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domingo, 22 de outubro de 2023

Eleição na Argentina: Como a disputa entre Milei e o peronismo mexe com o país de norte a sul - Estadão

Em duas semanas, ‘Estadão’ percorreu 4 mil km em quatro províncias argentinas e testemunhou o descontentamento com a crise econômica e política que abala o país

Do deserto mineiro de Salta, onde a pobreza e o descaso do Estado são uma realidade há décadas, ao sul da Patagônia governado com mão de ferro pela família Kirchner há 30 anos, a Argentina terá neste domingo, 22, uma eleição definidora em sua história.

A reportagem do Estadão percorreu nas últimas duas semanas mais de 4 mil quilômetros ouvindo o que pensam os eleitores, questionando políticos locais e observando o cenário pré-eleitoral na Argentina. E de norte a sul do país, desde as terras secas e ricas em minerais dos Andes à gélida e ensolarada Patagônia, o que se vê é um rompimento com os velhos nomes da política.

Mesmo em lugares nos quais pautas como dolarização e venda de órgãos parecem desconectadas da realidade local, Javier Milei encontrou um clima de abandono, frustração e uma certa vontade de ‘explodir tudo’. Essa nova versão do ‘se vayan todos’ criou um terreno fértil inédito para o colapso de uma lógica clientelista operada há décadas pelo peronismo no interior da Argentina.

Parte do sucesso de Milei se deve ao rechaço ao peronismo em consequência do mal avaliado governo de Alberto Fernández e de seu ministro da Economia, Sergio Massa, candidato da situação. Quem vota no libertário, fala em romper com a ‘velha política’ que, na avaliação da maioria, colocou a Argentina em uma crise econômica profunda, com uma inflação de quase 140%, pobreza acima de 40% e desvalorização da moeda.

Enquanto isso, a candidata de oposição macrista, Patricia Bullrich, tem enfrentado dificuldades. 
No clima de polarização entre peronismo e anti-peronismo, o argentino não encontra espaço para uma direita alternativa a Milei. 
O vínculo de Bullrich com o establishment - sua família é abastada e tradicional na política argentina - tira as credenciais para executar a mudança drástica que o país necessita, argumentam os eleitores.

A febre Milei no norte pobre da Argentina

A província de Salta, no norte da Argentina, aglutinou o sentimento de bronca que os argentinos vivem da política: nas primárias, metade da província elegeu Milei. Em povoados mais distantes da capital, essa votação chegou a passar de 60%.

A cor predominante nas ruas da capital saltenha é o amarelo da coalizão A Liberdade Avança e do padrinho político de Milei na província, Alfredo Olmedo. Pela cidade toda, cartazes de apoio aos libertários Milei, Olmedo e Orozco - a candidata a deputada federal, viraram febre. Nas ruas, jovens se vestem como o “Peluca” (apelido de Milei que significa ‘peruca’) e fazem uma festa ao pedir votos pelo libertário.

Perto da praça 9 de Julio, um stand de Bullrich, com direito a um pato gigante - o apelido de Patricia é Pato Bullrich - fica quase apagado em meio ao mar de amarelo.

Aníbal Franco, 30, é um dos que se vê cansado de ver peronistas no poder e dessa vez vai votar em Milei. Morador de San Antonio de Los Cobras, cidade de Salta onde 63% votou em Milei, ele trabalha com a mineração e conta que, ainda que não seja um emprego ruim, o salário já não lhe é suficiente.

“Tenho um salário de 300 mil a 350 mil pesos mensais, mas com a inflação e a disparada do dólar é o suficiente para cobrir a cesta básica”, comenta. “Mas ainda tenho que pagar aluguel, pagar a luz, o gás, a internet ou qualquer outro serviço, só com isso já se foi tudo. E ainda tenho que levar os filhos na escola, comprar roupas. Então, onde está a igualdade e a justiça social que dizem? Não existe”.

