Mas Milei conseguirá vencer esse fantasma?
A história
política da Argentina divide-se em antes e depois do Peronismo. Em 4 de
junho de 1943, um golpe militar deu início a um novo governo, e Juan
Domingo Perón assumiu a Secretaria do Trabalho e Provisão, depois
elegeu-se presidente por dois mandatos com um discurso para as massas e
trabalhadores, Ações como ampliação do regime de aposentadorias, criação
do salário-mínimo e 13º salário o fizeram ascender na política, mas
foram fatais para as contas públicas. Ao mesmo tempo, Perón abrigava
nazistas alemães, torturadores e criminosos de guerra. A maioria viveu
muito bem e morreu impune na Argentina. Ele voltou ao poder em 1973 mas
faleceu no ano seguinte, deixando em seu lugar Isabelita, sua esposa,
que foi deposta dois anos depois, por outro golpe militar. Seguiram-se
seis anos, sete presidentes e 30 mil mortos. Peronismo.
As mesmas
políticas ocorreram no Estado Novo de Getúlio Vargas, aqui no Brasil.
Caráter assistencialista de altos gastos desvinculados da arrecadação,
são a marca indelével que torna esse modelo insustentável até hoje, e
assim como no getulismo, lá também as políticas peronistas se
institucionalizaram como modelo de estado social permanente. Nunca mais a
Argentina atingiu o patamar de desenvolvimento da era pré-peronista.
Em 1983,
Raúl Alfonsín, um advogado de esquerda ligado à Internacional
Socialista, venceu as eleições presidenciais. Mesmo de oposição a Peron,
adotou medidas semelhantes. Ficou famoso por criar o Plano Austral, mas
não conseguiu conter o desemprego de quase 10% e a inflação de quase
209%.
A solução foi ir ao FMI, que exigiu cortes nos gastos públicos e
vendo a inércia do governo, o Fundo negou créditos adicionais. Alfonsin
ainda tentou congelar preços e salários, interromper a impressão de
dinheiro, organizar cortes de gastos e criar nova moeda, o Austral.
[o atual presidente do Brasil, tenta agora ser o FMI para os argentinos e criar o 'sur', moeda única do Mercosul - felizmente, o chinês enquadrou o presidente brasileiro, tratando-o como um estadista de araque, devolvendo-o a sua insignificância = se considerar um estadista é um dos muitos devaneios do atual ocupante do Planalto.] Os sindicatos se opuseram ao congelamento de salário, e os empresários,
ao congelamento de preços.
Acuado, o presidente não conseguiu conter a
inflação e agora também os grandes exportadores se recusaram a vender
dólares para o Banco Central. O Austral foi desvalorizado e a inflação
alta se transformou em hiperinflação.
A eleição presidencial de 1989 ocorreu durante essa crise, quando o justicialista/peronista Carlos Menem venceu
as eleições. Alfonsín transferiu o poder para Menem cinco meses antes
do previsto, pois não suportava mais a crise. Menem, então, resolveu
solucionar o problema econômico com a dolarização da economia, uma
fórmula ainda não testada mas já uma prática não institucionalizada na
Argentina desde os anos 80.
Menem foi mais um que não não reformou o
estado peronista, e no final do século 20 a crise econômica e
instabilidade estavam de volta.
Cinco presidentes assumiram o poder e
logo renunciaram em menos de três anos!
Eis que em
2003 assume o poder Néstor Kirchner, também pelo partido peronista, com
promessas de reformas profundas que não aconteceram, Em vez disso,
contratou obras governamentais, o que não conseguiu conter a pobreza,
que chegou a 25%.
Ele e sua mulher aumentaram seu patrimônio pessoal e
foram campeões em escândalos de corrupção, sendo que por um deles
Cristina foi condenada a seis anos de prisão.
Os Kirchner
só conseguiram governar protelando a crise, rolando dívidas para o
futuro, que chega hoje, na forma de hiperinflação. [prática já adotada pelo petista que governa o Brasil, mantendo artificialmente - a Petrobras bancando - os preços dos combustíveis em baixa. Logo virá a conta e a Petrobras tentará bancar.] Desgastado também
pela crise de 2008/2009, o peronismo parecia finalmente derrotado por
Maurício Macri, candidato da direita. Só que não.
Macri
assumiu o governo com as contas no vermelho, crise de desconfiança do
público, dos investidores, poucas reservas federais, a inflação a 30% ao
ano.
O governo Macri resolveu estabilizar o peso, dando mais liberdade
de câmbio.
Cotas de exportação sobre commodities foram reduzidas, mas
as medidas de austeridade foram tímidas.
A estratégia de reformar aos
poucos não gerou resultados nem conteve a oposição. Assim, a inflação, o
desemprego e o assistencialismo continuaram altos, Em 2019, a inflação
bateu recorde chegando a 56% ao ano, os índices de desemprego subiram de
8% para 10% e a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da
pobreza subiu de 29% para 35%. Sem o peronismo, Macri acabou derrotado
pelo candidato socialista Alberto Fernández.
O atual presidente é a imagem de todos os problemas do país: o
peronismo. Participou dos governos Menem e Kirschner. Sua vice é
Cristina.
Fernández
encontrou a mesma crise e anunciou medidas dobrando a aposta no
peronismo, e como resultado, obteve o dobro do desastre.
O índice de
inflação, pelo último registro do Indec, foi de 115,6% em junho de 2023,
mais que o dobro de quando assumiu.
As medidas socialistas de seu
governo também afugentaram empresários, com a pobreza atingindo mais da
metade da população.
Atormentado por sua baixa popularidade, Fernandez
foi sensato e desistiu da reeleição.
Este
cenário peronista será o palco de Milei, mas a maior tragédia deste
modelo cruel é sufocar quem surge para reformá-lo.
Os argentinos ainda
esperam um final feliz que só pode acontecer por meio de reformas do
Estado. Terá Milei, se vencedor das eleições, maioria no congresso para
suas reformas?
O povo quer mesmo essa mudança ou está disposto a aceitar
qualquer opção?
A saída é dolarizar de novo?
Acabar com o banco
central?
Não perca a resposta a essas e outras questões nos próximos
capítulos desta novela Argentina!