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terça-feira, 10 de março de 2020

Guerra do petróleo e coronavírus elevam risco de recessão mundial - O Globo

Com crise mundial e coronavírus, Planalto teme risco de nova recessão

Para analistas e Congresso, manifestação do próximo domingo serve apenas para desviar o foco de dificuldades para o governo que podem ser trazidas pelo desaquecimento da economia mundial por causa do coronavírus, que deixa rastros de prejuízos mundo afora

Ibovespa tem queda de 12,17% e empresas perdem R$ 432 bi Petrobras e Vale: valor de mercado cai R$ 126,9 bi - Paulo Guedes: reformas são a melhor resposta para a crise

'Mercado financeiro é alvo de um 'choque dentro do outro', diz economista

Para Roberto Padovani, guerra de preços do petróleo agravou nervosismo de investidores com coronavírus - O economista acredita em acordo entre Moscou e Riad sobre o petróleo 

Padovani acredita que o maior risco para o crescimento mundial continua sendo a epidemia, que pode atingir de forma mais profunda EUA e Europa, que ao lado da China são os motores do crescimento mundial.

Coronavírus e guerra do petróleo:  Confira guia para lidar com a crise nos mercados

O GLOBO — Como o senhor vê a guerra de preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita num cenário em que o mercado financeiro já vinha sofrendo com a epidemia de coronavírus?
ROBERTO PADOVANI — Os mercados já estavam tensos com a falta de informações sobre os impactos do coronavírus. No final de semana, o preço do petróleo despencou com a guerra entre Arábia Saudita e Rússia. É um choque dentro de outro choque, agravando o nervosismo dos mercados.

Podemos ter uma nova crise como a de 2008?
Embora a volatilidade dos mercados faça lembrar a crise de 2008, não temos bolha imobiliária ou crise dos bancos, que deram início à crise financeira. Acredito que esta crise é temporária, de um ou dois meses. A China foi a origem, mas está mostrando que conseguiu controlar o problema e está servindo de referência para outros países.


Para o Brasil, qual é o impacto dessa guerra do petróleo?
Esse cenário vai gerar mais cautela entre os investidores e acaba impactando o fluxo de recursos para o país. A confiança do investidor cai com aumento da incerteza. E o Brasil terá que fazer mais leilões de campos de petróleo nesse ambiente.

Essa guerra do preço do petróleo pode durar muito tempo?
A Arábia Saudita tem muito poder de fogo. Produz petróleo a custo muito  baixo. Mas houve muito ruído na negociação com a Rússia. Pode ter havido um erro de cálculo. Acho que a saída natural é que os países voltem a conversar e cheguem a um acordo.

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Mercados acionários de todo o mundo sofreram ontem perdas históricas na esteira de uma disputa entre Arábia Saudita e Rússia sobre os preços do petróleo —o que se somou à turbulência causada pela epidemia de coronavírus. Os dois fatores, para analistas, formam uma tempestade perfeita que aumenta o risco de uma recessão. Várias Bolsas amargaram as maiores quedas desde 2008, quando eclodiu a crise financeira global. Já o Ibovespa, principal índice da B3, desabou 12,17%, o maior desde setembro de 1998, na crise russa. O indicador caiu aos 86.067 pontos. Desde 23 de janeiro, quando o Ibovespa atingiu a máxima histórica de 119.527 pontos, a desvalorização acumulada é de 38,8%. Somente ontem, as empresas com ações negociadas na Bolsa brasileira perderam R$ 432 bilhões de valor de mercado, segundo a Economática. 

Mesmo com o Banco Central vendendo US$ 3,5 bilhões das reservas internacionais, a cotação do dólar comercial subiu 2,03% a R$ 4,728, novo recorde histórico. Durante o dia, a moeda americana chegou a atingir R$ 4,79. O BC já anunciou que irá vender hoje mais US$ 2 bilhões. Diante da forte volatilidade, o Tesouro Nacional cancelou o leilão que faria na quinta-feira de títulos públicos prefixados.

NEGÓCIOS TRAVADOS
Às 10h31m, meia hora depois da abertura, quando o Ibovespa caía 10,02%, a Bolsa acionou o mecanismo de circuit breaker, que trava os negócios por 30 minutos sempre que as quedas ultrapassam 10%. O mecanismo não era acionado desde 18 de maio de 2017, um dia após o colunista do GLOBO Lauro Jardim revelar áudios do empresário Joesley Batista que comprometiam o então presidente Michel Temer.