Rechaço ao peronismo

Já no centro do país, na província de San Luís, o sentimento de cansaço foi traduzido não só em um apoio em massa a Milei na primária de agosto - a província foi a segunda que mais o votou - mas também tirando do poder velhos nomes da administração local. Pela primeira vez desde a redemocratização do país, há 40 anos, a província não será governada por alguém da família Rodríguez Saá.

Personagens importantes do peronismo pós-redemocratização, os irmãos Adolfo e Alberto Rodríguez Saá mantiveram por 40 anos a hegemonia na pequena província agrícola da Argentina. Mas dessa vez, o candidato apoiado pelo atual governador, Alberto, perdeu a corrida para um candidato de dentro da coalizão do Juntos pela Mudança.

Menos amarela que Salta, mas definitivamente com muitas imagens e cartazes da campanha de Milei, San Luís vivia um clima intenso pré-eleitoral. Na praça Pringles, jovens tentavam fazer campanha por Sergio Massa em uma pequena tenda no canto, mas não eram muitos os que se aproximavam. Já Patricia Bullrich, escolheu a cidade como um dos pontos para finalizar a sua campanha.

Ana Paula Pereyra, 24, se preocupa pelas falas de Milei e ainda não estava certa em que votaria, mas não deixava de demonstrar insatisfação com a política que vem sendo tocada em sua cidade desde sempre. “Do jeito que estamos, com essa crise, sem perspectiva de ter um emprego, tendo que sair do país para trabalhar, isso não dá para continuar. Mas Milei ainda me deixa insegura”, afirma.

Maioria silenciosa no berço kirchnerista

No sul do país, a temperatura política, ao menos na superfície, parece diferente. Em Río Gallegos, capital da província de Santa Cruz, cidade natal de Néstor Kirchner e o berço do kirchnerismo, quase não se vê campanhas a favor de Milei. No máximo alguns panfletos do A Liberdade Avança são vistos nas calçadas e folhas de sulfite rasgadas coladas em postes com o rosto do libertário.

Ainda assim, ele também foi o mais votado na província nas primárias, para surpresa absoluta dos kirchneristas. Dentro do círculo político próximo de Alicia Kirchner, governadora em retirada da província e irmã de Nestor, o voto expressivo de Milei veio como um choque.

Nas ruas, quase ninguém fala em quem se pretende votar. No máximo, a população demonstra algum descontentamento e diz que o país precisa de uma mudança de rumo.

Mas Milei levou a província considerada um bastião dos Kirchner nas primárias com 28% dos votos, seguido pela coalizão peronista com 21%. O clima de silêncio faz analistas acreditarem que ali houve um “voto de vergonha” no libertário, em que se vota, mas não se admite. Os números são ainda mais impressionantes quando considerado que Milei não fez campanha ali, nem ao menos teve candidatos provinciais para governo ou legislativo.

A isso acrescenta-se o fato de que, pela primeira vez em 30 anos, nenhum kirchnerista estará no governo. Alicia, que concorre para o Senado, não conseguiu eleger seu candidato e a oposição macrista venceu a corrida. Amplificando o sentimento de cansaço na terra dos pinguins.

O que esperar

Embora sejam eleições definidoras na história da Argentina, o consultor político Pedro Buttazzoni reluta em classificá-la como uma das mais importantes, especialmente frente a um baixo engajamento a ir votar. O voto é obrigatório, mas nas primárias, mais de 30% decidiu não participar, um dos números mais altos dos últimos 40 anos.

As eleições nacionais costumam ter um nível de participação maior que as primárias, mas não se sabe até onde o eleitor desencantado ficou convencido com alguma das candidaturas.

“Ninguém se aventura em ser contundente em um prognóstico, os cidadãos tem uma enorme resistência a responder pesquisas, o que dificulta realizar estudos e na hora de construir cenários possíveis há uma conclusão generalizada: pode ocorrer de tudo”, afirma o analista e co-diretor da Droit Consultores.

“Talvez o cenário mais provável seja de um segundo turno entre Milei e Massa. Tudo indica que com a fragmentação eleitoral será difícil que algum candidato tenha mais de 40% ou ter uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo. Milei é o favorito e dentro de seu diretório as opções são somente de vitória. Em geral, todos esperam que ele termine em primeiro, a questão será a diferença”, completa.

