Rodrigo Constantino
A democracia brasileira corria perigo. A ameaça atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Para “salvar a democracia”, portanto, tudo era permitido, desde que contra Bolsonaro.
Não viram a cartinha dos tucanos e dos petistas?
Não viram as várias e várias colunas e os editoriais dos principais veículos de comunicação?
E como nenhum nome do “centro democrático” vingou, o jeito foi ir de Lula mesmo. Sim, ele é corrupto. Sim, foi condenado e preso.
Mas se não tem tu, vai tu mesmo.
E o STF teve de fazer seu malabarismo, constatar que o CEP do julgamento foi o errado (anos depois), e tornar Lula elegível novamente.
O resto ficou por conta da imprensa e do TSE.
Ninguém poderia lembrar do que Lula fez no verão passado. Alexandre de Moraes partiu para a censura escancarada, para a perseguição desinibida, tudo para impedir “ataques” ao candidato da “democracia”. Lembrem-se: Bolsonaro é o perigo! Lula é o amor.
Por estreita margem, as urnas consagram Lula vencedor. O amor venceu! E como prova disso, agora é preciso destruir de vez todo vestígio bolsonarista, calar na marra seus apoiadores, suspender contas nas redes sociais, tudo para proteger a democracia.
Caso a missão não tenha ficado clara o suficiente, entra em campo ele, o impoluto democrata Renan Calheiros! O senador, que transita pelo poder há mais tempo do que eu tenho de vida, apresentou sua PEC contra a intolerância política. Não podemos mais aceitar a “injúria” contra políticos pela simples divergência ideológica.
É verdade que já existem crimes contra a honra, com o devido processo legal, mas Renan quer mais, com o apoio de Randolfe Rodrigues e demais petistas. Onde já se viu expressar de maneira tão veemente a repulsa que sentem por esses democratas acima de quaisquer suspeitas?
Com esse grau de liberdade, vamos acabar como os Estados Unidos, onde podem fazer troça dos políticos e xingá-los sem dó nem piedade, pela proteção da Primeira Emenda.
Isso é inaceitável na democracia petista, que mira mais nos exemplos ilustres de Cuba, Nicarágua, Venezuela e China.
Todo teatro foi armado, e agora resta aplaudir a volta à normalidade, com toda a corrupção e o autoritarismo que ela representa.
Muita gente está feliz. Torneiras serão reabertas, o butim será farto.
O ladrão voltou à cena do crime, carregando junto todos os comparsas da pilhagem.
E ai de quem embarcar em discurso golpista e antidemocrático: será preso sem julgamento!
Será perseguido, como foi aquela dona de casa mineira, que pedia um tratamento igual ao do traficante e do corrupto condenado.
Mas ela não é democrata como eles! Prisão aos golpistas! A nossa democracia foi salva!
Agora tenta não ruborizar ao repetir essa ladainha patética, ao lado dos nossos “respeitados” jornalistas...
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
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