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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Papa Francisco: 'Liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo'



Em viagem pela Ásia, pontífice condena mortes em nome da religião, mas alerta para limites do discurso

Em visita a países asiáticos, o Papa Francisco disse a jornalistas a bordo do avião papal que existem limites à liberdade de expressão quando as crenças dos demais estão envolvidas. Apesar de condenar severamente o ataque ao ‘Charlie Hebdo’, em Paris, o pontífice afirmou que o insulto e o deboche não podem ser naturalizados. — Matar em nome de Deus é uma aberração, mas a liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo — disse. — Acredito que tanto a liberdade religiosa quanto a de expressão são direitos humanos fundamentais. Todos têm não apenas o direito, mas a obrigação de dizerem o que pensam pelo bem comum. Podemos fazer isto sem ofender. Se, meu bom amigo, o doutor (Alberto) Gasparri (assessor que organiza as viagens papais), xingar minha mãe, pode esperar que levará um soco. É normal. Mas você não pode provocar, insultar a fé dos outros, fazer zombaria.

Papa Francisco em coletiva informal no avião rumo a Manila: pontífice condenou os dois lados envolvidos em massacre - Alessandra Tarantino / AP

Pontífice e jornalistas se dirigiam do Sri Lanka às Filipinas na viagem, e a questão da intolerância religiosa foi um dos temas principais na entrevista informal. Ele também falou de questões climáticas, em vista da Cúpula de Paris, mas o tema predominante foi a religião e seus conflitos. — Consideremos nossa própria história. De quantas guerras religiosas a Igreja Católica participou? Até nós fomos pecadores — avaliou.

O Papa ainda descartou temer um ataque a sua própria vida. — Estou nas mãos de Deus — brincou. — Se tenho medo? Vocês sabem que tenho o defeito de ser descuidado. Se algo acontecer comigo, avisei ao Senhor apenas que não doa, porque perco a coragem diante da dor.

Fonte: O Globo


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Por que nos mobilizamos pela França, mas nos esquecemos da Nigéria? ou a HIERARQUIA DA MORTE

Atentado ao ‘Charlie Hebdo’ coincidiu com ofensiva da Boko Haram no país africano 

O atentado ao Charlie Hebdo e a reação da opinião pública francesa têm dominado as capas dos jornais e revistas do mundo todo. Mas muitos ficaram surpresos com a menor atenção dada à ofensiva da seita islâmica Boko Haram no nordeste da Nigéria, que poderia somar até 2.000 mortos, em ações que incluíram o envio a um mercado de uma menina de 10 anos com explosivos atados ao corpo, provocando sua morte e a de outras 19 pessoas.

A imprensa anglo-saxã comenta a “hierarquia da morte”, ou seja, o fato de darmos mais cobertura a algumas vítimas do que a outras, especialmente no noticiário internacional. Essa hierarquia é influenciada por vários fatores, que podemos dividir em dois grupos: a proximidade e a qualidade da informação.

1. A proximidade. Interessa-nos mais o que ocorre em nosso país e em países próximos, e também se há alguma vítima local. A análise de Jacoba Urist na The Atlantic recorda como o The New York Times publicou mais de 2.500 obituários para os assassinados nos atentados de 11 de setembro de 2001, coisa que o EL PAÍS também fez com os mortos no ataque islâmico de 11 de março de 2004 em Madri.

“Toda informação é local”, diz o jornalista Miguel Ángel Bastenier, do EL PAÍS, “e se repercutimos as notícias internacionais é pela proximidade e pela vinculação que temos com esses países, e também pela qualidade da informação que conseguimos obter”. Ele acrescenta que “é preciso informar sobre a Nigéria, e se informa”, mas esses dois fatores fazem com que se fale mais sobre o atentado na França do que sobre muitos outros conflitos.


Cartaz das manifestações em Paris: "Eu sou Charlie. Não nos esqueçamos das vítimas de Boko Haram". / AFP

Tal proximidade provoca uma maior empatia entre jornalistas e leitores, mas também pode favorecer o confronto, observa a jornalista Leila Nachawati, cofundadora do site Syria Untold. “Há um posicionamento do ‘nós contra eles’”, algo que na opinião dela transparece, por exemplo, nas declarações oficiais sobre o atentado ao Charlie Hebdo, em que muitos líderes ocidentais apontaram “um ataque contra nós, contra nossos valores”, esquecendo-se de que esses grupos “nascem e se promovem dentro da Europa”.

