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quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O déficit de verdade de Temer

Ele disse que encarar a verdade é difícil, delicado, complicado e desagradável, e o pior é que tem razão 

Michel Temer foi à reunião do Conselhão e disse que o governo de Dilma Rousseff vivia com um “déficit de verdade”, com “tentativas de disfarçar a realidade”.  

Estava num cenáculo onde 96 notáveis enfeitavam um evento inútil. Pela sua composição e pelas normas do seu funcionamento, esse conselho seria mais produtivo se fosse incorporado à escola de samba Mangueira, desfilando logo depois das baianas (70 figurantes). Elevaria a taxa de celebridades do desfile e daria mais notoriedade aos passistas. Estava vazia a cadeira do ministro Geddel Vieira Lima. 

Temer fez um discurso pedestre informando que “a comunicação é fundamental”. No melhor estilo do cerimonial de Brasília, citou nominalmente 26 ilustres autoridades nacionais presentes. Uma delas, o ministro Henrique Meirelles, estava ao seu lado, amenizando um desconforto cervical com exercícios fisioterápicos. Seria mais uma cerimônia típica de Brasília se Temer não tivesse jogado um pote de pimenta na própria laranjada, mencionando o “déficit de verdade” do governo da doutora Dilma Rousseff, em cuja chapa se elegeu duas vezes. Bater em Dilma é amassar carta que já saiu do baralho, mas quando o presidente diz que “encarar a verdade é difícil, é delicado, é complicado, é desagradável”, deveria olhar para seu governo e para a ausência do ministro de sua Secretaria de Governo.

Na verdade de Geddel está a afortunada transação de um apartamento no 23º andar de um empreendimento panorâmico que só tem autorização para subir até o 13º piso. Se ele e Temer acham que já se explicaram, o ministro poderia elaborar a resposta que deu para explicar seu apego aos R$ 20.354 que recebe como parlamentar aposentado, desde o seu 51º aniversário. Somados aos R$ 33.763 que fatura como ministro, estoura o teto constitucional. Ele acha que nada há de ilegal nisso. Contudo, o procurador aposentado Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha reduziram seus contracheques para respeitar o teto. Como diz Temer, encarar a verdade é difícil. Ou ele e Padilha jogaram dinheiro pela janela, ou a verdade de Geddel é outra.

Dilma Rousseff sempre teve uma relação agreste com a verdade. Hoje, quem tem esse déficit é ele. Seu ex-ministro do Planejamento e atual líder no Senado foi grampeado por um correligionário articulando uma forma de estancar “a sangria” da Lava-Jato. O ministro do Turismo foi-se embora depois de ter sido apanhado pela Procuradoria-Geral da República. Desde que o doutor entrou no Planalto, só um funcionário do governo foi demitido por má conduta expressa. Foi o garçom Catalão. Acusaram-no de tuitar informações sigilosas para Lula. Afirmação falsa porque o celular de Catalão não tinha aplicativo para tuitar.

É possível que Temer acredite nos milagres da comunicação. Afinal ela é “fundamental”. Essa fé leva governantes a acreditarem que versões inverossímeis, eventos coreografados como o encontro do Conselhão, com a ausência estratégica de Geddel, possam fabricar uma realidade própria. Às vezes isso funciona. Sérgio Cabral foi um governador indiscutivelmente festejado. Foi até reeleito com dois terços dos votos. Deu no que deu.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari é jornalista

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O PT contra os pobres



No discurso, o partido se diz o "legítimo" representante dos trabalhadores. Na prática, o que se constata é que a população de menor renda é a mais prejudicada pelo desastre econômico promovido pelos governos petistas 

No folclore político nacional, atribui-se ao mineiro Gustavo Capanema (1900-1985), ministro da Educação de Getúlio Vargas no Estado Novo e depois deputado federal pelo antigo PSD e pela Arena, a autoria de uma frase sábia. “Em política, o que vale é a versão e não o fato”, pontificou Capanema, ao pedir que o jornalista Carlos Castello Branco (morto em 1993) desse novas tintas a uma história que publicara, para não deixar o governo tão mal.

