Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Fúria e ressentimentos são continuamente atiçados e se espalham pelo mundo. A solução só virá quando se abrir uma brecha no império do rancor
DO LADO DE CÁ - Violência: soldado de Israel usa a força para reprimir manifestante palestino na Cisjordânia (Jaafar Ashtiyeh/AFP)
As guerras são a mais extrema expressão da barbárie e desgraçadamente não faltam exemplos de horrores e mortandade ao longo da história.
Mas poucas vezes a violência sem limites escalou de maneira tão vertiginosa quanto a que se observa no duelo atual entre a força militar de Israel e os militantes do Hamas, que acaba de completar um mês.
A trágica contabilidade de mortos partiu do altíssimo patamar de 1 400 pessoas massacradas no dia 7 de outubro, quando o grupo palestino cruzou os limites da Faixa de Gaza em um devastador ataque-surpresa.
A resposta israelense foi deslanchar uma ofensiva para aniquilar o inimigo que, na conta do Ministério da Saúde da superpovoada Gaza, já matou mais de 10 000 pessoas, quase metade delas crianças.
Os sangrentos trinta dias de confronto desembocaram em uma agressividade de proporção inédita no campo de batalha da opinião pública, com o disparo maciço nas redes sociais de cenas de execuções, bombardeios de escolas, colapso de hospitais e bebês sem vida.
O mundo se repartiu entre contra e a favor, sufocando o meio-termo e abrindo espaço para o mais virulento preconceito. “A mente está cheia até a borda com nossa própria dor e não sobra espaço nem para reconhecer a dor dos outros”, escreveu o historiador e filósofo israelense Yuval Harari. Pairando sobre tudo, o ódio, sentimento que cega e escraviza, vai cumprindo seu papel de aprofundar as históricas desavenças entre árabes e judeus, fazendo delas uma questão pessoal, de indivíduo contra indivíduo, com ecos em toda parte e sem solução à vista.
Nos últimos dias, tanques e tropas cercaram a cidade de Gaza, a maior do enclave, e iniciaram a incursão pela rede de túneis controlada pelo Hamas. “Estamos em uma nova etapa da guerra”, declarou o porta-voz do Exército Daniel Hagari, ao mesmo tempo em que o secretário-geral da ONU, António Guterres, subia o tom, afirmando que Gaza está se tornando “um cemitério de crianças”. Discute-se a implantação de “pequenas pausas humanitárias” nos combates — as forças israelenses deram quatro horas para moradores da Cidade de Gaza deixarem o local —, e as listas para a saída de estrangeiros e feridos graves pelo Egito são divulgadas a conta-gotas (34 brasileiros estão na fila).
Não se sabe o que será de Gaza após a ofensiva militar. Negociações estão em curso para que a mais moderada Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia, assuma o território, mas ela terá que conviver com a presença israelense— o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu antecipou que o país “será responsável pela segurança por um período indefinido”.A marcha da insensatez se acelerou com a declaração de Amihai Eliyahu, ministro do Patrimônio — cargo criado para acomodar a extrema direita religiosa que faz parte do governo —, de que o uso de bombas nucleares em Gaza “seria uma opção”. Foi afastado e desautorizado, mas o estrago estava feito.
Nada do que se discute agora sinaliza um caminho para a paz — pelo contrário, são ações que, como já aconteceu outras vezes, cristalizam raiva e ressentimentos que se espalham pelo planeta.
Os casos de antissemitismo e de islamofobia mais do que triplicaram na Europa e nos Estados Unidos no último mês. No estado de Illinois, o menino de origem palestina Wadea Al Fayun, 6 anos, foi esfaqueado pelo dono do apartamento onde ele morava com a família, um septuagenário que, segundo sua mulher, “escuta talk shows conservadores no rádio” e andava obcecado pelo conflito no Oriente Médio.
Em Lyon, na França, uma mulher judia foi ferida a facadas por um homem que bateu à sua porta e, para não deixar dúvida quanto à motivação do crime, pichou uma suástica na entrada da casa.