No caso da Nigéria, a Boko Haram chamou a atenção da imprensa ocidental em relativamente poucas ocasiões, apesar de esse grupo estar ativo desde 2002 e já ter causado milhares de mortes. Uma dessas situações se deu após o sequestro de mais de 200 meninas em abril do ano passado. Naquela ocasião, a atenção foi motivada por uma campanha nas redes sociais, intitulada #BringBackOurGirls (“tragam nossas garotas de volta”), que contou com a participação, por exemplo, da primeira-dama norte-americana, Michelle Obama. Ou seja, tanto naquela época como agora (quando se compara a atenção midiática dada ao atentado de Paris com a cobertura do conflito nigeriano), o volume de informação cresce porque se busca relação com o que está ocorrendo no Ocidente.

2. A qualidade da informação. Muitos veículos de comunicação têm correspondentes ou enviados especiais em Paris, incluindo as agências de notícias, ao passo que é muito mais perigoso enviar informações do Estado nigeriano de Borno, majoritariamente controlado pela Boko Haram. Na verdade, os jornalistas sofrem ameaças tanto da Boko Haram quanto do próprio Governo.

Bastenier observa que um veículo de vocação global precisa buscar a melhor informação possível, e que sua obrigação é divulgá-la sempre que puder. Entretanto, a escassez de recursos faz com que se conte apenas, na melhor das hipóteses, com o material das agências, ao passo que há mais e melhores dados a respeito do que ocorre na França.

A repercussão do atentado ao Charlie Hebdo também se deve ao fato de a França ter um Governo estável, onde, portanto, é possível organizar uma manifestação gigantesca e convidar todos os líderes ocidentais: a foto da linha de frente da manifestação também é notícia.

O problema de não contar com recursos para informar diretamente sobre um conflito, publicando-se em vez disso basicamente notícias de agências e reportagens de outros veículos, pode levar a uma “desumanização do conflito”, o que torna ainda mais difícil a empatia com as vítimas, segundo Nachawati.

Além disso, é preciso levar em conta que se presta menos atenção a conflitos em andamento, pois eles são (tragicamente) previsíveis e, como explica Nachawati, há “um cansaço com relação a situações como as da Síria, Iraque ou Nigéria”. Vemos esses países como se estivessem em um conflito permanente, “visão que se perpetua e sobre a qual não há intenção de se aprofundar”. Esses conflitos são tratados a partir desse filtro, ao qual se soma o fator geoestratégico: não interessa o que acontece com os cidadãos sírios ou nigerianos, e sim “o que opinam e o que fazem os Estados Unidos e a Rússia”.

Apesar de todas essas dificuldades, Nachawati considera que é preciso informar mais sobre conflitos como o da Nigéria, e para isso ela aposta em “se aproximar da opinião pública”, informando sobre associações e campanhas civis. Com esse objetivo, é preciso desenvolver “redes de confiança, o que agora ficou mais fácil do que há alguns anos”. Mas continua sendo uma tarefa de longo prazo.

Fonte: El País

 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

“Charlie Hebdo” é um jornal racista, apostando nos ódios e conflitos sob o pretexto de fazer graça

Nada justifica o atentado e o preconceito

Se o atentado de semana passada é abominável, também o é o racismo estampado nas páginas do ‘Charlie Hebdo’, como metralhadora giratória que atira contra tudo e todos

Nada justifica o atentado odioso ocorrido em Paris, semana passada, quando extremistas islâmicos invadiram o escritório do jornal “Charlie Hebdo” para executar cartunistas, matando ainda mais outras oito pessoas. Crime covarde e inaceitável. Nada o justifica.

Na França e em diversas partes do mundo, multidões nas praças públicas assumiram a frase já símbolo do repúdio ao crime: “Eu sou Charlie". Se a reação coletiva e pública de rejeição ao crime é louvável, também não deixa de ser, ao mesmo tempo, surpreendente: por que a maioria da opinião mundial assume, simbolicamente, a identidade do periódico?
“Charlie Hebdo” é um jornal racista. Por meio de cartuns e palavras, amparado na liberdade de expressão e no humor, ataca e ofende religiões e não somente a muçulmana etnias, nacionalidades as mais variadas, gêneros, desrespeitando tudo e todos. Isso é engraçado? Ser Charlie é, antes de tudo, ser racista, preconceituoso, intolerante diante da diferença. É atiçar o ódio, o conflito, a guerra. 