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Nos Estados Unidos, as principais Bolsas também acionaram o circuit breaker quando a queda do índice S&P 500 superou os 7%, logo após a abertura do pregão. Os negócios ficaram suspensos por 15 minutos. Os principais índices americanos fecharam em queda de mais de 7%, no pior dia desde 2008.  Foi a primeira vez que os negócios em Wall Street foram interrompidos desde as eleições presidenciais de 2016.

As quedas também foram fortes na Ásia e na Europa. A Bolsas da Austrália (-7,33%) e de Paris (-8,39%) também registraram suas maiores perdas desde a crise de 2008, enquanto a de Frankfurt (-7,94%) teve seu pior dia desde o 11 de Setembro.

Para o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, a disputa entre Arábia Saudita e Rússia piorou o que já era grave: Os mercados já estavam tensos com a falta de informações sobre os impactos do coronavírus. A guerra do petróleo é um choque dentro de outro choque, agravando o nervosismo dos mercados — disse Padovani, que observa que o grande temor dos investidores são as consequências que a epidemia pode trazer aos outros dois motores do crescimento mundial, além da China, que são os Estados Unidos e a Europa.

INCERTEZA CORROSIVA
Em relatório a clientes, Joachim Fels, assessor econômico global da gestora Pimco, afirmou ver possibilidade de uma recessão nos EUA ena Europa neste semestre. O Japão, segundo ele, já estaria em recessão. “Em nossa opinião, o pior para a economia ainda está por vir”, escreveu Fels.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, em Nova York, a incerteza “é pior do que o risco”:

—É um cenário muito sério. Embora os governos se esforcem em conter o avanço do coronavírus, inclusive como desenvolvimento de uma vacina, haverá um impacto muito grande, e caminhamos a passos largos para uma recessão global. E agora, haverá queda da demanda e aumento da oferta do petróleo. Um novo viés negativo para o mercado.

A cotação do petróleo tipo Brent chegou a desabar mais de 30% na noite de domingo, depois de a Arábia Saudita anunciar que cortaria seus preços em mais de 10% e que elevaria a produção em abril.

O pano de fundo foi uma disputa coma Rússia no âmbito da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O cartel tentava há semanas costurar um acordo para reduzir a produção, devido à queda na demanda por causa do coronavírus, que derrubou a indústria chinesa.

Mas, em um reunião no fim de semana, a Rússia decidiu não cooperar coma Opep para reduzira produção e, consequentemente, elevar os preços. Em represália, a Arábia Saudita decidiu cortar preços e produzir mais.

A Rússia ontem afirmou que tem capacidade de aguentar os preços baixos por cerca de dez anos, graças a seu fundo soberano de US $150 bilhões. Para analistas, o verdadeiro alvo da briga era a produção de shalegas (petróleo não convencional) nos EUA, que pode não ser lucrativa com o barril em torno de US$ 30.

O analista do Citigroup Ed Morse aval iaque o barril pode cair a US $20, pois, pela primeira vez, um aumento da oferta ocorre junto com uma queda na demanda.

Em relatório, a agência de classificação de risco Fitch Ratings afirma que “os efeitos do choque do petróleo podem durar muito mais do que aqueles do coronavírus”. O banco Goldman Sachs cortou a previsão para o preço do barril do Brent no segundo e terceiro trimestres para US$ 30 .

O analista Ilan Arbteman, da Ativa Investimentos, porém, não vê mudança nos fundamentos das empresas petrolíferas. Mas ressalta que o consumidor não deve esperar que a Petrobras repasse aqueda de preços ao mercado interno.

Economia - O Globo


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Bolsonaro aciona Moro para que PF investigue citação de seu nome no caso Marielle

Caso Marielle: Bolsonaro diz que vai pedir a Moro para PF ouvir porteiro sobre citação ao seu nome 
 
Presidente diz ter ouvido de Witzel no dia 9 de outubro que investigação iria ao STF após funcionário do condomínio tê-lo citado

Presidente Jair Bolsonaro em visitação ao Forte Masmak, Riade, na Arábia Saudita Foto: José Dias / Presidência da República
Presidente Jair Bolsonaro em visitação ao Forte Masmak, Riade, na Arábia Saudita Foto: José Dias / Presidência da República

