“A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em
Washington seria uma espécie de blindagem junto ao presidente
norte-americano Donald Trump”
A possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)
para o cargo de embaixador nos Estados Unidos não é apenas um caso de
nepotismo explícito, um capricho de pai superprotetor para com o filho
pródigo, é muito mais do que isso. É uma reação do presidente Jair
Bolsonaro contra o que poderia vir a ser uma suposta conspiração para
afastá-lo do cargo em razão das investigações a respeito de
movimentações bancárias suspeitas de Fabrício Queiroz, ex-assessor de
Flávio Bolsonaro, que serão retomadas após o recesso do Judiciário. O
caso virou paranoia no clã presidencial.
Bolsonaro foi convencido pelo filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio
de Janeiro, de que houve uma conspiração para cassar o mandato de
Flávio Bolsonaro no Senado e afastá-lo da Presidência em razão de
supostas ligações com os milicianos do Rio de Janeiro, suspeitos de
matarem a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL). Essas suspeitas de
conspiração já provocaram duas baixas no Palácio do Planalto, a do
ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno e a do
ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo Santos Cruz. O primeiro foi
presidente interino do PSL durante a campanha e um dos coordenadores de
campanha de Bolsonaro; o segundo, um general de divisão respeitadíssimo
no Exército por sua atuação à frente de tropas da ONU no Haiti e no
Congresso, colega de Bolsonaro na Academia Militar de Agulhas Negras.
A indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington seria
uma espécie de blindagem junto ao presidente norte-americano Donald
Trump, que chegou a sugerir a indicação de seu filho Eric para a
embaixada dos Estados Unidos no Brasil, em retribuição. Bolsonaro vê a
política internacional pela ótica da antiga “guerra fria”e não será o
primeiro presidente da República a indicar um embaixad
or em Washington
com o propósito de se blindar contra qualquer conspiração que possa
envolver os norte-americanos. Assim fez Getúlio Vargas durante o Estado
Novo, ao indicar Oswaldo Aranha, que conspirou para o Brasil entrar na
Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha, e Juscelino Kubitscheck, após a
tentativa de golpe militar para impedir a sua posse, indicando para o
posto o senador Amaral Peixoto, um dos que trabalharam pela aliança com
Franklin Delano Roosevelt durante a guerra.
Há toda uma discussão sobre a qualificação de Eduardo Bolsonaro para o
cargo — não basta falar um inglês cucaracha e ter fritado hambúrgueres
no Maine —, o que representa uma humilhação para o Itamaraty, onde a
meritocracia é um valor consolidado, ainda mais para posições de extrema
relevância. Mas esse critério também não foi adotado para a escolha do
chanceler Ernesto Araújo, que “caroneou” todos os embaixadores em
atividade quando foi nomeado ministro de Relações Exteriores, com
motivação claramente ideológica, justamente por indicação de Eduardo
Bolsonaro, que é deputado federal eleito por São Paulo com R$ 1,8 milhão
de votos. O filho do presidente da República preside a Comissão de
Relações Internacionais da Câmara e utiliza o posto com o objetivo de
organizar um movimento internacional de direita, cujo congresso seria
aqui no Brasil.
Nas Entrelinhas - Correio Braziliense - Luiz Carlos Azedo
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terça-feira, 16 de julho de 2019
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