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terça-feira, 1 de março de 2022

Putin prepara assalto mais destrutivo após erros na guerra da Ucrânia - Folha de S. Paulo

Folha Press

Após enfrentar problemas logísticos e violar o manual das invasões militares, as forças de Vladimir Putin chegam ao sexto dia da guerra na Ucrânia numa nova etapa, potencialmente mais destrutiva para Kiev. O surgimento do comboio de 64 km de comprimento rumo à capital ucraniana e a intensificação do bombardeio sobre Kharkiv, a segunda maior cidade do país, são o símbolo dessa mudança.

A resistência local deverá ter problemas para segurar o assalto que se ensaia. Não que ela não tenha tido seus momentos de glória, apesar da romantização exacerbada na mídia ocidental, mas eles parecem ter derivado mais de erros de Moscou do que de sua qualidade técnica intrínseca.

Em novembro de 2020, após a derrota armênia na guerra contra o Azerbaijão, o analista militar russo Konstantin Makienko, do Centro de Análises de Estratégias e Tecnologias, de Moscou, escreveu um texto profético no jornal Vedomosti. "A principal lição que Moscou deve tirar da tragédia [a Armênia é um aliado indócil russo, e o apoio de Ancara a Baku aumentou a influência turca no Cáucaso] é que nunca subestime o inimigo. Reina aqui uma atitude condescendente e irônica em relação ao Exército ucraniano", afirmou. "Os militares ucranianos já possuem sistemas de armas que os russos não possuem. Mísseis antitanque de terceira geração e drones kamikaze. E, em breve, os drones turcos Bayraktar-TB2", completou.

Kostia, como era chamado pelos amigos, não viveria para ver a profecia realizada: morreu há um ano. Mas seus alertas eram precisos acerca das dificuldades que os russos encontraram. Mas não só essas.

Dois princípios de invasões terrestres foram violados por Moscou. O primeiro, o da finalidade: a mais bem-sucedida operação do gênero da guerra moderna, a expulsão do Iraque do Kuwait na Guerra do Golfo (1991), era desenhada com um objetivo só. O conflito que tirou Saddam Hussein 12 anos depois, também. Não foi o que se viu agora. Putin deixou claro desde o começo que seu objetivo era Kiev: decapitar o governo de Volodimir Zelenski com o mínimo de danos civis, para provavelmente instalar um aliado que não enfrentasse uma guerra civil e manter apoio em casa.

Mas seu ataque foi extremamente complexo, envolvendo as forças irregulares do Donbass, a ação rumo a Kiev pela Belarus sem uma coordenação aparente com a força vinda mais do leste e uma ofensiva com rumos divergentes no sudeste do país: tropas que deveriam atacar Mariupol se dividiram no meio.

O segundo princípio é um corolário do primeiro: concentração de forças. Apesar de chegar às ruas centrais de Kiev no terceiro dia de ação, o fez apenas com infiltrações mínimas de militares aerotransportados. Isso sugere que Putin subestimou Kiev, acreditando que apenas sua chegada ao país forçaria a rendição de Zelenski, pintado na Rússia como um fantoche americano, uma versão vida real do comediante que vivia na TV antes se tornar presidente, em 2019.

Pedra angular da doutrina militar russa, o uso maciço de barragens de artilharia e mísseis não foi aplicado nas primeiras fases do conflito. Houve, claro, ataques mais fortes como os vistos em Kharkiv e Mariupol, mas ainda não configura o "choque e terror" do então secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld no Iraque de 2003.

A Força Aérea russa ainda não foi usada de forma decisiva, deixando o trabalho principal para mísseis de cruzeiro e balísticos. Apenas um punhado de aviões de ataque Su-25 e talvez algum modelo avançado Su-34, amplamente usados na guerra civil síria, foi visto em ação. Helicópteros só foram vistos na tomada do aeroporto de Hostomel, perto de Kiev. A ideia é destruir toda a defesa antiaérea ucraniana, e esse objetivo parece perto de sua conclusão, evitando assim o constrangimento de ver aeronaves abatidas.