Estrelas de Davi apareceram pintadas na fachada de prédios habitados por judeus em Paris.
No longínquo Daguestão, país muçulmano às margens do Mar Cáspio, uma turba invadiu o saguão de um aeroporto pretendendo linchar passageiros que desembarcavam de Tel Aviv. “No mundo conectado em que vivemos, quem já têm inclinação para a violência reforça sua visão. As pessoas estão buscando motivos para confirmar seus preconceitos”, diz Wendy Via, cofundadora do Global Project Against Hate and Extremism.
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As expressões de ódio despertadas pelo conflito entre árabes e judeus derramaram-se, com força nunca vista, pelas universidades americanas, um terreno minado pela polarização política e pelo racha talhado pela cultura woke, que leva às últimas consequências o conceito do politicamente correto. Em Harvard, trinta organizações estudantis não só condenaram Israel como abraçaram o execrável slogan “Do rio ao mar, a Palestina será livre” — à primeira vista inocente, mas que embute a sumária destruição total do Estado judeu (por repetir o desatino, Rashida Tlaib, única deputada de origem palestina dos Estados Unidos, recebeu um raríssimo voto de censura da Câmara).
Em Cornell, outra instituição de elite, um aluno disparou nas redes sociais ameaças de morte a estudantes judeus. Tulane, em Nova Orleans, foi palco de agressões generalizadas entre apoiadores dos dois lados quando um manifestante tentou incendiar uma bandeira de Israel. Em Stanford, na Califórnia, a polícia investiga como crime de ódio a morte de um judeu nas proximidades de um ato pró-Palestina. “O discurso, no meio universitário, repisa que os dois povos não podem viver naquela região porque um lado representa o domínio imperialista e o outro rejeita a civilização ocidental. É a islamofobia batendo boca com o antissemitismo”, resume Michel Gherman, professor de história da UFRJ nascido em Israel e tachado de antissemita em um debate na PUC carioca.
O antissemitismo observado nos dias de hoje é uma chaga que teve origem no fim do século XIX, concentrado principalmente na Europa.
As aceleradas mudanças políticas e econômicas da época, um processo repleto de conflitos que iriam descambar em duas guerras mundiais, desagradaram a nacionalistas que, em busca de um bode expiatório, atribuíram os problemas surgidos à minoria religiosa que controlava parte das instituições financeiras — início de uma perseguição movida pela intolerância que culminou no Holocausto e nos 6 milhões de mortos pelas atrocidades nazistas.
A fogueira da islamofobia se acenderia meio século depois,quando árabes começaram a migrar para países europeus em busca de vida melhor. Ela explodiria neste século, em que as imensas levas de imigrantes ilegais, associadas à violência latente nas periferias pobres das grandes cidades, desencadearam um turbilhão antimuçulmano. “O antissemitismo e a islamofobia têm a mesma raiz ideológica e é justamente isso que impede que as duas vítimas se reconheçam em pé de igualdade e possam dialogar”, ressalta Arlene Clemesha, professora de história árabe da USP.
O clima de animosidade entre árabes e judeus se fez presente já na origem dos dois povos: como era comum na convivência das tribos naquela época, as escrituras relatam choques entre os descendentes dos dois filhos de Abraão — Ismael, que viria a formar a nação árabe, e Isaac, tronco do judaísmo.“Os dois povos semitas entraram em conflito por terras já em XVII a.C.”, relata o teólogo Jacir de Freitas, autor de A História de Israel e as Pesquisas Mais Recentes. Apesar dessas diferenças, árabes e judeus repartiram o que é hoje a Palestina com relativa civilidade durante milênios.
O conflito do qual a guerra atual é a mais recente e mais mortífera consequênciatem como ponto de partida as movimentações que resultaram na proposta, apresentada pela ONU em 1947, de divisão da Palestina para a formação do Estado de Israel.
