Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Xi Jinping. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Xi Jinping. Mostrar todas as postagens

domingo, 6 de janeiro de 2019

Fazer o simples. O arroz com feijão do governo Bolsonaro no curto prazo. E o da oposição

Se você fosse chamado a opinar sobre os passos mais óbvios do governo e da oposição no curto prazo diria o quê? 

Eu diria que o governo:

1) Não pode se dar ao luxo de aparecer como derrotado na disputa das presidências da Câmara e do Senado.
O presidente tem potencial maioria em cada uma das casas. Se a coisa desandar, antes de ser trágico será ridículo. O custo político de passar reformas vai subir exponencialmente. E será só o começo.
2) No que estiver ao alcance dele, o presidente precisa cuidar de se recuperar da nova cirurgia. A montagem do governo reuniu gente muito sedenta de protagonismo. Se com o presidente na ativa já se nota propensão centrífuga, sem ele por muito tempo seria forte o estímulo para exacerbar a confusão.

3) O governo precisa apresentar uma reforma da previdência que atenda o mercado e tenha viabilidade política. É possível no começo do governo aprovar alguma reforma da previdência crível ao mercado, mesmo sem distribuir cargos pelos partidos ou liberar verbas orçamentárias para as bases dos parlamentares. Lula fez isso em 2003.

4) Precisa mostrar alguma coordenação na comunicação. A comunicação oficial tem sido boa para manter a base social coesa e mobilizada, mas é também uma usina de pautas negativas. Não chega a ser problema maior no curto prazo, mas sempre cobra uma conta depois de certo tempo. Assim como no boxe, apanhar o tempo todo costuma ter consequências.

5) Precisa minimizar o ruído internacional. O governo brasileiro fala duro e parece subestimar o trabalho de explicar ao mundo por que sua política seria boa para o mundo. Segue a linha Trump. Vladimir Putin adotou a política do “big stick”. Xi Jinping apresenta os interesses da China como se fossem os do universo.

Já a oposição:
1) Não pode se deixar esmagar na composição das mesas da Câmara e do Senado. A repetição de 2015, que deu Eduardo Cunha e a exclusão do PT da mesa da Câmara, será um desastre. Também desastroso será a esquerda dar a impressão de estar associada ao bolsonarismo. O melhor para a oposição seriam composições institucionais nas duas casas.

2) Não pode se dispersar e perder a identidade na disputa das mesas do Congresso. Uma sucessão institucional permitiria à esquerda participar das mesas sem aparentar linha auxiliar do governo. Isso talvez não interesse ao governo. Mas os principais candidatos na Câmara e no Senado podem ter interesse nessa saída. Aliás, se o governo raciocinar talvez conclua que é bom para ele também.

3) Precisa ter proposta ou propostas alternativas para a reforma da previdência, com foco em setores privilegiados do Estado. A esquerda tem governadores desesperados por uma reforma da previdência que ajude a evitar a falência de seus estados. O governo vai explorar isso, então é preciso entrar no debate com alternativas.

4) Precisa elaborar crítica consistente e propor ações que se oponham à política externa e à política educacional do governo. Até agora a crítica a essas duas políticas resume-se ao “nossa, que absurdo”. Na educação, é preciso mostrar os caminhos para o ensino, especialmente o fundamental, melhorar muito e rapidamente. [é difícil para a oposição criticar,  com consistência,  medidas que se revelam certas, adequadas.
Pior é propor ações para corrigir o que está sendo feito de forma correta.]

5) Precisa de ideias sobre como enfrentar a crise da segurança pública. A atual doutrina de enfrentamento do crime desmoralizou-se porque não está funcionando. O governo elegeu-se também por ter ideias para resolver o problema. Quais são as ideias da oposição, além de continuar aplicando o que não está funcionando?
É como no futebol. Na dúvida, uma saída é tentar fazer o simples

E você, acha o quê?
Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB Comunicação


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Jair, o que a gente vai dizer?