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira, ao sair de seu hotel para o evento chamado  de “Davos no Deserto”, que pedirá ao ministro da Justiça, Sergio Moro , para a Polícia Federal (PF) ouvir o porteiro que anotou a entrada do suspeito de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes no condomínio onde mora, na Barra da Tijuca. Bolsonaro afirmou que, há um mês, ouviu do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel , em uma cerimônia na Escola Naval, que iria para o Supremo Tribunal Federal (STF) uma investigação sobre o caso envolvendo o presidente. Witzel teria citado também a Bolsonaro o depoimento do porteiro. [com o devido respeito ao presidente Bolsonaro, temos que destacar que, mais uma vez, o presidente maximiza um assunto menor e com isso dá chances aos seus inimigos de tentarem acusá-lo de ter praticado algo errado.
 
Vejam que o Psol já quer que o presidente Bolsonaro seja investigado pela morte da vereadora - aquele partido sabe que se for atendido a investigação não vai dar em nada, visto que o MP já comprovou junto Câmara dos Deputados que no dia do assassinato bolsonaro estava presente na sessão daquela Casa tanto no período vespertino quanto por volta das 20h.
 
O presidente Bolsonaro tem ciência que a simples menção do seu nome já leva o assunto para o STF e PF. Diante disso, ele tem mais é que cuidar dos interesses do Brasil nos países árabes e pronto.
 
Os demais assuntos, s autoridades e os seus inimigos cuidam para ele.]

— Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez — disse.

Nesta terça-feira à noite, o "Jornal Nacional" revelou que um dos suspeitos de matar a vereadora foi ao condomínio onde mora Bolsonaro alegando que iria à casa do presidente. Registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde mora o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa, principal suspeito de matar Marielle e o motorista Anderson Gomes, mostram que horas antes do assassinato, no dia 14 de março de 2018, o outro suspeito do crime, o ex-policial militar Élcio Queiroz, entrou no condomínio dizendo que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro.
 
Os registros de presença da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília em 14 de março de 2018. Ainda segundo o depoimento revelado pelo "JN", o porteiro contou que, depois que Élcio entrou, ele acompanhou a movimentação do carro pelas câmeras de segurança e viu que o veículo tinha ido para a casa 66 do condomínio, onde, na época, morava Ronnie Lessa.

De acordo com o "JN", às 17h10m do dia do assassinato, o porteiro registrou no livro de visitantes o nome de Élcio, o modelo do carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa a que o visitante iria, a de número 58, que pertence a Bolsonaro. Élcio é acusado pela polícia de ser o motorista do carro usado no assassinato da vereadora e do motorista. O porteiro disse ainda que interfonou para o número 58 e que a pessoa que atendeu, que ele identificou como "seu Jair", autorizou a entrada de Élcio no condomínio.


Em tom indignado, o presidente disse que dormiu apenas uma hora na noite desta terça-feira,  e acrescentou:
— Sou militar, eu aguento.
Bolsonaro também fez uma live no Facebook e, depois,  convidou três emissoras de TV a falar sobre o caso. Para os veículos  do grupo Globo, ele falou durante uma coletiva. Disse que as informações da reportagem podem prejudicar os investimentos que colheu para o paí
— No (dia) 9 deste mês,  outubro, às 21h, eu estava no Clube Naval do Rio de Janeiro quando chegou o governador Witzel. Ele me viu lá, foi uma surpresa eu estar lá. E para mim também, que eu fui ao aniversário de uma autoridade — contou o presidente a jornalistas no hotel onde está hospedado, em Riad.

O presidente reproduziu o diálogo que teve com o governador do Rio de Janeiro.
— Ele chegou perto de mim e falou o seguinte: o processo está no Supremo. Eu falei ‘que processo?’. ‘O processo está no Supremo?’. ‘Que processo?’. ‘Ah, o processo da Marielle’ . ‘O que eu tenho a ver com o caso da Marielle?’.  ‘Não, o porteiro citou o teu nome’. Ou seja, Witzel sabia do processo que estava em segredo de justiça — disse Bolsonaro.


Porteiro desconhecido
Pela prerrogativa de ser presidente, a investigação poderá ser levada ao STF. Visivelmente irritado e consultando um rascunho, o presidente afirmou que o processo estava em segredo de justiça. E que vai pedir que a Polícia Federal volte a ouvir o porteiro. Bolsonaro afirmou ainda que o governador do Rio de Janeiro “estava conduzindo o processo com o delegado da Polícia Civil para tentar me incriminar ou pelo menos manchar o meu nome com essa falsa acusação de que eu poderia estar envolvido na morte da Marielle”, a quem o presidente chamou de "Mariella" ao menos três vezes.