Os drones turcos que dominaram a guerra de 2020, como Kostia previu, fizeram estrago. Até a última conta disponível, Kiev tinha recebido seis deles, e ao menos uma coluna de blindados russa foi destruída. Os russos, contudo, dizem que já praticamente abateram todos. "A operação inicial foi baseada em suposições terríveis sobre a capacidade e a vontade da Ucrânia de lutar, e um conceito operacional impossível. Moscou errou feio no cálculo. Mas suas forças ainda não entraram na guerra", escreveu no Twitter o americano Michael Kofman, diretor para Rússia do centro CNA. "Houve dificuldades, claro. Mas a degradação das forças ucranianas é diária. É matemática, ao fim", afirmou Konstantin Frolov, analista político em Moscou.

Na segunda (28) e nesta terça (1º), o cenário mudou. O Kremlin não colocaria quilômetros de veículos expostos a ataques aéreos, o que mostra confiança em sua tática de supressão. E a intensificação dos bombardeios em Kharkiv, para onde foi enviada ao menos uma bateria do temível sistema de mísseis termobáricos TOS-1, quase uma arma de destruição em massa, prenuncia uma escalada.

Não é casual, assim, as informações vazadas pelo Pentágono à mídia americana sobre a renovada ação do Kremlin. Mais importante, tudo indica que as linhas de suprimento foram regularizadas. Este é um problema inerente a qualquer operação terrestre: os nazistas perderam a conquista de Moscou porque acabaram a gasolina, a munição e a comida às portas da capital soviética, em 1941.

Em 1991, a famosa "guerra das 100 horas" dos EUA contra Saddam só não perdeu o título porque soldados americanos foram feitos de motoristas de caminhões-tanque para levar combustível para a exaurida 1ª Divisão Blindada rumo a Bagdá.

O que se coloca agora é cálculo cruzado com o relógio correndo contra o Kremlin, pressionado sob todos os lados por sanções econômicas e políticas. Com o canal diplomático bem ou mal aberto em Gomel (Belarus), os russos podem contar ainda com alguma chance de rendição ucraniana. As promessas de ajuda militar dos vizinhos da Otan não parecem se materializar na velocidade para mudar a guerra: se Kiev de fato receber algum caça, não será em quantidade para mudar o rumo da ação.

Mas Zelenski parece bastante firme em seu posto de defensor, dado o apoio que recebe no Ocidente. Nisso concordam Kofman e Frolov: Kiev tem enorme vantagem na guerra midiática, o que não é pouco no mundo das redes sociais. Enquanto o Kremlin basicamente tenta esconder a guerra em casa, proibindo até as TVs de chamarem assim, Zelenski tem vantagem mundo afora. Putin se importa com isso? Enquanto sua posição interna não estiver ameaçada, parece que não. Mas uma intervenção prolongada traz riscos crescentes que sua retórica inflamada de guerra nuclear e confronto com a Otan indica.

O baixo número relativo de vítimas civis, central para o russo dada interligação entre seu povo e o ucraniano, também não ficará assim se ele usar mão pesada enquanto retém a iniciativa para subjugar a Ucrânia ou encontrar um cenário intermediário para manter o país dividido e fora da órbita do Ocidente.

Mundo - Folha de S.Paulo 


domingo, 22 de março de 2020

Malafaia, o pastor coreano, o coronavírus e Deus - Gazeta do Povo

Madeleine Lacsko - Reflexões sobre princípios e cidadania

Na Coreia do Sul não adiantou o pedido de desculpas: pastor que fez culto com infectados pode enfrentar julgamento por homicídio.