Nacionalistas palestinos e sionistas se mobilizaram contra e a favor da partilha, a Liga Árabe tomou partido e os tiros começaram a ser disparados.
Três guerras entre israelenses e alianças militares árabes, inúmeros e horripilantes atentados terroristas e seguidas revoltas sufocadas a bala e bombas depois, judeus e palestinos vivem no mesmo espaço, mas separados por uma montanha de fúria e desconfiança. “O ódio não é a causa dos acontecimentos históricos, mas sim seu subproduto. Frequentemente políticos e ideólogos incitam esse sentimento para ganhar poder e influência”, ensina Norman Naimark, professor de história da Universidade de Stanford.
Sentimento inerente à condição humana, o ódio se situa entre a raiva e o nojo, duas das seis emoções básicas universais descritas pelo psicólogo americano Paul Ekman. Ambas têm lá sua justificativa: enquanto a raiva pressupõe ação diante de algo percebido como errado ou injusto, o nojo serve para evitar contato com perigos e ameaças — na evolução, manteve humanos longe de comidas venenosas ou estragadas. “Mas a combinação é destrutiva”, explica Robert Sternberg, professor de psicologia da Universidade Cornell. “Seu estímulo provém de narrativas falsas, que convencem as pessoas de que o outro está roubando seus recursos e seu destino.” O psicólogo social Aharon Levy completa: “Em uma situação de ódio entre grupos, cada lado acredita que está moralmente correto, ao passo que o inimigo é imoral e não pode mudar”.
A dinâmica do ódio já serviu de base para episódios estarrecedores de massacres de populações. Em 1995, 8 000 muçulmanos foram brutalmente assassinados por forças sérvias em Srebrenica, na Bósnia e Herzegovina. Um ano antes, os hútus executaram 800 000 tútsis, só por serem tútsis, em Ruanda.
No mais impactante ato de terrorismo jamais visto, dois aviões lotados derrubaram as torres gêmeas do World Trade Center, em plena Nova York, matando cerca de 3 000 pessoas, todas civis.
Individualmente, o escritor indo-britânico Salman Rushdie passou anos escondido, com a cabeça posta a prêmio por citar o profeta Maomé no romance Os Versos Satânicos.
Voltou a circular e em 2022, mais de três décadas depois, um fanático o esfaqueou.
Sobreviveu, mas perdeu a visão de um olho e teve o fígado perfurado.
Por outro lado, conflitos que pareciam impossíveis de ser contornados deixaram de existir: franceses se reconciliaram com ingleses após séculos de enfrentamentos, japoneses fizeram as pazes com americanos, depois da II Guerra, alemães assumiram a responsabilidade e se penitenciaram pelos crimes nazistas. No sofrido Oriente Médio, resta torcer para que uma brecha se abra e a voz da razão possa um dia ser ouvida.
Publicado em VEJA, edição nº 2867, de 10 de novembro de 2023
Orbán nasceu da derrubada de um muro e transformou-se no principal arauto da construção de muros
Há 30 anos, entre a noite de 10 de setembro de 1989 e a manhã seguinte, o
êxodo começou. Milhares de alemães do leste com vistos de turismo
cruzaram a fronteira entre Hungria e Áustria. Na passagem, cada
motorista recebeu pouco mais de US$ 25 doados pela Cruz Vermelha para
pagar o combustível até a Alemanha Ocidental. Ali, começou a ruir o Muro
de Berlim, que desabaria dois meses depois, no 9 de novembro. A
história inteira, relida hoje, é um conto sobre a indignidade e o
declínio de valores.
O ponto de partida situa-se pouco antes, no 27 de agosto, quando o
governo comunista húngaro cedeu à pressão e cortou a cerca erguida na
fronteira com a Áustria. Vivia-se o ocaso de uma era. Da capital da
Tchecoslováquia, vinham os ecos de uma grande manifestação em memória do
21º aniversário da invasão soviética que arrasou a Primavera de Praga.
