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segunda-feira, 20 de julho de 2020

"A carteirada do desembargador e a arte de enxugar gelo - A punição é necessária, mas não é suficiente - Madeleine Lacsko"

Vozes - Gazeta do Povo

Reflexões sobre princípios e cidadania - A carteirada do desembargador e a arte de enxugar gelo

A punição é necessária, mas não é suficiente. Precisamos identificar as falhas que permitem 37 anos de ascensão profissional com essa personalidade.

O Brasil só será o país que queremos quando acabarmos com a cultura do "sabe com quem está falando" e começarmos a do "quem você pensa que é?". As medidas tomadas contra o desembargador da carteirada não prometem essa mudança. Parece que vai haver punição por humilhar o guarda civil que queria que cumprisse a lei e usasse máscara, mas isso não é suficiente para mudar o sistema. Não há indicação de alteração na estrutura que nos levou a ter uma autoridade do Poder Judiciário que se considera acima da lei e mais igual que os outros. Se há punição neste caso, ela não se deve a avanços do sistema, mas da tecnologia. A única diferença é a existência de câmeras de vídeo e redes sociais. O sistema continua tolerando e produzindo outros doutores com os mesmos vícios.

Se a indignação das autoridades diante da conduta do desembargador fosse legítima, ela teria vindo quando do primeiro vídeo, em maio. A indignação não é pelo comportamento, é por se deixar filmar. Fosse diferente, haveria preocupação em procurar falhas no sistema, não somente em punir.  Se agora chamou o guarda civil metropolitano de analfabeto, há dois meses o desembargador Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira disse algo que pode ser entendido como ameaça velada aos guardas que insistiam para que usasse uma máscara. "Olha, vocês, nessa organização de vocês, que não tem poder de polícia, eu não sei se vocês têm IPM. Tem Inquérito Policial Militar? O meu irmão, que chama-se Francisco, é o Procurador de Justiça que atua nos IPMs da Polícia Militar". O Guarda Civil pede para que ele entre em contato com o Secretário de Segurança de Santos, Sergio del Bel, que é o chefe deles. "Não, eu vou entrar em contato com o presidente do Tribunal Militar, que é o coronel Geraldi e vocês vão ter um problema, que eu não quero. Mas, se vocês insistem...", retruca o desembargador. (O coronel Orlando Eduardo Geraldi foi presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo no Biênio 2012/2013. O presidente atual é o coronel Clovis Santinon.)

O assunto virou um hit das redes sociais, em parte porque toda autoridade quis dizer muito claramente que repudia com veemência este tipo de conduta. Foram emitidas notas contundentes por parte do Tribunal de Justiça de São Paulo e do prefeito de Santos. O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, não perdeu tempo e já abriu procedimento pedindo explicações ao desembargador. Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira iniciou a carreira na magistratura em 1983 e tornou-se desembargador em 2008. 
Seria uma surpresa esse tipo de conduta? 
É possível que em 37 anos ninguém tenha percebido nada? 
Ou isso foi tolerado durante quase 40 anos porque não existia tanto celular que filma?

Que sejam instaurados os procedimentos e o desembargador responda. À imprensa disse que tudo foi uma armação e que ele é perseguido sistematicamente por não se submeter a uma ordem que julga ser inconstitucional, a de usar máscara. Que esse fato sirva para refletir quantos personagens que se comportam exatamente assim estão abrigados no nosso sistema judiciário, prejudicando inclusive os próprios colegas. Quem se vê acima dos outros e acima da lei jamais terá convivência pacífica com quem acredita que a lei é igual para todos.

Punir o desembargador é necessário mas não é suficiente. Hoje, durante a pandemia, as pessoas que estão decidindo os destinos de famílias sufocadas por um drama nunca antes vivido pela humanidade podem ser as que pensam justamente como ele. O sistema permite que sobrevivam e, enquanto não for mudado, continuará permitindo, seja ele punido como deve ou não. É necessário entender quais são as falhas que levam o Estado brasileiro a colocar na posição de fazer cumprir leis quem não acredita que deve se submeter a elas. A carteirada não pode ser reduzida a uma exceção ou à personalidade do desembargador. É necessário levar a questão a sério e investigar onde estão as falhas no sistema que possibilitam que aconteça o injustificável. Sem isso, não haverá mudança nenhuma.

Em 2013, na Califórnia, a polícia atendeu a um chamado que parecia ser de acidente doméstico mas era um filme de terror. Gabriel Fernandez, de 8 anos, era torturado diariamente pela mãe e pelo padrasto há pelo menos um ano. Não faltaram denúncias e visitas de assistentes sociais e, ainda assim, ele foi espancado até a morte. O padrasto foi condenado à morte, a mãe à prisão perpétua. Todos os assistentes sociais envolvidos no caso foram a julgamento e acabaram inocentados. Mas, a partir dali, se questionou o sistema de proteção à criança da Califórnia. Não é por um erro individual que se chega a um resultado desses, é porque o sistema falha. No ano seguinte, em 2014, foi formada a Blue Ribbon Commission on Child Protection (BRC), composta por diversos especialistas em infância, sistema judiciário, serviço social e congressistas. O objetivo era encontrar onde estão as falhas no sistema que levaram à possibilidade de que uma criança acompanhada por assistentes sociais acabasse morta depois de um ano de torturas.

(.....)

Eu conto e cito um caso real, ocorrido no mesmo ambiente onde trabalha o desembargador, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Em setembro de 2015, um garotinho de 7 anos de idade, Ezra, foi encontrado esquartejado dentro de um freezer no apartamento da família, em São Paulo. A denúncia foi feita por um primo, que estranhou o sumiço da mãe, do padrasto e dos irmãos, que não apareceram para abrir o comércio do qual eram proprietários. Lee Ann Fink e Mzee Shabani haviam deixado o corpo no freezer e fugido para a Tanzânia com os outros filhos. Eles haviam acabado de recuperar a guarda de Ezra, afastado da família por maus tratos. A decisão do juiz do TJSP foi contrária à opinião do Conselho Tutelar na época. As conselheiras tutelares deixaram claro que os conflitos entre mãe e padrasto eram constantes e, além disso, eles não entendiam ser errado espancar a criança, consideravam uma forma de ensinar. O menino estava machucado quando foi feito boletim de ocorrência que resultou em seu afastamento da família em outubro de 2014.

