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terça-feira, 12 de julho de 2022

New Brazil - Vozes

Guilherme Fiuza

Já que está na moda, vamos organizar um evento fora do Brasil para resolver como as coisas passarão a ser no Brasil. Pode ser em Boston, Lisboa, Nova York ou qualquer dessas cidadezinhas onde “empresários” brasileiros possam alojar seus humildes convidados. Vamos chamar o evento de New Brazil, para dar um ar de modernidade cosmopolita.

                               Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O New Brazil só terá conferencistas de ponta. Juízes de tribunais superiores falando mal do governo do seu país com linguajar colegial. Autoridades eleitorais explicarão como fazer para que o candidato que eles não querem que ganhe a eleição seja derrotado. Enfim, será uma festa (mais uma).

Juízes de tribunais superiores falando mal do governo do seu país com linguajar colegial. Autoridades eleitorais explicarão como fazer para que o candidato que eles não querem que ganhe a eleição seja derrotado.

Nessa conferência patriótica - realizada na pátria dos outros, que fica mais chique - parlamentares bancados por investidores milionários ensinarão os atalhos da democracia.  
Funciona mais ou menos assim: 
- quando a representação democrática não está a serviço do seu clube de interesses particulares, você começa a gritar que é golpe e tenta melar o jogo. É muito interessante.
 
 
Desta forma, é composto um som orquestral denunciando uma ditadura imaginária no país em questão - e um regime ditatorial justifica qualquer atropelo às leis vigentes. 
Mesmo se o tal regime for imaginário? Claro!  
Se uma ditadura real já é nefasta, imagine uma imaginária, na qual você pode imaginar as piores imaginações?
 
Assim os palestrantes do evento New Brazil defenderão a censura para salvar a liberdade de expressão, defenderão o atropelo da Constituição para resgatar a legalidade, defenderão o vale-tudo eleitoral para garantir o voto no candidato certo, defenderão a esculhambação da democracia para salvar a democracia
E, naturalmente, ninguém fará discursos indelicados referentes a candidato que já tenha sido preso por corrupção, porque o importante num evento como esse é defender a ética.
 
Oráculos cheios da grana falarão sobre o “novo presidente” que governará o distante Brazil em 2023. 
Ex-políticos recém-saídos da vida pública de volta à privada discorrerão sobre o “novo governo” brazileiro - tudo isso diante de juízes das altas cortes, inclusive eleitorais, que acharão normalíssimos tais prognósticos. Essa congregação de almas ungidas pelo dom da iluminação democrática fará elegias ao inexpugnável sistema eleitoral do Brazil, do Butão e de Bangladesh.  
E avisarão que prendem e arrebentam quem ousar discutir a sacrossanta urna eletrônica brazileira.
O nosso evento New Brazil reunirá ao final, em ata, todo o falatório dos convidados pelos magnatas sensíveis que viabilizaram generosamente este encontro cívico. 
Essa ata será declarada a nova Constituição do Brazil.  
O que não estiver nela é fake news - que daqui em diante passa a ser crime hediondo. 
Pela modernidade e contra a ineficiência do Estado, está privatizada a democracia.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


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