Autoridades de Saúde Pública conhecem bem a novela dos fanáticos religiosos que se colocam contra vacinas, tratamentos, transfusões de sangue e confinamentos. Cada país lida de um jeito com decisões individuais e coletivas. Sem dúvida, os casos mais dramáticos são aqueles em que a atitude de uma pessoa pode invalidar todos os esforços de saúde pública da coletividade, como ocorreu recentemente na Coreia do Sul.  Ao contrário do que virou fala corrente nas redes sociais, os líderes religiosos, em sua maioria, são grandes aliados nas campanhas de Saúde Pública em todo o mundo. Como exercem autoridade e têm confiança, conseguem resultados mais rápidos que o convencimento científico teria entre seus fiéis.

Quando trabalhei com comunicação no time que erradicou a pólio em Angola, nos anos de 2010 e 2011, líderes religiosos de todos os credos eram nossos grandes aliados sobretudo entre a população menos instruída e mais desconfiada de instruções dos estrangeiros e de agências da ONU. Nós, do Unicef, escrevíamos "comunicados de púlpito", que eram lidos nos mais diferentes cultos. Pastores, padres, imans, babalorixás, líderes de cultos animistas e sobas, líderes tradicionais tribais, conseguiam que as pessoas cumprissem as instruções de Saúde Pública.

Os resistentes eram pouquíssimo e, obviamente, acabam se tornando um desafio monumental até mesmo nas ditaduras, como era o caso. Ali se conseguia impor pela força algumas coisas, mas não era possível conseguir que alguém se comportasse de determinada maneira no cotidiano caso seu líder religioso fosse contra. Prender o líder, fechar a igreja e impedir cultos era possível. Seria excelente para vingança, mas também não resolveria o problema e, provavelmente, aumentaria. As pessoas ficariam ainda mais revoltadas com os agentes de Saúde Pública. Agora vivemos uma situação semelhante aqui no Brasil mas, infelizmente, as soluções dependem de quem não tem nenhuma experiência no combate a epidemias e pandemias. Não tem a menor chance de dar certo na rapidez que o povo necessita.

Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, está ganhando um espaço gigantesco na mídia ao entrar em embate com as autoridades do Estado que queriam proibir seus cultos. Ele sabe que isso não é possível, que o Estado não pode controlar religiões e isso historicamente serve para garantir direitos.  Um ótimo exemplo é a pequena igreja Bethel, em Haia, na Holanda, que promoveu um culto ininterrupto durante 3 meses para impedir que 3 fiéis, armênios fugidos do país por perseguição política, fossem repatriados à Armênia por imigração ilegal. A polícia ficou os 3 meses na porta com a ordem de prisão, mas não pôde interromper o culto, que só acabou com a reversão da decisão judicial.

Como a imprensa comprou a briga que Silas Malafaia já sabia haver ganhado com o governo do Estado, juvenil no enfrentamento do fanatismo religioso em epidemias, dobrou a aposta e pediu que a questão fosse ao Judiciário. O Ministério Público, também sem experiência no tema, mordeu a isca e obviamente perdeu. O Judiciário não pode mandar interromper cultos religiosos nem fechar igrejas, ainda que o líder religioso tenha a postura mais irracional do planeta. Se, para alguns, está na cara que só pode ser enganação achar que está enfrentando a doença com espiritualidade, para outros não é assim - e falo dos fiéis, não dos pastores. NÃO É BÍBLICO levar o rebanho ao matadouro. A difícil decisão de fechar um templo para duas mil pessoas foi explicada de forma bíblica pelo pastor da IBAB, teólogo e mestre em Ciências da Religião Ed René Kivitz.

 Nesses momentos, muitos governos do mundo optam por escolher seus notáveis, aqueles que têm experiência e capacidade técnica comprovadas no combate a epidemias e pandemias e montar um gabinete de crise. Não falo em mudar ministros ou funções de governo, mas em embasar tecnicamente decisões que precisam ser rápidas. Pouco adianta querer entrar em embate com Silas Malafaia neste momento. Aliás, ele sabe muito bem que até serve para lotar mais os cultos. Você pode ter revolta e não gostar dele, mas trata-se de um homem inteligente. Ele tem a seu favor o fato de não se importar com as consequências e brigar contra quem está apavorado com a tragédia que está por vir. Pouco adianta tentar fechar a igreja dele na marra, há soluções bem mais criativas, totalmente dentro do escopo de atuação do Poder Público, que podem diminuir significativamente a frequência.