Embora tenha sido cunhada há décadas, a frase de Capanema serve como uma luva incômoda para os tempos atuais. Hoje, talvez mais que em qualquer outro momento da história recente do país, a ideia de que é possível construir uma narrativa – para usar o termo da hora – sem base na realidade virou uma panaceia, para o governo tentar se livrar de todo e qualquer problema que apareça pela frente.

Na semana passada, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff emitiu novos sinais de que as manobras diversionistas se transformaram praticamente em política de Estado. Dilma aproveitou uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social – um órgão consultivo formado por 90 representantes da sociedade civil – para anunciar um pacote de ampliação de crédito. O remédio, que inclui R$ 83 bilhões em novas linhas de crédito, deverá ser inócuo. Primeiro, porque, diante das incertezas sobre o nível de atividade econômica nos próximos meses, não há demanda por mais crédito, de acordo com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, um dos integrantes do Conselhão e “padrinho” do ex-ministro Joaquim Levy na Fazenda. Depois, porque será preciso mais que quimeras para recuperar a confiança perdida pelo governo nos últimos anos e despertar o “espírito animal” dos empresários, considerado essencial para alavancar os investimentos. “A confiança só vai voltar quando o governo fizer a parte dele no ajuste e equacionar o rombo nas contas públicas. Do jeito que está, com um deficit anual na faixa de 10% do PIB (o Produto Interno Bruto), todo mundo fica intranquilo”, diz o economista e consultor Luís Paulo Rosenberg, da Rosenberg Part¬ners, ex-assessor especial da Presidência da República no governo Sarney.

Dias antes da reunião do Conselhão, durante a cúpula de países latino-americanos realizada em Quito, no Equador, Dilma afirmou:O Brasil não parou, nem vai parar. Como se a retração da economia, estimada em 3,8% em 2015 e em 3% neste ano, fosse mera fantasia do Pessimildo o personagem ranzinza que previa desastres econômicos, criado por seus marqueteiros na campanha eleitoral. Entre todas as manobras do governo para inflar sua atuação, uma se destaca: insistir na fábula segundo a qual a política econômica praticada desde o segundo mandato de Lula e aprofundada na gestão de Dilma é favorável aos mais pobres. Mesmo diante do drama de milhões de brasileiros, afetados pela crise, com efeitos perversos nas faixas de menor renda, o governo continua a sustentar, com a contribuição entusiasmada de Lula, do PT e de seus parceiros, o discurso de que é o grande defensor dos fracos e oprimidos. “Essa coisa de política para favorecer pobre virou coisa de piadista”, afirma o economista e consultor Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores, autor do livro O mito do governo grátis (Ed. Edições de Janeiro).

Por uma ironia cruel, depois de 13 anos no governo, o PT e seus aliados, que se consideram como legítimos representantes dos trabalhadores, não levaram a classe operária e os descamisados ao paraíso. Os sinais de que os menos favorecidos estão pagando a conta mais salgada pelos erros da política econômica no primeiro mandato de Dilma pipocam por todos os lados (confira os gráficos ao final desta reportagem): 


• A inflação nas faixas de baixa renda, medida pelo INPC, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegou a 11,3%, enquanto o IPCA, que reflete a inflação oficial, foi de 10,7%.  


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Medidas do Conselhão são vistas com ceticismo no Brasil e no exterior - pelo número de conselheiros que estão presos, tudo indica que o Conselhão terá uma subsede na Papuda

Medidas do Conselhão são vistas com ceticismo no Brasil e no exterior

Que companhias...

