O
New Brazil só terá conferencistas de ponta. Juízes de tribunais
superiores falando mal do governo do seu país com linguajar colegial.
Autoridades eleitorais explicarão como fazer para que o candidato que
eles não querem que ganhe a eleição seja derrotado. Enfim, será uma
festa (mais uma).
Juízes
de tribunais superiores falando mal do governo do seu país com
linguajar colegial. Autoridades eleitorais explicarão como fazer para
que o candidato que eles não querem que ganhe a eleição seja derrotado.
Nessa conferência patriótica -
realizada na pátria dos outros, que fica mais chique - parlamentares bancados
por investidores milionários ensinarão os atalhos da democracia.
Funciona mais
ou menos assim:
- quando a representação democrática não está a serviço do seu
clube de interesses particulares, você começa a gritar que é golpe e tenta
melar o jogo. É muito interessante.
Desta forma, é composto um som
orquestral denunciando uma ditadura imaginária no país em questão - e um regime
ditatorial justifica qualquer atropelo às leis vigentes.
Mesmo se o tal regime
for imaginário? Claro!
Se uma ditadura real já é nefasta, imagine uma imaginária,
na qual você pode imaginar as piores imaginações?
Assim os palestrantes do evento New
Brazil defenderão a censura para salvar a liberdade de expressão, defenderão o
atropelo da Constituição para resgatar a legalidade, defenderão o vale-tudo
eleitoral para garantir o voto no candidato certo, defenderão a esculhambação
da democracia para salvar a democracia.
E, naturalmente, ninguém fará discursos
indelicados referentes a candidato que já tenha sido preso por corrupção,
porque o importante num evento como esse é defender a ética.
Oráculos cheios da grana falarão
sobre o “novo presidente” que governará o distante Brazil em 2023.
Ex-políticos
recém-saídos da vida pública de volta à privada discorrerão sobre o “novo
governo” brazileiro - tudo isso diante de juízes das altas cortes, inclusive
eleitorais, que acharão normalíssimos tais prognósticos. Essa congregação de
almas ungidas pelo dom da iluminação democrática fará elegias ao inexpugnável
sistema eleitoral do Brazil, do Butão e de Bangladesh.
E avisarão que prendem e
arrebentam quem ousar discutir a sacrossanta urna eletrônica brazileira.
O
nosso evento New Brazil reunirá ao final, em ata, todo o falatório dos
convidados pelos magnatas sensíveis que viabilizaram generosamente este
encontro cívico.
Essa ata será declarada a nova Constituição do Brazil.
O
que não estiver nela é fake news - que daqui em diante passa a ser
crime hediondo.
Pela modernidade e contra a ineficiência do Estado, está
privatizada a democracia.
Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
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