Em sua avaliação, se Milei obtiver menos que 35% com uma diferença pequena para Massa, ainda que seja uma vitória, será vista como menos contundente que a esperada, e pode dar ao peronismo chances de sonhar com uma virada. Já uma vitória acima de 35% com uma diferença maior que 6 pontos será uma consolidação de seu favoritismo. O último cenário é o da vitória em primeiro turno. Improvável, mas possível, se de fato existir um voto envergonhado.

“O alto número de indecisos e de pessoas que se negam a responder as pesquisas nos obrigam a manter a hipótese de uma nova espiral de silêncio. Muitas pessoas preferem não expressar seu voto para não serem julgadas. Se essa massa de indecisos se voltar para Milei, o primeiro turno é uma possibilidade”, pontua Buttazzoni.

Ainda que haja a possibilidade de se definir tudo em primeiro turno, analistas são céticos quanto a isso. Pela regra, para um presidente já sair definido neste domingo, é necessário obter mais de 45% dos votos, ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado. Milei, porém, tem um teto baixo, segundo análises de pesquisas de intenção de votos, e não deve crescer a ponto de ultrapassar essas barreiras.

Mas independentemente do resultado de hoje, essas eleições já causaram um terremoto no sistema político tradicional da Argentina, forçando os grandes partidos a repensarem suas estratégias de comunicação e busca de votos, e com eleitores das províncias mais distantes demonstrando seu descontentamento frente à prioridade que tem Buenos Aires na agenda política.

 

Carolina Marins - O Estado de S. Paulo

 

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Milei vai enfrentar Perón - Luiz Philippe de Orleans e Bragança

         Javier Milei, candidato da direita, está à frente na disputa das eleições presidenciais na Argentina.  
Adepto da Escola Austríaca de Economia, é contra intervenções estatais e prega estado mínimo. É católico, pró-vida e contra pautas globais. Qualquer observador da Argentina sabe que o país precisa de um reformador para desmontar o modelo criado por Perón, que dura quase um século, gera instabilidade e pobreza históricas.  
Mas Milei conseguirá vencer esse fantasma?

A história política da Argentina divide-se em antes e depois do Peronismo. Em 4 de junho de 1943, um golpe militar deu início a um novo governo, e Juan Domingo Perón assumiu a Secretaria do Trabalho e Provisão, depois elegeu-se presidente por dois mandatos com um discurso para as massas e trabalhadores, Ações como ampliação do regime de aposentadorias, criação do salário-mínimo e 13º salário o fizeram ascender na  política, mas foram fatais para as contas públicas. Ao mesmo tempo, Perón abrigava nazistas alemães, torturadores e criminosos de guerra. A maioria viveu muito bem e morreu impune na Argentina. Ele voltou ao poder em 1973 mas faleceu no ano seguinte, deixando em seu lugar Isabelita, sua esposa, que foi deposta dois anos depois, por outro golpe militar. Seguiram-se seis anos, sete presidentes e 30 mil mortos. Peronismo.  

As mesmas políticas ocorreram  no Estado Novo de Getúlio Vargas,  aqui no Brasil. Caráter assistencialista de altos gastos desvinculados da arrecadação, são a marca indelével que torna esse modelo insustentável até hoje, e assim como no getulismo, lá também as políticas peronistas se institucionalizaram como modelo de estado social permanente. Nunca mais a Argentina atingiu o patamar de desenvolvimento da era pré-peronista.