Renovado, porque vários membros estão presos, conselhão se reúne na quinta

Bumlai e empreiteiros, conselheiros de Dilma, não vão à reunião (estão presos) 

 MST terá representante, o escolhido inicialmente era o José Rainha Júnior, mas, teve que ser substituído já que se encontra recolhido ao presídio - mais uma vez.
José Carlos Bumlai e Marcelo Odebrecht, membros do Conselhão do governo Dilma, na companhia do Japonês da Federal. (Fotos: Geraldo Bubniak/Estadão Conteúdo)
José Dirceu, integrante da versão Lula do Conselhão é outro ausente - está recolhido ao cárcere por sua participação no PETROLÃO - PT

 Impossibilitados de comparecer, os presidentes de empreiteiras, presos em Curitiba ou em prisão domiciliar e usando tornozeleiras eletrônicas, serão representados por dirigentes de instituições que representam o setor, como a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

Atualmente, quatro deles estão presos por envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras: João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, José Carlos Bumlai, pecuarista amigo do ex-presidente Lula, José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, e Marcelo Odebrecht, dono na megaempreiteira Odebrecht. 

Outros cinco são alvos de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) também por estarem ligados ao esquema do petrolão. São eles os ex-ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Antônio Palocci (Fazenda), os atuais ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social) e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
Não à toa: se quisesse reunir a "velha guarda" do Conselhão, a presidente Dilma teria de transferir o encontro do Palácio do Planalto para a carceragem de Curitiba

O governo decidiu ressuscitar o Conselhão na expectativa de aproximar a sociedade da presidente Dilma Rousseff, rejeitada em todas as pesquisas de avaliação de desempenho. O Conselhão foi desativado ou jamais exerceu suas funções porque o governo, desde o ex-presidente Lula, nunca o levou muito a sério.

Buscando sair do atoleiro, governo ressuscita o Conselhão e usa dinheiro recebido por bancos públicos de pedaladas fiscais para criar linhas de crédito de até R$ 60 bilhões

Evitar o impeachment não tem sido tarefa fácil para o governo. A presidente Dilma Rousseff resolveu que agora terá até mesmo paciência para ouvir horas de discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O Conselhão voltará a se reunir hoje, depois de 19 meses de jejum. O titular da Fazenda, Nelson Barbosa, terá 20 minutos para falar, mais do que é reservado a outros cinco ministros convidados, e vai apresentar um pacote de medidas de estímulo para a economia — não se sabe ainda o nível de detalhamento do que será revelado por ele, agora, e o que ficará para a próxima semana.

Graças ao dinheiro que o governo foi obrigado a direcionar aos bancos públicos, ao quitar R$ 74 bilhões das pedaladas fiscais, serão ofertadas linhas de financiamentos a empresas de diversos tamanhos, aos produtores rurais e aos trabalhadores do setor privado, com juros diferenciados. Grandes e médias companhias terão R$ 22 bilhões para capital de giro, financiamento de exportações e investimentos em infraestrutura
As micro e pequenas terão R$ 3 bilhões. Produtores rurais, R$ 10 bilhões a mais de crédito, algo que já havia sido anunciado no fim do ano passado. E os trabalhadores poderão usar parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) como garantia para empréstimos consignados: 10% do saldo das contas mais a multa de 40% a ser paga em caso de demissão sem justa causa, o que deverá mobilizar de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões. O pacote soma algo em torno de R$ 55 bilhões, podendo chegar a R$ 60 bilhões.

O principal objetivo de Barbosa hoje no Conselhão será mostrar que o pior momento da economia será este primeiro semestre de 2016. Até o fim do ano, o governo espera reverter a submersão do Produto Interno Bruto (PIB). O ministro vai repetir o mantra de que o governo e o país não estão parados. Ele abrirá o discurso falando das dificuldades da área fiscal e das iniciativas a serem tomadas para tentar limitar as despesas dos órgãos públicos. O que se quer criar é uma espécie de freio aos gastos quando passarem de determinado patamar. A proposta deverá ser entregue no fim da reunião aos participantes, de acordo com uma fonte da equipe econômica.