 Qualquer que seja a intenção do juiz do caso, o fato é que ele contrariou a orientação do Conselho Tutelar, devolveu o menino à família e ele acabou esquartejado num freezer. Se isso não é motivo para o Tribunal de Justiça questionar onde estão as falhas no sistema, não sei o que seria. Ocorre que não questionou e nada mudou até hoje. Eu questionei o TJ-SP na época. "A qualificação e a requalificação das equipes técnicas são feitas regularmente pelo Tribunal de Justiça. A Vara da Infância e da Juventude trabalha com prognóstico e não diagnóstico. O caso indicava que não haveria a revitimização da criança. Todas as cautelas foram tomadas para que a reaproximação do menino e seus pais ocorresse com o severo acompanhamento. Primeiro foram  autorizadas visitas no abrigo. Após alguns meses, pernoites. Depois de mais alguns meses é que o desacolhimento ocorreu, sempre com supervisão técnica e acompanhamento psicológico. Tudo indicava que a criança não sofreria mais qualquer tipo de violência. Infelizmente o prognóstico não se confirmou, mas isso não caracteriza omissão ou negligência por parte dos técnicos e da magistrada que era responsável pelo processo", foi a resposta oficial.

Se a equipe responsável por decidir o destino de crianças vítimas de violência acredita que "tudo indicava que a criança não sofreria mais qualquer tipo de violência" e, dias depois, ela aparece esquartejada num freezer, há algo muito errado. Eu sinceramente acredito que os envolvidos fizeram o que entenderam ser a melhor e mais justa decisão para o momento, com base naquilo que aprenderam e no sistema em que estão inseridos. Ocorre que o desfecho é injustificável, principalmente diante dos vencimentos dos envolvidos nessa história.

É apenas um exemplo. Tudo o que é humano é falho. Por isso, o sistema Judicial deve ter melhorias no sentido de minimizar os efeitos das falhas na vida do cidadão. Joga-se na conta do infortúnio ou da personalidade individual uma situação que é causada por outro problema, o do sistema que convive com o erro e não recompensa devidamente o esforço e o acerto. Ainda convivemos com as falhas que deixaram o menino Ezra à mercê de seus assassinos. Por quanto tempo conviveremos com as falhas que encorajam diariamente as carteiradas? Punir o caso que foi filmado e seguir com tudo funcionando do mesmo jeito não passa de enxugar gelo.

Madeleine Lacsko, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes - MATÉRIA COMPLETA


sábado, 7 de março de 2020

A investigação de Paraisópolis - Estadão


Em dezembro do ano passado, durante um baile funk nas ruas de Paraisópolis, na zona sul da capital, 9 pessoas morreram pisoteadas e 12 ficaram feridas em razão de tumulto surgido depois de uma ação da Polícia Militar (PM). Segundo o relato da PM na ocasião, agentes de segurança perseguiam dois suspeitos, que entraram no baile como meio de fuga. A polícia, então, invadiu a festa, com cerca de 5 mil pessoas, dando continuidade à perseguição. Testemunhas relataram uso de bombas de efeito moral pelos policiais, o que teria provocado correria e aglomeração de pessoas nas vielas da localidade. Segundo os laudos, os nove jovens morreram por asfixia mecânica característica de pisoteamento.
[convenhamos ser impossível estabelecer, com imparcialidade,  relação entre a ação da PM e as mortes havidas.
A polícia estava perseguindo bandidos e não poderia interromper sua ação por ter os fugitivos se homiziado em local onde ocorria um baile funk - evento que não recomenda nem os que dele participam,  apoiadores e mesmo eventual assistência. Aliás, investigações realizadas, inclusive com respaldo em perícia técnica, isentaram a PM paulista de qualquer responsabilidade na tragédia havida.
A conclusão do capitão, sem respaldo técnico e pericial, fica por conta da máxima, nem sempre adequada: "cada cabeça, uma sentença."
O  Ministério Público recomendou a identificação dos responsáveis pela 'festa'.
Quanto a destacada morte de menores de idade, cabe ressaltar que a autoridade policial não pode ser responsabilizada por irresponsabilidade dos pais dos menores, por ser impossível controlar o acesso de centenas de pessoas em um local hostil à presença da polícia, para um ato em que há predomínio de práticas criminosas:
imoralidade, uso de drogas, bebidas alcoólicas, presença de criminosos.
Caso as autoridades policiais tentassem impor tal controle, haveria reação dos mentores e participantes do evento, provavelmente feridos e mortos, e hoje todos estariam considerando a ação da PM irresponsável.
O único caminho é a proibição de tais bailes - que pela sua natureza de incentivas atos criminosos, devem ser previamente autorizados e para que a autorização seja concedida deve ocorrer o preenchimento de regras de segurança e controle, inclusive quanto ao local de realização.] 

Trinta e um policiais foram afastados dos serviços operacionais de rua e a Corregedoria da PM abriu uma apuração sobre as mortes e a responsabilidade dos agentes. Recentemente, o órgão da PM concluiu o inquérito sobre o caso. A morte dos nove jovens durante o baile funk aconteceu também em virtude da ação da PM no local, diz o documento assinado pelo capitão Rafael Oliveira Casella. “Há a certeza de que as mortes, fatalmente, aconteceram em virtude de uma ação da qual os agentes de segurança pública participaram, pois há probabilidade de que suas condutas provocaram o resultado”, diz o capitão Casella no documento.

É importante que a Corregedoria reconheça essa relação de causalidade entre a ação da PM e as mortes, não apenas para que se apurem as devidas responsabilidades e os respectivos efeitos jurídicos [será que entre os efeitos jurídicos está a possibilidade dos pais dos menores que morreram, receberem indenização, como prêmio por dar permissão a filhos menores para se encontrarem de madrugada em bailes?
Um ou dois dos menores que faleceram, residiam no outro extremo da cidade de S. Paulo.
Atravessar, de madrugada, uma metrópole como a paulista é algo impossível de acontecer sem uma mínima estrutura de apoio.]  mas principalmente para que sejam evitados novos casos. A atuação do poder público não pode ser tão desastrosa. Desde as primeiras informações sobre o caso, colocou-se em questão o despreparo dos policiais militares, que colocaram em risco a vida e a integridade de 5 mil pessoas para perseguir 2 suspeitos. O mínimo senso de prudência recomendava que, quando os suspeitos entraram no baile para se esconder, a PM sustasse imediatamente a ação. Dar continuidade à perseguição num evento dessas proporções foi uma temeridade. Os policiais ali presentes foram incapazes de avaliar os riscos derivados de sua ação. Tal deficiência de avaliação precisa ser corrigida seja com treinamento, seja com a revisão dos procedimentos operacionais.

