Análise Política
O presidente da República vive uma situação contraditória. Nunca o apoio
a ele foi tão sólido na sua base fiel. Todas as pesquisas mostram entre
25% e 35% do eleitorado acompanhando-o mesmo nas polêmicas em que está
sozinho contra o resto da política e a opinião pública. Mas a faca tem
dois gumes, e nunca como nesta crise da Covid-19 Jair Bolsonaro esteve
tão próximo do isolamento. Na sociedade, nas instituições e mesmo dentro
do próprio governo.
As falas e ações de Bolsonaro deixam claro que os movimentos dele com
acenos à conciliação são apenas manobras táticas para ganhar tempo e
reagrupar forças com o objetivo de retomar a ofensiva. Ele joga com a
atitude dos que confiam plenamente na vitória final, ou dependem
excessivamente dela para sobreviver. E também por isso não têm maior
interesse num acordo de paz. Ou mesmo num armistício mais duradouro, que
possibilite a estabilização do front.
Em política, é sempre importante levar em conta a inércia. Responder à pergunta “se não acontecer nada, acontece o quê?”. É a outra forma de perguntar a favor de quem joga o tempo. E a análise desse fator deve ser sempre pontual, pois o vento pode mudar de sentido de uma hora para outra. Então cabe perguntar: se persistir à esquerda e ao dito centro a rejeição a enveredar pelo caminho do confronto final contra o presidente, qual será o desfecho?
Para recuperar a expressão popularizada pelo técnico da Seleção na Copa de 1978 (faz tempo...), Cláudio Coutinho, Bolsonaro mostra jogar de olho no ponto futuro. Na crise provocada pelo SARS-CoV-2, apesar de ajustes táticos aqui e ali, parece confiar que a fortaleza dos adversários, particularmente os governos estaduais, [já começam a despontar entendimentos diferentes entre os governadores e a tendência natural é que essas divergências se transformem em pontos de atritos ... - manter em um mesmo balaio, 27 governadores é até divertido o desastre que vai dar.
Em política, é sempre importante levar em conta a inércia. Responder à pergunta “se não acontecer nada, acontece o quê?”. É a outra forma de perguntar a favor de quem joga o tempo. E a análise desse fator deve ser sempre pontual, pois o vento pode mudar de sentido de uma hora para outra. Então cabe perguntar: se persistir à esquerda e ao dito centro a rejeição a enveredar pelo caminho do confronto final contra o presidente, qual será o desfecho?
Para recuperar a expressão popularizada pelo técnico da Seleção na Copa de 1978 (faz tempo...), Cláudio Coutinho, Bolsonaro mostra jogar de olho no ponto futuro. Na crise provocada pelo SARS-CoV-2, apesar de ajustes táticos aqui e ali, parece confiar que a fortaleza dos adversários, particularmente os governos estaduais, [já começam a despontar entendimentos diferentes entre os governadores e a tendência natural é que essas divergências se transformem em pontos de atritos ... - manter em um mesmo balaio, 27 governadores é até divertido o desastre que vai dar.
Enquanto pelo menos nessa 'guerra' Bolsonaro é só ele, coeso, pensamento único = o dele.] vai cair diante da
inevitabilidade de alguma hora as pessoas precisarem voltar ao trabalho
para garantir a subsistência.
Não chega a ser uma aposta tão arriscada. O tema começa a ganhar espaço em todo o mundo mesmo sem o vírus da Covid-19 estar neutralizado. Até porque fica cada vez mais evidente que isso talvez demore. E bastante. Então trata-se de planejar a executar a volta à atividade mais dia menos dia, tomando as providências necessárias, ou possíveis, para reduzir a transmissão do patógeno quando as pessoas voltam de algum modo à vida social.
Um governo convencional teria assumido cedo a liderança do lockdown, e agora estaria liderando o planejamento da operação para sair dele. E saborearia os píncaros da popularidade. E a completa imobilização da oposição. É o que acontece, por exemplo, na Argentina. Onde está a diferença? Talvez ela esteja em Alberto Fernández ter um partido institucional hegemônico e vertebrado, enquanto Bolsonaro não tem nenhum.
Talvez essa diferença leve o presidente brasileiro a acreditar que se decidir enveredar pelo caminho da conciliação com o establishment acabará imobilizado, se não terminar derrubado. Na ausência de um partido institucional para chamar de seu, Bolsonaro precisa manter em movimento o partido bolsonarista extra-institucional, exatamente para bloquear o movimento de adversários políticos, especialmente dos que se apresentam como possíveis aliados.
Entrementes, disputa espaço nas manchetes com a contabilidade de mortes. E fica a pergunta: “Se não acontecer nada, acontece o quê?”
Não chega a ser uma aposta tão arriscada. O tema começa a ganhar espaço em todo o mundo mesmo sem o vírus da Covid-19 estar neutralizado. Até porque fica cada vez mais evidente que isso talvez demore. E bastante. Então trata-se de planejar a executar a volta à atividade mais dia menos dia, tomando as providências necessárias, ou possíveis, para reduzir a transmissão do patógeno quando as pessoas voltam de algum modo à vida social.
Um governo convencional teria assumido cedo a liderança do lockdown, e agora estaria liderando o planejamento da operação para sair dele. E saborearia os píncaros da popularidade. E a completa imobilização da oposição. É o que acontece, por exemplo, na Argentina. Onde está a diferença? Talvez ela esteja em Alberto Fernández ter um partido institucional hegemônico e vertebrado, enquanto Bolsonaro não tem nenhum.
Talvez essa diferença leve o presidente brasileiro a acreditar que se decidir enveredar pelo caminho da conciliação com o establishment acabará imobilizado, se não terminar derrubado. Na ausência de um partido institucional para chamar de seu, Bolsonaro precisa manter em movimento o partido bolsonarista extra-institucional, exatamente para bloquear o movimento de adversários políticos, especialmente dos que se apresentam como possíveis aliados.
Entrementes, disputa espaço nas manchetes com a contabilidade de mortes. E fica a pergunta: “Se não acontecer nada, acontece o quê?”
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política
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