O presidente
Jair Bolsonaro
disse nesta quarta-feira, ao sair de seu hotel para o evento chamado de
“Davos no Deserto”, que pedirá ao ministro da Justiça, Sergio
Moro
,
para a Polícia Federal (PF)
ouvir o porteiro que anotou a entrada do suspeito
de matar a vereadora
Marielle Franco
e o
motorista Anderson Gomes
no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca.
Bolsonaro afirmou que, há um mês, ouviu do governador do Rio de Janeiro,
Wilson Witzel
, em uma cerimônia na Escola Naval, que iria para o Supremo Tribunal
Federal (STF) uma investigação sobre o caso envolvendo o presidente.
Witzel teria citado também a Bolsonaro o depoimento do porteiro.
[com o devido respeito ao presidente Bolsonaro, temos que destacar que, mais uma vez, o presidente maximiza um assunto menor e com isso dá chances aos seus inimigos de tentarem acusá-lo de ter praticado algo errado.
— Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via
Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para
esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem
colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja
enterrado de vez — disse.
Nesta terça-feira à noite,
o "Jornal Nacional" revelou
que um dos suspeitos de matar a vereadora foi ao condomínio onde mora
Bolsonaro alegando que iria à casa do presidente. Registros da portaria
do Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do
Rio
, onde mora o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa,
principal
suspeito de matar Marielle e o motorista Anderson Gomes,
mostram que horas antes do assassinato, no dia 14 de março de 2018, o
outro
suspeito do crime,
o ex-policial militar Élcio Queiroz, entrou no
condomínio dizendo que iria para a casa do então deputado Jair
Bolsonaro.
Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro
estava em Brasília em 14 de março de 2018. Ainda segundo o depoimento
revelado pelo
"JN", o porteiro contou que, depois que Élcio entrou, ele
acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e
viu que o
veículo tinha ido para a casa 66 do condomínio, onde, na época, morava
Ronnie Lessa.
De acordo com o "JN", às 17h10m do dia do assassinato, o porteiro
registrou no livro de visitantes o nome de Élcio, o modelo do carro, um
Logan, a placa, AGH 8202, e a casa a que o visitante iria, a de número
58, que pertence a Bolsonaro.
Élcio é acusado pela polícia de ser o
motorista do carro usado no assassinato da vereadora e do motorista. O
porteiro disse ainda que interfonou para o número 58 e que a pessoa que
atendeu, que ele identificou como
"seu Jair", autorizou a entrada de
Élcio no condomínio.
Em tom indignado, o presidente disse que dormiu apenas uma hora na noite desta terça-feira, e acrescentou:
— Sou militar, eu aguento.
Bolsonaro também
fez uma live no Facebook
e, depois, convidou três emissoras de TV a falar sobre o caso. Para os
veículos do
grupo Globo, ele falou durante uma coletiva. Disse que as
informações da reportagem podem prejudicar os investimentos que colheu
para o paí
— No (dia) 9 deste mês, outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval do
Rio de Janeiro quando chegou o governador Witzel. Ele me viu lá, foi uma
surpresa eu estar lá. E para mim também, que eu fui ao aniversário de
uma autoridade — contou o presidente a jornalistas no hotel onde está
hospedado, em Riad.
O presidente reproduziu o diálogo que teve com o governador do Rio de Janeiro.
— Ele chegou perto de mim e falou o seguinte: o processo está no
Supremo. Eu falei ‘que processo?’. ‘O processo está no Supremo?’. ‘Que
processo?’. ‘Ah, o processo da Marielle’ . ‘O que eu tenho a ver com o
caso da Marielle?’. ‘Não, o porteiro citou o teu nome’. Ou seja,
Witzel
sabia do processo que estava em segredo de justiça — disse Bolsonaro.
Porteiro desconhecido
Pela prerrogativa de ser presidente, a investigação poderá ser levada ao
STF. Visivelmente irritado e consultando um rascunho, o presidente
afirmou que o processo estava em segredo de justiça. E que vai pedir que
a Polícia Federal volte a ouvir o porteiro. Bolsonaro afirmou ainda que
o governador do Rio de Janeiro
“estava conduzindo o processo com o
delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos
manchar o meu nome com essa falsa acusação de que eu poderia estar
envolvido na morte da Marielle”, a quem o presidente chamou de
"Mariella" ao menos três vezes.
O presidente disse ainda que não sabe quem é o porteiro. Bolsonaro
afirmou também que
o painel da Câmara dos Deputados tem o registro de
sua presença na Casa, às 17h41, e
acrescentou que o porteiro disse que,
às 17h10, teria ouvido a voz dele, ao interfonar para seu condomínio, a
pedido de um dos suspeitos de matar Marielle, o ex-policial militar
Elcio Queiroz.
Os registros da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em
Brasília naquele dia. O então deputado registrou a presença em duas
votações no plenário: às 14h e às 20h30. No mesmo dia, Bolsonaro também
postou vídeos nas redes sociais do lado de fora e dentro do gabinete em
Brasília.
Fontes disseram à equipe do
"Jornal Nacional" que os dois criminosos
saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da
chegada de Élcio. Eles teriam embarcado no carro usado no crime nas
proximidades do condomínio.
— Não sei quem é o porteiro. Eu não tive acesso como a Globo teve, como o
Witzel teve. O processo corre em segredo. Nós sabemos que são pessoas
humildes, que quando são tomados depoimentos sempre estão preocupados
com alguma coisa. No meu entender o porteiro está sendo usado pelo
delegado da Polícia Civil, que segue ordem do senhor Witzel, governador —
disse.
Bolsonaro continuou falando de Witzel e afirmou que o governador se aproximou dele e do filho Flávio para se eleger em 2018. — Por que ele tem essa tara em cima de mim? Exatamente para destruir
minha reputação. O Witzel era uma pessoa desconhecida, colou no Flávio
Bolsonaro e em mim para poder se eleger governador. Tomou posse e elegeu
Flávio e eu como inimigos dele — disse o presidente.