Outro aspecto da lamentável tragédia em Paraisópolis refere-se à presença de menores de idade na festa. Dos nove jovens mortos, quatro eram menores de idade três tinham 16 anos e um, 14 anos. A legislação estabelece uma série de condições para a realização de um evento com a participação de crianças e adolescentes. É competência da administração municipal averiguar o preenchimento desses requisitos, antes da concessão do alvará, bem como realizar a necessária fiscalização do cumprimento dessas condições.

Segundo a Corregedoria da PM, o Conselho Tutelar da região foi débil e ineficiente” ao não monitorar a presença de menores de idade no baile e que a subprefeitura da área foi “negligente” ao não alertar sobre as condições dessa festa. O documento também indica que os pais das vítimas foram negligentes com a guarda dos filhos. A Corregedoria recomendou o arquivamento da apuração, mas o Ministério Público Militar pediu novas informações. Com o objetivo de saber quem estava por trás da organização do evento, o Ministério Público pediu que a polícia busque anúncios da festa nas mídias sociais e apure a respeito de eventual autorização das autoridades públicas para a realização do baile. O poder público sabia da ocorrência do evento. Tanto é assim que, no baile, havia seis motocicletas da PM estacionadas, para reforçar o patrulhamento da região.

É preciso investigar as causas e as responsabilidades da atuação de policiais que exorbitam no uso da violência. Mas também é preciso investigar a atuação disfuncional do poder público, que se omite do dever de proibir a organização continuada de um evento ilegal.

Notas & Informações - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 3 de junho de 2019

BARBÁRIE - Cinco anos de maus-tratos: o calvário do menino Rhuan Maycon - até o pênis da criança foi cortado pelo 'casal' de lésbicas

Rhuan Maycon, menino que foi esquartejado, teve pênis cortado há um ano



Rhuan sofreu cinco anos de maus tratos (foto: Walder Galvao/CB/D.A Press)

As acusadas de matar o garoto de 9 anos o mantinham em casa, privado de ir à escola. A menina de 8 anos que presenciou o assassinato reencontrou ontem o pai

Em Samambaia, uma garota de oito anos vivia uma rotina de medo. Sem ir à escola há pelo menos dois anos, ela saía de casa apenas para ir à igreja. Dentro da residência, tinha pouca liberdade e os sinais de maus-tratos eram visíveis. O sofrimento chegou ao fim na manhã de ontem, quando a pequena conseguiu reencontrar o pai, o servidor público Rodrigo Oliveira, que a procurava havia cinco anos. Ele ficou sabendo do paradeiro da filha após a morte do irmão de criação dela, Rhuan Maycon, de 9 anos, que foi assassinado pela própria mãe, Rosana Auri da Silva Candido, 27, e pela companheira dela, Kacyla Priscyla Santiago Damasceno, 28, mãe da menina.




'Quero dar um enterro digno ao meu filho', diz Maycon Lima, pai de Rhuan (foto: Arquivo Pessoal)

Kacyla fugiu com a filha de Rio Branco, no Acre, em 2014, junto com Rosana e Rhuan. Eles passaram por dezenas de endereços, como Trindade (GO), Goiânia (GO) e Aracaju (SE), até chegar ao Distrito Federal. Há dois meses, moravam em Samambaia, na casa onde o garoto foi assassinado e esquartejado. Ainda não se sabe se a garota viu o momento da morte de Rhuan, mas, ao chegar à delegacia, ela fez um desenho de um corpo ensanguentado com os órgãos de fora. Aos investigadores da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte), as mulheres disseram que a menina dormia na hora do crime.  

Mãe fala porque assassinou o próprio filho


De acordo com o Conselho Tutelar da região, as duas crianças eram maltratadas pelas acusadas e obrigadas a manterem relações sexuais entre elas. Viviam em cárcere privado, segundo constataram agora os conselheiros. No abrigo, a garota agradeceu pelas refeições e informou que só comia pão havia três dias. Há cerca de um ano, Rhuan teve o pênis cortado pelas mulheres. O procedimento foi feito em casa e, desde então, ele não foi a uma unidade de saúde. Aos agentes, as acusadas contaram que o menino queria ser uma garota e, por isso, o teriam mutilado.

Mãe e companheira falam em delegacia sobre assassinato

Rodrigo Oliveira, pai da filha de Kacyla, desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília às 8h30 de ontem. Em seguida, foi à delegacia, em Samambaia, para se reunir com o delegado e com representantes do Conselho Tutelar. Poucos minutos depois, seguiu para o abrigo onde a filha estava, em Taguatinga. Bastante agitada, com pés ressecados, cortes na cabeça e ferimentos no pescoço, a pequena, finalmente, conseguiu reencontrar o pai. Emocionado, ele não teve condições de conversar com a equipe do Correio. “Consegui achar minha filha por causa de uma tragédia. Não é o momento ideal para falar sobre o assunto”, lamentou.


Preventiva 

Rosana e Kacyla passaram por audiência de custódia na manhã de ontem. Ambas tiveram a prisão preventiva decretada e foram encaminhadas à carceragem do Departamento de Polícia Especializado (DPE). Esta semana, serão levadas à Penitenciária Feminina do Distrito Federal. “Elas responderão por homicídio qualificado, por motivo torpe, sem possibilidade de defesa da vítima, e por se tratar de um menor de 14 anos. A pena varia de 12 a 30 anos de prisão”, informou o delegado à frente do caso, Guilherme Sousa Melo.  

Ele acrescenta que as mulheres serão investigadas também por manter as crianças em cárcere privado e por lesão corporal. O investigador ressaltou que há suspeitas de que os meninos teriam sido agredidos em Goiânia (GO), um dos endereços usados pelas acusadas durante o período de fuga. Sousa Melo irá ao Acre na quarta-feira. “Vamos fazer um panorama externo das autoras e da vítima”.  

A filha de Kacyla também será monitorada nos próximos dias. Um agente da delegacia está escalado para acompanhar o caso da garota. Além disso, o Conselho Tutelar garantiu que acompanhará o processo, mesmo em outra unidade da Federação. O delegado ainda conversará, novamente, com o pai e com outros parentes da menina, no Acre. “Tudo já foi definido. Ao longo desta semana, entrarei em contato com todos familiares”, destacou. 