Desinteresse
Barbosa também explicará as mudanças nas regras do programa de concessão de obras de infraestrutura, que não decolaram no passado, como forma de alavancar investimentos. Ele aproveitará o encontro, ainda, para falar sobre a importância da reforma previdenciária, que ainda não tem proposta definida. Por último, apresentará o pacote de medidas de estímulo.

A lista dos 92 integrantes do Conselhão só foi fechada ontem à noite. Criado em 2003, pouco depois da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o fórum era uma estrela de primeira grandeza no Palácio do Planalto. Mas foi perdendo importância, em grande parte devido ao desinteresse da presidente pelas discussões. O grupo reuniu-se pela última vez em meados de 2014. No ano passado, não funcionou uma única vez. Dois de seus antigos integrantes estão presos como parte das investigações da Operação Lava-Jato: os empresários Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai.

O novo conselho tem cerca de 70% de renovação em relação ao anterior. Um dos novos membros é o ator Wagner Moura, mas ele informou que não estará presente hoje. Também integra a lista o empresário Jorge Paulo Lehmann, da Ambev, considerado o homem mais rico do Brasil. O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, está entre os nomes que foram reconduzidos. Ele vai discursar, assim como a empresária Luiza Trajano; o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT); o presidente da Força Sindical, Miguel Torres; e a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral.

Nesta reedição do Conselhão, os jornalistas não poderão assistir às reuniões, diferentemente do que ocorria antes. Por parte do governo, além de Barbosa e Dilma, vão falar o ministro-chefe da Casa Civil, Jacques Wagner; a da Agricultura, Kátia Abreu; o do Desenvolvimento, Armando Monteiro; o do Planejamento, Valdir Simão; e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini.


Fonte: CB, Diário do Poder, O Globo 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

O presépio da doutora Dilma

O Conselhão que se reúne amanhã é um retrato da capacidade do governo de viver no mundo da sua fantasia

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foi criado em 2003 e é composto por 90 membros. Para a reunião de amanhã, dois titulares tiveram que ser substituídos, pois Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai estão na cadeia. Também estão trancados o ex-conselheiro João Vaccari Neto e José Dirceu, que assinou o ato de criação do organismo. É difícil imaginar outro grupo de 90 pessoas com semelhante desempenho. Para se ter uma ideia do que significa uma porcentagem de 2% de presos, vale lembrar que a taxa de brasileiros encarcerados para cada cem habitantes é de 0,3%.

O Conselhão pretendia ser um foro de debates. Tornou-se um pastel de vento a serviço da propaganda de um governo cuja titular diz que “o Brasil não parou, nem vai parar”. Os pibinhos e a recessão aconteceram no Burundi. É marquetagem tão inútil que desde julho de 2014 a doutora Dilma não o convocava. Uma reunião de 88 pessoas serve apenas para fotografias de um consenso inexistente. A menos que se considere consenso o fato de estarem todas sentadas.

Quando o Conselho foi criado, nele estava a atriz Lucélia Santos. Foi substituída por Wagner Moura. Pelo lado dos empresários, lá estará Jorge Paulo Lemann. Certamente, ele tem algo a dizer, mas, da última vez que foi ao Planalto, a doutora deu-lhe um chá de cadeira de mais de uma hora. Até aí pode-se pensar que tenha surgido algum imprevisto. O problema muda de figura quando se sabe que mandaram uma funcionária fazer-lhe sala, e ela dirigiu-se a Lemann em inglês. Coube a ele explicar que foi criado nas ondas de Ipanema. O surfista do século passado tornou-se o homem mais rico do Brasil porque a InBev produz e exporta gestão, exatamente o que falta ao governo da doutora.

Ela acaba de anunciar que adiou o cumprimento da meta anunciada em novembro de visitar todos os domicílios do país até o fim deste mês para combater o mosquito da zika. Lorota. O que houve foi o colapso de uma promessa impossível de ser atingida. Na melhor das hipóteses, foram a 15% das casas. Houve burocrata sugerindo que, para evitar o risco da microcefalia, as mulheres não engravidem. Como o mosquito está no Brasil há mais de um século, a providência extinguiria a população de Pindorama. Depois, veio o ministro da Saúde, torcendo para que as jovens sejam infectadas pelo vírus antes da idade fértil, pois assim adquiririam imunidade.

