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, encantava a todos em seu entorno, desde o período de transição do governo. Dono de um rosto afável, um sorriso amigável e um semblante sereno, não deixava de cumprimentar um a um ao desembarcar no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo provisório em Brasília. A imagem contrastava com aquela tradicionalmente exibida por milicos de altíssimo coturno dos tempos da ditadura, não raro sisuda, casmurra e irascível. A ponto de seguranças e servidores do local questionarem: “Ele é mesmo um general?”. Heleno é um dos símbolos da nova safra de generais que ascendeu ao poder a partir da eleição de Jair Bolsonaro. Não só devido ao jeitão despojado, aparentemente informal, pela educação quase suíça ou pela gentileza dispensada a quem o rodeia.
ADNILTON FARIAS
O general – atualmente um dos principais conselheiros de Bolsonaro, papel que no passado foi exercido por Golbery do Couto e Silva, influente mentor dos presidentes militares durante décadas – vem de uma linhagem de integrantes das Forças Armadas democráticos por excelência para os quais os projetos destinados a desenvolver o País devem pairar muito acima de ideologias de ocasião. Augusto Heleno não constitui um caso isolado – muito pelo contrário. Outros militares nomeados para cargos estratégicos do governo Bolsonaro se destacam como vozes eloqüentes de sensatez, equilíbrio e serenidade, quando tudo parece degenerar em caos. Hoje, estima-se que aproximadamente 120 membros da caserna integrem o governo no primeiro, segundo e terceiros escalões. Enquanto, em diversas ocasiões, a gestão se perde em discussões estéreis, enfileirando crises e mais crises sem necessidade, os militares trabalham.“Palavra” tem sido o principal trunfo de outro general, o vice-presidente Hamilton Mourão – hoje imbuído de um papel moderador. O seu trabalho de mediar crises no governo tem se destacado tanto que ele chegou a desconfiar que o presidente monitorava seus passos, instalando escutas no gabinete no Planalto. Não à toa. Afinal, Mourão tem feito uma coisa que Bolsonaro não faz: dialogar com os políticos de todas as correntes, procurando adeptos aos projetos do governo, sobretudo para a aprovação da reforma da Previdência. A desenvoltura no trabalho do vice-presidente é fruto da experiência que ele adquiriu em 47 anos de Exército, o que, para ele, tem feito a diferença na atual gestão. “Todos nós (generais) somos administradores. Desde o primeiro momento em que a gente entra na carreira”, disse Mourão à ISTOÉ. “Além disso, a gente trabalha com organização. Por exemplo, os generais já comandaram um batalhão, uma brigada ou uma divisão, com muita gente sob seu comando. Então, obviamente, isso dá uma bagagem grande quando chegamos à administração pública”, complementou.
Fim dos ruídos
Um dos maiores problemas do governo Bolsonaro tem sido exatamente o da falta de comunicação ou ruídos na interlocução tanto com a sociedade civil, como com a classe política. Pois bem. O cenário está mudando graças ao general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência. Depois dos tropeços no começo do governo, Bolsonaro chamou Rêgo Barros para resolver o fosso existente entre ele e a mídia, principalmente. E a comunicação do governo realmente melhorou de forma clara e indiscutível nos últimos meses. O porta-voz é o homem responsável pelos discursos mais moderados do presidente e por corrigir vários embaraços causados pelo próprio mandatário. Mais recentemente, Barros passou a organizar cafés da manhã com jornalistas, o que tem aproximado o presidente da imprensa. Sempre gentil e disposto a colaborar com os jornalistas, o ex-coordenador de Comunicação do Exército tem tentado mostrar à cúpula do governo que é importante saber conviver com as críticas da mídia – parte integrante do jogo democrático.
A melhoria na articulação do governo advém também da figura do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo. Hoje, vários parlamentares admitem que preferem conversar diretamente com Santos Cruz do que dialogar com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, justamente pelo fato de que o general é considerado mais acessível e maleável. Tem sido de responsabilidade de Cruz também a organização da comunicação institucional do governo Bolsonaro, o que tem lhe provocado alguns dissabores. Até porque, tem contrariado alguns interesses. O general, por exemplo, resolveu auditar todos os contratos de propaganda assinados durante o governo do PT, que vigoraram até o governo Michel Temer (MDB). Ele acredita que possam estar eivados de vícios e vantagens indevidas. Ele quer promover a revisão de contratos antes de efetivar novas contratações. Tudo, segundo ele, “para evitar o desperdício de dinheiro público”. Filosofias como essas têm contribuído para mudar paulatinamente o olhar da sociedade sobre os militares: de ditadores brutais para gestores racionais e, acima de tudo, competentes.
