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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Variante delta torna a imunidade de rebanho impossível, dizem cientistas - Folha de S. Paulo

Quem esperava ser protegido da Covid pela imunidade coletiva pode esquecer e tomar logo sua vacina, afirmam especialistas de algumas das principais universidades europeias, com base nos dados disponíveis até agora. A variante delta, duas vezes mais contagiosa que o Sars-Cov-2 original, enterrou (ao menos por enquanto) as chances da chamada imunidade de rebanho - aquela em que o número de pessoas protegidas contra infecção é grande o suficiente para conter a circulação do vírus. 

Quando os primeiros casos de Covid surgiram, cientistas calcularam que essa imunidade coletiva poderia ocorrer quando cerca de 70% de uma população estivesse protegida. Mas essa sempre foi uma aproximação, presumindo muitas coisas e ignorando outras mais", diz Samir Bhatt, professor da escola de saúde pública do Imperial College de Londres.

A porcentagem deriva de dados como a proteção fornecida pela vacina contra a infecção (diferente da eficácia contra doença grave e morte) e a capacidade intrínseca de propagação do vírus, ambos ainda não totalmente conhecidos ou em transformação. Outro fator de imprecisão é que a transmissão varia fortemente de acordo com o comportamento humano: o vírus circula mais se as pessoas se encontram mais, por mais tempo e com menos barreiras -e essa variável também está em constante mudança ao longo do tempo.

As pesquisas iniciais indicavam que o Sars-Cov-2 passava de um infectado para duas ou três pessoas, mas essa razão de contágio subiu com o aparecimento da alfa e mais ainda com a delta, diz Raghib Ali, pesquisador clínico sênior da Unidade MRC de Epidemiologia da Universidade de Cambridge (Reino Unido). "Cada vez que esse número aumenta, sobe também a porcentagem calculada para imunidade de rebanho", diz o pesquisador. O novo mutante, indicam os cientistas, é capaz de passar de uma pessoa para cerca de seis ou sete. 

 Na ponta do lápis, com essa taxa de contágio, a imunidade de rebanho seria de cerca de 85%, mas apenas se a vacina ou a recuperação de um caso de Covid prevenissem completamente as infecções, o que não ocorre. "A chegada da delta foi realmente uma virada de jogo", diz o virologista Jeroen van der Hilst, professor de imunopatologia da Universidade de Hasselt (Bélgica).

Além de o mutante ser muito mais contagioso, os dados indicam que indivíduos vacinados podem ser infectados e infectar outros, diz ele. "Isso significa que o vírus pode circular em uma comunidade com um grande número de pessoas vacinadas. Com essa noção, temos que concluir que a imunidade de rebanho não é mais possível." 

Duração da imunidade  
Para o professor emérito de estatística aplicada da Open University (Reino Unido) Kevin McConway, os dados já disponíveis sobre a barreira das vacinas ao contágio são insuficientes para estimar qual seria uma imunidade coletiva para a Covid, seja qual for a variante que predomina."Muitos cálculos são indiretos: estima-se a eficácia contra infecção assintomática, por exemplo, e, em seguida, fazem-se suposições sobre a probabilidade de um assintomático transmitir o vírus a outra pessoa. Há várias fontes diferentes de incerteza aqui, então as estimativas não são muito boas", diz ele. A mesma falta de informação existe para os que desenvolveram imunidade natural, por terem sido infectados, e para o caso dos que tiveram Covid e foram também vacinados. 

Além disso, acrescenta o estatístico, ainda não há certeza sobre quanto tempo dura a proteção causada por vacinação ou por infecção natural. "Imagine que atingimos a imunidade coletiva, mas a defesa das pessoas desaparece completamente dois anos depois. Como a imunidade de rebanho significa apenas que qualquer surto será pequeno e será contido rapidamente, ainda haverá alguma infecção depois desses dois anos. Se a defesa das pessoas diminui, eles se tornam suscetíveis novamente e os surtos podem se espalhar novamente e se tornar perigosos", exemplifica McConway.

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O pesquisador faz uma comparação com o sarampo, uma doença também altamente infecciosa, cuja porcentagem de proteção necessária para a imunidade de rebanho é de 95%. O vírus do sarampo, porém, não sofre as rápidas mutações do Sars-Cov-2, e as vacinas são praticamente 100% eficazes para evitar a transmissão. Nesse caso, se 95% das crianças são vacinadas contra o patógeno, ele não se espalha mais nessa população. 

No caso da Covid, "com o declínio da imunidade, a evolução contínua do coronavírus, um retorno à normalidade no comportamento das pessoas, a expectativa de que a doença desaparecerá porque atingimos um limite é ilusória", diz Batt, do Imperial College.

Vacinação fundamental 
Para o diretor do instituto de genética da UCL de Londres, François Balloux, há um único benefício -inexplorado- dessa impossibilidade. "Isso deve acabar com as guerras culturais em torno das vacinas. As pessoas devem ser encorajadas a se vacinarem, mas, no final das contas, o objetivo principal da vacinação agora é proteger a si mesmas, não a outros. Então, viva e deixe viver", afirmou ele em rede social.

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