“Quero dar um enterro digno ao meu filho”, desabafou o pai de Rhuan, Maycon Douglas Lima de Castro, 27. Desempregado, ele se desesperou quando soube da morte do menino, e por não ter condições financeiras de fazer o transporte do corpo. No entanto, de acordo com o Conselho Tutelar, a Justiça do Acre arcará com as despesas do traslado. “Meu menino estava desaparecido. Fizemos de tudo para encontrá-lo. Eu nunca perdi minhas esperanças, até meu pai me chamar e me contar toda essa história. Ainda é difícil de acreditar”, se emocionou. 

Maycon contou que teve um relacionamento rápido com Rosana. “Ela morava na casa dos meus pais junto com Rhuan. Eu já estava separado dela havia cinco anos, quando decidimos pedir a guarda. Depois disso, ela sumiu. Toda vez que encontrávamos uma pista, a gente viajava atrás do meu filho”, lembrou. De acordo com ele, o desespero tomou conta da família quando o garoto sumiu. “Todo mundo era muito apegado, por isso, nunca desistimos de procurá-lo”, ressaltou. O homem tem mais dois filhos, de outro casamento. Sustentado pelo pai, ele tentou fazer uma vaquinha para pagar o transporte do corpo, antes de saber que receberia ajuda. “Quero trazê-lo para a terrinha dele, onde era feliz e brincava. Agora, está chovendo e isso só me lembra o Rhuan, que adorava tomar banho de chuva. Afinal, toda criança gosta”, disse Maycon, sem conseguir conter as lágrimas. 

O Conselho Tutelar informou que a filha de Kacyla continuará no abrigo por tempo indeterminado. Por estar há muito tempo afastada do pai e por causa do crime, ela ainda estava muito assustada no momento do reencontro. Equipes do órgão trabalharão para amenizar a situação. Rodrigo já tinha a tutela da filha, por isso, não há trâmites legais em relação a essa questão.
Barbárie
Rosana e Kacyla assassinaram Rhuan no fim da noite de sexta-feira. O garoto estava dormindo quando recebeu diversos golpes de faca. Em seguida, ele teve o rosto desfigurado, foi decapitado e esquartejado. As mulheres ainda tentaram queimar a carne dele em uma churrasqueira, para poder descartá-la em um vaso sanitário. No entanto, pararam por causa da grande quantidade de fumaça.  

Elas distribuíram as partes do corpo do menino em uma mala e duas mochilas escolares. Rosana jogou um dos itens em um bueiro de Samambaia, mas foi vista por pessoas que estavam na rua. Curiosos abriram o objeto e encontraram o corpo. A Polícia Civil foi acionada e prendeu o casal na residência. Os investigadores não descartam a possibilidade de que as acusadas fariam o mesmo com a garota filha de Kacyla, que estava dormindo quando os agentes chegaram.  

Saber Mais: Mãe e companheira esquartejam menino de 9 anos em Samambaia - DF 

Correio Braziliense 

[infelizmente, vivemos em um país em que a tendência é se preocupar mais com o bem estar dos assassinos do que com o das vítimas - há o risco dessas anormais, ficarem impunes, surgir algum especialista e declarar que não sabiam o que faziam, ou algo assim.

Nos resta confiar que na cadeia elas terão o tratamento adequado - morte lenta, gradativa, cada dia um pouco de tortura, mantê-las vivas, sob intenso sofrimento, pelo maior tempo possível.

A 'lei da cadeia' é implacável com seres desse tipo. Certamente, serão adequadamente punidos.
Muitos devem lembrar de um professo de jiu-jitsu que matou, aqui mesmo no DF, matou uma criança, um menino filho da namorada.

Foi preso e chegou na cela cantando de galo, dizendo ser professor de artes marciais. Não adiantou muito, em três dias teve que passar por duas cirurgias de reconstituição anal.
Saber mais, leiam aqui, antes vejam a foto abaixo.]



Estuprador em um dos intervalos das sessões de "disciplina" aplicadas por outros bandidos companheiros de cela

 

Palavra de especialista


Indícios de psicopatia

“Diagnóstico é algo muito difícil, depende de muitas avaliações. Porém, para mim, como psiquiatra e como pessoa, fica claro que uma atitude dessas é doente. E, quando a gente fala que a pessoa é doente, pensam que é uma coitadinha, e não é necessariamente o caso, por exemplo, quando se trata de psicopatas. É um caso gravíssimo, extremamente bizarro, e que precisa ser mais estudado. Infanticídio não é tão raro. Mas o quadro chama atenção por envolver, além de infanticídio, extrema brutalidade, com pré-amputação peniana.

Essas duas mulheres, em outros países, seriam sentenciadas à pena de morte ou à prisão perpétua. E, provavelmente, se forem inseridas novamente na sociedade, podem causar problemas. Chama a atenção o fato de, um ano antes, elas terem cortado o pênis do menino. Não foi um tapa, um chute, como em 99% dos casos. Tudo tende a nos levar a enquadrá-las para o lado da psicopatia.

Raphael Boechat, psiquiatra, doutor em ciências da saúde, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)

 

domingo, 13 de janeiro de 2019

Criança acusa pai e madrasta de queimarem a cabeça dela com ferro de passar

Menino de 4 anos foi resgatado por policiais militares de Formosa com ferimentos na cabeça e no rosto. Ele também estava desidratado e mal alimentado. Criança está sob os cuidados do Conselho Tutelar

Um menino de 4 anos de idade está internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Formosa (GO) desde sexta-feira (11/1), supostamente por ter sido maltratado pelo próprio pai e pela madrasta. De acordo com o Conselho Tutelar do município goiano, distante 80km do centro de Brasília, o garoto está com queimaduras na cabeça e na face. Os ferimentos são tão graves que o couro cabeludo dele ficou deformado.
Menino está com o couro cabeludo bastante ferido (foto: Reprodução/Redes Sociais)
 
Policiais militares resgataram o menino por volta das 17h de sexta-feira, após receberem uma denúncia anônima de que a vítima estava presa no porta-malas de um carro e enrolada em um cobertor. Ao chegarem ao endereço, no bairro Lagoa dos Santos, os policiais encontraram o garoto, na verdade, nos bancos de trás de um veículo onde também estavam o pai e a madrasta dele.

