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segunda-feira, 4 de abril de 2022

Um mundo em guerra - Revista Oeste

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é apenas mais uma página na longa história de guerras escrita pela humanidade

Uigures durante um protesto contra a China perto do consulado chinês em Istambul, na Turquia, em 15 de dezembro de 2019 | Foto: Shutterstock
Uigures durante um protesto contra a China perto do consulado chinês em Istambul, na Turquia, em 15 de dezembro de 2019 | Foto: Shutterstock

A invasão da Ucrânia pela Rússia trouxe novamente à superfície os horrores da intolerância, da opressão e do autoritarismo. Inflamados pela retórica do presidente Vladimir Putin, os soldados russos tomaram de assalto diversas cidades ucranianas. E deixaram rastros de destruição por onde passaram. Infraestruturas, bases militares e áreas residenciais foram reduzidas a pó — literalmente. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de mil civis morreram desde o início dos ataques, em 24 de fevereiro. Pelo menos 4 milhões de ucranianos se refugiaram em outros países.

Esse cenário dantesco serviu de combustível para a imprensa, que decidiu acompanhar o conflito intensamente. Imagens aterradoras estampam as páginas de jornais e revistas, enquanto analistas políticos comparecem a programas de televisão para comentar os desdobramentos do confronto. Muitos tiveram a sensação de que essa era a primeira guerra de grande magnitude surgida em décadas.

Em virtude da cobertura da imprensa, a crise no Leste Europeu atingiu níveis extraordinários de importância. Mas a verdade é que, desde que a história passou a ser registrada, o mundo nunca teve sequer um dia de paz. Os holofotes, contudo, nem sempre estiveram em cena.

O terror chinês
O massacre contra os uigures, povo muçulmano estabelecido na região autônoma de Xinjiang, localizada no noroeste da China, é um exemplo de tragédia humanitária que passa ao largo dos líderes ocidentais e dos conglomerados econômicos. Há dez anos, a minoria islâmica é alvo sistemático do terror praticado pelo Partido Comunista. Liderada pelo presidente Xi Jinping, a ditadura chinesa enviou milhões de uigures para campos de concentração. A justificativa: suposto combate ao terrorismo.

Em entrevista à CNN, um ex-detetive chinês disse ter testemunhado diversas vezes o uso de métodos de tortura nesses locais, como eletrocussões e afogamentos. O ex-oficial, identificado apenas como “Jiang” por temer retaliações de Pequim, revelou que os responsáveis pelas prisões têm de cumprir cotas de números de uigures a serem detidos. “Se quiséssemos que as pessoas confessassem algum crime, usávamos um bastão elétrico com duas pontas afiadas no topo”, explicou. “Amarrávamos dois fios elétricos nas pontas e os fixávamos nos órgãos genitais dos detentos.”

 

A brutalidade nos campos de concentração provocou desespero na população de Xinjiang, que não consegue procurar abrigo em outros países porque a ditadura chinesa usa recursos tecnológicos para vigiá-la. Em parceria com a Huawei, uma das maiores empresas da Ásia, o Partido Comunista elaborou um sistema de monitoramento que envolve a gravação de voz, o rastreamento, a reeducação ideológica e o reconhecimento facial de seus alvos. Nos últimos dez anos, aqueles que violaram a legislação e tentaram cruzar a fronteira para o Vietnã, o Cazaquistão, o Tajiquistão e o Camboja foram deportados para a China. O paradeiro desses cidadãos é desconhecido.

De acordo com a For The Martyrs, organização sem fins lucrativos que atua em defesa das liberdades religiosas, aproximadamente 2 milhões de uigures estão presos em campos de concentração. Isso representa 10% da população de minoria muçulmana.