 O presidente disse ainda que não sabe quem é o porteiro. Bolsonaro afirmou também que o painel da Câmara dos Deputados tem o registro de sua presença na Casa,  às 17h41, e acrescentou que o porteiro disse que, às 17h10, teria ouvido a voz dele, ao interfonar para seu condomínio, a pedido de um dos suspeitos de matar Marielle, o ex-policial militar Elcio Queiroz.

Os registros da Câmara dos Deputados mostram que Bolsonaro estava em Brasília naquele dia. O então deputado registrou a presença em duas votações no plenário: às 14h e às 20h30. No mesmo dia, Bolsonaro também postou vídeos nas redes sociais do lado de fora e dentro do gabinete em Brasília.

Fontes disseram à equipe do "Jornal Nacional" que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio. Eles teriam embarcado no carro usado no crime nas proximidades do condomínio.
— Não sei quem é o porteiro. Eu não tive acesso como a Globo teve, como o Witzel teve. O processo corre em segredo. Nós sabemos que são pessoas humildes, que quando são tomados depoimentos sempre estão preocupados com alguma coisa. No meu entender o porteiro está sendo usado pelo delegado da Polícia Civil, que segue ordem do senhor Witzel, governador — disse.

Bolsonaro continuou falando de Witzel e afirmou que o governador se aproximou dele e do filho Flávio para se eleger em 2018. —  Por que ele tem essa tara em cima de mim? Exatamente para destruir minha reputação. O Witzel era uma pessoa desconhecida, colou no Flávio Bolsonaro e em mim para poder se eleger governador. Tomou posse e elegeu Flávio e eu como inimigos dele —  disse o presidente.



Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA





terça-feira, 29 de outubro de 2019

Bolsonaro diz que tem ‘certa afinidade’ com príncipe da Arábia Saudita e Desrespeito às instituições - Ricardo Noblat - VEJA e

Mohammed bin Salman é acusado internacionalmente de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi



Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 29, que possui “certa afinidade” com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Segundo o presidente brasileiro, “todo mundo” gostaria de passar uma tarde com um príncipe, “principalmente as mulheres”.  Bin Salman, de 34 anos, é filho de rei Salman e é acusado internacionalmente de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018.
“Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje. Nós dois temos certa afinidade”, disse Bolsonaro a jornalistas na saída do hotel onde está hospedado.

Embora o príncipe herdeiro tente mostrar ao exterior uma imagem de maior abertura nos costumes, as mulheres ainda enfrentam uma série de restrições no país, como a forma de se vestir.  No ano passado, a Arábia Saudita foi o último país a permitir que as mulheres possam dirigir automóveis. E foi somente em agosto deste ano que as sauditas passaram a ter a possibilidade legal de viajar sem a autorização de um homem, como era exigido até então.

Há cerca de um mês, o príncipe também assumiu “total responsabilidade” pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, mas negou ter dado a ordem para que ele fosse morto. “Este foi um crime hediondo. Assumo total responsabilidade como líder da Arábia Saudita”, afirmou durante uma entrevista exibida pela rede de TV americana CBS.
Porém, diversos países acusam Bin Salman pela morte e uma investigação da ONU concluiu que o príncipe herdeiro foi o mandante do assassinato. Crítico ao governo saudita, Khashoggi foi morto dentro do consulado de seu país em Istambul.

O regime da Arábia Saudita ainda é responsável por milhares de mortes no Iêmen, onde lidera uma coalizão regional de apoio às forças pró-governo contra os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã. O conflito já deixou dezenas de milhares de mortos, a maioria civis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 3,3 milhões de pessoas continuam refugiadas, e 24,1 milhões (mais de dois terços da população) necessitam de assistência, afirma a ONU, classificando esta crise humanitária como a pior do mundo.
  Viagem internacional
Nesta terça, Jair Bolsonaro cumpre agenda de reuniões em Riad e participa de um jantar oferecido por Mohammed bin Salman.De acordo com Bolsonaro, que está no país em busca de investimentos, a defesa é a área mais importante nas conversas com os sauditas. “Eles querem investir maciçamente no Brasil”, afirmou.

