Análise Política
A Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado da Covid-19 exibe algo
que os adversários sempre tentaram imputar à Operação Lava-Jato: definiu
antecipadamente os alvos e vem conduzindo os trabalhos mais de modo a
comprovar a hipótese que desvendar as razões últimas da tragédia
sanitária que o SARS-CoV-2 desencadeou no país.
E isso é absolutamente natural. Claro,
pois, diferentemente das investigações da polícia e dos procuradores,
CPIs são instrumentos políticos dotados de poder de polícia, e esse tipo
de condução é esperada. E existe hoje na comissão uma maioria
consolidada contra o governo. Inclusive porque há ali dois parlamentares
do Amazonas e que precisam dar satisfações aos eleitores sobre o
desastre de Manaus.[um dos parlamentares, senador Jader Barbalho, com o filho,Helder Barbalho, sendo investigado por fraude na compra de respiradores.
Quando ao filho do relator da CPI - Renan Júnior, governador de Alagoas - poderia dar uma banda nos bolsonaristas da CPI e se voluntariar para depor na Covidão. O que o impede ???]
A CPI escolheu concentrar em dois aspectos. A
cloroquina e o atraso na contratação da vacina da Pfizer. São dois
filões a explorar para tentar chegar ao objetivo. Se terão sido as
melhores escolhas, só o tempo vai dizer. Não bastará à CPI produzir um
power point. Precisará de um tríplex e um sítio. Dois detalhes que
renderam dividendos à Lava-Jato no seu tempo. Mesmo que agora estejam a
caminho do arquivo.[A CPI tem duas dificuldades que a levarão a fracassar nos dois objetivos:
- falem o diabo da cloroquina mas ela continua sendo vendida no mundo inteiro, incluindo o Brasil = aqui exigem prescrição médica, o que apenas prova a legalidade do fármaco;
- a vacina da Pfizer continua enrolada em termos de capacidade de entrega - sem contar que na época das ofertas que os 'investigadores da CPI' defendem ser as mais convenientes, a vacina exigir -75ºC para armazenagem.
Só recentemente é que reduziram a temperatura polar exigida.
Se Bolsonaro tivesse autorizado a compra na época do frio polar, logo seus inimigos estariam propondo contratar na Rússia, sem licitação e com verba da Covid-19, a criação de um 'gulag' na Sibéria para para Bolsonaro e Pazuello.]
A CPI precisará achar algo mais material se
quiser aumentar a pressão sobre a Procuradoria Geral da República para
esta eventualmente oferecer denúncia contra o presidente da República.
Ou sobre o presidente da Câmara dos Deputados para este aceitar algum
pedido de abertura de impeachment. Hoje o presidente da CPI
informou que o volume de documentos já obtidos pela CPI é recorde. Esta é
uma frente. Outra, também a exemplo da Lava-Jato, é aumentar a pressão
sobre os depoentes para que algum deles diga o que dele esperam os
acusadores. Mais uma coisa que precisaremos aguardar para ver se vai
funcionar.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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