A despeito desse massacre, a China realizou os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Noruega, Alemanha, Estados Unidos, Suécia, Holanda, Áustria, Suíça, França, Canadá, Itália, Coreia do Sul, Finlândia, Eslovênia, Austrália, Bélgica, Polônia e Estônia — países que impuseram sanções à Rússia depois da invasão da Ucrânia — participaram do evento sem nenhuma objeção.[absurdo é que a mídia formada pela velha imprensa e a TV Funerária, a serviço da causa esquerdista progressista, produzem narrativas falsas; 
Vejamos: vendo os principais telejornais jornais da Rede Funerária ou lendo as manchetes da velha imprensa = o tal 'consórcio' que adequa os fatos à narrativa desejada =  fica a impressão que a Rússia perdeu a guerra,  e que logo os jornalistas e analistas mostrarão soldados ucranianos desfilando na Praça Vermelha e tanques disparando contra os muros do Kremlin. Não será surpresa, pelo que narram, que Putin discurse suplicando pela abertura de corredores humanitários ligando Moscou aos aliados "de palanque" da Ucrânia.
Só que ao mesmo tempo acusam a Rússia de matar civis ucranianos - um exército em fuga matando civis?
Outro absurdo é quando declaram que países da União Europeia vão boicotar o petróleo e gás russo - boicotar como? são eles, os candidatos a boicotadores, que precisam do gás e petróleo russo.
Por favor, apresentem os FATOS = a VERDADE.] 

Turbulências permanentes
No Oriente Médio, há conflitos ainda mais antigos, com raízes históricas profundas. Árabes e israelenses, por exemplo, disputam há mais de um século a região da Palestina, localizada entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Desde 1860, a turbulência prevalece no cotidiano de ambos os povos, a despeito dos raros períodos de estabilidade. A fundação do Estado de Israel, em 1948; a Guerra do Suez, em 1956; a Guerra dos Seis Dias, em 1967; e a Guerra do Yom Kippur, em 1973, são alguns dos eventos históricos que contribuíram para o crescente aumento de tensão na Ásia Ocidental.

A mais recente escalada de violência ocorreu no ano passado, em Sheikh Jarrah, bairro árabe localizado em Jerusalém Oriental. “Isso ocorreu em 12 de maio, data em que Israel celebrava a reunificação de Jerusalém”, explicou o cientista político André Lajst, diretor-executivo do StandWithUs Brasil. “O Hamas usou como pretexto as manifestações que estavam ocorrendo na cidade para disparar seus foguetes. Mas também houve uma questão judicial em Sheikh Jarrah: duas famílias palestinas refugiadas poderiam ser despejadas das casas onde moram, cujos proprietários são judeus. Esses acontecimentos motivaram protestos e geraram ondas de violência em Jerusalém.”

Desde o início do confronto, os fundamentalistas islâmicos lançaram 3.700 foguetes contra o território israelense, assassinando 12 pessoas e ferindo 333
Os ataques de Israel, por sua vez, mataram 232 palestinos e feriram outros 1.530. 
Depois de 11 dias de enfrentamento, o governo de Israel e as lideranças do Hamas anunciaram um cessar-fogo mútuo e simultâneo, colocando um ponto final às hostilidades — até a página 2.

Guerra ao Terror
Em 29 de agosto de 2021, um dia antes de concluírem a retirada das tropas do Afeganistão, os Estados Unidos enviaram um drone à capital do país, Cabul, com o objetivo de alvejar um terrorista do Estado Islâmico. O ataque, no entanto, também resultou na morte de civis, que engrossaram a estimativa de 900 mil óbitos decorrentes da Guerra ao Terror. [foi a primeira demonstração do Biden do quanto ele é incompetente como estrategista = ordenou a retirada do Afeganistão começando pelos militares, deixando os civis para o final.] O) capítulo, iniciado pelo ex-presidente George. W. Bush e concluído pelo presidente Joe Biden, encerraria parcialmente a história da incursão militar norte-americana nos países asiáticos, que ocorreu em resposta aos atentados de 11 de setembro. “A guerra tem sido longa, complexa e sem sucesso. E continua em mais de 80 países”, disse Catherine Lutz, professora na Universidade Brown (EUA) e co-diretora do projeto Costs of War, que avalia as consequências desse conflito.