No início do governo, o vice-presidente e general Hamilton Mourão pediu ao presidente Jair Bolsonaro que ele tivesse uma função preponderante no governo, para que não ficasse como mera figura decorativa. Ele queria ser uma espécie de supervisor das ações de todos os ministros na Esplanada, mas acabou se sentindo escanteado. Por isso, criou uma agenda própria. Passou a dialogar tanto com políticos da direita, quanto da esquerda, abrindo uma janela de diálogo mais ampla que a do próprio presidente. Assim, Mourão se transformou no contraponto pragmático do governo, ajudando a estreitar relações com parceiros comerciais históricos como os países árabes e a China, regiões com as quais Bolsonaro criou atrito por conta, sobretudo, da tentativa de transferir a embaixada brasileira de Israel para Jerusalém.
O CONSELHEIRO
General Augusto Heleno: ministro do Gabinete de Segurança Institucional
É tido como o principal conselheiro do presidente. Com um estilo calmo e conciliador, vem atuando como bombeiro em várias crises provocadas por integrantes do próprio governo, principalmente a decorrente do episódio das investidas públicas do ideólogo Olavo de Carvalho e dos filhos do presidente contra militares. Lhano no trato, ele é visto por todos como a voz mais ponderada do Palácio do Planalto.
O EMPREITEIRO
O capitão Tarcísio Gomes de Freitas, ministro da Infraestrutura, por exemplo, é o responsável pelas melhores notícias do governo Bolsonaro até o momento. Ex-chefe do setor técnico da Companhia de Engenharia do Brasil na Missão de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, entre 2005 e 2006, Tarcísio comandou o processo de concessão de 12 aeroportos, que gerou R$ 2,3 bilhões para os cofres públicos. A expectativa é que no ano que vem outros 22 venham a ser privatizados, com o ingresso de mais recursos para o caixa do governo.
O processo de concessão de aeroportos resultou em um ágio de aproximadamente 1.000% e a expectativa é que os aeroportos do Recife, João Pessoa, Vitória e Cuiabá comecem a melhorar já nos próximos meses. Além disso, foi ele quem desenvolveu o projeto de concessão da ferrovia Norte-Sul, travado desde os tempos do governo Sarney. Com ela, o governo federal obteve R$ 2,7 bilhões, com um ágio de 100%. Virou o ministro que destrava projetos, mas não só. Foi ele quem, por meio do plano de recuperações de rodovias, prevendo investimentos da ordem de R$ 2 bilhões, motivou o arrefecimento do movimento grevista dos caminhoneiros previsto para o início deste mês. Confiando na palavra do ministro, eles recuaram.
O ARTICULADOR
General Santos Cruz: ministro da Secretaria de Governo
Metódico e direto, o ministro Carlos Alberto Santos Cruz, da Secretaria de Governo, é o grande personagem da articulação política do governo Bolsonaro, avocando para si funções do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Para a tramitação da Reforma da Previdência, por exemplo, Santos Cruz montou um núcleo de acompanhamento político e organizou uma lista de 25 deputados federais que o tem auxiliado na função. Foi ele quem ajudou o PSL a indicar nomes para fazer parte da tropa de choque em defesa do Planalto na Comissão Especial na Câmara. Nos bastidores, é visto como um dos ministros que mais trabalham. Em geral, é o primeiro que chega e último que deixa o Palácio do Planalto. Também tem comandado com pulso firme a comunicação, desautorizando o repasse de verbas publicitárias a blogs, alguns deles alinhados, inclusive, ao bolsonarismo, o que irritou o filho do presidente, o vereador Carlos
O COMUNICADOR
General Rêgo Barros: porta-voz da presidência
Se dependesse exclusivamente do general Otávio Rêgo Barros, porta-voz da presidência, o governo não teria entrado nem em 10% das enrascadas provocadas por erros de comunicação. Graças a ele, houve melhorias no diálogo do presidente com a imprensa a partir do final de janeiro. E é ele o responsável por amenizar confusões provocadas pelo governo. Militar formado na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), tem como especialidade o gerenciamento de crises. Indicado pelo general Augusto Heleno, é considerado dentro do núcleo militar como um dos melhores quadros da caserna. Também é respeitado pela ala ideológica do governo, justamente por não emitir opiniões sem antes combiná-las com o presidente Bolsonaro. Prestigiado, passou a integrar o primeiro-time de conselheiros palacianos. Ultimamente, é ele quem dá a tônica moderada das notas oficiais lidas em nome do presidente da República.
RevistaÉ
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