O slogan, portanto, traz essa contradição: ao repudiar o crime de uma facção jihadista, com razão considerada intolerante, assume, na contramão, a identidade racista e preconceituosa do “Hebdo”. Contra a barbárie do crime, assume a barbárie do preconceito, do estereótipo. Basta uma breve pesquisa no Google para constatar a “filosofia” dos cartunistas.

A França tem um passado de guerras civis provocadas por intolerância religiosa ou política de grau máximo. Cito apenas dois exemplos. No passado distante, na Noite de São Bartolomeu, em 1572, foram executados, por católicos fanáticos, milhares de protestantes, incluindo crianças, idosos e mulheres desarmadas. Isso em uma época em que a religião, entre cristãos europeus, era questão de vida ou morte. A Noite de São Bartolomeu tornou-se um exemplo da violência religiosa da época, como mostra o filme clássico de D.W. Griffith, “Intolerância”, de 1916. No passado recente, durante a Segunda Guerra Mundial, o país viveu uma autêntica guerra civil entre colaboracionistas ou apoiantes do regime de Vichy, aliado do ocupante estrangeiro, a Alemanha nazista, e os combatentes da Resistência. 

A França, assim como a Europa, em geral, vive há algum tempo o fenômeno das imigrações em massa, com a chegada de milhões de pessoas de diferentes origens, fugindo de guerras, perseguições, misérias sem fim, que devastam seus países. As sucessivas gerações já radicadas produziram um país multicultural. As tensões presentes nessa configuração são enormes. Muitos já são cidadãos, nascidos no país, alguns integrados à cultura francesa, embora a maior parte se sinta marginalizada, povoando as periferias, alocados em trabalhos desqualificados, desempregados. Mas são todos franceses de procedência diversa.

É no mínimo curioso que Le Pen, mentor da ultradireita francesa nas últimas décadas, tenha repudiado o atentado, sem endossar o lema Je suis Charlie. Rejeitou o atentado porque foi ato criminoso e perpetrado por grupos que ele rejeita a priori; mas rejeitou também o jornal, por considerá-lo anarco-trotskista, logo inimigo do movimento que lidera. Ficou mesmo é numa saia justa. Mas não percebeu, ou fingiu não perceber, que a Frente Nacional compartilha certas ideias do “Charlie Hebdo". Ambos racistas.

Se o atentado de semana passada é abominável, também o é o racismo estampado nas páginas do “Charlie Hebdo", como uma metralhadora giratória que atira contra tudo e todos, apostando nos ódios e conflitos sob o pretexto de fazer graça. A França já deveria ter aprendido a lidar com as diferenças religiosas, políticas, nacionais e raciais, que marcam a sua história. Revalorizar o melhor do Iluminismo, como Rousseau. Lembrar da liberdade, claro, mas também da igualdade e da fraternidade, a tríade que compunha o lema da sua grande Revolução.

Por: Denise Rollemberg é professora de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense - Publicado em O Globo

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Pilar da democracia



Num momento em que a liberdade de expressão está em xeque em diferentes instâncias, seja de maneira dramática pela ação terrorista em Paris para calar as sátiras do Charlie Hebdo, ou em diversas partes do mundo, em que governos totalitários tentam limitar, ou mesmo barrar, a liberdade de crítica da mídia independente, faz bem tomar conhecimento dos conceitos emitidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello à respeito do tema.

Sobretudo quando, iniciado o segundo mandato da presidente Dilma, foi colocado no Ministério das Comunicações um fervoroso adepto do chamado controle social da mídia, com a única missão de conseguir o objetivo que alas radicais petistas tentam alcançar desde o início do primeiro governo Lula, em 2003.

Homem do partido, Ricardo Berzoini já ocupou diversos cargos – ministro da Previdência Social, do Trabalho, das Relações Institucionais e agora das Comunicações -, é um verdadeiro apparatchik petista, aceita missões e cumpre ordens. Como na eleição de 2006, quando comandava o PT e o grupo dos "aloprados" foi apanhado tentando comprar um dossiê falso contra os candidatos do PSDB. A mais recente é tentar aprovar uma legislação que permita ao governo controlar os meios de comunicação.