Para Antonio Gelis Filho, professor de geopolítica empresarial na Fundação Getulio Vargas (FGV), os Estados Unidos decidiram declarar uma “Paz Quente” ao resto do mundo, imaginando-se capaz de intervir militarmente em países com culturas distintas. “O Ocidente tentou impor um modo de vida progressista ao resto do mundo, gerando resistências”, explicou. “Enquanto isso, transferia a fonte última de sua harmonia social e progresso — empregos industriais de alta remuneração — para o Oriente. É preciso restabelecer as bases reais de seu progresso antes que seja tarde demais.”

Além da Europa
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é apenas mais um capítulo da história da humanidade, construída durante milênios em meio à repressão e à violência. O genocídio contra os uigures, o confronto árabe-israelense e a incursão militar norte-americana nos países asiáticos ocorreram ao mesmo tempo em que o desenvolvimento econômico e tecnológico possibilitou a diminuição da fome no mundo, das taxas de analfabetismo e da pobreza — e, ao mesmo tempo, o acesso à informação e ao conhecimento. O avanço civilizacional, no entanto, jamais impediu a eclosão de guerras.

No mesmo momento em que Moscou e Kiev buscam soluções para o embate no Leste Europeu, outros cinco conflitos irrompem ao redor do mundo. No Iêmen, por exemplo, a catástrofe humanitária já dura 11 anos. Os números são chocantes: 223 mil mortos e 2 milhões de crianças em desnutrição aguda.

Também longe dos holofotes diplomáticos internacionais, a crise na Etiópia, iniciada em 2020, não parece arrefecer. Estima-se que 9 milhões de etíopes precisam de algum tipo de ajuda humanitária, segundo a ONU. Há ainda relatos de crimes de guerra ocorrendo no país, como chacinas contra civis e estupros em massa.

Em Mianmar, as tensões políticas e étnicas ocorrem há anos. De acordo com a organização não governamental (ONG) Rescue Committee, os conflitos que se espalharam pelo país desde a ascensão dos militares foram a causa da migração de 220 mil pessoas. Cerca de 14 milhões de habitantes (25% da população) precisam de ajuda humanitária. Desde o início da guerra, 10 mil civis morreram.

O Haiti vive uma espiral de violência desde julho de 2021, quando o então presidente, Jovenel Moïse, foi assassinado. Baleado 12 vezes na testa e no torso, seu olho esquerdo foi arrancado e os ossos do braço e do tornozelo, quebrados. De lá para cá, diversas gangues surgiram no país e passaram a semear o caos. No ano passado, mais de 800 pessoas foram sequestradas por esses grupos criminosos.

Protestos iniciados em 2011 contra o ditador da Síria, Bashar al-Assad, mergulharam o país em uma guerra civil de grande escala. O conflito, ainda em vigência, resultou na morte de 380 mil pessoas e na destruição de diversas cidades. Outros 200 mil cidadãos estão desaparecidos. Pelo menos 11 milhões de sírios, o equivalente à metade da população do país antes da guerra, tiveram de deixar suas casas.

O impacto da propaganda

Dentre todas essas catástrofes humanitárias, a imprensa escolheu prestar atenção ao conflito no Leste Europeu. Segundo Bruna Frascolla, doutora em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), isso ocorreu em razão da propaganda midiática pró-Ucrânia que circula nos países ocidentais. “Há dois meses, se você parasse alguém em Copacabana e perguntasse quem é o presidente da Ucrânia, ninguém iria saber”, observou. “Hoje, meio mundo não só sabe, como tem certeza de que é um santo. Basta dizer que apoia Zelensky para ter certeza de que é bom, e quem não aderir ao coro é um abominável putinista.”

Bruna diz ainda que intelectuais e jornalistas são responsáveis pela maneira como a propaganda pró-Kiev foi disseminada no Ocidente. “O povo letrado em geral vive assim: encontra um slogan para repetir e pertencer ao clube dos bons, o que por tabela constitui a existência de um time dos maus — sem espaço para neutralidade”, afirmou. “Como os jornalistas pertencem a esse grupo e aderem a slogans limpinhos e cheirosos, repetem acriticamente tudo aquilo que diz a Organização do Tratado do Atlântico Norte. O resultado é que empurram a propaganda sem se preocupar com a informação.”