Não falta muito para o Brasil ser chamado a assumir lado numa briga de cachorros muito grandes


O grande espetáculo geopolítico do século ganhou mais ritmo. O Departamento de Comércio do governo americano acaba de divulgar uma lista de novas tecnologias que terão exportação restringida. Elas incluem inteligência artificial, computação quântica e robotics. A lista de restrições às exportações dessas tecnologias é claramente desenhada para preservar o avanço americano em relação à China.

A divulgação da lista ocorreu poucas horas depois de um áspero duelo de discursos no encontro da cúpula econômica dos países da Ásia e do Pacífico entre o presidente da China (ao qual a imprensa internacional já se refere como imperador) e o vice-presidente americano Mike Pence (Trump esnobou o encontro). A guerra de palavras entre Beijing e Washington tornou mais difícil acreditar numa solução breve para a declarada guerra comercial entre os dois gigantes da economia mundial.

Mais ainda: na guerra de discursos, China e Estados Unidos descreveram-se mutuamente como potências coloniais na Ásia. Pence pediu aos países da região (e outros fora dela) que não aceitem “dívida externa” (uma referência à grande iniciativa estratégica chinesa de projetos de infraestrutura em vários países) que possa “comprometer sua soberania”. E Xi Jinping acusou os EUA (embora não tivesse mencionado o nome) de solapar o sistema de regras internacionais “por motivos egoísticos”.

Se alguém ainda tinha alguma dúvida, a ascensão da China resulta num confronto geopolítico de proporções inéditas, e tanto o desafiante (a China) como o desafiado (os Estados Unidos) comportam-se totalmente de acordo ao que previam algumas teorias sobre Relações Internacionais: a superpotência americana não pode tolerar o surgimento de uma outra superpotência capaz de dominar sozinha uma parte do mundo. E, inicialmente, dedica-se a uma clássica política de “containment” (comparável à da Guerra Fria com a União Soviética). A China já denuncia esse tipo de “cerco”.

As mesmas teorias supõem que inicialmente a China crescerá de forma harmônica e pacífica, até sentir que sua própria segurança (e crescimento) estão em risco – o ponto já parece ultrapassado. É esse tipo de tensão geopolítica que tem trazido medo nos últimos meses aos mercados internacionais – mais até do que as disputas comerciais travadas em termos de “guerras”. Aqui entra o papel de indivíduos. Xi Jinping, o novo imperador chinês, não deixa de maneira alguma a impressão de ser um dirigente propenso a ceder a pressões externas. Ao contrário: ele parece convencido de que o único objetivo dos Estados Unidos é o de conter a China.

Xi vai se encontrar dentro de alguns dias na cúpula do G20 com Donald Trump, o homem que acredita que conflitos geopolíticos dessa magnitude colossal se resolvem com “amigos” conversando ao redor de um campo de golfe (como ele fez com Xi Jinping na Florida). De fato, a cúpula chinesa aparentemente diferencia entre as instâncias tradicionais de formulação de condutas externas americanas (departamentos de Defesa e Estado), que se engajaram no “containment” como estratégia frente à China, e a figura de Trump.

O problema, porém, ficou claro para as outras potências que lidaram com chineses e americanos nos últimos tempos. Cada vez mais Washington e Beijing pedem aos líderes de outros países que assumam um lado nessa disputa monumental. Mesmo com tantos oceanos nos separando dos EUA e da China, não vamos escapar de ouvir a mesma pergunta: qual o lado?
E aí, Jair, o que a gente vai responder?

William Waack - O Estado de S.Paulo

sábado, 14 de julho de 2018

Agenda do próximo governo fica mais difícil



A aprovação no Congresso de mais despesas piora as expectativas para 2019 e aumenta o desafio ao próximo presidente, algo que o eleitor precisa considerar

Pré-candidatos concentram a atenção nas conversas para montar alianças com vistas ao tempo de campanha eleitoral na mídia eletrônica e à captura de votos pelo país, mas deveriam também começar a se preocupar com o que os espera a partir de 1º de janeiro.