Dos países bálticos, as imagens de uma corrente humana de dois milhões
de letões, estonianos e lituanos que exigiam liberdade e independência.
Mas a ruptura física da cerca húngara de arame farpado, um ato simbólico
protagonizado pelos ministros do Exterior da Hungria e da Áustria,
assinalou a quebra da Cortina de Ferro.
No 27 de agosto, um estudante húngaro acompanhava as notícias de longe,
na Universidade de Oxford. Chamava-se Viktor Orbán, tinha 26 anos e
beneficiava-se de uma bolsa concedida pela Fundação Soros. No ano
anterior, ele tinha ajudado a fundar o Fidesz, um partido oposicionista
ilegal, democrático e liberal. De volta a seu país, fez carreira
política meteórica, elegendo-se primeiro-ministro em 1998. Hoje, o líder
que nasceu da derrubada de um muro converteu-se no principal arauto da
construção de muros. Orbán é a face icônica da Europa xenófoba que
invoca o direito do sangue para implantar barreiras de arame farpado
diante de refugiados do Oriente Médio e do norte da África.
São dois capítulos distintos. No seu mandato original, até 2002, Orbán
conservou-se fiel aos princípios liberal-democráticos, conduzindo as
negociações de acesso da Hungria à União Europeia. Já no segundo
mandato, iniciado em 2010, vestiu as roupagens de um nacionalista
conservador, armando os canhões paralelos da islamofobia e do
antissemitismo. Então, a pólvora da “civilização cristã” passou a
impulsionar seus obuses dirigidos contra dois alvos: os imigrantes e a
globalização.
Os imigrantes são os refugiados sem rosto que vêm de terras devastadas
pela violência. A globalização tem, na propaganda estatal emanada de
Orbán, o rosto do investidor George Soros, seu antigo patrono, retratado
como o “judeu errante”, o “judeu sem pátria”, o manipulador
inescrupuloso dos destinos do mundo. A direita nacionalista atual(inclusive a brasileira) oculta suas raízes antissemitas atrás de um
alinhamento completo com o governo israelense de Benjamin Netanyahu. Mas
o líder húngaro fala tudo, expondo o lado oculto da lua.
“Democracia iliberal” — eis o rótulo de Orbán para o sistema de governo
que instalou. “Conhecendo o presidente por bons 25 ou 30 anos, posso
dizer-lhe que ele adoraria ter a situação que tem Orbán”, confessou
David Cornstein, velho amigo de Donald Trump e embaixador americano em
Budapeste. O chefe do governo húngaro manietou a imprensa, subordinou o
Judiciário e enfrentou, com sucesso, a política de abertura aos
refugiados ensaiada pela alemã Angela Merkel em 2015. Nesse percurso,
transformou-se no farol dos partidos da direita nacionalista europeia.
A Praça do Parlamento, em Budapeste, perdeu a estátua de Imre Nagy, o
líder da revolução democrática húngara de 1956, erguida em 1996 e
removida em 2018 por uma ordem de Orbán destinada a agradar a seu aliado
Vladimir Putin. A Universidade Centro-Europeia, melhor instituição de
ensino superior da Hungria, financiada pela Fundação Soros, está sendo
expulsa do país por injunções do governo. De certo modo, a Hungria
restabelece a cerca de arame farpado cortada há 30 anos. Orbán não economiza elogios ao governo de um país distante:
“A mais apta
definição da democracia cristã moderna pode ser vista no Brasil, não na
Europa”.
A barbárie
ocorrida na França deixa o mundo diante de um impasse.O extermínio de
células terroristas pode passar perigosamente pelo sacrifício de vítimas
inocentes aumentando ainda mais,de lado a lado, a intolerância social.
Mirar as regiões conflagradas pelo terrorismo como alvo de ataques
indiscriminados,tal qual vem acontecendo, coloca todos ali como
culpados das atrocidades em série, não importando o papel de cada um
nesses crimes.