Em 1983, Raúl Alfonsín, um advogado de esquerda ligado à Internacional Socialista, venceu as eleições presidenciais. Mesmo de oposição a Peron, adotou medidas semelhantes. Ficou famoso por criar o Plano Austral, mas não conseguiu conter o desemprego de quase 10% e a inflação de quase 209%

A solução foi ir ao FMI, que exigiu cortes nos gastos públicos e vendo a inércia do governo, o Fundo negou créditos adicionais. Alfonsin ainda tentou congelar preços e salários, interromper a impressão de dinheiro, organizar cortes de gastos e criar nova moeda, o Austral. [o atual presidente do Brasil, tenta agora ser o FMI para os argentinos e criar o 'sur', moeda única do Mercosul - felizmente, o chinês enquadrou o presidente brasileiro,  tratando-o como um estadista de araque, devolvendo-o a sua insignificância = se considerar um estadista é um dos muitos devaneios do atual ocupante do Planalto.] 
Os sindicatos se opuseram ao congelamento de salário, e os empresários, ao congelamento de preços. 
Acuado, o presidente não conseguiu conter a inflação e agora também os grandes exportadores se recusaram a vender dólares para o Banco Central. O Austral foi desvalorizado e a inflação alta se transformou em hiperinflação.
 
A eleição presidencial de 1989 ocorreu durante essa crise, quando o  justicialista/peronista Carlos Menem venceu as eleições. Alfonsín transferiu o poder para Menem cinco meses antes do previsto, pois não suportava mais a crise. 
Menem, então, resolveu solucionar o problema econômico com a dolarização da economia, uma fórmula ainda não testada mas já uma prática não institucionalizada na Argentina desde os anos 80. 
Menem foi mais um que não não reformou o estado peronista, e no final do século 20 a crise econômica e instabilidade estavam de volta. 
Cinco presidentes assumiram o poder e logo renunciaram em menos de três anos!
 
Eis que em 2003  assume o poder Néstor Kirchner, também pelo partido peronista, com promessas de reformas profundas que não aconteceram, Em vez disso, contratou obras governamentais, o que não conseguiu conter a pobreza, que chegou a 25%
Ele  e sua mulher aumentaram seu patrimônio pessoal e foram campeões em escândalos de corrupção, sendo que por um deles Cristina foi condenada a seis anos de prisão.

Os Kirchner só conseguiram governar protelando a crise, rolando dívidas para o futuro, que chega hoje, na forma de hiperinflação. [prática já adotada pelo petista que governa o Brasil, mantendo artificialmente - a Petrobras bancando - os preços dos combustíveis em baixa. Logo virá a conta e a Petrobras tentará bancar.] Desgastado também pela crise de 2008/2009, o peronismo parecia finalmente derrotado por Maurício Macri, candidato da direita. Só que não.

Macri assumiu o governo com as contas no vermelho, crise de desconfiança do público, dos investidores, poucas reservas federais, a inflação a 30% ao ano
O governo Macri resolveu estabilizar o peso, dando mais liberdade de câmbio. 
Cotas de exportação sobre commodities foram reduzidas, mas as medidas de austeridade foram tímidas. 
A estratégia de reformar aos poucos não gerou resultados nem conteve a oposição.  Assim, a inflação, o desemprego e o assistencialismo continuaram altos, Em 2019, a inflação bateu recorde chegando a 56% ao ano, os índices de desemprego subiram de 8% para 10% e a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza subiu de 29% para 35%. Sem o peronismo, Macri acabou derrotado pelo candidato socialista Alberto Fernández. O atual presidente é a imagem de todos os problemas do país: o peronismo. Participou dos governos Menem e Kirschner. Sua vice é Cristina.
 
Fernández encontrou a mesma crise e anunciou  medidas dobrando a aposta no peronismo, e como resultado, obteve o dobro do desastre
O índice de inflação, pelo último registro do Indec, foi de 115,6% em junho de 2023, mais que o dobro de quando assumiu. 
As medidas socialistas de seu governo também afugentaram empresários, com a pobreza atingindo mais da metade da população. 
Atormentado por sua baixa popularidade, Fernandez foi sensato e desistiu da reeleição.
 
Este cenário peronista será o palco de Milei, mas a maior tragédia deste modelo cruel é sufocar quem surge para reformá-lo. 
Os argentinos ainda esperam um final feliz que só pode acontecer por meio de reformas do Estado. Terá Milei, se vencedor das eleições, maioria no congresso para suas reformas? 
O povo quer mesmo essa mudança ou está disposto a aceitar qualquer opção?  
A saída é dolarizar de novo? 
Acabar com o banco central?  
Não perca a  resposta a essas e outras questões nos próximos capítulos desta novela Argentina!