A perspectiva vista do início deste ano não era animadora, mas também não apontava para o agravamento do cenário. A economia se recuperava, mesmo que lentamente, e as contas públicas continuariam em déficit (sem considerar juros da dívida pública, algo como R$ 150 bilhões). Já a inflação permaneceria em rédeas curtas.


Passou-se do meio do ano, porém, e o tempo começou a mudar. O crescimento abandonou as rotas de projeção de 3% e veio em voo planado para baixo, chegando, hoje, ao patamar de 1,5% e 1%. A greve dos caminhoneiros foi um tranco e tanto no sistema produtivo — provocou, em maio, em relação a abril, uma queda de 10,9% na produção industrial, segundo o IBGE. O sistema de transporte voltou a funcionar, a produção começou a se recuperar, mas o fraco governo Temer cedera, como tem sido seu costume, e em pontos estratégicos. Para atender os caminhoneiros, permitiu a volta do congelamento (do diesel) e do tabelamento (do frete). Um retorno aos tempos pré-Real.

Se o horizonte, em ano eleitoral, já não estimula empresas a investir, as novas incertezas as mantêm em estado de observação. A economia perde velocidade, o desemprego continua elevado, as vendas no comércio não reagem, e os agentes econômicos se fecham mais ainda na retranca, à espera das urnas de outubro.


Pairam, também, sobre o país efeitos do agravamento da guerra comercial deflagrada por Trump contra a China. Tudo está ainda no início, mas o mundo já aprendeu que não se pode ser otimista diante do presidente americano. Se o pior acontecer, o mundo entra em recessão — escasseiam divisas, o dólar sobe mais ainda, e acaba o ciclo de inflação brasileira sob controle. Juros subirão, e virá a retração econômica. Para arrematar, há os contrabandos feitos no Congresso, na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2019, sempre na contramão da necessidade de uma política fiscal austera. Estima-se que as pautas-bomba de deputados e senadores gerem mais de R$ 100 bilhões em novas despesas. Para medida de comparação: projeta-se para o ano que vem um déficit de R$ 123 bilhões. Os gastos a mais quase duplicariam o rombo.



Temer pode vetar desvarios, mas não se aposta em sua capacidade política de fazê-lo; e, se o fizer, não se duvida que o Congresso derrube os vetos presidenciais. Piora a herança do próximo presidente, o que deveria preocupar não apenas os pré-candidatos, mas o eleitor. O agravamento de problemas, principalmente no campo das finanças públicas, precisa ser levado em conta nas urnas.

Uma escolha errada causará um grande retrocesso, com a volta de crises já vividas. Mesmo que Trump e Xi Jinping se entendam, a vida ficará mais difícil para os brasileiros.






domingo, 6 de maio de 2018

Revirando o lixo da História

A condição humana é dada não pela atividade laboral, um meio de sobrevivência, mas pelo agir e pensar politicamente, em regime de plena liberdade


Exumei das redes sociais um velho texto (lá se vão três anos) publicado nessas “Entrelinhas” para analisar o colapso do governo Dilma. O título da coluna era “A lata do lixo da História”, o nome de uma peça dos anos 1970 do sociólogo Roberto Schwarz, então professor de teoria literária da Universidade de São Paulo (USP), na qual fazia uma sátira ao regime militar. A expressão “vai para a lata do lixo da História” era muito usada por setores de esquerda na época, servia para menosprezar o papel dos liberais na luta pela democracia; hoje, serve aos liberais que consideram toda a esquerda ultrapassada e não apenas os setores ligados ao PT. É um erro. O Brasil precisa de uma esquerda moderna que dialogue com os liberais para reconstruir o centro democrático.

