Brasil regride nas armas, no trânsito, no ambiente, nos costumes, até no bom senso
O presidente Jair Bolsonaro anuncia o fim da “indústria da multa”, mas
pode estar reforçando a “indústria da morte” com a obsessão pelas armas,
o estímulo para converter carros em armas e a sensação de que, ao virar
presidente, está livre para tornar suas convicções pessoais em agenda
de Estado. Os papos com filhos e amigos agora viram MPs, decretos,
projetos de lei. Danem-se especialistas, dados e pesquisas científicas.
Para o presidente da Comissão da Reforma da Previdência, Marcelo Ramos
(PL), ele “não tem noção de prioridade e do que é importante para o
País”. Além de “flexibilizar” a posse e o porte de armas, Bolsonaro
levou orgulhosamente ao Congresso um projeto leniente com infratores e
infrações de trânsito – um grande assassino no mundo. No Brasil, foram
35,3 mil mortes e 180 mil internações só em 2017.
[ainda que a contragosto somos forçados, pelos fatos, a concordar com a articulista, ressalvando o acerto no tocante a facilitar posse/porte de armas e que os direitos humanos dever ser priorizados quando seguem o principio: DIREITOS HUMANOS PARA HUMANOS DIREITOS, os 'direitos dos manos' devem continuar sendo ignorados.]
[ainda que a contragosto somos forçados, pelos fatos, a concordar com a articulista, ressalvando o acerto no tocante a facilitar posse/porte de armas e que os direitos humanos dever ser priorizados quando seguem o principio: DIREITOS HUMANOS PARA HUMANOS DIREITOS, os 'direitos dos manos' devem continuar sendo ignorados.]
Japão, Canadá, França e Espanha reduziram a mais da metade as mortes no
trânsito. Como? Com educação, abordagem policial e penas duras para
infratores. E o Brasil? Se depender do presidente da República, o Brasil
vai na contramão, a mais de 100 km/h. Os radares estão ameaçados e os
maus motoristas poderão cometer o dobro das barbaridades até perder a
carteira, não terão de se preocupar com cadeirinhas e estarão livres de
comprovar que não usaram algum tipo de droga, mesmo que dirijam ônibus e
caminhões.
Não satisfeito com a reação, o presidente engatou a segunda e disse que,
por ele, os pontos para cassar a carteira não deveriam ser “só” 40, mas
60. Divirtam-se os que pisam no acelerador, avançam o sinal, estacionam
em calçadas e vagas de idosos e deficientes. É possível que a base eleitoral de Bolsonaro ache tudo isso o maior
barato, mas esse barato pode custar muito caro – em vidas humanas, em
lesões irreversíveis e em custos para o sistema público de saúde, já tão
depauperado.
Essas medidas, porém, combinam com a leniência de Bolsonaro em outras
áreas, como Meio Ambiente. Pescar em áreas protegidas pode, desmatar
fica mais fácil, transformar santuários em “Cancúns” está no horizonte, a
carreira de agente ambiental corre risco. Ambientalistas são tratados
como esquerdistas que atravancam o progresso, um perigo para o Ocidente.
Direitos Humanos? Deve ser coisa de gente que estuda Sociologia,
Filosofia, Antropologia, vistas como inutilidades que alimentam a
“balbúrdia” nas universidades públicas, aliás, elas próprias alvo da
tesoura ideológica implacável do novo governo. E temos a ministra
Damares e o chanceler Araújo, com o guru Olavo de Carvalho, pairando
sobre tudo e todos. E Bolsonaro tinha de declarar apoio ao craque Neymar, acusado de estupro
e agressões por uma moça? “Ele está em um momento difícil, mas acredito
nele. Neymar, hoje à noite estamos juntos!”, avisou o presidente, antes
de ir ao jogo Brasil-Catar e visitar o jogador num hospital em
Brasília.
Não se deve demonizar nem santificar Neymar, mas vai... numa mesa de
bar, qualquer um pode achar que Neymar é culpado ou inocente e que a
moça é isso e aquilo, mas um presidente da República? Ele assistiu à
cena? Ouviu Neymar? A moça? Teve acesso aos autos? Tem informação de
bastidores?
Verdade ou não, a mensagem subliminar do presidente é que ele não acha
nada demais um estuprozinho daqui, uma agressãozinha dali. Afinal, minimizou a gravidade da situação, assumiu sem pestanejar a
versão do craque e desqualificou a moça. Homens sempre têm razão. Espantado com as mudanças propostas por Bolsonaro, o criador e
presidente por dez anos da Frente do Trânsito da Câmara, ex-deputado
Beto Albuquerque (PSB), acusa: “O Brasil está na contramão, ou andando
de marcha a ré”. Não é só no trânsito, deputado!
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