Guerra e paz
Como observa Felipe van Deursen no livro 3 Mil Anos de Guerra, a história da humanidade é a história das guerras. Dos Tempos Bíblicos à Idade Moderna, diferentes povos batalharam entre si para impor seus costumes e valores. E deixaram rastros de sangue e destruição pelo caminho.

A despeito das atrocidades, contudo, a humanidade desenvolveu um conjunto de valores que ofereceu relativa estabilidade e harmonia entre os povos. Se no passado os conflitos tinham proporções globais, como observado nas duas Grandes Guerras Mundiais e na Guerra Fria, no presente as tragédias humanitárias estão restritas a pequenas regiões, livrando a maior parte da população do sofrimento.

Mas ainda assim haverá guerras. Essa é a história da humanidade.

Leia também “O Ocidente já perdeu?”

Edilson Salgueiro, colunista - Revista Oeste


domingo, 3 de abril de 2022

Esquerda escancara sua agenda de doutrinação sexual infantil - Rodrigo Constantino

O governador aqui da Flórida, Ron DeSantis, sancionou o projeto de lei que basicamente proíbe doutrinação sexual infantil em escolas públicas, garantindo a autonomia dos pais sobre a formação moral de seus filhos. A esquerda radical ficou histérica, incluindo a Casa Branca. Foi um golaço político do governador republicano!

O motivo é óbvio: quem quer que tenha dado uma olhada no projeto sabe que não há nada muito controverso ali, apenas bom senso. Mas como a esquerda, com o apoio da mídia, odeia DeSantis, tudo que ele defender será razão suficiente para ser condenado com veemência. Ao agir assim, a esquerda acabou escancarando seu radicalismo e sua agenda.

A imprensa tenta enganar o povo, endossando a reação boboca de Hollywood e repetindo que se trata de uma lei conhecida como "não diga gay". Ocorre que não há nada disso na lei! Os desavisados, que ainda se "informam" pela imprensa mainstream, podem até repudiar a lei por ignorância. Mas à medida que as pessoas se informem melhor, ficará claro que a esquerda extremista saiu da toca.


Quanto custa um “desconto” de R$ 1 nos preços da gasolina e do diesel

Quem pode ser a favor de professores de crianças com 5 ou 6 anos falando de ideologia de gênero ou sexo com elas?! Nessa idade, a puberdade nem chegou, não há hormônios alimentando qualquer inclinação sexual que seja. 
Criança não é macho, gay ou trans, mas sim criança, apenas uma criança! Não importa! A esquerda, ao reagir da forma que reagiu, com incrível histeria, expôs a todos sua real agenda: doutrinar crianças na mais tenra idade com sua visão distorcida e doentia de mundo.

A esquerda hoje é basicamente formada por adultos que parecem crianças, que querem crianças parecendo adultos, para que se sintam melhores. Essa turma não aceita que os próprios pais eduquem seus filhos. Os "progressistas" se encaram como "libertadores" entre as crianças e seus pais, que seriam um bando de "reacionários preconceituosos" - ou seja, pessoas normais que desejam incutir valores decentes aos filhos.

A esquerda quer ter o poder de educar não os seus filhos, mas os nossos filhos! É disso que se trata, e agora não dá mais para esconder. Se eles não puderem falar sobre "gênero fluido" com crianças que nem pensam em sexo ainda, eles se sentem oprimidos por uma ditadura. A Casa Branca chegou a falar em avaliar se o projeto de lei fere liberdades civis federais! Como assim?!