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Muitos pastores da Assembleia de Deus, a mais antiga denominação pentecostal do Brasil, devem estar morrendo de vergonha. Diferentemente da Igreja Católica, não há ordem hierárquica nas igrejas evangélicas, nem nas denominações mais antigas e tradicionais. Um pastor não recebe ordens superiores nem é removido de sua congregação quando faz algo de que os demais discordam, tudo é resolvido localmente, com uma espécie de "conselho" interno dos fiéis.

Talvez Silas Malafaia julgue que o destino reservado a ele é o que, ingenuamente, se diz nas redes sociais que foi o de Lee Man-hee, líder da seita Shincheonji Church of Jesus, origem da maioria dos casos de coronavírus da Coreia do Sul: pedir desculpas. Está mal informado, ninguém aceitou as desculpas. Talvez Deus.  Lee Man-hee tem 88 anos de idade e acredita que é a reencarnação de Jesus Cristo e vai levar 144 mil pessoas para o céu com ele. Para os membros da Shincheonji Church of Jesus, a Bíblia é toda escrita em metáforas que só ele sabe decifrar, então as instruções que ele deu durante o início da pandemia, como fugir da testagem obrigatória, foram seguidas porque estavam na Bíblia. Já se rastreou quem é a fiel da igreja dele que iniciou a transmissão para os demais 9 mil que foram infectados. No momento, parece mais provável que, em vez de levar gente para o céu, Lee Man-hee vá levar para a cadeia mesmo, já que a Coreia do Sul rastreou toda a infestação, testou o país inteiro e sabe que as 21 mortes vieram do foco na seita.

Todos os 230 mil membros da seita já foram entrevistados por autoridades locais. O prefeito de Seul, Park Won-soon já iniciou o processo contra o líder da seita e diversos outros religiosos do grupo. A intenção dele é processar por assassinato, mas a promotoria ainda precisa analisar a viabilidade. Outra hipótese é pedir o fechamento definitivo da igreja, revogando a legitimidade do grupo religioso, o que já tem o apoio de 1,2 milhão de sul-coreanos.

Eu sou cristã, tenho fé. Acompanho os esforços de pastores de rebanhos enormes como Ed René Kivitz aqui em São Paulo ou o padre Reginaldo Manzano, em Curitiba, que me emocionou ao ter a ideia de rezar a missa para a igreja vazia transmitindo pelo YouTube e teve a delicadeza de colocar nos bancos as fotos dos fiéis que lotam suas cerimônias.

Tenho acompanhado aqui, na pequena cidade da grande São Paulo em que vivo, Cotia, o esforço dos pastores de igrejas muito pequenas e simples para entender o que é o coronavírus, explicar ao seu rebanho e manter o atendimento espiritual sem promover reuniões. Estão todos lutando bravamente.  Creio que um dia Deus me fará entender por que há gente que, falando em Seu nome, atenta contra sua criação mais perfeita, a vida humana, feita à Sua imagem e semelhança. Dizem que há uma explicação na 2a carta de Paulo aos Coríntios e teria relação com o curioso destino do anjo mais belo que já existiu. Um dia compreenderei.


Madeleine Lacsko - Vozes - Gazeta do Povo



sexta-feira, 24 de abril de 2015

O que foi o genocídio armênio e por que tantos líderes se recusam a falar sobre o assunto?