No momento, hordas de imigrantes sírios cruzam fronteiras
e avançam sobre a Europa fugindo do caos. Em nada compactuam com os
atentados covardes e cruéis dos “jihadistas”. Ao contrário. Sofreram com
os atos cometidos por esses grupos, perderam tudo e almejam refúgio.
Milhares de famílias, na luta incessante pela vida e contra o crescente
avanço do Estado Islâmico, aventuram-se em travessias desumanas.
Atiram-se ao mar. Em romaria desesperada sonham com a ajuda do Primeiro
Mundo. Na maioria das vezes batem com a cara nas armas de polícias
fronteiriças. São discriminados. Já eram vistos com crescente
desconfiança.
Temem agora o pior. Acreditam que do mero sentimento de
resistência muitos daqui por diante alimentem uma xenofobia exacerbada,
com perseguições e retaliações de toda ordem. O medo e a revolta movem
as pessoas em qualquer canto por esses dias e o fantasma da
radicalização ronda a humanidade. Inúmeros são os muçulmanos que relatam
episódios comprovando a proliferação da“Islamofobia”. Para atenuar
seus efeitos, já debatem o abandono de hábitos tradicionais como o uso
de véu e barba, renunciando a seus costumes em nome da tranquilidade.
Naturalmente,à luz dos inconcebíveis atos de extermínio praticados
pelos extremistas do EI, não é de se esperar menos que um combate
implacável, uma luta sem trégua das forças aliadas, para restabelecer a
normalidade e a sensação de segurança que regem a boa convivência entre
os povos. Mas é preciso também saber separar o joio do trigo. O
fundamentalismo doentio de alguns visa barrar na marra a marcha
civilizatória e o direito universal à liberdade, impondo o temor
generalizado como arma de intimidação.
Não lograrão êxito. Do mesmo modo
que não pode ser concebido o abandono à própria sorte de exilados
famintos e sem rumo. O trauma causado pelo banho de sangue derramado em
Paris ficará na memória por anos a fio. Porém com serenidade e justiça
os líderes globais devem pensar acima de tudo na proteção dos oprimidos e
na preservação do respeito às diferenças de credo, raça e orientação
política - sem que isso signifique concessões a abusos e crimes de
qualquer natureza, por quem quer que seja.
Fonte: Carlos José Marques, diretor editorial - Revista IstoÉ
Por
que o Ocidente ainda tem de pedir desculpas ao Islã? Ou: Vagabundos
morais flertam com o terror. Ou ainda: “Islamofobia” uma ova!
Volto ao
trabalho na segunda, mas antecipo um texto que, dado o que leio por aí,
me parece necessário. O terrorismo islâmico sequestrou boa parcela da
consciência do Ocidente. Antes que se impusesse por intermédio da
brutalidade e da barbárie, seus agentes voluntários e involuntários
fizeram com que duvidássemos dos nossos próprios valores. Antes que
matassem nossas crianças, nossos soldados, nossos jornalistas, nossos
chargistas, nossos humoristas, atacaram, com a colaboração dos
pusilânimes do lado de cá, os nossos valores. “Nossos, de quem,
cara-pálida?”, perguntará um dos cretinos relativistas do Complexo
Pucusp. Os do Ocidente cristão e democrático.
Mesmo
gozando de merecidas férias, comprometido principalmente com o nascer e o
pôr do sol, acompanhei o que se noticiou no Brasil e no mundo sobre o
ataque covarde ao jornal francês “Charlie Hebdo”, que deixou 12 mortos
na França. Na nossa imprensa e em toda parte, com raras exceções, a
primeira preocupação, ora vejam!!!, era não estimular a “islamofobia”,
uma mentira inventada pela máquina de propaganda dos centros culturais
de difusão do Islã no Ocidente. Nota à margem: a “fobia” (se querem dar
esse nome) religiosa que mais mata hoje é a “cristofobia”. Todo ano,
mais ou menos 100 mil cristãos são assassinados mundo afora por causa de
sua religião. E não se ouve a respeito um pio a Orientes e Ocidentes.