De imediato, o menino disse que as queimaduras foram causadas por um ferro de passar roupas. Por enquanto, a hipótese não está confirmada. “Após o resultado do exame de corpo de delito, constatamos que ele pode ter sido queimado por alguma espécie de líquido. A substância deve ter escorrido pela face do menino, visto que ele também tem queimaduras na bochecha. Além disso, o olho esquerdo está inchado, e há uma bolha perto do órgão”, explicou o conselheiro Aelson Vieira de Araújo.
 
Os adultos foram interrogados na 11ª Delegacia Regional de Polícia (Formosa) e alegaram que não são os responsáveis pelos ferimentos no corpo do menino. “Ambos disseram que a criança se machucou sozinha, depois de cair na cama e bater a cabeça no chão. Essa hipótese, contudo, parece não ser verdadeira”, disse Aelson Vieira. Após o depoimento, o pai e a madrasta do menino foram liberados pois os ferimentos são antigos e, portanto, eles não poderiam ser presos em flagrante. No entanto, os dois continuarão sendo investigados. As condutas da madrasta também serão apuradas pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do município goiano. A Vara Cível da Comarca de Formosa deve julgar se o casal perderá a guarda do menino. [caso não fujam e sejam novamente presos e uma 'audiência de custódia' determina que sejam soltos, o ideal é quando forem recolhidos à prisão, seus companheiros/as de cela recebam um ferro de passar e a sugestão sobre quais partes do corpo do pai e da madrasta devem ser passadas.
Oportuno recomendar que não exagerem no tempo nem no excesso de calor - afinal os casal deve servir de diversão por alguns dias, assim, nada de exagerar.
Devagar, bem devagar e a diversão dura mais dias.]

Neste sábado (12/1), a criança foi trazida para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade de saúde especializada no tratamento de queimaduras, onde passou por uma avaliação. Ela retornou à UPA de Formosa para receber curativos e na próxima segunda-feira (14/1), voltará ao hospital do DF acompanhada pelo conselheiro Aelson Vieira. 

“Por enquanto, o Conselho Tutelar de Formosa ficará responsável pelo menino. Já entramos em contato com os avós paternos dele, que moram em Montes Claros (MG), e eles devem chegar a Formosa ainda neste fim de semana. Também procuramos pela mãe da criança, que vive no município mineiro. Contudo, até o momento não temos informações sobre o paradeiro dela”, detalhou Aelson Vieira.

Criança também estava desidratada e mal alimentada
Além das queimaduras, a criança apresenta sinais de desidratação e de que não era bem alimentada pelo pai e pela madrasta. As roupas que ele utilizava no momento do resgate também evidenciam a condição de maus-tratos, que começaram há pelo menos 10 dias, segundo Aelson Vieira. “Estranha o fato de que tanto o pai quanto a madrasta estavam bem vestidos, mas a criança, não. A situação do menino é lamentável. Em três anos no Conselho Tutelar, nunca vi algo parecido. Não resta dúvidas de que ela foi maltratada”, reconheceu o conselheiro.

Segundo Aelson Vieira, o caso mobilizou a comunidade de Formosa. A todo momento, cresce a quantidade de pessoas que visita a UPA da cidade para fazer doações ao menino. “Estão trazendo roupas, calçados, alimentos e brinquedos para ele. A sociedade abraçou essa criança. Todos esperam a pronta recuperação dela.”
 
 
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Menino de 9 anos é resgatado da rua após ser expulso de casa pela mãe por se recusar a roubar

Criança se recusa a roubar e é expulsa de casa pela mãe 

Segundo a comunicação da PM, a mãe da criança a obrigava a roubar. Por se negar, o garoto apanhava e era colocado para fora de casa

A Polícia Militar resgatou um menino de 9 anos que estava dormindo em uma praça, no quadradão da QNP 11, em Ceilândia, por volta das 21h deste domingo (16/9). Os policiais chegaram até o endereço após o garoto ter sido encontrado por testemunhas, que acionaram a equipe. Segundo a comunicação da PM, a criança teria sido expulsa de casa pela mãe há duas noites por se recusar a roubar.
O menino teria dito aos PMs que mora com a mãe e com o padrasto, que seriam alcoólatras, e que ele é espancado constantemente pelo casal. Ele teria dito, ainda, que um dos motivos da mãe agredi-lo é que ela o obrigaria a roubar residências. Como ele se nega, apanha e é colocado para fora de casa. Ainda segundo a corporação, o garoto disse, também, que tem duas irmãs, mas que nenhuma quer ficar com ele.
Segundo a PM, o Conselho Tutelar foi acionado e levou o garoto para a casa de uma das irmãs. Esta segunda (17/9), uma conselheira ficou de buscá-lo para que ele seja acolhido segundo os procedimentos do órgão. A PM não chegou a ir na casa dos pais do garoto, pois, segundo a equipe que atendeu a ocorrência, o garoto não soube explicar o endereço. Os agentes foram informados pelo Conselho Tutelar que a mãe da criança já é conhecida e que ela já havia perdido a guarda de outros três filhos por negligência e maus tratos.

Correio Braziliense



 

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Pastora acusada de tortura responde a mais acusações de maus tratos



Pelo menos três denúncias são apuradas pela Polícia Civil e pelo Conselho Tutelar. Em uma delas, a representante religiosa orientou outra fiel a não amamentar o filho recém-nascido

A criança de 7 anos mantida em cativeiro pela mãe recebeu alta do Hospital Regional de Ceilândia (HRT) após 12 dias internada. A menina encontrada desnutrida sofreu sérias restrições físicas por quase um mês por influência da pastora de uma igreja da cidade. Apesar de as duas terem sido presas no dia do resgate da vítima por policiais militares, a dupla ganhou a liberdade, mas responderá na Justiça por tortura.

Essa não seria a única situação ligada à líder da comunidade evangélica. Pelo menos três denúncias são apuradas pela Polícia Civil e pelo Conselho Tutelar. Em uma delas, a representante religiosa orientou outra fiel a não amamentar o filho recém-nascido e encaminhá-lo para adoção. A exemplo da violência cometida em Ceilândia, a pastora justificou que a criança era fruto do diabo.