Outro ponto em discussão envolve o agronegócio. Bolsonaro disse que os sauditas buscam maior segurança alimentar. “O Brasil é um mar de oportunidades e eles descobriram isso. É um novo governo que está transmitindo confiança para eles e que os encoraja a investir no Brasil. Estamos muito bem com a Arábia Saudita.”
A Arábia Saudita é a última parada da viagem oficial do presidente brasileiro pela Ásia, que já teve passagens por Japão, China, Emirados Árabes Unidos e Catar.
 
Estadão Conteúdo

O velho truque de usar o filho como laranja nas redes sociais



O que lhe vem à cabeça quando ouve falar de hienas? O som que emitem e que parece uma risada tétrica? A feiura e o tamanho da cabeça desproporcional ao corpo? Os dentes sempre à mostra? A ferocidade e o costume de atacar em bandos quase sempre à noite? O caráter dissimulado, traiçoeiro? O apetite por comida podre, de preferência roubada a outros animais?

Como você reagiria se fosse comparado a uma hiena? Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro postou um vídeo que mostra um leão cercado por hienas. O leão é ele. Cada hiena carrega um selo na cabeça: Supremo Tribunal Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, PT, PSDB, PSL, TV Globo, Folha de S. Paulo, VEJA.

Atacado, exausto, o leão acaba salvo por outro que entra em cena com o nome de “Conservador e Patriota”. Os dois leões confraternizam. A imagem deles cede a vez à imagem da bandeira brasileira. E do centro da bandeira emerge uma foto do presidente Jair Bolsonaro. Diminui o fundo musical para que se ouça a voz de Bolsonaro dizendo: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.

Com menos de duas horas no ar, o vídeo foi acessado na conta de Bolsonaro pelo menos 1,2 milhão de vezes. Até que foi apagado. Fontes do governo informaram que Bolsonaro mandou apagar. E insinuaram que o vídeo havia sido postado por Carlos, o Zero Três, que tem acesso às senhas do pai. Bolsonaro não manda nos filhos. Mas quer que se acredite que sabe mandar no país. Pai e filho já se valeram do truque em outras ocasiões. Um finge que fez algo à revelia do outro. A depender da repercussão, o outro diz que mandou apagar. Por vezes, sob pressão dos ofendidos, é o pai que manda que o filho apague. Por vezes, é do filho a inciativa de apagar porque o objetivo foi alcançado. No caso do vídeo dos leões e das hienas, os objetivos foram pelo menos dois.

Primeiro, açular os bolsonaristas para que defendam um presidente cercado de inimigos e sob ataque. Segundo, distrair a atenção do país no momento em que são revelados áudios de Fabrício Queiroz, amigo há mais de 40 anos de Bolsonaro, sócio da família no esquema das rachadinhas. Mais um áudio foi conhecido ontem. Nele, Queiroz debocha do Ministério Público Federal
 
Para não dar gosto a Bolsonaro e ao filho vereador, as instituições identificadas como hienas preferiram calar-se. Mas o integrante de uma delas, o ministro Celso de Mello, não se conteve e reagiu à altura. Soltou uma nota onde disse que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções”.

A irritação do ministro com o presidente da República vem num crescendo. Antes da eleição de Bolsonaro, Celso de Mello cogitou aposentar-se este ano, embora só fosse obrigado a fazê-lo no próximo ao completar 75 anos. Depois que Bolsonaro tomou posse, Celso de Melo desistiu da ideia. Resistirá no cargo até o fim. E, quando necessário, atirando.




domingo, 3 de janeiro de 2016

Irã vê ‘vingança divina’ após sauditas executarem clérigo xiita

Incidente enfraquece frente unida contra Estado Islâmico

O principal líder xiita do Irã previu “vingança divina”" pela execução do proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr na Arábia Saudita. Após um grupo de manifestantes iranianos ter destruído parte da embaixada da Arábia Saudita em Teerã no sábado em protesto contra a execução do líder religioso, 40 pessoas foram presas pela autoridades da cidade. 

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, criticando a Arábia Saudita pelo segundo dia consecutivo sobre a execução de Nimr, disse que os políticos do reino sunita enfrentariam um castigo divino pela morte dele. “O sangue derramado injustamente deste mártir oprimido, sem dúvida, em breve mostrará seu efeito e a divina vingança cairá sobre os políticos sauditas”, disse Khamenei à TV estatal iraniana. 