Nesta sexta-feira, o país relembra os cem anos do massacre de armênios cometido pelo Império Otomano (atual Turquia)
Nesta sexta-feira (24), a Armênia se prepara para relembrar os cem anos do que é considerado o primeiro grande crime contra a humanidade no século XX: o genocídio armênio. A cerimônia deverá contar com nomes importantes da política mundial, como o presidente da França, François Hollande, e da Rússia, Vladimir Putin. Mas chama a atenção a ausência de países como os Estados Unidos e Reino Unido, que evitam usar o termo "genocídio" para descrever os acontecimentos de 1915. O que foi o genocídio armênio, e por que, cem anos depois, continua causando controvérsia?
Membros da Igreja Apostólica Armênia fazem cerimônia de canonização das 1,5 milhões de vítimas do genocídio armênio em 1915 (Foto: Brendan Hoffman/Getty Images)

O que foi o genocídio armênio?
No dia 24 de abril de 1915, as autoridades do Império Otomano (atual Turquia) prenderam e mataram cerca de 200 intelectuais armênios em Constantinopla (atual Istambul). Segundo a Armênia, o ato foi o início de um programa sistemático das autoridades otomanas para exterminar toda a população armênia.

Nos dias que se seguiram, o governo otomano desapropriou cidadãos armênios em toda a Anatólia e iniciou um programa de deportação em massa. Os armênios foram forçados a deixar suas terras e seguir em uma marcha insana no meio do deserto da Síria, onde homens foram mortos por militares ou por tribos locais, mulheres foram alvo de estupro e crianças foram raptadas. Os que conseguiam chegar ao destino final simplesmente não tinham como sobreviver no meio do deserto - muitos morreram de fome ou de doenças.  No início de 1915, mais de 2 milhões de armênios viviam no território do Império Otomano. Cinco anos depois, eles eram menos de 400 mil.

Por que aconteceu?
O massacre dos armênios ocorreu em meio à Primeira Guerra Mundial. Na época, o Império Otomano controlava não só a Turquia, mas também parte da Síria, da Arábia, dos Balcãs e do território onde hoje é a Armênia. Em 1914, os turcos entraram na guerra ao lado da Alemanha. O objetivo era recuperar o território que estava ocupado pela Rússia.
A campanha dos otomanos foi um desastre, e os russos venceram uma série de batalhas. Alguns grupos de nacionalistas armênios apoiaram os russos na guerra, vendo a possibilidade de uma derrota otomana resultar na criação da República da Armênia. O resultado é que os otomanos passaram a culpar os armênios pelas derrotas, acusando-os de cooperar com a Rússia e de trair o império.

Mas foi mesmo genocídio?
O termo "genocídio" só foi cunhado algumas décadas depois – em 1944, pelo jurista Raphael Lemkin, para descrever o assassinato em massa de judeus na Alemanha nazista. O termo é geralmente interpretado como uma forma de designar uma tentativa organizada e sistemática para destruir um povo, um grupo ou uma etnia por parte de um governo. Reportagens e documentos diplomáticos da época indicam que houve, sim, um plano autorizado e organizado pelo governo otomano para acabar com o povo armênio, o que, portanto, caracteriza o massacre como genocídio.

A Turquia, no entanto, coloca grande esforço diplomático para negar isso. Para os turcos, não houve genocídio, e as mortes foram resultado da situação caótica que o país vivia durante a Primeira Guerra Mundial. A Turquia, como conhecemos hoje, foi formada após o colapso do Império Otomano. Vários dos oficiais otomanos que executaram o genocídio criaram, anos depois, as fundações da Turquia moderna. Eles são considerados heróis nacionais pela reconstrução do país. O resultado é que negar o genocídio virou uma política de Estado. Isso atinge tal nível de repressão que um dos maiores escritores da Turquia, o prêmio Nobel Orhan Pamuk, foi processado e condenado pela Justiça a pagar uma multa por dizer que houve genocídio.
Foto de 1915 mostra longa fila de armênios marchando após serem deportados pelas autoridades russas. Armênia relembra os cem anos do genocídio armênio, considerado o primeiro grande massacre do século XX (Foto: AP)
 