Como Brasília comanda espetáculos, em dezembro a doutora assinou o Decreto 8.612, criando uma Sala Nacional de Coordenação e Controle, para cuidar do mosquito. Ela funcionaria no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. A sala mágica seria habitada por representantes de seis ministérios, dentro do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, que, por sua vez tem três “eixos”: “Mobilização e combate ao mosquito, atendimento a pessoas e desenvolvimento tecnológico”.

Aí está a essência da gestão da doutora: havendo um problema (o mosquito), lança-se um plano de enfrentamento, cria-se uma sala de controle anexa a um centro de gerenciamento e, daí em diante, o assunto é dos outros. Se nada der certo, convoca-se uma reunião do Conselhão para mudar de assunto em busca do que o Planalto chama de “agenda positiva”.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

PT retoma as críticas à gestão de Dilma na economia e se opõe à reforma da Previdência, defendida por Dilma



"O partido deve reforçar as críticas de que o governo precisa retomar o processo de crescimento com algumas medidas, como acelerar o processo de concessões", afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP)

Integrantes da Executiva Nacional do PT retomam nesta terça-feira (26) as cobranças ao governo Dilma Rousseff por medidas para o reaquecimento da economia do País. Na véspera do encontro, representantes da maior corrente do partido, Construindo um Novo Brasil (CNB), afinaram o tom que deverão apresentar na reunião da cúpula. "O partido deve reforçar as críticas de que o governo precisa retomar o processo de crescimento com algumas medidas, como acelerar o processo de concessões e principalmente no que tange ao programa Minha Casa Minha Vida, que pode gerar emprego e atende aos movimentos sociais que demandam por moradias populares", afirmou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), que participou do encontro da CNB."O governo Dilma deve ter um protagonismo a partir do equacionamento das questões econômicas", ressaltou o ex-ministro Edson Santos (PT-RJ).

Conselhão
Em artigo publicado no portal do partido, o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, diz também ter expectativas sobre a definição de algumas diretrizes por parte do governo que deverão ser discutidas na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, convocado pela presidente para esta semana. "Espera-se uma apresentação de diretrizes para o ano, com grandes expectativas (e esperanças) numa agenda de retomada do crescimento econômico e de geração de empregos", diz o dirigente no texto.

A direção executiva ainda deve iniciar as discussões em torno das estratégias que o partido irá adotar na disputa municipal deste ano. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

PT se opõe à reforma da Previdência, defendida por Dilma
Oposição também vem dos movimentos sociais. João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), teria dito que a reforma da Previdência é "o limite" do apoio à presidente

As bancadas do PT na Câmara e no Senado e a direção nacional da legenda vão tentar barrar a reforma da Previdência proposta pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. A proposta também enfrenta forte resistência dos movimentos sociais que formam a base do partido.  Enquanto a oposição mantém o foco na agenda do impeachment e aposta em novas CPIs no Congresso para desgastar o governo, conforme mostrou o Estado no domingo, Dilma e Barbosa vão enfrentar o fogo amigo "programático" do PT.

"Ainda não temos uma matéria concreta na mesa para discutirmos, mas pelo que estão falando, de aumentar idade mínima para aposentadoria, teremos muita dificuldade de passar isso na bancada", admitiu o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (PT-AC).

Movimentos

Na segunda-feira passada, dia 18, movimentos sociais ligados ao PT que integram a Frente Brasil Popular fizeram fortes críticas à proposta. Segundo relatos, João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), teria dito que a reforma da Previdência é "o limite" do apoio a Dilma.