Pois em uma das últimas sessões do ano do Supremo Tribunal Federal, em novembro passado, entrou em pauta o recurso extraordinário do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros contra o empresário Carlos Jereissati, por desavenças durante o processo de privatização das teles em 1998. O caso está pendente por que, após o voto do ministro Marco Aurélio, outro ministro, Luiz Fux, pediu vista, e só será retomado na volta do recesso do Judiciário, em fevereiro.

O importante para o tema em discussão é a opinião de Marco Aurélio sobre a liberdade de expressão, base do recurso extraordinário do ex-ministro contra a acusação do empresário de que teria sofrido “graves danos morais” quando sugerido que ele teria feito gravações ilegais de conversas do então ministro das Comunicações.

Marco Aurélio começa seu voto dizendo que a liberdade de expressão tem “como único paralelo, em escala de importância, o princípio da dignidade da pessoa humana, ao qual está relacionada”.  O ministro cita a Suprema Corte dos Estados Unidos, em decisão de 1943, que diz que “se existe uma estrela fixa em nossa constelação constitucional, é que nenhuma autoridade, do patamar que seja, pode determinar o que é ortodoxo em política, religião, ou em outras matérias opináveis, nem pode forçar os cidadãos a confessar, de palavra ou de fato, a sua fé nelas”.

Para Marco Aurélio, “tal direito é alicerce, a um só tempo, do sistema de direitos fundamentais e do princípio democrático, surgindo como genuíno pilar do Estado Democrático de Direito”. O ministro, mesmo tendo pensamento diferente, admite que o STF tem proclamado que nenhum direito é absoluto, nem mesmo a liberdade de expressão. Mas lembra que nos Estados Unidos é adotada a doutrina de posição preferencial da liberdade de expressão, pois sua restrição representa risco para a sociedade.
Essa interpretação, segundo ele, é seguida pela Corte Constitucional da Alemanha e pela Corte Europeia de Direitos Humanos. “A liberdade de expressão é garantia preferencial em razão da estreita relação com outros princípios e valores constitucionais fundantes, como a democracia, a dignidade da pessoa humana e a igualdade”, afirma Marco Aurélio em seu voto. 

Sob o prisma do princípio democrático, analisa o ministro do STF, a liberdade de expressão impede que o exercício do poder político possa afastar certos temas da arena pública de debates. Para ele, “a crítica revela-se essencial ao aperfeiçoamento das instituições públicas”.  Nesse sentido, cabe ao Estado criar ambiente propício ao debate, mas também fomentar a crítica aos próprios programas. Sobretudo por que “em uma democracia pluralista, o fechamento dos canais de discussão pode implicar o alijamento de grupos minoritários”.

Fonte: Merval Pereira – O Globo


Quatro perguntas para... Maha Abdelaziz, professora do Centro Islâmico de Brasília



Como a comunidade muçulmana avalia os ataques radicais, como o ocorrido na França?
Claro que eu não sou favorável ao terrorismo, à matança, ao derramamento de sangue, mas morrem nove pessoas e o mundo vira de ponta a cabeça. Morreu um milhão de pessoas no Egito, na Síria, na Palestina, em Borno (Nigéria), mas ninguém fala nada. Um dia antes do acontecimento na França, morreram milhares de muçulmanos em Borno. Os muçulmanos estão sendo perseguidos.

Qual a orientação a respeito das críticas feitas à religião?
Não pode haver agressão, não aceitamos que se agrida moralmente ninguém. Isso é uma agressão. Eles (jornalistas do Charlie Hebdo) tiveram um ato violento moralmente. Foi uma crítica moral ao nosso profeta.

Ataques radicais não comprometem a credibilidade muçulmana?
Claro. A religião muçulmana é uma religião da paz. Quando respondi a primeira pergunta, demonstrei indignação com a opinião do mundo. Quando morre meia dúzia de não muçulmanos, o mundo vira de ponta a cabeça, sendo que estão morrendo milhares de muçulmanos e o mundo fica olhando de camarote.

Como separar os muçulmanos fieis, aqueles pacíficos, dos radicais?
Tais termos são plantados para denegrir a imagem dos muçulmanos. Não existe terrorista, radical. Todo mundo tem o sangue quente. Como massacram os muçulmanos no mundo inteiro e não querem uma reação? Cada ação tem uma ação do mesmo tamanho e no sentido contrário. Seria tolo e idiota tanta violência, tanto massacre e ficarmos olhando. Esses ataques que vocês chamam de terrorista é uma resposta a tanta barbaridade que acontece contra os muçulmanos. Nossa religião não incentiva violência, jamais incentiva derramamento de sangue, só que infelizmente essa é a resposta à crueldade. Vocês podem esperar coisa pior.