Por que outros países, além da Turquia, se recusam a tratar o caso como genocídio?
Em 2007, os Estados Unidos quase aprovaram um projeto de lei reconhecendo o massacre de armênios como um genocídio. O projeto foi barrado na última hora pelo então presidente George W. Bush. O cálculo do governo Bush era simples: a Turquia era um aliado do país na Guerra do Iraque. Mais de 70% dos suprimentos que os americanos enviavam para suas tropas no Iraque e no Afeganistão passavam pela base de İncirlik, controlada por turcos e americanos. Perder o apoio dessa base seria um problema. Barack Obama não mudou essa política. Ele deverá fazer um discurso nesta sexta, mas sem mencionar a palavra que começa com "g". Em vez disso, usará o termo "Meds Yeghern", que significa "grande calamidade" em armênio.

Na Europa, muitos países evitam o termo para não atrapalhar as relações diplomáticas com a Turquia, como é o caso do Reino Unido. No entanto, isso está mudando. No dia 12 de abril, o papa Francisco classificou o massacre como "o primeiro genocídio do século XX". Nesta sexta, espera-se que a Alemanha reconheça não só o genocídio, como também assuma uma parcela de responsabilidade,  já que os alemães eram aliados dos otomanos em 1915.

Os países que reconhecem o genocídio podem esperar retaliações diplomáticas ou comerciais. Quando a França fez isso, por exemplo, os turcos cancelaram um contrato militar. O caso mais recente ocorreu com a Áustria. O governo turco chamou seu embaixador em Viena de volta para Ancara e publicou uma nota acusando os austríacos de "dar lições aos demais sobre história".