Conservadores e Liberais  -  Luiz Philippe de Orleans e Bragança

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A inconsequência de Flávio Dino trará graves problemas diplomáticos ao Brasil - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES

O Brasil, desde o dia 1º. de janeiro de 2023, não tem mais um Ministério da Justiça. O que existia até então, junto com as suas funções legais, foi extinto e substituído por uma célula política que usa as verbas do orçamento público para executar seu projeto particular de implantação de um novo regime no país – o regime do “socialismo científico”, e depois do “comunismo”, conforme determinam os estatutos do Partido Comunista do Brasil. 
Nada disso resultou de uma revolução armada, como na Rússia de Lenin ou na Cuba de Fidel Castro, ou muito menos de eleições livres, mas sim de um decreto do presidente da República.  
Ao nomear Flávio Dino para o Ministério da Justiça, Lula não nomeou um ministro da Justiça, e nem atendeu aos compromissos da coligação que lhe deu apoio na última eleição. O que fez, na prática, foi entregar uma parte da máquina do Estado a um militante político que não tem o menor interesse, nem respeito, pelas obrigações do seu cargo.  
Quer apenas usar o governo para criar um Brasil a seu gosto, e ao gosto do PC do B.
 
Dino está todos os dias na mídia, falando como se fosse um primeiro-ministro, sobre todos os temas nos quais pretende intervir. 
As funções do Ministério da Justiça incluem a manutenção da ordem jurídica e o exercício dos poderes constituídos além de incumbências de ordem prática como expedição de passaportes, casos de nacionalidade e cidadania, arquivo do papelório do governo, publicação do Diário Oficial e coisas parecidas
O que isso tudo tem a ver com a ação política do ministro? 
A sua fixação principal é o uso da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, como polícia política do governo e dos partidos de esquerda – com a licença e as bênçãos do STF. 
Já foi a um comício da UNE, que serve os interesses do PC do B. 
Quer intervir nas redes sociais – chegou inclusive a ameaçar, com “a Polícia Federal, que eu comando”, as empresas da área. 
 
Deu, agora, para se intrometer em política externa: indignado com as eleições prévias na Argentina, que revelaram a força do candidato da oposição ao peronismo, disse que “os monstros da extrema direita” só vão para o governo com ajuda do centro e dos liberais que apoiam “aberrações”. Quer dizer que o possível futuro presidente da Argentina, o maior e mais importante vizinho do Brasil, é um “monstro”, ou uma “aberração? 
Como Lula e a esquerda reagiriam se o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, na reta final das eleições de 2022, lamentasse que o Brasil estava prestes a colocar no governo um “monstro de extrema esquerda”?

O que fez, na prática, foi entregar uma parte da máquina do Estado a um militante político que não tem o menor interesse, nem respeito, pelas obrigações do seu cargo

O ministro Dino, naturalmente, está pouco ligando para os efeitos da sua conduta pública. Da mesma forma como se mete em questões internas da Argentina, diz que o “descontrole das redes sociais” é responsável pelos massacres nas escolas. 
Quer fechar os clubes de tiro, mas é recebido com festa numa favela do Rio Janeiro onde os criminosos mantém e exibem um dos maiores arsenais de armas pesadas do Brasil. 
Transformou a Polícia Federal numa KGB que tem como principal função perseguir quem entra na lista negra do governo e do Supremo. Chamou o governador de Minas Gerais de “traidor da pátria”.  
Hostilizou a Polícia Militar de São Paulo. 
Seu “pacote da democracia” não tem nada de democracia - é um almanaque de repressão política, obcecado com penas de prisão, punições, castigos. 
 Flavio Dino, com tudo isso, não chega a ser bem o tipo-padrão do PT. Mas é a cara do governo Lula.