A Guarda Revolucionária do Irã havia prometido “vingança dura” contra a dinastia real sunita Arábia pela execução do Nimr no sábado, considerado um terrorista por Riad, mas saudado no Irã como um campeão dos direitos da minoria xiita marginalizados da Arábia Saudita. Nimr, o maior crítico da dinastia entre a minoria xiita, passou a ser visto como um líder de jovens ativistas da seita, que tinham se cansado da incapacidade dos líderes mais velhos.

Embora a maior parte dos 47 homens mortos na maior execução em massa do reino durante décadas tenha sido de sunitas condenados por ataques da Al Qaeda na Arábia Saudita uma década atrás, foram Nimr e três outros xiitas, todos acusados de envolvimento com ataques a tiro contra policiais, que atraíram mais atenção na região e em países como Paquistão e outros.

O movimento aparentemente acaba com qualquer esperança de que um inimigo — o Estado Islâmico — produziria reaproximação entre as principais potências muçulmanas sunitas e xiitas da região, que estão aliadas a lados opostos nas guerras atualmente em andamento na Síria e no Iêmen.

O site de Khamenei mostra uma imagem de um carrasco saudita próximo ao famoso carrasco do Estado Islâmico, ‘Jihadi John’, com a legenda “Alguma diferença entre esses dois?”. A Guarda Revolucionária disse que a “vingança dura” derrubaria “este regime pró-terrorista e anti-islâmico”.

IRAQUE TAMBÉM FURIOSO
No Iraque, cujo governo xiita está próximo ao Irã, figuras religiosas e políticas exigiram que os laços com Riad sejam cortados, prejudicando tentativas sauditas de forjar uma aliança regional contra o Estado islâmico, que controla faixas de Iraque e da Síria. “Recebemos com muita tristeza e pesar a notícia do martírio de um número de nossos irmãos crentes na região cujo sangue puro foi derramado em uma injusta agressão”, disse o principal clérigo xiita do Iraque, o Aiatolá Ali al-Sistani.


A opinião de Sistani, baseado na cidade sagrada xiita de Najaf ao sul de Bagdá, tem grande peso junto a milhões de xiitas no Iraque e em toda a região, incluindo na Arábia Saudita.
Apesar do foco regional sobre Nimr, as execuções pareciam principalmente destinadas a desencorajar o jihadismo na Arábia Saudita, onde dezenas morreram no ano passado em ataques de militantes sunitas.

Os Al Saud têm se mostrado cada vez mais preocupados como o tumulto no Oriente Médio — especialmente na Síria e no Iraque — que tem motivado jihadistas sunitas a derrubar a família real e a dar espaço para o Irã espalhar sua influência. Um acordo nuclear com o Irã apoiado pelos EUA, maior aliado e protetor da Arábia Saudita, tem feito pouco para acalmar os nervos em Riad.

Fonte: Reuters - EFE 
 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Iêmen testa determinação dos sauditas e americanos

Hadi até agora tem sido um grande aliado de Washington

Depois de dias de confrontos sangrentos esta semana entre milícias dos rebeldes xiitas e forças do governo — que incluíram bombardeios e o cerco ao palácio presidencial, deixando o presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi preso por dias em Sanaa, a capital do Iêmen —, ele foi obrigado a aceder às demandas dos houthis. Concedeu maior participação do movimento rebelde em todos os órgãos militares e civis do governo e, em compensação, o grupo prometeu retirar-se de áreas estratégicas da capital e libertar o chefe do gabinete presidencial, que tinha sido sequestrado no sábado. O presidente também prometeu rever um projeto de Constituição que dividiria o país em seis novas regiões administrativas. Os houthis alegaram que se sentiram lesados e em desvantagem no novo plano. Mas ontem Hadi renunciou, junto com seu Gabinete inteiro de ministros, incluindo o primeiro-ministro. O Parlamento rejeitou as renúncias, deixando o país cada vez mais à beira do caos.

Mas nós já vimos esse filme em setembro de 2014, quando as forças dos houthis entraram brutalmente na capital, matando 300 pessoas e exigindo que o governo de Hadi dividisse o poder com eles. Acuado e com medo, o presidente, depois de semanas de confrontos, concordou e assinou um acordo com os houthis. Os rebeldes tomaram o controle de vários ministérios e instituições financeiras, mas continuaram excluídos de outras áreas de poder. Nisso, Hadi tinha o apoio da maioria sunita do país, que não quer dividir o seu poder com os houthis à força. Até então, estes nunca tiveram tanto poder e, como xiitas, formam somente 30% da população do país.