Essa lembrança veio a propósito do discurso do presidente da China, Xi Jinping, ao comemorar o bicentenário do nascimento de Karl Marx, no Grande Palácio do Povo: “O marxismo, como um amanhecer espetacular, ilumina o caminho da humanidade na sua exploração das leis históricas e na busca da sua própria libertação”. Em resumo, disse que os comunistas chineses precisam voltar às origens. Entretanto, Karl Marx é um dos sujeitos mais mal interpretados de todos os tempos, por esta razão: seus escritos partem do princípio de que a ação política não pode estar descolada do pensamento intelectual.

Após sua morte, em 14 de março de 1883, a teoria de Marx foi simplificada e instrumentalizada para a luta política, inclusive por seu amigo Frederico Engels e seu genro, Paul Lafargue. Social-democratas, socialistas e comunistas usaram sua crítica como estratégia política, mas Marx nunca teve uma fórmula para construir um mundo diferente do capitalismo. Mesmo assim, os conceitos de “valor” e “fetichismo”, suas grandes contribuições à compreensão do capitalismo, perderam espaço e influência para o conceito de “luta de classes”.

Grande exemplo é um livro de Josef Stalin intitulado Problemas econômicos do socialismo na URSS, de 1953, com o qual o líder comunista puxou as orelhas dos economistas da Academia de Ciências: “Por isso, estão absolutamente errados os camaradas que declaram que, uma vez que a sociedade socialista não liquida as formas mercantis de produção, então todas as categorias econômicas próprias do capitalismo deveriam alegadamente ser restabelecidas no nosso país: a força de trabalho como mercadoria, a mais-valia, o capital, o lucro do capital, a taxa média de lucro etc.”

Stálin varreu para debaixo do tapete problemas que mais tarde levaram ao colapso a antiga União Soviética: “Além disso, penso que precisamos igualmente abandonar alguns outros conceitos, retirados de O Capital, no qual Marx procedeu à análise do capitalismo, e que são artificialmente apensos às nossas relações socialistas. Refiro-me, entre outros, a conceitos como trabalho necessário e sobretrabalho, produto necessário e sobreproduto, tempo necessário e suplementar. A conta chegou para Gorbatchov na década de 1990: quando o líder comunista quis retomar a discussão, na Perestroika, o socialismo real já era. Talvez Xi Jinping esteja diante do mesmo debate no seu país, onde os operários são superexplorados e florescem uma nova burguesia e uma robusta classe média.

Parêntesis: na teoria de Marx, valor é aquilo que permite comparar duas mercadorias. A quantidade de trabalho que foi incorporada à mercadoria é que determina o seu valor. Já o fetiche é uma consequência disso: uma cortina que nos impede de ver a mercadoria em si. No caso de um celular, por exemplo, não conseguimos perceber todo o processo produtivo que está por trás da sua fabricação — na China, por exemplo —, mas somente o produto final, como se o aparelho, em si, tivesse vida própria na loja.

Grande jogo
A gênese dos partidos operários é velha tese marxista da centralidade do trabalho na luta política, que parte da ideia de que a contradição entre o trabalho e o capital é o motor da história e o eixo de atuação política do partido, ou seja, a luta de classes. Vem daí o glamour perdido do PT e o fascínio de intelectuais e artistas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A filósofa alemã Hanna Arendt, uma democrata radical, via nessa concepção que absolutiza o trabalho uma das raízes do totalitarismo. Para ela, a condição humana é dada não pela atividade laboral, um meio de sobrevivência, mas pelo “agir e pensar politicamente”, em regime de plena liberdade, o que tanto o fascismo como o stalinismo não permitiram. Essa crítica “racionalista” hoje faz ainda mais sentido, porque o trabalho humano está sendo substituído pelo “não trabalho” dos robôs e sistemas de inteligência artificial.