Fonte: Blog do Noblat

domingo, 11 de janeiro de 2015

O que motiva qualquer órgão da imprensa a debochar das religiões? dos símbolos religiosos?

Por que o Ocidente ainda tem de pedir desculpas ao Islã? Ou: Vagabundos morais flertam com o terror. Ou ainda: “Islamofobia” uma ova!

Volto ao trabalho na segunda, mas antecipo um texto que, dado o que leio por aí, me parece necessário. O terrorismo islâmico sequestrou boa parcela da consciência do Ocidente. Antes que se impusesse por intermédio da brutalidade e da barbárie, seus agentes voluntários e involuntários fizeram com que duvidássemos dos nossos próprios valores. Antes que matassem nossas crianças, nossos soldados, nossos jornalistas, nossos chargistas, nossos humoristas, atacaram, com a colaboração dos pusilânimes do lado de cá, os nossos valores. “Nossos, de quem, cara-pálida?”, perguntará um dos cretinos relativistas do Complexo Pucusp. Os do Ocidente cristão e democrático.

Mesmo gozando de merecidas férias, comprometido principalmente com o nascer e o pôr do sol, acompanhei o que se noticiou no Brasil e no mundo sobre o ataque covarde ao jornal francês “Charlie Hebdo”, que deixou 12 mortos na França. Na nossa imprensa e em toda parte, com raras exceções, a primeira preocupação, ora vejam!!!, era não estimular a “islamofobia”, uma mentira inventada pela máquina de propaganda dos centros culturais de difusão do Islã no Ocidente. Nota à margem: a “fobia” (se querem dar esse nome) religiosa que mais mata hoje é a “cristofobia”. Todo ano, mais ou menos 100 mil cristãos são assassinados mundo afora por causa de sua religião. E não se ouve a respeito um pio a Orientes e Ocidentes.

Uma curiosidade intelectual me persegue há tempos: por que cabe ao Ocidente cristão combater a suposta “islamofobia”? Por que as próprias entidades islâmicas também não se encarregam no assunto? Sim, muitas lideranças mundo afora repudiaram o ataque ao jornal francês, mas sugerindo, com raras exceções, nas entrelinhas, que se tratava de uma resposta injusta e desproporcional a uma ofensa que de fato teria sido desferida contra o Islã e o Profeta. E então chegamos ao cerne na questão.

Sou católico. As bobagens e ignorâncias que se dizem contra a minha religião e já faz tempo que o ateísmo deixou de ser um ninho de sábios —, com alguma frequência, me ofendem. E daí? Há muito tempo, de reforma em reforma, o catolicismo entendeu que não é nem pode ser estado. A religião que nasceu do Amor e que evoluiu, sim, para uma organização de caráter paramilitar, voltou ao seu leito, certamente não tão pura e tão leve como nos primeiros tempos, maculada por virtudes e vícios demasiadamente humanos, mas comprometida com a tolerância, com a caridade, com a pluralidade, buscando a conversão pela fé.

Não é assim porque eu quero, mas porque é: o islamismo nasce para a guerra. Surge e se impõe como organização militar. Faz, em certa medida, trajetória contrária à do catolicismo ao se encontrar, por um tempo ao menos, com a ciência, mas retornando, pela vontade de seus líderes, ao leito original. Sim, de fato, ao pé da letra, há palavras de paz e de guerra, de amor e de ódio, de perdão e de vingança tanto no Islã como na Bíblia. De fato, também no cristianismo, há celerados que fazem uma leitura literalista dos textos sagrados. E daí? Isso só nos afasta da questão central.

Em que país do mundo o cristianismo, ainda que por intermédio de seitas, se impõe pela violência e pelo terror? Em que parte da terra a Bíblia é usada como pretexto para matar, para massacrar, para… governar? É curioso que diante de atos bárbaros como o que se viu na França, a primeira inclinação da imprensa ocidental também seja demonstrar que o Islã é pacífico. Desculpem-me a pergunta feita assim, a seco: ele é “pacífico” onde exatamente?