A Disney comprou a briga da comunidade radical LGBTQWYXZ$#%@. O CEO se manifestou, mas o governador rebateu com maestria: disse que se no projeto de lei houvesse a proibição de debater a situação de exploração dos uigures pelo regime chinês, a Disney seria a primeira a aplaudir! Como sabemos, a Disney tem investido pesado na China e, por isso mesmo, passa pano para as atrocidades cometidas pela ditadura comunista.
Uma reunião interna de funcionários da Disney veio a público e o que vemos é chocante
Uma mãe de "crianças trans" alega que quer moldar os produtos da Disney para que esse tipo de coisa seja tida como normal. 
Outra confessa que usa em toda a oportunidade como produtora a meta de colocar mensagens LGBT nos desenhos infantis da companhia. Estamos falando em desenhos voltados para o público de 2 ou 3 anos!
Em suma, esse comportamento não é razoável. E essa gente quer transformar o mundo à sua imagem, na marra. 
Eles querem viver a utopia da revolução sexual iniciada na década de 1960, que prometeu muita felicidade, e entregou apenas angústia.       A quantidade de pessoas que se considera LGBTQWXZ$%#@ vem aumentando a cada geração, o que comprova que o mecanismo de incentivos importa. 
Seres humanos possuem comportamentos maleáveis, e nada na biologia explicaria um salto no número de trans como temos observado.
 
A esquerda não vai descansar enquanto todos não acharem lindo essa visão de gênero fluido, incutida desde a mais remota infância. Crianças são inocentes e precisam ser protegidas, mas a esquerda as quer como cobaias, como mascotes
Se cada vez mais criança se "identificar" como gay ou trans, esses revolucionários ficarão contentes. É sobre como eles querem se sentir, não sobre as crianças em si.
 
Cabe aos pais normais olhar com muito cuidado para o conteúdo que sai dessa turma. 
A Disney já foi uma empresa que vendia magia para crianças; hoje é uma máquina de doutrinação sexual infantil.  
A pergunta que todos devem se fazer é: você gostaria que aquela patota disfuncional de Hollywood seja responsável pela formação moral e sexual dos seus filhos?
 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Golpe em Myanmar alerta para declínio da democracia no mundo - O Globo

Opinião

O golpe de Estado que depôs o governo de Myanmar há uma semana e levou de volta à prisão a ativista e Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi devolveu o país à lista dos regimes autoritários depois de apenas uma década de democracia (e duas eleições livres). Myanmar só é exceção pela forma do retrocesso: um golpe militar clássico, não o encolhimento gradual de instituições se curvando a autocratas, como na Venezuela, Rússia ou Hungria. O resultado é idêntico, uma democracia a menos, tendência resumida pelo cientista político Larry Diamond na feliz expressão “recessão democrática”.

[Perguntas que precisam de respostas:
- Será que o declínio da democracia - no mundo; em 167 países  avaliados houve queda em 116 e apenas 8,4% da população global vivem na democracia plena - não decorre, digamos, da 'fadiga' do sistema?
A prodigalidade na distribuição de Prêmio Nobel da Paz - qualquer um recebe (até o presidiário Lula foi cotado, e outros com a mesma insignificância e falta de méritos  receberam ou foram indicados) basta se dizer ativista de alguma coisa - não aponta as falhas na avaliação de quem deve ser indicado? ]

Os últimos dois relatórios que diagnosticam o estado da democracia no planeta constatam que a pandemia deu oportunidade para ataques aos direitos civis e liberdades individuais. É o caso da Bielorrússia, onde Alexander Lukashenko ainda mantém controle absoluto, apesar dos protestos desde as eleições contestadas de agosto. Ou da China, que endureceu a vigilância sobre os cidadãos e a perseguição aos uigures em Xinjiang. Ou ainda do Sri Lanka, onde o premiê Mahinda Rajapaksa endureceu a agenda autoritária nos últimos seis meses.

“A pandemia de Covid-19 está exacerbando os 14 anos consecutivos de declínio na liberdade”, afirma o relatório da Freedom House lançado em janeiro. Dos 192 países avaliados pela organização, houve declínio da democracia e dos direitos humanos em 80. O índice de democracia global da Economist Intelligence Unit (EIU), publicado na última quarta-feira, corrobora a conclusão. A nota média atingiu o nível mais baixo desde que a avaliação foi criada, em 2006: 5,37. Dos 167 países avaliados pela EIU, a nota caiu em 116. Apenas 23, correspondentes a 8,4% da população global, podem ser considerados democracias plenas.