A China hoje é o nosso principal parceiro comercial, seguida dos Estados Unidos. Ambos disputam o controle do comércio mundial, cujo eixo se deslocou do Atlântico para o Pacífico. O “grande jogo” da política mundial e a globalização, porém, para muitos setores da esquerda, continuaram sendo vistos na óptica dos velhos paradigmas, ou seja, o inimigo principal é o imperialismo norte-americano; o capitalismo de Estado, após a tomada do poder, é a antessala do socialismo. Não importa que os Estados Unidos sejam uma democracia e a China, uma ditadura. Nunca é demais lembrar que o colapso do governo Dilma se deveu às ideias políticas e econômicas fora de lugar, que apostavam numa aliança com a China, a Rússia, a África do Sul e a Índia como aliados principais, contra os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, seguidas por práticas patrimonialistas estimuladas por Lula, que enlamearam toda a esquerda e jogaram as lideranças do PT na cadeia. Todas essas ideias velhas não morreram, estão vivíssimas nestas eleições de 2018. E não na lata do lixo da história.

Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB
 

segunda-feira, 5 de março de 2018

É assim que a China quer dominar o mundo

O presidente chinês, Xi Jinping, deseja que Pequim ocupe o vácuo geopolítico deixado pelos EUA. Seus investimentos em diplomacia, armamentos e inteligência artificial são prova disso

Por MACARENA VIDAL LIY, El País
“Esconder a força e aguardar o momento.” Deng Xiaoping, o grande protagonista da abertura econômica chinesa, recomendava manter a China em segundo plano no cenário global, enquanto o país lutava para sair da pobreza e deixar para trás o marasmo de 10 anos de Revolução Cultural. Mas essa etapa ficou no passado. Na “nova era” proclamada pelo presidente Xi Jinping, o gigante asiático está decidido a ocupar o papel de protagonista da arena global, que, aos seus olhos, a história lhe deve. Através de Xi, o líder mais poderoso do país em décadas e que continuará no poder além dos 10 anos inicialmente previstos, a nação quer moldar a ordem mundial para se consolidar como referente e criar oportunidades estratégicas para si e suas empresas, além de legitimar seu sistema de governo. E já não hesita em divulgar esses planos.
“Nunca o mundo teve tanto interesse na China, nem precisou tanto dela”, declarava solenemente no mês passado o Jornal do Povo, o mais oficial das publicações oficiais de Pequim. E o atual momento – em que os Estados Unidos presididos por Donald Trump abrem mão de seu papel de líder global, a Europa está presa em suas próprias divisões e o mundo ainda arrasta as consequências da crise financeira de 2008 – apresenta uma “oportunidade histórica” que, segundo o comentário, “abre-nos um enorme espaço estratégico para manter a paz e o desenvolvimento e ganhar vantagem”. A assinatura como “Manifesto” indicava que o texto representava a opinião dos mais altos dirigentes do Partido.

Essa ambição não é nova: a catástrofe que significou o Grande Salto Adiante(1958-1962) foi provocada, no fim das contas, pela vontade de Mão Tsé-Tung de transformar a China numa potência industrial em tempo recorde. A novidade, de fato, é que isso seja agora proclamado – e cada vez mais alto. Em seu discurso no XIX Congresso Nacional do Partido Comunista, em outubro, quando renovou seu mandato por outros cinco anos, Xi anunciou a meta de transformar o país “num líder global em termos de fortaleza nacional e a influência internacional” até 2050. A data não é casual: até lá, a China já terá esgotado seu dividendo demográfico (hoje a estrutura etária de sua mão de obra, ainda relativamente jovem, é benéfica para o crescimento econômico do país).

Aos olhos de Pequim, a China nunca teve esse objetivo tão ao seu alcance. A diferença não é pautada apenas pelas circunstâncias geopolíticas ou por seu auge econômico, mas também por sua situação interna. Nunca, desde os tempos de Mao, um líder chinês havia contado com tanto poder, nem tinha se sentido tão seguro no cargo.  Xi não deixa de acumular postos e títulos, oficiais e extraoficiais. Secretário-geral do Partido, presidente da Comissão Militar Central, chefe de Estado, “núcleo” do Partido e agora lingxiu, o líder, um tratamento que só havia sido concedido a Mão e ao seu sucessor imediato, Hua Guofeng. Universidades do país inteiro abrem centros de estudo dedicados ao seu pensamento; as ruas de qualquer cidade estão cheias de cartazes pedindo que a população aplique suas ideias. De uma forma marcante, não vista em décadas, a lealdade ao Partido, e em consequência a Xi, é a condição essencial para se ter sucesso em qualquer atividade que tenha a ver com o onipotente Estado.