Uma
curiosidade intelectual me persegue há tempos: por que cabe ao Ocidente
cristão combater a suposta “islamofobia”? Por que as próprias entidades
islâmicas também não se encarregam no assunto? Sim, muitas lideranças
mundo afora repudiaram o ataque ao jornal francês, mas sugerindo, com
raras exceções, nas entrelinhas, que se tratava de uma resposta injusta e
desproporcional a uma ofensa que de fato teria sido desferida contra o
Islã e o Profeta. E então chegamos ao cerne na questão.
Sou
católico. As bobagens e ignorâncias que se dizem contra a minha religião
— e já faz tempo que o ateísmo deixou de ser um ninho de sábios —, com
alguma frequência, me ofendem. E daí? Há muito tempo, de reforma em
reforma, o catolicismo entendeu que não é nem pode ser estado. A
religião que nasceu do Amor e que evoluiu, sim, para uma organização de
caráter paramilitar, voltou ao seu leito, certamente não tão pura e tão
leve como nos primeiros tempos, maculada por virtudes e vícios
demasiadamente humanos, mas comprometida com a tolerância, com a
caridade, com a pluralidade, buscando a conversão pela fé.
Não é
assim porque eu quero, mas porque é: o islamismo nasce para a guerra.
Surge e se impõe como organização militar. Faz, em certa medida,
trajetória contrária à do catolicismo ao se encontrar, por um tempo ao
menos, com a ciência, mas retornando, pela vontade de seus líderes, ao
leito original. Sim, de fato, ao pé da letra, há palavras de paz e de
guerra, de amor e de ódio, de perdão e de vingança tanto no Islã como na
Bíblia. De fato, também no cristianismo, há celerados que fazem uma
leitura literalista dos textos sagrados. E daí? Isso só nos afasta da
questão central.
Em que
país do mundo o cristianismo, ainda que por intermédio de seitas, se
impõe pela violência e pelo terror?Em que parte da terra a Bíblia é
usada como pretexto para matar, para massacrar, para… governar? É
curioso que diante de atos bárbaros como o que se viu na França, a
primeira inclinação da imprensa ocidental também seja demonstrar que o
Islã é pacífico. Desculpem-me a pergunta feita assim, a seco: ele é
“pacífico” onde exatamente?
Em que
país islâmico, árabe ou não, os adeptos dessa fé entendem que os
assuntos de Alá não devem se misturar com os negócios de estado? À minha
moda, sou também um fundamentalista: um fundamentalista da democracia.
Por essa razão, sempre que me exibem a Turquia como exemplo de um país
majoritariamente islâmico e democrático, dou de ombros: não pode ser
democrático um regime em que a imprensa sofre perseguição de caráter
religioso — ainda que venha disfarçada de motivação política, não menos
odiosa, é claro!
Cabe às
autoridades islâmicas, das mais variadas correntes, fazer um trabalho de
combate à “islamofobia”.E a fobia será tanto menor quanto menos o
mundo for aterrorizado por fanáticos. Ora, não é segredo para ninguém
que o extremismo islâmico chegou ao Ocidente por intermédio de “escolas”
e “centros de estudo” que fazem um eficiente trabalho de doutrinação,
que hoje já não se restringe a filhos de imigrantes. A pregação se
mistura à delinquência juvenil, atraída — o que é uma piada macabra —
pela “pureza” de uma doutrina que não admite dúvidas, ambiguidades e
incertezas.
Ainda
voltarei, é evidente, muitas vezes a esse assunto, mas as imposturas vão
se acumulando. Há, sim, indignação com o ocorrido, mas não deixa de ser
curioso que a imprensa ocidental tenha convocado os chargistas a uma
espécie de reação. Sim, é muito justo que estes se sintam especialmente
tocados, mas vamos com calma! O que se viu no “Charlie Hebdo” não foi um
ataque ao direito de fazer desenhos, mas ao direito de ter uma opinião
distinta de um primado religioso que, atenção!, une todas as correntes
do Islã.