O caso teve início quando a mãe, Roberta*, 38 anos, começou a frequentar a igreja pentecostal no início da gravidez. A pastora se aproximou da mulher. E, a partir daí, a grávida teve na líder uma mentora religiosa. A mulher dizia que o bebê era filho do pecado, pois a mãe não era formalmente casada com o companheiro. O pai da criança, José*, 38, chegou a presenciar cenas em que Roberta socava o ventre. “Ela se machucava, dizendo: ‘Morre demônio, você não vai me matar’”, afirma José. No sétimo mês de gravidez, ela o expulsou de casa. O argumento era de que, se o relacionamento continuasse, a mãe morreria.

No dia do parto, ela impediu a entrada do pai do menino no hospital. José só conheceu o filho dois dias depois do nascimento. A mãe nunca amamentou a criança. “Ela chegou a tomar um remédio para não produzir mais leite”, lembra a tia paterna. Da Certidão de Nascimento, não consta o nome do pai. Com o auxílio do Conselho Tutelar, ele localizou o garoto, que passa bem, mas está na fila da adoção de uma instituição. “Estou lutando na Justiça para conseguir o reconhecimento de paternidade e também a guarda”, conta José.

O Conselho Tutelar acompanha o caso. “Essa suposta pastora estava influenciando essa mãe a maltratar o bebê de 8 meses. Nesse momento, descobrimos que ela havia entregado a criança para a Vara da Infância sob a influência dessa líder religiosa”, detalha a conselheira tutelar Selma Aparecida Costa. “A criança agora está sob custódia do Estado. Dissemos para o pai entrar com o pedido de guarda. Vamos orientar as famílias a criarem a criança”, explica.

Sofrimento
Após o resgate, a criança de 7 anos precisou ser transportada com urgência para o HRC para uma transfusão de sangue devido ao quadro de anemia aguda, desenvolvido pela falta de alimentação e de mobilidade no cativeiro. A vítima também precisará de cadeiras de rodas e passará por sessões de fisioterapia. A suspeita é de que a garota tenha perdido massa muscular por causa das condições de vida. “Estamos fazendo todos os acompanhamentos possíveis. Inicialmente, a criança estava mais arredia com as pessoas, justamente em virtude da violência sofrida. Agora, ela começou a interagir, mas vamos dar todo o acompanhamento psicológico possível para ela”, revela Selma. Ela ficará na casa do pai.

Todas as denúncias, além de serem alvo do Conselho Tutelar de Ceilândia, são investigadas pela Polícia Civil. “Os casos chegam e são apurados com todo o cuidado, justamente por envolverem crianças. Estamos juntando todos os fatos e coletando depoimentos de pessoas envolvidas para identificar se realmente ocorreram outros casos de maus-tratos (na igreja). É tudo muito delicado”, alerta o delegado-chefe da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro), André Leite.

Fonte: Correio Braziliense

sábado, 13 de junho de 2015

Maioridade Penal = Impunidade - Menor foi acusado de 8 crimes em apenas 2 meses antes de estupro coletivo no Piauí

Jovens que atacaram quatro meninas têm longo histórico criminal. 'Quero ser bandido mesmo', disse um deles ao juiz. 'Quero que ele fique internado', pediu a mãe de outro

[mesmo correndo o risco de ser processado por algum defensor de bandidos, acoitados nessas ONGs que dizem defender direitos humanos (defendem os bandidos, nunca se preocupam com as vítimas) tenho que dizer: para esses 'di menor' só a vala.

Estupro, espancamento e morte: a tarde de horror no Piauí

Adolescentes que participaram do estupro coletivo de quatro meninas têm longo histórico criminal. 'Não era para ele ter sido solto', diz a mãe de um deles sobre internações anteriores

 A jovem Daniele Rodrigues Feitosa, morta aos 17 anos após ser vítima de estupro bárbaro em Castelo do Piauí (PI)(Reprodução/VEJA)

A porta de um dos cômodos na casa do comerciante Jorge Moura, de 52 anos, na pequena Castelo do Piauí, cidade com pouco mais de 18.000 habitantes a 180 quilômetros de Teresina, não é aberta há duas semanas. Moura e a mulher não conseguem entrar no local desde que a filha Danielly Rodrigues Feitosa, de 17 anos, desapareceu na tarde de 27 de maio depois de subir com três amigas o Morro do Garrote para tirar fotos que seriam publicadas em redes sociais. No caminho, as estudantes foram rendidas por quatro adolescentes que, naquela tarde, usavam drogas na companhia de um traficante de 39 anos, fugitivo de São Paulo. O desfecho desse encontro foram duas horas de terror. As meninas foram despidas à faca, amordaçadas com as próprias roupas íntimas, amarradas a um cajueiro, torturadas e obrigadas a manter relações sexuais com os cinco monstros. Depois disso, foram atiradas de um penhasco. A queda no terreno de pedregulhos pontiagudos provocou ferimentos severos. Elas ainda ficaram cravejadas de espinhos pelo corpo. Mas isso não bastou. Dois menores desceram o morro e tentaram liquidá-las a pedradas. Danielly morreu no último domingo e uma das vítimas permanece internada em estado grave

A atrocidade foi cometida no momento em que o Congresso Nacional parece ter decidido fazer avançar mudanças na maioridade penal no Brasil. Quem conheceu as quatro meninas da minúscula cidade do Piauí, estado recordista em indicadores negativos no país, só quer resposta para uma pergunta: menores que cometem crimes brutais como esse vão ficar impunes? "Nunca vou me conformar com uma brutalidade dessas. Que Deus os mande bem para longe, para onde merecerem", disse o pai de Danielly ao site de VEJA, com o olhar vago de quem ainda tenta entender tamanha crueldade.

As buscas pelas garotas começaram na noite de 27 de maio. Policiais civis encontraram as duas motos Honda Bros de 150cc, pilotadas por elas, no pé do morro e logo as removeram para a delegacia. As motos foram reconhecidas por vizinhos e familiares, o que fez com que os policias retornassem às pressas para o local, acompanhados por dezenas de populares. As meninas foram avistadas empilhadas nas rochas de cor acobreada. Só uma não estava desacordada, mas agonizava e se apavorou ao escutar as vozes. A Polícia Civil não teve dúvida: os primeiros suspeitos eram os garotos que há tempos aterrorizavam a cidade - nos últimos dois meses, I.V.I, de 15 anos, teve oito acusações registradas por furto de residência e roubo de motos.