A Central Única dos Trabalhadores divulgou uma nota afirmando que "o governo erra" ao propor a reforma. "A CUT está preparada para travar uma batalha para defender os direitos dos trabalhadores no Congresso Nacional. Defendemos que a fórmula 85/95 - que ajudamos a elaborar - seja implementada sem a progressividade que foi incluída pelo governo este ano", disse o presidente da CUT, Vagner Freitas.

No dia 15 de fevereiro o presidente do PT, Rui Falcão, vai reunir o conselho consultivo do partido, formado por intelectuais, artistas, governadores e prefeitos de grandes cidades, para elaborar propostas na área econômica que serão encaminhadas ao governo. A reunião atende ao pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, descontente com os primeiros passos de Barbosa na Fazenda. Em entrevista a blogueiros, Lula disse que o governo precisa sair da agenda do ajuste fiscal, na qual se encaixa a reforma da Previdência, e mostrar medidas "críveis" de estimulo ao crescimento econômico para sinalizar à base petista que a entrada de Barbosa no lugar de Joaquim Levy não foi apenas uma troca de "seis por meia dúzia".

Nos bastidores, Barbosa tem sido bombardeado pelos petistas, que o acusam de anunciar medidas que só sinalizam ao mercado financeiro e não à base do partido. Parlamentares e dirigentes do PT comparam as declarações de Barbosa ao início da gestão Levy, marcada pela edição de medidas provisórias que restringiam direitos trabalhistas sem que houvesse negociação com os movimentos sociais.

Em dezembro, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a proposta como "suicídio político". Um dos poucos a defender a medida é o próprio Lula, um dos maiores defensores da nomeação de Barbosa, que disse, em entrevista a blogueiros, que "de vez em quando" é preciso rever as regras da Previdência.

Para a direção petista, não existe contradição entre o apoio ao governo e a oposição à reforma da Previdência. "O PT tem a obrigação de expor seu ponto de vista. Mas isso não significa que o partido vá deixar de apoiar o governo", disse o secretário de Organização, Florisvaldo Souza.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".


Governo apresenta ideias que já aplicou antes



Um dos problemas do governo é que ele só consegue ter ideias que já usou anteriormente. As sugestões comentadas para recuperar a economia se baseiam no aumento do crédito. A reedição do Conselhão foi outra novidade antiga que reapareceu nos últimos dias.

A falta de apetite por crédito é comentada no setor privado e na esfera pública. Os dados que o BNDES apresentou ontem mostram isso. Desembolsos e consultas caíram fortemente em 2015. A terapia estudada pelo governo, de aumentar a oferta de financiamento, tem um problema na origem. O que leva uma empresa a buscar crédito é a confiança de que seu investimento dará retorno. Sem confiar nisso, a demanda por recursos cai. Esse ponto não deve ser desconsiderado.

No passado, o governo incentivou o crescimento com o endividamento das pessoas e das famílias. De dois anos para cá, porém, o cenário econômico deteriorou muito. O momento agora é outro. Hoje, famílias e empresas estão abrindo mão de financiamento.   

A ideia do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social também é antiga, vem desde os tempos de Lula. O Conselhão, como ficou conhecido, pouco funcionou até agora. O governante vai aos encontros para falar. O setor privado já esteve presente ali e as mudanças na economia não aconteceram. Às vezes, as reuniões serviam para produzir apoio a algum setor específico. A composição do grupo mudou, até porque alguns antigos integrantes estão sendo investigados. Agora, há artistas e representantes da sociedade civil.

Todo mundo sabe, porque já foi dito por pessoas próximas, que a presidente Dilma não gosta muito de conselhos, não é uma boa ouvinte. É preciso ver se as sugestões do conselhão serão acatadas. Por enquanto, não tem surgido ideia boa para recuperar a economia. A situação é difícil. O país está em recessão com inflação alta. Lidar com os dois problemas ao mesmo tempo é complicado. O remédio para uma doença acaba piorando a outra.

Fonte: Coluna da Miriam Leitão – O Globo