É claro
que um crente dessa religião tem todo o direito de se ofender quando
alguém desenha a imagem do “Profeta” — assim como me ofendo quando
alguém sugere que Maria não passava de uma vadia, que inventou a
história de um anjo para disfarçar uma corneada no marido. Ocorre que eu
não mato ninguém por isso! Ocorre que não existem líderes da minha
religião que excitam o ódio por isso. Se um delinquente islâmico queima
uma Bíblia, ninguém explode uma bomba numa estação de trem.
E vimos,
sim, a reação dos chargistas, mas, como todos percebemos, quase ninguém
se atreveu a desenhar a imagem do “Profeta” — afinal de contas, como
sabemos, isso é proibido, não é? Que o seja em terras islâmicas, isso é
lá problema deles, mas por que há de ser também naquelas que não foram
dominadas pelos exércitos de Maomé ou de onde eles foram expulsos?
Tony
Barber, editor para a Europa do “Financial Times”, preferiu, acreditem,
atacar o jornal francês. Escreveu horas depois do atentado: “Isso [a
crítica] não é para desculpar os assassinos, que têm de ser pegos e
punidos, ou para sugerir que a liberdade de expressão não deva se
estender à sátira religiosa. Trata-se apenas de constatar que algum bom
senso seria útil a publicações como ‘Charlie Hebdo’ ou ‘Jyllands-Posten’
da Dinamarca, que se propõem a ser um instrumento da liberdade quando
provocam os muçulmanos, mas que estão, na verdade, sendo apenas
estúpidos”.
Barber é
um vagabundo moral, um delinquente, e essa delinquência se estende,
lamento, ao comando do “Financial Times”, que permitiu que tal
barbaridade fosse publicada. Alguém poderia perguntar neste ponto: “Mas
onde fica, Reinaldo, o seu compromisso com a liberdade de expressão se
acha que o texto de Barber deveria ser banido do FT?”. Respondo: a nossa
tradição, que fez o melhor do que somos, não culpa as vítimas, meus
caros. Barber usa a liberdade de expressão para atacar os fundamentos
da… liberdade de expressão. Todas as
religiões podem ser praticadas livremente nas democracias ocidentais
porque todas podem ser igualmente criticadas, inclusive pelos estúpidos.
Mas como explicar isso a um estúpido como Barber, um terrorista que já
está entre nós? [cabe um reparo ao magnífico texto do excelente Reinaldo: o que autoriza qualquer jornal, de qualquer país, tamanho, idioma ou o que for, a debochar da religião dos outros?
como chamar de "liberdade de expressão' se valer da imprensa - qualquer tipo de mídia - para debochar de uma crença religiosa? de um símbolo religioso?
o que o mundo, o que a tão decantada 'liberdade de expressão' ganha quando alguém debocha, vilipendia um símbolo de uma determinada religião?]
Uma cruel inversão de
valores leva muitos a fechar os olhos à dimensão político-religiosa de
atentados bárbaros e, imediatamente depois deles, culpar a “islamofobia”
Em algum lugar entre dois extremos está a razão. Uma das extremidades
é bem conhecida: a cada vez que é cometido um atentado sanguinário em
consonância com os ensinamentos do fundamentalismo muçulmano,
multiplicam-se as reações garantindo que a violência não tem
absolutamente nada a ver com a religião revelada há 1 400 anos a Maomé,
por inspiração divina segundo acreditam seus seguidores. Ao contrário,
dizem, o Islã é a religião da paz e quem comete atrocidades em seu nome
está desvirtuando seus fundamentos. Ou talvez seus autores tenham lá no
fundo suas razões, pelos motivos de sempre — a exclusão, a perseguição, o
domínio imperialista e outras distorções infantis que povoam o universo
mental daqueles que querem, no fim de tudo, pôr a culpa nos americanos.
