Análise Política
Os leilões de concessão na infraestrutura, federal e em estados,
caminham bem, a alta do dólar deu uma aliviada nos últimos tempos e a
Bolsa navega pelo dobro do ponto a que mergulhara um ano atrás.
Os
números de criação de empregos formais, os do Caged, são positivos e o
resultado das grandes empresas no primeiro trimestre veio bastante bom.
Do
outro lado, há dois dígitos de milhões de desempregados, uma segunda
onda inclemente da Covid-19 e uma vacinação que caminha, mas ainda bem
abaixo da cobertura necessária para, por exemplo, evitar uma possível
terceira onda. E o termômetro político mostra altas temperaturas,
elevadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado sobre a
pandemia.
Na economia, resta pouca dúvida de
que o setor exportador já se beneficia do forte ritmo de recuperação dos
Estados Unidos (graças à vacinação) e da China (graças ao rápido
controle da difusão do SARS-CoV-2). E o dólar num nível relativamente
bom ajuda na substituição de importações, apesar de atrapalhar na
importação de bens de capital.
Mas, e a
resultante? As previsões mais frequentes para o curtíssimo prazo na
economia brasileira são de certa retração combinada com alguma inflação.
Esta segunda variável leva o Banco Central a aumentar a taxa básica de
juros de maneira até algo agressiva. Tem margem para isso, porque o juro
real andava, e ainda anda, bem negativo.Se o
BC vai acertar a mão, fazer a inflação convergir para a meta sem
estender o período de recuo econômico, o futuro dirá. Outra coisa que o
futuro vai dizer é se uma eventual recuperação econômica daqui até o
final do ano vai conseguir mexer para baixo nos crônicos e altos números
do desemprego. Que, sabemos, será um ponto apetitoso no debate de 2022.
Ainda
sobre a economia, outra dúvida é o que a oposição de esquerda vai dizer
no próximo ano. Se vai tentar replicar o Plano (do Joe) Biden e sugerir
o enfrentamento crise por meio principalmente do endividamento e
investimento públicos, ou vai novamente guinar ao dito centro e assumir
os compromissos de continuidade habituais em anos eleitorais. É
razoável supor que muita coisa vai depender dos números. Se em meados
de 2022 a economia estiver em recuperação, mesmo que lenta, o desemprego
em queda, mesmo que suave, e o governo dizendo que enfrentou “a pior
crise”, com a pandemia, é possível que a oposição tenha de mudar de
assunto. Talvez não venha a ser “a economia, estúpido”.
Grande chance de ser "a pandemia, estúpido". Mas como estará ela daqui a um ano e meio? Será que ainda vai sensibilizar? Foi
em algum grau o que aconteceu na eleição americana. Pouco se debateram
os temas econômicos. A frente ampla antitrumpista formou-se com base na
rejeição pessoal ao próprio Donald Trump, nas agudas tensões raciais
desencadeadas pela morte de George Floyd e no enfrentamento da Covid. E
deu certo para Biden. Ele está na Casa Branca e Trump voltou para a
Flórida.
Pipocam teorias sobre a necessidade e a
conveniência de um “Biden brasileiro”. Muita gente, até gente bem
apetrechada para a eleição, quer ser. Nos aspectos não propriamente
econômicos vai ser fácil de mimetizar, pois a agenda liberal americana
está na ofensiva ideológica entre nós, e em todo o mundo. Mas, e na
economia? Alguém vai arriscar?
Alon Feuerwerker, jornalista e analista politico
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