Xi se apresentou como o grande defensor da luta contra as mudanças climáticas, a globalização e os tratados de livre comércio A consolidação do poder de Xi vai ser coroada na sessão anual da Hua Guofeng.que será inaugurada na próxima semana no Grande Palácio do Povo de Pequim. Os deputados aprovarão, entre outras coisas, a eliminação do limite temporário de dois mandatos que a Constituição impõe ao presidente, abrindo caminho para que o mandatário continue à frente do país por tempo indefinido.
A China multiplicou sua expansão internacional já durante o primeiro mandato de Xi. Seu Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura completará três anos concedendo empréstimos equivalentes a mais de 13,4 bilhões de reais. Sua nova Rota da Seda – um plano para construir uma rede de infraestrutura ao redor do mundo acaba de incorporar oficialmente a América Latina, mira o Ártico e se dispõe e realizar sua segunda reunião internacional em 2019. Seus investimentos em diplomacia têm sido vastos. Em 2017, o país destinou a essa área o equivalente a 25,5 bilhões de reais, um aumento de 60% em relação a 2013. Já os EUA propuseram cortar 30% das despesas com o serviço exterior.
Enquanto Washington abandona seus compromissos internacionais, a China está disposta a preencher esse vazio. Xi Jinping se apresentou como o grande defensor da globalização, da luta contra a mudança climática, dos tratados de comércio internacionais. Pequim já mantém acordos de livre comércio com 21 países – um a mais que Washington – e, segundo suas autoridades, negocia ou planeja incluir outros 10.

Continue lendo em El País

sábado, 21 de outubro de 2017

China alardeia seu poderio e anuncia o começo de uma “nova era comunista”



 Xi Jinping inaugura o 19º Congresso do Partido Comunista com promessa de continuar reformas econômicas