Em que país islâmico, árabe ou não, os adeptos dessa fé entendem que os assuntos de Alá não devem se misturar com os negócios de estado? À minha moda, sou também um fundamentalista: um fundamentalista da democracia. Por essa razão, sempre que me exibem a Turquia como exemplo de um país majoritariamente islâmico e democrático, dou de ombros: não pode ser democrático um regime em que a imprensa sofre perseguição de caráter religioso — ainda que venha disfarçada de motivação política, não menos odiosa, é claro!

Cabe às autoridades islâmicas, das mais variadas correntes, fazer um trabalho de combate à “islamofobia”. E a fobia será tanto menor quanto menos o mundo for aterrorizado por fanáticos. Ora, não é segredo para ninguém que o extremismo islâmico chegou ao Ocidente por intermédio de “escolas” e “centros de estudo” que fazem um eficiente trabalho de doutrinação, que hoje já não se restringe a filhos de imigrantes. A pregação se mistura à delinquência juvenil, atraída — o que é uma piada macabra — pela “pureza” de uma doutrina que não admite dúvidas, ambiguidades e incertezas.

Ainda voltarei, é evidente, muitas vezes a esse assunto, mas as imposturas vão se acumulando. Há, sim, indignação com o ocorrido, mas não deixa de ser curioso que a imprensa ocidental tenha convocado os chargistas a uma espécie de reação. Sim, é muito justo que estes se sintam especialmente tocados, mas vamos com calma! O que se viu no “Charlie Hebdo” não foi um ataque ao direito de fazer desenhos, mas ao direito de ter uma opinião distinta de um primado religioso que, atenção!, une todas as correntes do Islã.

É claro que um crente dessa religião tem todo o direito de se ofender quando alguém desenha a imagem do “Profeta” assim como me ofendo quando alguém sugere que Maria não passava de uma vadia, que inventou a história de um anjo para disfarçar uma corneada no marido. Ocorre que eu não mato ninguém por isso! Ocorre que não existem líderes da minha religião que excitam o ódio por isso. Se um delinquente islâmico queima uma Bíblia, ninguém explode uma bomba numa estação de trem.
 
E vimos, sim, a reação dos chargistas, mas, como todos percebemos, quase ninguém se atreveu a desenhar a imagem do “Profeta” — afinal de contas, como sabemos, isso é proibido, não é? Que o seja em terras islâmicas, isso é lá problema deles, mas por que há de ser também naquelas que não foram dominadas pelos exércitos de Maomé ou de onde eles foram expulsos?

Tony Barber, editor para a Europa do “Financial Times”, preferiu, acreditem, atacar o jornal francês. Escreveu horas depois do atentado: “Isso [a crítica] não é para desculpar os assassinos, que têm de ser pegos e punidos, ou para sugerir que a liberdade de expressão não deva se estender à sátira religiosa. Trata-se apenas de constatar que algum bom senso seria útil a publicações como ‘Charlie Hebdo’ ou ‘Jyllands-Posten’ da Dinamarca, que se propõem a ser um instrumento da liberdade quando provocam os muçulmanos, mas que estão, na verdade, sendo apenas estúpidos”.

Barber é um vagabundo moral, um delinquente, e essa delinquência se estende, lamento, ao comando do “Financial Times”, que permitiu que tal barbaridade fosse publicada. Alguém poderia perguntar neste ponto: “Mas onde fica, Reinaldo, o seu compromisso com a liberdade de expressão se acha que o texto de Barber deveria ser banido do FT?”. Respondo: a nossa tradição, que fez o melhor do que somos, não culpa as vítimas, meus caros. Barber usa a liberdade de expressão para atacar os fundamentos da… liberdade de expressão. Todas as religiões podem ser praticadas livremente nas democracias ocidentais porque todas podem ser igualmente criticadas, inclusive pelos estúpidos. Mas como explicar isso a um estúpido como Barber, um terrorista que já está entre nós? [cabe um reparo ao magnífico texto do excelente Reinaldo: o que autoriza qualquer jornal, de qualquer país, tamanho, idioma ou o que for, a debochar da religião dos outros?
como chamar de "liberdade de expressão' se valer da imprensa - qualquer tipo de mídia - para debochar de uma crença religiosa? de um símbolo religioso?
o que o mundo, o que a tão decantada 'liberdade de expressão' ganha quando alguém debocha, vilipendia um símbolo de uma determinada religião?]

Fonte: Reinaldo Azevedo - Blog na VEJA OnLine