Os houthis insistem em dizer que não houve um golpe de Estado. Mas quando se usam armas pesadas contra o palácio do presidente; atacam-se os guardas dele, e o deixam prisioneiro dentro do prédio por dias; assume-se o controle da TV e rádio estatal, isso se chama o quê? Pelo menos 18 pessoas foram mortas esta semana nesses confrontos, e dúzias mais foram feridas. A única pessoa no Iêmen que eu ouvi ter a coragem de dizer que era um golpe foi a ministra da Informação, Nadia al-Sakkaf, numa entrevista por celular ao correspondente da CNN em Sanaa na terça-feira à noite.

Esse último avanço sangrento e agressivo dos houthis, com certeza, deixou os sauditas e os americanos alarmados e preocupados com o fato de que estão perdendo controle do Iêmen para seu grande inimigo, o Irã. Isso apesar das negativas tanto dos houthis quanto do Irã de que Teerã está dando apoio ao movimento xiita. Mesmo com as negativas, forças navais americanas interceptaram navios com armamentos iranianos na costa do Iêmen em 2012, prova de que os houtis estavam recebendo apoio militar.

Na quarta feira, os ministros de Assuntos Estrangeiros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) acusaram os houthis de um golpe contra a autoridade legítima no Iêmen. E advertiram que os estados da região iam “tomar todas as medidas necessárias para proteger a segurança e estabilidade deles e seus interesses vitais no Iêmen.” Ofereceram até mandar um mediador a Sanaa para ajudar nas negociações entre Hadi e os houthis.

O Iêmen, por décadas, tem sido quase um Estado-cliente da Arábia Saudita, porque faz com o vizinho uma longa fronteira de 1.770 quilômetros, e há 800 mil iemenitas trabalhando no reino. Além disso, os sauditas têm fornecido muita ajuda em forma de dinheiro, comida e petróleo para essa nação pobre. Essa ajuda financeira foi quase completamente cortada em setembro de 2014, depois que os houthis tomaram o controle de Sanaa.

Apesar de uma longa tradição de intromissão saudita nos assuntos do Iêmen, e dos atuais resmungos vindos de Riad e outras capitais do Golfo, não sei quanta disposição eles teriam neste momento para uma intervenção militar no Iêmen se a situação degenerasse em uma plena guerra civil e sectária. O rei saudita Abdullah ibn Abdulaziz, que morreu ontem, estava entubado num hospital com pneumonia, o que talvez tenha abrandado a reação saudita.

Do lado americano, Hadi até agora tem sido um grande aliado de Washington, um entusiasta do programa americano de drones armados que matam alvos no grupo terrorista al-Qaeda na Península Arábica que se escondem nas montanhas do Iêmen. Entre seus assessores, ele até tem o apelido de “Drone Hadi”, de acordo com fontes do Iêmen. Com US$ 1,4 bilhão dos americanos já gastos no Iêmen desde 2009 em forma de ajuda econômica e militar, e com mais US$ 232 milhões programados para serem desembolsados este ano, a administração do presidente Barack Obama está muito relutante em chamar o que esta acontecendo no Iêmen agora de um golpe. Pela lei americana, qualquer ajuda de Washington tem que ser suspensa se houver um golpe militar em um país. Então, preparem-se para acrobacias verbais ridículas de oficiais americanos nas próximas semanas para não chamar um golpe de golpe.

Além da ameaça dos houthis, essa nação de 26 milhões enfrenta um movimento separatista no sul do país, e a brutalidade da al-Qaeda, que continua matando em larga escala. O último ataque matou 37 pessoas na frente de uma academia da policia em 7 de janeiro, o mesmo dia dos ataques terroristas em Paris. Além disso, o país enfrenta uma crise hídrica aguda, estando entre os cinco piores do mundo em termos de quantidade de água per capita por ano. Segundo o Banco Mundial, até a Somália tem mais água por pessoa que o Iêmen.

A audácia dos houthis e o uso de força por eles mostram que não há muito espaço para negociar. Eles querem mais poder e ponto final. Com certeza, o Irã esta por trás desta súbita mostra de vontade e coragem e, com isso, compra uma briga feia com os estados do Golfo e os EUA. Não vejo nada de muito bonito no futuro desse confronto. A Arábia Saudita não vai ficar sentada e deixar o Irã estabelecer mais um Estado-cliente na porta do reino. Já bastam o Iraque, a Síria e o Líbano.

Por: Rasheed Abou-Alsamh é jornalista