Fonte: Revista Época




terça-feira, 14 de abril de 2015

Armênia, o primeiro país cristão do mundo, e o primeiro genocídio do século XX

A Armênia foi a primeira nação a se tornar cristã durante a era romana.
De acordo com a tradição antiga, a Arca de Noé repousou no Monte Ararate na Cordilheira Armênia. O Brasão da Armênia tem o Monte Ararate com a Arca de Noé em cima. O historiador armênio Movses Khorenatsi (410-490 d.C.) relatou a tradição de que Jafé, filho de Noé, tinha um descendente chamado Hayk que atirou uma flecha numa batalha perto do Lago Van cerca de 2.500 a.C., matando Nimrod, construtor da Torre de Babel que foi o primeiro tirano poderoso do mundo antigo.
Hayk é a origem de “Hayastan,” o nome armênio da Armênia. Os armênios antigos podem ter tido relações com os heteus e os hurritas, que habitavam aquela região conhecida como Anatólia no segundo milênio antes de Cristo. Yerevan, a maior cidade da Armênia e fundada em 782 a.C. à sombra do Monte Ararate, é uma das cidades do mundo que é habitada continuamente desde a antiguidade.
A Armênia foi mencionada pela primeira vez por nome em 520 por Dario o Grande da Pérsia. As fronteiras chegaram à sua extensão máxima sob o Rei Tigrane o Grande, 95-55 a.C., da Armênia, alcançando desde o Mar Cáspio até o Mar Mediterrâneo, rechaçando partos, selêucidas e a República Romana.
A Armênia foi a primeira nação no mundo a adotar oficialmente o Cristianismo como sua religião estatal cerca de 301 d.C., com a conversão do Rei Tiridates III. Os milhares de anos de história da Armênia incluem independência intercalada com ocupações de gregos, romanos, persas, bizantinos, mongóis, árabes, turcos otomanos e soviéticos.
Ani, a capital medieval da Armênia, era chamada de “a cidade das mil e uma igrejas,” com uma população de 200.000, rivalizando com Constantinopla, Bagdá e Damasco.
Em 1064, o sultão Alp Arslan e os turcos muçulmanos invadiram e destruíram a cidade de Ani. O historiador árabe Sibt ibn al-Jawzi registrou:
“O exército entrou na cidade, massacrou seus habitantes, pilhou e queimou-a, deixando-a em ruínas… Eram tantos cadáveres que eles bloqueavam as ruas; não se podia ir a lugar algum sem pisar neles. E o número de prisioneiros era não menos de 50 mil almas… Eu estava determinado a entrar na cidade e ver a destruição com meus próprios olhos. Tentei encontrar uma rua em que eu não tivesse de pisar em cadáveres, mas era impossível.”
Os turcos muçulmanos haviam transformado populações cristãs, judias e não muçulmanas conquistadas em cidadãos de segunda categoria chamados “dhimmi” e exigiam que eles pagassem um resgate anual para não serem mortos. O resgate era um imposto exorbitante chamado “jizyah”. O sultão Murat I (1359-1389) começou a prática de “devshirme” pegar meninos das famílias armênias e gregas conquistadas.
Esses meninos cristãos inocentes sofriam traumas e doutrinações sistemáticas para se tornarem guerreiros muçulmanos ferozes chamados “janízaros,” semelhantes aos soldados escravos “mamelucos” do Egito. Os janízaros eram forçados a chamar o sultão de pai e eram proibidos de casar, originando as práticas depravadas e a pederastia abominável dos turcos.
Durante séculos, os turcos fizeram conquistas no Mediterrâneo, Oriente Médio, Europa Oriental, Espanha e Norte da África, levando milhares para a escravidão. Começando no início do século XIX, o Império Otomano Turco começou a declinar. A Grécia, a Sérvia, a Bulgária e a Romênia ganharam sua independência.
Quando os sentimentos da Armênia se inclinaram para a independência, o sultão Abdul Hamid exterminou esses sentimentos massacrando 100.000 cristãos armênios na década de 1890.
Grover Cleveland, presidente dos EUA, declarou em 2 de dezembro de 1895:
“O que está acontecendo na Turquia continua a nos preocupar… Massacres de cristãos na Armênia e o crescimento… de um espírito de hostilidade fanática contra influências cristãs… estão recentemente chocando a civilização.”
O presidente Grover Cleveland disse ao Congresso dos EUA em 7 de dezembro de 1896:
“A situação preocupante na Turquia asiática… fúria de intolerância louca e fanatismo cruel… destruição desumana de lares e a chacina sanguinária de homens, mulheres e crianças, martirizados por sua fé cristã… Revoltas de fúria cega que levam a assassinatos e pilhagem na Turquia ocorrem de repente e sem aviso…
Theodore Roosevelt, presidente dos EUA, declarou ao Congresso em 6 de dezembro de 1904:
“…os armênios têm sido vítimas de… crueldade e opressão sistemática e prolongada… que ganharam do mundo civilizado indignação e piedade.”
Quando o sultão Abdul Hamid II foi deposto em 1908, houve uma breve euforia, com cidadãos inocentemente esperando que a Turquia tivesse um governo constitucional.
O governo foi tomado pelos “Jovens Turcos,” liderados por três líderes ou “paxás”: Mehmed Talaat Pasha, Ismail Enver Pasha e Ahmed Djemal Pasha.
Eles deram a aparência de que estavam planejando sancionar reformas democráticas enquanto estavam, clandestinamente, implementando um plano genocida para exterminar da terra todos os que não eram turcos muçulmanos.
O primeiro passo envolvia recrutar todos os rapazes armênios nas forças armadas. Em seguida, transformaram esses rapazes em soldados “não combatentes,” tirando-lhes as armas. No final, eles receberam ordens de marchar para matas e desertos, onde havia emboscadas aguardando para massacrá-los.
Com o extermínio dos rapazes armênios, as cidades e vilas armênias ficaram indefesas. Cerca de 2 milhões de idosos, mulheres e crianças foram forçados a marchar em direção ao deserto, foram atirados de penhascos ou queimados vivos.