J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 17 de julho de 2022

A Argentina e Lula - O Estado de S. Paulo

 J. R. Guzzo

Sonho de Lula: um país no qual o Estado é Deus, e o máximo de pessoas deve depender do governo 

A Argentina acaba de chegar a 65% de inflação anual. Um negócio desses não é para qualquer um – coisa pior só vai se encontrar na Venezuela, ou algo assim, já no clube das economias em situação de rua e sem diagnóstico de estabilização
Não há moeda nacional; o único dinheiro que vale é o dólar, e há muito pouco dólar disponível na praça. 
O risco da Argentina, nas avaliações que medem a estabilidade econômica dos países, é maior que o da Ucrânia, com guerra e tudo. 
A dívida externa passa dos US$ 350 bilhões; ninguém sabe como se poderia pagar isso, e o país vive a ladainha das “missões do FMI”, dos “acordos com o FMI” e do “fora FMI”, coisas das quais o Brasil não ouve falar há décadas. A maioria da população não trabalha vive, e vive mal, das esmolas que o Estado argentino criou e que se tornaram o alicerce da sua “política econômica”.
 
Cada uma dessas desgraças é fruto direto do “peronismo” – um sistema político, econômico e social de enriquecimento constante do Estado e de empobrecimento também perene da população. O Estado, por este sistema, concentra o máximo da renda nacional e assume a função de distribuir para as pessoas a riqueza que arrecadou; chamam isso de “justiça social”. 
Obviamente, na hora de fazer a distribuição do que foi arrecadado, os privilegiados pelo partido político do governo se dão muito bem, e a maioria da população fica com alguma coisinha. Não apenas fica com pouco: o sistema se opõe brutalmente à ideia de que o trabalho deve ser a fonte de sustento e de eventual prosperidade para a população, e força o máximo possível de argentinos a viver na dependência do Estado. Não há economia que possa funcionar assim. 

 Cada uma dessas desgraças é fruto direto do 'peronismo' – um sistema político, econômico e social de enriquecimento constante do Estado e de empobrecimento também perene da população.  Foto: Agustin Marcarian/Reuters
 
É extraordinário, à primeira vista e diante de um fracasso tão claro, que um candidato à Presidência da República do Brasil, o ex-presidente Lula, queira fazer uma Argentina por aqui, caso seja eleito.  
É o que ele prega em público, com cara feia e voz irada; e ainda podem dar graças a Deus, porque, se reclamarem, ele vem com os “modelos” de Venezuela e de Cuba, suas paixões mais urgentes
Mas, à segunda vista, não há surpresa nenhuma. 
É esse, exatamente, o sonho de Lula para o Brasil: um país no qual o Estado é Deus, e o máximo possível de pessoas deve depender do governo para sobreviver.  
Podem ser funcionários públicos, ou empregados de estatais, ou aposentados, ou pensionistas, ou receptores de bolsas-família e outros mecanismos de doação – o que importa é que obedeçam a quem os sustenta.  
Lula já disse que a covid, que matou 600 mil brasileiros, foi uma “bênção”, porque fez o povo precisar do Estado. É o que ele quer.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Brasil first? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Lula com Sarkozy, contra os EUA, e Bolsonaro com Trump, contra a França. E o Brasil?

Donald Trump está para Jair Bolsonaro assim como Nicolás Sarkozy esteve para Lula e essas duas situações comprovam a máxima da política externa: amigos, amigos, negócios à parte. Na hora de prometer mundos e fundos, é fácil. Na hora de cumprir o prometido, a história é bem outra. O que vale para Trump é “America first”, assim como o que valia para Sarkozy era “La France avant tout”. [cabe uma atualização: nem o presidiário petista, nem o presidente francês daquela época eram confiáveis;
- Lula, o presidiário, queria negociar com a França devido  a propina paga pelos franceses ser maior;
- Sarkozy, acertadamente, colocava os interesses da França em primeiro lugar, apesar de vender produto de qualidade inferior e do que seu país fez com os argentinos durante a Guerra das Malvinas - mísseis exocet.
Trump, temos que admitir que não está errado quando colocou, coloca e sempre colocará os interesses americanos - leia-se USA - adiante de qualquer outro.
 