“O resultado de 2020 ocorreu em boa medida — embora não apenas — por causa das restrições impostas por governos às liberdades individuais como resposta à pandemia do coronavírus”, afirma a EIU. “A crise da governança democrática, tendo começado muito antes da pandemia, deverá continuar depois que a crise sanitária arrefecer, pois as leis e normas que têm sido implantadas serão difíceis de revogar”, diz a Freedom House.

O avanço do autoritarismo não se restringe mais a casos contumazes como Rússia, China, Irã ou Venezuela. A invasão do Capitólio em Washington mostra que nem a democracia mais longeva do planeta está a salvo. E nem tudo é declínio lento e gradual, como mostra o golpe em Myanmar. Nesses dois casos, o pretexto para a violência foi idêntico: acusações fajutas de fraude eleitoral. Só não deu certo nos Estados Unidos, porque as instituições americanas são mais robustas.

No Brasil, os militares têm tradição de apoiar rupturas ao longo da história. O presidente Jair Bolsonaro vive fazendo acusações falsas sobre o sistema eleitoral e já insinuou que aqui poderá ser “pior” que nos Estados Unidos se ele perder em 2022. Para preservar nossa democracia, será preciso ficar de olho.

Opinião - O Globo


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A China vota vermelho: todos os governos têm muito em jogo nas eleições dos EUA - Demétrio Magnoli

O Globo

Todos os governos têm muito em jogo nas eleições presidenciais da superpotência global 

Vermelho ou azul? Nos EUA, vermelho é a cor dos republicanos; azul, dos democratas. Todos os governos do mundo têm muito em jogo nas eleições presidenciais da superpotência global — e cada um deles acalenta, secreta ou abertamente, uma preferência
Quem “vota” em Joe Biden? E em Donald Trump?

A Europa está dividida. No núcleo da União Europeia, Alemanha, França, Itália e Espanha são Biden, o candidato democrata que promete restaurar a aliança transatlântica tão desprezada por Trump. Mas o Reino Unido de Boris Johnson não segue o rumo dos vizinhos, inclinando-se pelo republicano que ergueu um brinde ao Brexit e acena com um acordo privilegiado de comércio com os britânicos.

Vladimir Putin não crê em lágrimas. A Rússia entrou na campanha americana de 2016 com um objetivo principal, desestabilizar a democracia americana, e um complementar, ajudar a eleger o republicano. As metas permanecem inalteradas. Trump na Casa Branca assegura o declínio da Otan e a redução da influência dos EUA no Oriente Médio, abrindo espaço à difusão da influência externa russa. A China é um caso muito mais complicado, pois bússolas diferentes apontam nortes opostos.

Um critério para a escolha são os interesses econômicos. A “guerra do 5G”, que envolve a rivalidade fundamental pela supremacia tecnológica, seguirá seu curso com Biden ou Trump. Mas, apesar de imitar a retórica do nacionalismo econômico do adversário, o democrata tende a colocar ênfase menor nas tarifas que deflagram inúteis ou contraproducentes guerras comerciais. Ponto azul. Tanto Biden quanto Trump confrontarão a China no delicado campo dos direitos humanos, que abrange os crimes contra a humanidade cometidos no Xinjiang dos muçulmanos uigures e, ainda, a violação escandalosa dos direitos políticos em Hong Kong. Contudo o republicano carece de um mínimo de credibilidade moral para se pronunciar sobre tais temas. Ponto vermelho.

A China tem uma peculiar apreensão da história. Na década de 1970, durante a aproximação sino-americana, o número 2 da hierarquia chinesa, Chou En-lai, foi indagado sobre as perspectivas da democracia em seu país e os valores emanados da Revolução Francesa. Sua resposta, que ficou célebre: os eventos de 1789 são assunto jornalístico, próximos demais para propiciar um diagnóstico histórico. A infatigável paciência chinesa inclina decisivamente a balança da preferência eleitoral.