A barbárie chegou rápido aos ouvidos da população de Castelo do Piauí. Uma barricada de pneus em chamas à porta da delegacia e centenas de pessoas clamando por Justiça tomaram as ruas. Os menores foram levados para quatro pontos diferentes da cidade para evitar um linchamento. Foram depois transferidos para a delegacia de Campo Maior, onde foram ouvidos, confessaram o crime e apontaram o traficante Adão José Silva Souza como mentor. Ele fornecia crack e maconha para os meninos - um deles F.J.C.J, de 16 anos, é cunhado de um primo do traficante.

No caminho do crime - A história de vida dos menores infratores não surpreende: são notórios garotos-problema na cidade. Criados em famílias pobres e desestruturadas, que não conseguiam mais domar os meninos franzinos, ainda com porte físico de criança - é difícil crer, à primeira vista, que um deles tenha 17 anos -, eram usuários de crack e maconha e semanalmente detidos por furtos e roubos. Os pais passam a sensação de paralisia diante de tanta reincidência dos filhos.

Nos últimos anos, quase todos os pequenos furtos que ocorrem no município recaem sobre os garotos, agora jurados de morte pela população. Na quinta-feira, a primeira audiência deles na Justiça precisou ser transferida para Teresina por falta de segurança na cidade. A faixa negra no portal de entrada de Castelo do Piauí reflete o clima de tensão e vingança.

De 2014 para cá, foram doze boletins de ocorrência contra o menor I.V.I. - nem todos com autoria comprovada. Dezenas de vítimas relatam crimes com o mesmo modus operandi do menino (invasões pela janela ou pelo telhado), mas temem acusá-lo. Após se notabilizar por furtos em residência, ela agora andava roubando motos - as marcas de um tombo durante uma fuga frustrada de moto estão na cicatriz que risca sua cabeça. "São muitos atos infracionais praticados por eles, principalmente o I.V.I., que é detido com frequência. Desde os dez anos de idade essa criança está fazendo coisa errada e os atos infracionais atribuídos talvez cheguem a quase cem", diz o coordenador de Polícia Civil de Castelo do Piauí, Edílson Lima.



O grupo de menores que agem à margem da lei tem histórico de invadir casas, assaltar mercearias e roubar motos. Em março, a Polícia Civil indiciou por corrupção de menores uma mulher que fornecia bebidas e drogas para os adolescentes, além de já ter mantido um relacionamento amoroso com um deles, F.J.C.J, de 16 anos, que depois do estupro das estudantes disse ter "bebido cachaça até as 3 horas da madrugada". Nélia Alexandre dos Santos Vieira, a Leila, diz ser apenas amiga dos garotos e frequentar com eles bailes funk. Outro deles, B.F.O, de 15 anos, chegou a ser expulso de casa pelo pai porque passou a dormir na casa dela. Primeiro a ser detido, ele delatou os demais às equipes de captura após o estupro das quatro adolescentes que nunca tinha visto. "Elas eram bonitas, de boa aparência e bem vestidas, mas eu não as conhecia", disse à polícia.

O site de VEJA consultou dados recentes da delegacia de Castelo do Piauí, que não possui delegado fixo e está em condições precárias de funcionamento e conservação. O arquivo só tem registros recentes. Apenas dois policiais civis, um carcereiro e um PM se revezam no policiamento diário. Desde 2013, foram autuados contra os meninos dez registros diferentes de atos infracionais confirmados por furto, roubo, ameaça, resistência e associação criminosa. Em algumas ações, eles usaram peixeiras para ameaçar as vítimas. Isso sem falar nos boletins de ocorrência atribuídos a I.V.I. A polícia também fez três pedidos de internação contra dois dos menores: um para G.V.S, de 17 anos, e dois para I.V.I, de 15 anos, apontado como o mais violento e perigoso.

G.V.S.: "Quero ser bandido" - G.V.S é o menor que aparece em vídeo obtido pelo site de VEJA, no qual o traficante Adão José Silva Souza é acusado de ter forçado as quatro vítimas a manter relações sexuais com ele e com todos os meninos com uma arma à mão - a versão também consta dos depoimentos dos demais menores, embora a polícia não tenha encontrado o revólver 38 na cena do crime, nem um revólver 32, que também aparece em um dos depoimentos. O vídeo foi gravado por policiais civis após a captura dos menores na manhã seguinte ao crime - os celulares das vítimas ainda estavam jogados no local.

G.V.S foi reconhecido por fotos durante o depoimento de duas das adolescentes que conseguiram falar à polícia: J.L.S., de 15 anos, que recebeu alta nesta semana, e I.C.M.F., de 16 anos, que sofreu traumatismo craniano e está vivendo na casa do pai em Teresina. Segundo elas, foi ele quem as abordou primeiro com uma faca. A terceira sobrevivente, R.N.S.R, de 17 anos, ainda não teve alta no Hospital de Urgências de Teresina (HUT).
"Esse menor de 17 anos é frio e calculista, não consigo acreditar que um ser humano faça tamanha crueldade. Ela lembra que ele veio primeiro colocou uma faca no pescoço da Danielly. Elas tentaram correr, mas ele ameaçou matá-la. Minha sobrinha disse 'tia, nós paramos porque eu não ia suportar carregar essa culpa comigo'", diz a professora e historiadora Márcia Mineiro, que acompanhou a sobrinha I.C.M.F. na ambulância durante o transporte para Teresina. Durante a transferência, a jovem deitada no chão não largou a mão da tia. "Ela cravou a unha na minha mão e apertava quando alguém encostava nela. Ela sabe o que aconteceu, não lembra muito, mas quando eu perguntei sobre a violência sexual, só chorou."

A mãe do infrator G.V. S afirma que ele começou a se envolver com o crime logo aos 10 anos de idade. Estudou apenas até a 5ª série e abandonou a escola. O primeiro roubo foi um CD. Depois partiu para celulares e câmeras. No ano passado, já havia sido internado por 45 dias no Centro de Internação Provisória (CEIP) por furtos repetidos. Quando saiu, o menor disse: "Nunca mais vou pisar nesse lugar". Mas não cumpriu a promessa feita à mãe - com quem não teve contato desde a nova internação.