Além do mais a verdade, mesmo sendo dolorosa, deve ser apontada: não há grande interesse para os States em posicionar o Brasil em um verdadeiro primeiro lugar nos interesses americanos na América do Sul:
 
É o primeiro, mas, a prioridade desta colocação, pode mudar conforme os interesses americanos - que no caso OCDE tanto pode ser privilegiar os países indicados, quanto alertar o Brasil que sua importância é diretamente proporcional a utilidade para os gringos do Norte.
Aquela de se estender tapete vermelho para os 'irmãos' do Norte que queiram viajar para o Brasil e os brasileiros ficarem na vala comum a todos que pretendem viajar para os EUA da América, ainda não foi digerida.
 
Militarmente, ter um Brasil pró-americano é sempre bom, mas, não essencial. A capacidade militar do Brasil atualmente é, esperamos que mude, mais defensiva, em termos de capacidade de ataque é mínima.] - um

Lula se encantou com Sarkozy, caiu na lábia dele e por pouco não atrelou todo o arsenal brasileiro a uma única fonte: a França. Depois de fechar com os franceses o ambicioso Prosub, programa de submarinos da Marinha, inclusive o submarino de propulsão nuclear, Lula atuou o tempo todo para renovar a frota da FAB com jatos supersônicos do país. [a propina para pela França era maior que a dos suecos.]

Havia três concorrentes, o Rafale da francesa Dassault, o F-18 da norte-americana Boeing e o Gripen NG da sueca Saab. Depois de se encontrar três vezes com Sarkozy num único ano, coisa rara em relações bilaterais, Lula chegou a criar uma saia-justa ao anunciar a vitória do Rafale antes do fim do relatório técnico da FAB. O então ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez um malabarismo para desmentir o presidente. Concluído o relatório, com milhares de páginas, o Rafale ficou no terceiro e último lugar, atrás do F-18 e do Gripen, que acabou sendo finalmente escolhido – mas só no governo seguinte, de Dilma Rousseff, quando o namoro de Lula com Sarkozy já tinha terminado melancolicamente.

A obsessão de Lula teve dupla motivação: a empatia pessoal com Sarkozy e a crença de que uma tal “aliança estratégica” do Brasil com a França seria decisiva para combater o “mundo unipolar”algo como “colocar os EUA no seu devido lugar”. A fantasia ruiu quando o Brasil e a Turquia operaram juntos o acordo do Irã, contra o armamento nuclear do país. Um dos pilares da estratégia era o voto da França no Conselho de Segurança, mas, na última hora, Sarkozy tirou o corpo fora, votou com Washington e deixou Brasil e Turquia a ver navios. [trair para os franceses é algo que está no DNA.]

Há que se aprender com a história, principalmente quando se trata de dois lados da mesma moeda: a ideologia empurrava Lula para a França contra os EUA;  
a ideologia trocada de Bolsonaro joga o Brasil no colo dos EUA, contra a França. E onde fica o interesse do Brasil nesses dois casos? [convenhamos que é melhor o Brasil contra a França do que contra os EUA.]

Diplomatas de diferentes gerações estão perplexos com o excesso de reverência, até de encantamento, de Bolsonaro com Donald Trump, que já foi até comparado a Deus num agora famoso artigo do chanceler Ernesto Araújo. Trump passa, mais cedo ou mais tarde, mas os EUA ficam, o mundo fica e nunca se inventou nada melhor em política externa do que o velho e bom pragmatismo. Adotado, aliás, pelos excelentes diplomatas dos governos Geisel e Figueiredo, no fim da ditadura.

Ao receber Bolsonaro no Salão Oval da Casa Branca, em março, Trump disse vagamente que apoia a entrada do Brasil para a OCDE, mas não disse como nem quando. Saltitante, feliz da vida, o presidente brasileiro se precipitou e já saiu pagando a dívida antes de contraí-la. Aceitou, inclusive, abdicar da classificação de país em desenvolvimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo perdendo condições camaradas de tarifas. Foi temerário, como se vê agora. Trump apoiou a Argentina (além da Romênia) para a OCDE, mantendo o apoio ao Brasil, mas só depois. Alegou que a Argentina pediu primeiro, sem considerar a grave situação social e econômica e a volta do peronismo.