Trump, sem dúvida, explica Yan Xuetong, reitor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade Tsinghua, de Pequim: “Não porque Trump causará menos estrago aos interesses chineses que Biden, mas porque ele certamente causará danos maiores aos EUA”. A China almeja, sobretudo, o reconhecimento de seu lugar de grande potência mundial — e, mais adiante, tomar a posição de superpotência hegemônica. Nos tempos longos, régua da geopolítica, o declínio dos EUA e a consequente ascensão da China são mais bem-servidos pelo nacionalismo isolacionista trumpiano.

Xi Jinping vota vermelho. Só não conta para ninguém. É que declarar o voto é coisa de idiota. Trump é o cara, na opinião do húngaro Viktor Orbán e do polonês Andrzej Duda, líderes nacionalistas, populistas e xenófobos da Europa Central. Recep Tayyip Erdogan, presidente autocrático da Turquia, vai na mesma direção, mas por motivos menos ideológicos. Ele aposta no isolacionismo do republicano para prosseguir sua agressiva política externa, que exige acordos com a Rússia, ataques aos curdos sírios, pressão sobre a Grécia e tensão perene com a União Europeia.

Israel e Arábia Saudita estão fechados com Trump, o promotor de um “plano de paz” baseado numa coalizão regional anti-iraniana e na negação dos direitos nacionais palestinos. O Irã oscila, o que reflete a cisão entre o Estado teocrático e o governo moderado. Ali Khamenei, Líder Supremo, “vota” Trump, uma garantia de confronto com os EUA e, portanto, de hegemonia da “linha-dura” doméstica. Por outro lado, o presidente Hassan Rouhani “vota” Biden, que recolocaria os EUA no acordo nuclear, dando fôlego à economia iraniana. 

Demétrio Magnoli, sociólogo e jornalista - O Globo

sábado, 21 de outubro de 2017

China alardeia seu poderio e anuncia o começo de uma “nova era comunista”



 Xi Jinping inaugura o 19º Congresso do Partido Comunista com promessa de continuar reformas econômicas