Entre estes, incluem-se muitos americanos, fruto da civilização
ocidental avançada na qual os enormes benefícios do pensamento livre de
controles do Estado e da Igreja redundaram, em sua forma distorcida, no
impulso masoquista de culpar a si mesmos por todas as atrocidades,
contanto que cometidas por gente de pele mais escura, cabelos mais
encaracolados e roupas mais exóticas.
Rejeitados por todo o espectro político, alemães se manifestam no escuro contra a islamização
(Jens Meyer/AP)
E do outro lado, quem está?Surpreendentemente, a extrema direita,
que deveria estar bradando por sangue, pronta para cravar seus dentes
islamofóbicos em vítimas inocentes e tirar proveito dos atos de
barbárie, tem demonstrado, pelo menos em público, contenção e argumentos
razoáveis. “Por que chegamos a esse ponto? Qual o percurso desses
assassinos, as ramificações das fileiras do Islã radical em nosso solo,
seus financiamentos? Que países os apoiam? As perguntas são muitas e
legítimas. O tempo da negação e da hipocrisia já passou. É preciso
proclamar em alto e bom som o repúdio absoluto ao fundamentalismo
islâmico”, disse sobre o massacre de quarta-feira Marine Le Pen,
herdeira, líder e candidata razoavelmente viável a presidente pela
Frente Nacional, um dos partidos europeus classificados ora de
populistas, ora de ultradireitistas. É sob o pretexto de não fazer o
jogo desses partidos que as esquerdas nem esperam esfriar os corpos das
vítimas da mais poderosa ideologia político-religiosa das últimas
décadas para invocar os perigos da islamofobia. Aliás, não só as
esquerdas. Na Alemanha, o centro e a direita também se uniram à
condenação a um movimento que surgiu nos últimos meses, o Pegida —
acróstico de Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente.
Chamados de tudo — de inocentes tolamente manipulados a neonazistas —,
cerca de 17 000 alemães manifestaram-se comportadamente em Dresden, em
um ato que terminou em frente à histórica catedral, de luzes apagadas
como sinal de repulsa a eles.
É claro que todos esses partidos ou movimentos têm esqueletos
xenofóbicos no armário, que procuram esconder ou, devidamente, extirpar.
E é lamentável que acabem se constituindo quase que na única opção
àqueles que não acreditam que não existe problema algum na militância
político-religiosa do islamismo radical, mesmo quando os próprios
radicais proclamam sua pureza teológica — a cena em que um acusado de
roubo tem a mão decepada por integrantes do Estado Islâmico foi
divulgada na semana passada como outra atroz demonstração de que seguem
ao pé da letra a sharia, o conjunto de leis muçulmanas originais. Entre
as duas pontas, sobra pouco espaço para pessoas razoáveis e corajosas
como Flemming Rose, editor do jornal dinamarquês que encomendou charges
sobre Maomé que provocaram reação brutal em 2005, não só entre os
muçulmanos que cortam alegremente cabeças e mãos, mas entre cidadãos
comuns para os quais a liberdade de expressão é um valor desprezível
ante suas crenças religiosas e seus cúmplices atordoados pelo medo da
islamofobia. “Encomendei as charges em resposta a vários incidentes de
autocensura na Europa provocados por um crescente sentimento de medo e
de intimidação no trato de assuntos relacionados ao Islã”, escreveu
Rose, que depois fez um livro com o título reproduzido nesta reportagem,
A Tirania do Silêncio. “E continuo a acreditar que esse é um
tópico que nós europeus precisamos enfrentar, desafiando os muçulmanos
moderados a se pronunciar.”Rose está em todas as listas de cabeças a
prêmio de grupos fundamentalistas.Quantos moderados estão dispostos a
protegê-lo para que o massacre na redação do Charlie Hebdo não se
repita?