O presidente chinês, Xi Jinping, proclamou nesta quarta-feira “uma nova era” para a China e para seu Partido Comunista, mas deixou claro que, em seus próximos cinco anos de mandato, continuarão as mesmas políticas, ainda mais marcadas. E que não haverá espaço para a divergência. Ao longo de três horas e meia de discurso na abertura do 19º Congresso do Partido Comunista, o grande evento político que nomeará os dirigentes do país para a próxima meia década, o secretário-geral declarou seus primeiros cinco anos no poder um sucesso: “A China ocupa agora uma nova posição no mundo”.
O Congresso, um evento que só acontece duas vezes por década, é desta vez o palco para a coroação de Xi Jinping como o homem mais poderoso na história recente da China. Não só será nomeado para comandar o destino do país por mais cinco anos, como também terá seu nome incluído na Constituição, ao lado de Mao Tsé-Tung, e selecionará para as principais vagas na hierarquia alguns de seus assessores de maior confiança.
Em discurso aos 205 membros do Comitê Central e 2.300 delegados, Xi quis apresentar a imagem de homem de Estado. Bem vestido, com vagar e um tom por vezes paternalista, deixou claro que é ele quem toma as decisões. E que não permitirá que ninguém lhe faça sombra. O chefe de Estado, secretário-geral do Partido e presidente da Comissão Militar central seus principais títulos, e nessa ordem – desfiou as prioridades de sua nova legislatura. No exterior, confirmar a China como uma nova grande potência. Uma potência que, deu a entender, pode ultrapassar os Estados Unidos no futuro: “Precisaremos continuar nos esforçando por mais 30 anos para alcançar a completa modernização. Então, nos situaremos orgulhosamente entre as nações e seremos uma potência global”.
No terreno interno, desenvolver a economia e proteger o meio ambiente. As duas prioridades que, considera, exigem dele os cidadãos e são imprescindíveis para manter a legitimidade do mandato do Partido Comunista à frente do país. Entre as medidas a serem adotadas nos próximos anos: é preciso reduzir os desequilíbrios. As reformas econômicas continuarão, desde a moeda chinesa até medidas sobre os preços crescentes da habitação. Reformas, sim, mas não muitas: defendeu a igualdade de tratamento a todas as empresas presentes na China – um aceno às empresas estrangeiras, que denunciam o protecionismo de Pequim –, mas o Estado manterá um papel importante. O combate à corrupção vai continuar.
Pretende fazê-lo mantendo as mesmas políticas que empreendeu até agora. Afinal, disse, mudar para quê? A China responde hoje por 30% do PIB mundial. Veio crescendo cerca de 7% ao ano. Tirou 60 milhões de pessoas da pobreza. A reforma das forças armadas foi um sucesso. “Resolvemos problemas que ninguém conseguia solucionar”, declarou no cavernoso salão principal do Grande Palácio do Povo da Pequim, decorado para a ocasião com enormes bandeiras vermelhas e, em lugar de destaque, a foice e o martelo. A gestão do Partido “é um milagre na terça.
Com o excelente resultado dessas medidas, não haverá tolerância para as divergências. O Partido Comunista, prestes a superar o russo como o mais longevo entre os marxistas no poder, não vai seguir o caminho de outros que – como o russo – abandonaram a ortodoxia e acabaram defenestrados. “Não devemos copiar mecanicamente os sistemas políticos de outros países”, alertou.
Desde 2012, a mão dura contra qualquer vislumbre de dissidência na China só apertou, a ponto de organizações de direitos humanos descreverem o atual controle sobre a sociedade civil como o mais duro em décadas. Os veículos de imprensa receberam ordens de aderir estritamente às diretrizes do Partido, a internet está rigidamente censurada; ativistas, líderes religiosos e defensores dos direitos humanos foram parar na cadeia. Para a região autônoma de Xinjiang, de população majoritariamente muçulmana (chamados uigures), foram enviados dezenas de milhares de agentes das forças de segurança com o argumento de impedir a violência de grupos extremistas islâmicos. Essa atitude não vai afrouxar.
O regime, prometeu Xi, não terá compaixão de quem tentar sabotar a liderança do Partido, fomentar o extremismo religioso ou o separatismo: uma clara advertência a Taiwan, a ilha que a China considera parte de seu território e onde a presidenta Tsai Ying-wen mantém posições opostas a Pequim.
Também é uma mensagem a Hong Kong, onde os pedidos por mais democracia foram respondidos com um estrangulamento cada vez maior das liberdades; a cassação de deputados pouco afeitos a Pequim e inclusive a prisão de Joshua Wong e outros jovens líderes políticos que organizaram os protestos maciços de 2014. “É preciso ir contra tudo que prejudica os direitos do povo, contra todos os que querem separar-se da China”, declarou. Em suas cadeiras, os membros do Comitê Central escutavam com o estoicismo conferido por longos anos de prática em reuniões desse tipo. O venerável ex-presidente Jiang Zemin aproximava uma lupa do texto para poder ler. O antecessor de Xi, Hu Jintao, ausentou-se por dez minutos.
Os delegados, munidos cada um de uma cópia do relatório presidencial e uniformizados de terno – a única exceção, os representantes de minorias étnicas, vestidos com seus trajes típicos –, passavam as 60 páginas e aplaudiam em uníssono. Com a intensidade na medida certa, sem desânimo, mas sem entusiasmo.
Talvez um dos aplausos mais entusiasmados tenha sido para o anúncio do que a agência oficial Xinhua descreveu como a nova “diretriz de longo prazo à qual o Partido deve aderir”. O que até agora se conhecia simplesmente como “o pensamento de Xi Jinping”, e que oficialmente passará a se chamar “Pensamento sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”. Um título tão reluzente como a ocasião.
Fonte: El País