G. V. S. mora em um pequeno casebre em uma rua de terra batida a menos de um quilômetro do local onde participou do estupro. De cima do Morro do Garrote avista-se a casa dele. Vive com o padrasto e a mãe, que está gravida do oitavo filho. G.V.S. têm duas irmãs gêmeas de seis anos, uma de 9 anos, uma de 12 anos e outra de 15 anos, além de um irmão de 19 anos, que sofre de distúrbios mentais. O filho mais velho é fonte da renda principal: recebe um salário mínimo do governo. A mãe recebe 260 reais do programa federal Bolsa Família. E só. Ela não trabalha e o padrasto do adolescente vive de bicos. A família se divide em dois cômodos acanhados na casa de paredes internas mofadas e descascadas com uma tinta azul e verde. Na parede só há retratos das irmãs. Por fora, tijolos e concreto estão aparentes. A cerca é improvisada. "Tudo o nosso dinheiro vai para comida, não tenho nem telefone. Mas o meu menino não tinha precisão não. Aqui a gente não come do bom e do melhor porque você sabe como é vida de pobre, mas nunca passamos um dia sem uma panela no fogo", disse a dona de casa Elizabete Vieira da Silva, de 35 anos.

Segundo a mãe, G.V.S tinha comportamento agressivo com as irmãs - mas não com ela. Elizabete afirma que sempre que o garoto entrava em casa as meninas diziam: "Lá vem o ladrão!". G.V.S ficava furioso. "Ele ficava fungando, respirando fundo, mas não vinha para cima de mim não porque eu enfrentava". Para a mãe, ele age por causa de más companhias e, principalmente, pelo vício em drogas. Sempre que voltava para casa sob efeito de entorpecentes, tentava esconder com o boné os efeitos da maconha. A mãe diz que sempre implorou para que ele "saísse dessa vida e fosse trabalhar" e que chegou ameaçar abandoná-lo. Ela também relata que os menores infratores estavam "intrigados" um com o outro, e que frequentemente se ameaçavam de morte. "Antes de acontecer isso aí, a polícia o prendeu e depois soltou. Não era para ter soltado ele, nada teria acontecido", disse a mãe. "Quando a gente coloca um filho no mundo não vem escrito na testa o que ele vai ser. Se viesse eu não iria querer".

O promotor Cezário Cavalcante Neto conta que já decidiu perdoar G.V.S. em uma audiência e solicitou que ele fosse matriculado em uma escola em vez de ser internado. [PARABÉNS ilustre promotor - é a autoridade concedida a pessoas que não sabem usar o poder que possuem que produzem hienas gomo o tal G.V.S. Durma bem, tenha bons sonhos e sempre pense que uma parente sua, até mesmo uma filha, pode ser a próxima vítima.] O  garoto reagiu: "Ele disse na minha frente e na frente do juiz 'Quero é ser bandido mesmo'. Fiquei em choque".

I.V.I.: Terror da cidade - Há cerca de dois meses, a família de I.V.I se mudou para um pequeno imóvel comercial de uma tia do adolescente, com medo de que ele sofresse represálias. Os pais e dois irmãos, duas crianças louras de 2 e 4 anos de idade, vivem amontoados na entrada de uma antiga loja, um ambiente sujo e sem privacidade. Eles usam uma cortina para cobrir o portão de ferro - sem ela, seria possível para ver da rua a casa inteira. I.V.I, dormia em uma rede. Também gostava de ficar na antiga casa da família, no bairro Cohab, onde a polícia apreendeu nesta quinta-feira roupas do dia do estupro, entre elas uma peça feminina - estavam queimadas e serão periciadas.

Aos 15 anos, I.V.I já não respeita os pais. É autor em seis atos infracionais registrados na delegacia de Castelo do Piauí e está internado pela terceira vez em uma instituição para recuperação. Em dezembro de 2014, quando o delegado Laércio Evangelista pediu sua internação pela segunda vez, I.V.I havia tentado esfaquear um policial militar após ter furtado e levado para casa celulares, um relógio e uma espingarda. O delegado comunicou ao Ministério Público que I.V.I estava "ameaçando e aterrorizando" a população de Castelo do Piauí e que já haviam perseguido o menino pelas ruas tentando matá-lo. Um dia antes do estupro, em 26 de maio, I.V.I e B.F.O foram autuados por roubo. Horas antes do crime, havia sido procurado pelo furto de uma moto. "Quero que ele fique internado para ver se sai deste mundo em que estava vivendo. Qualquer hora chega a notícia que não quero receber nunca", diz a desempregada Patrícia Visgueira Izaias, de 38 anos, mãe de I.V.I. "Acho que não convém ele voltar para Castelo", diz o pai, o aposentado Manoel Izaias, de 63 anos, carpinteiro aposentado por sofrer de distúrbios mentais e insônia permanente - dorme à base de remédios há duas décadas. A família vive com 1.000 reais de renda da aposentadoria de Manoel e 306 reais do Bolsa Família. "Depois dessa aí ele sujou a família", diz a mãe.

Patrícia visitou o filho no Centro de Internação Provisória no domingo. Ela afirmou que o garoto está em local isolado e que recebe bom atendimento: "Nem parece coisa para filho de pobre". Ela disse que ele não demonstrava preocupação e que pediu que ele confessasse a ela o envolvimento no estupro coletivo. Ele disse à mãe que permaneceu na casa de um vereador na cidade, tio de uma das vítimas, onde teria trabalhado pela manhã furando um poço. "A desgraça da vida do I.V.I foram as amizades. Ele teve amizades bem mais pesadas do que ele", diz a mãe. "Antes ele me ajudava com tarefas domésticas e era muito apegado aos irmãos."

Desobediente e desinteressado, I.V.I já não era aceito nos colégios de Teresina e a família teve de apelar ao Conselho Tutelar para conseguir matriculá-lo. "Até eu me matriculei para ver se ele ia junto, mas nos dias que eu fui ele não ia, até que abandonei também", conta a mãe.  A Assistência Social da Cidade já recomendou acompanhamento psicológico por seis meses, mas o adolescente só aceitou ir a uma consulta. I.V.I chegou a ficar internado em uma unidade da Fazenda da Paz, nas proximidades de Timon, no Maranhão, uma clínica terapêutica para dependentes de drogas, mas fugiu do lugar com menos de uma semana. "Eu deixei ele na porta e menos de uma semana depois ele apareceu na casa da minha irmã em Teresina".

O Ministério Público já representou pela internação máxima para os quatro acusados de associação criminosa, estupro, homicídio, corrupção de menores e três tentativas de homicídio e só podem ficar até três anos internados pela atual legislação, agora em debate no Congresso Nacional. Mas, pela primeira vez em décadas, é possível que isso mude.

Fonte: Revista VEJA