Após Lula cair como um patinho na tal “aliança estratégica com a França”, Bolsonaro não pode cair no conto daaliança estratégica com Trump”. Está na hora de parar, pensar e assumir o “Brasil first”.
 
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo
 
 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Voltas que o mundo dá - Fernando Gabeira

Apesar do intenso zum-zum nacional, com leis marotas votadas na madrugada, duas notícias de fora marcaram a semana: o risco de estagnação econômica mundial e a volta do peronismo na Argentina. O interesse por política externa nunca foi muito grande no Brasil. Mas tem crescido nos últimos anos. Senti isso na Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Estudantes a frequentavam com interesse para ouvir os debates.

Bolsonaro fez parte dela, por alguns anos. Naquele momento, ainda não era um líder popular nacional. Tornou-se presidente, e discutir com líderes populares é mais áspero: os seguidores são hipersensíveis à imparcialidade ou ao preconceito.
Mas fatos são fatos. A política externa conduzida por Bolsonaro precisa ser criticada, pois pode nos levar a um isolamento perigoso no momento de uma crise mundial. Bolsonaro aproximou-se dos Estados Unidos. Nada a reparar. A aproximação com os Estados Unidos estava no seu programa e, creio, é apoiada pela maioria dos eleitores brasileiros.

Bolsonaro aproximou-se dos Estados Unidos e está se afastando de outras partes do mundo. Isto não estava no programa. Muito menos reduzir o movimento a uma proximidade com a família Trump, como se política externa fosse tocada por amizades familiares, e não interesses nacionais. Bolsonaro aproximou-se de Israel. Nada a reparar. Mas se afastou do mundo árabe ao anunciar que levaria a Embaixada do Brasil para Jerusalém. Não completou o plano, mas o desgaste ficou no ar. [felizmente, Bolsonaro percebeu a tempo, que política externa deve ser guiada poe interesses maiores - nacionais - e o Brasil só tem a ganhar privilegiando um  relacionamento mais intenso com os países árabes.]
Bolsonaro assinou um acordo comercial com a Europa, condicionado ao respeito ao meio ambiente. Nos últimos tempos, tem se dedicado a criticar a Europa, afirmando, injustamente, que a Alemanha quer comprar a Amazônia a prestação. [clique aqui e conheça o outro lado da moeda em brilhante e fundamentada matéria de Denis Lerrer Rosenfield, no Estadão.]
 
O acordo com a Europa ficou mais difícil, pois Alberto Fernández, vitorioso nas prévias argentinas, não o quer agora. Acha, como o ex-chanceler Celso Amorim, que o momento não é adequado para o Mercosul. Isso não impediria o Brasil de ir adiante. O próprio acordo prevê que os países entrem de acordo com seu ritmo. Quem aprovar a entrada não precisa esperar o outro. Com as declarações de Bolsonaro, dificilmente avançaremos. Ele cancelou uma reunião com o chanceler francês para cortar o cabelo. Os franceses não entenderam essa emergência capilar.

Bolsonaro já abriu uma guerra contra os peronistas que devem voltar ao poder. Teme que os argentinos invadam o Sul, fora do verão, como os venezuelanos em Roraima.  A Argentina estava aí antes de Bolsonaro e continuará depois dele. São relações de Estado que precisam ser desenvolvidas, e não uma troca de insultos ideológicos. Para completar as trapalhadas no Sul, o governo Bolsonaro quase derruba seu aliado paraguaio, com o acordo sobre Itaipu. Além dos problemas criados e do ressentimento nacionalista que reavivou, apareceu na negociação uma empresa brasileira ligada a um suplente do senador Major Olimpio.  Gostar de grana é realmente suprapartidário, mas torna-se algo muito sério quando envolve uma negociação delicada como a de Itaipu.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira 

Artigo publicado no jornal O Globo em 19/08