O presidente chinês, Xi Jinping, proclamou nesta quarta-feira “uma nova era” para a China e para seu Partido Comunista, mas deixou claro que, em seus próximos cinco anos de mandato, continuarão as mesmas políticas, ainda mais marcadas. E que não haverá espaço para a divergência. Ao longo de três horas e meia de discurso na abertura do 19º Congresso do Partido Comunista, o grande evento político que nomeará os dirigentes do país para a próxima meia década, o secretário-geral declarou seus primeiros cinco anos no poder um sucesso: “A China ocupa agora uma nova posição no mundo”.
O Congresso, um evento que só acontece duas vezes por década, é desta vez o palco para a coroação de Xi Jinping como o homem mais poderoso na história recente da China. Não só será nomeado para comandar o destino do país por mais cinco anos, como também terá seu nome incluído na Constituição, ao lado de Mao Tsé-Tung, e selecionará para as principais vagas na hierarquia alguns de seus assessores de maior confiança.
Em discurso aos 205 membros do Comitê Central e 2.300 delegados, Xi quis apresentar a imagem de homem de Estado. Bem vestido, com vagar e um tom por vezes paternalista, deixou claro que é ele quem toma as decisões. E que não permitirá que ninguém lhe faça sombra. O chefe de Estado, secretário-geral do Partido e presidente da Comissão Militar central seus principais títulos, e nessa ordem – desfiou as prioridades de sua nova legislatura. No exterior, confirmar a China como uma nova grande potência. Uma potência que, deu a entender, pode ultrapassar os Estados Unidos no futuro: “Precisaremos continuar nos esforçando por mais 30 anos para alcançar a completa modernização. Então, nos situaremos orgulhosamente entre as nações e seremos uma potência global”.
No terreno interno, desenvolver a economia e proteger o meio ambiente. As duas prioridades que, considera, exigem dele os cidadãos e são imprescindíveis para manter a legitimidade do mandato do Partido Comunista à frente do país. Entre as medidas a serem adotadas nos próximos anos: é preciso reduzir os desequilíbrios. As reformas econômicas continuarão, desde a moeda chinesa até medidas sobre os preços crescentes da habitação. Reformas, sim, mas não muitas: defendeu a igualdade de tratamento a todas as empresas presentes na China – um aceno às empresas estrangeiras, que denunciam o protecionismo de Pequim –, mas o Estado manterá um papel importante. O combate à corrupção vai continuar.
Pretende fazê-lo mantendo as mesmas políticas que empreendeu até agora. Afinal, disse, mudar para quê? A China responde hoje por 30% do PIB mundial. Veio crescendo cerca de 7% ao ano. Tirou 60 milhões de pessoas da pobreza. A reforma das forças armadas foi um sucesso. “Resolvemos problemas que ninguém conseguia solucionar”, declarou no cavernoso salão principal do Grande Palácio do Povo da Pequim, decorado para a ocasião com enormes bandeiras vermelhas e, em lugar de destaque, a foice e o martelo. A gestão do Partido “é um milagre na terça.
Com o excelente resultado dessas medidas, não haverá tolerância para as divergências. O Partido Comunista, prestes a superar o russo como o mais longevo entre os marxistas no poder, não vai seguir o caminho de outros que – como o russo – abandonaram a ortodoxia e acabaram defenestrados. “Não devemos copiar mecanicamente os sistemas políticos de outros países”, alertou.
Desde 2012, a mão dura contra qualquer vislumbre de dissidência na China só apertou, a ponto de organizações de direitos humanos descreverem o atual controle sobre a sociedade civil como o mais duro em décadas. Os veículos de imprensa receberam ordens de aderir estritamente às diretrizes do Partido, a internet está rigidamente censurada; ativistas, líderes religiosos e defensores dos direitos humanos foram parar na cadeia. Para a região autônoma de Xinjiang, de população majoritariamente muçulmana (chamados uigures), foram enviados dezenas de milhares de agentes das forças de segurança com o argumento de impedir a violência de grupos extremistas islâmicos. Essa atitude não vai afrouxar.
O regime, prometeu Xi, não terá compaixão de quem tentar sabotar a liderança do Partido, fomentar o extremismo religioso ou o separatismo: uma clara advertência a Taiwan, a ilha que a China considera parte de seu território e onde a presidenta Tsai Ying-wen mantém posições opostas a Pequim.
Também é uma mensagem a Hong Kong, onde os pedidos por mais democracia foram respondidos com um estrangulamento cada vez maior das liberdades; a cassação de deputados pouco afeitos a Pequim e inclusive a prisão de Joshua Wong e outros jovens líderes políticos que organizaram os protestos maciços de 2014. “É preciso ir contra tudo que prejudica os direitos do povo, contra todos os que querem separar-se da China”, declarou. Em suas cadeiras, os membros do Comitê Central escutavam com o estoicismo conferido por longos anos de prática em reuniões desse tipo. O venerável ex-presidente Jiang Zemin aproximava uma lupa do texto para poder ler. O antecessor de Xi, Hu Jintao, ausentou-se por dez minutos.
Os delegados, munidos cada um de uma cópia do relatório presidencial e uniformizados de terno – a única exceção, os representantes de minorias étnicas, vestidos com seus trajes típicos –, passavam as 60 páginas e aplaudiam em uníssono. Com a intensidade na medida certa, sem desânimo, mas sem entusiasmo.
Talvez um dos aplausos mais entusiasmados tenha sido para o anúncio do que a agência oficial Xinhua descreveu como a nova “diretriz de longo prazo à qual o Partido deve aderir”. O que até agora se conhecia simplesmente como “o pensamento de Xi Jinping”, e que oficialmente passará a se chamar “Pensamento sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era”. Um título tão reluzente como a ocasião.
Fonte: El País