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quarta-feira, 10 de maio de 2023

O lítio é o novo petróleo - Dagomir Marquezi

Revista Oeste

Livre da burocracia (por enquanto), o Brasil aproveita o boom de um dos minerais mais importantes do nosso tempo

Ilustração: Shutterstock

O mundo do século 21 está ficando cada vez mais parecido com o do século 16. A busca por matérias-primas em lugares distantes voltou a entrar na agenda das grandes potências. Só que, no lugar de caravelas em busca de especiarias, prata e ouro, hoje temos executivos em jatinhos à procura de lítio e outros minerais raros.

O lítio é fundamental para a fabricação de baterias para carros elétricos e celulares
— entre muitas outras aplicações, como veremos adiante. As exigências de acordos internacionais por uma economia “limpa” estão transformando esse mineral numa estrela dos mercados e um símbolo de poder. Temos cada vez mais fontes de energia alternativas, como a solar e a eólica. Mas o sol se põe, e o vento não dura para sempre. [exceto se o mundo passar a engarrafar o vento, como bem profetizou a genial Dilma e foi estupidamente ignorada.] Nessa hora, é preciso ter baterias para armazenar essa energia. E baterias são feitas, entre outros elementos, de lítio.

Essa corrida pelo lítio leva a duas estradas para os países que possuem reservas. Uma é a do nacionalismo esquerdista, na linha de “o lítio é nosso”. O Chile acabou de escolher esse caminho. O presidente Gabriel Boric anunciou, no dia 27 de abril, que vai aumentar a participação do Estado chileno nas empresas de extração Albemarle e Sociedad Química y Minera de Chile, até obter a maioria das ações. O que, na prática, significa estatizar. Empresa chilena Albemarle e Sociedad Quimica y Minera de Chile | Foto: Divulgação

O Brasil — ainda na administração Jair Bolsonaro — foi no sentido contrário. O então ministro das Minas e Energia, Adolfo Sachsida, criou o Decreto 11.120, de 5 de julho de 2022. Antes desse decreto, a extração de lítio era tão burocratizada que dependia de aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, a ultracontroladora CNEN.

O artigo único do Decreto 11.120 era claro até para leigos em juridiquês: “Ficam permitidas as operações de comércio exterior de minerais e minérios de lítio, de produtos químicos orgânicos e inorgânicos, incluídas as suas composições, fabricados à base de lítio, de lítio metálico e das ligas de lítio e de seus derivados”.

“Este é o grande momento mundial do lítio” — declarou o ex-ministro Sachsida a Oeste. “O Brasil tinha uma legislação que vinha da década de 1970. Como ministro das Minas e Energia, levei um projeto de lei ao então presidente Jair Bolsonaro para desburocratizar a exploração. Em três meses, os investimentos chegaram a US$ 1 bilhão, numa das regiões mais pobres do Brasil, o Vale do Jequitinhonha (nordeste do Estado de Minas Gerais)”
 
De “vale da miséria” a “vale do lítio”
Como não poderia deixar de ser, o Decreto 11.120 despertou a ira de esquerdistas. Foi acusado de “liberar geral” para a invasão de empresas estrangeiras que querem “nossas riquezas”.

Pode haver um retrocesso no Decreto 11.120 no atual governo petista? “Não consigo acreditar”, disse Adolfo Sachsida a Oeste. “Podem surgir nacionalistas de plantão, do tipo ‘o lítio é nosso’. Mas não consigo acreditar que teremos um retrocesso. O decreto gerou uma competição no setor.”

O Serviço Geológico do Brasil aposta que, se continuar no atual caminho, o país pode chegar a produzir 5% do mercado mundial de lítio nos próximos dez anos

O principal ator nessa competição por enquanto é a empresa Sigma Lithium, que tem sede em Vancouver, no Canadá. Sua CEO, Ana Cabral-Gardner, mostrou para a revista Exame que, com a entrada de capitais e a aceleração da produção, o Vale do Jequitinhonha está deixando de ser o “vale da miséria” para virar o “vale do lítio”.
Segundo Cabral-Gardner, o preço do minério puro está por volta de US$ 100 a tonelada. Processado, esse preço aumenta 80 vezes, para US$ 8 mil. Segundo ela, essa nova riqueza está permitindo a instalação de “barraginhas”, para provocar pequenos represamentos de água que vão beneficiar os criadores e agricultores locais. Segundo ela, 75% dos royalties, calculados sobre os US$ 8 mil por tonelada, ficam nos municípios do vale.

O Chile de Gabriel Boric garantiu que os contratos atuais de exploração seriam respeitados. Mas, enquanto a esquerda estiver no poder, a tendência é essa — estatizar, nacionalizar, controlar, burocratizar. Como a América do Sul concentra as maiores reservas de lítio do mundo, fica a tentação natural para o petismo criar alguma coisa como uma “Litiobras”.
 
Uma Opep do lítio?
A revista Time lembrou que essa mentalidade estatizante não se limita ao Chile. “A Bolívia, que detém 21% dos recursos globais — a maior fatia de todos os países —, sempre manteve seu lítio nas mãos do Estado e, no ano passado, introduziu restrições à tecnologia de extração semelhantes às que o Chile está propondo agora. Das reservas, 54% estão localizados no chamado “triângulo do lítio”, que engloba a região a noroeste da Argentina, o norte do Chile e o sul da Bolívia. O presidente boliviano Luis Arce está propondo inclusive uma aliança regional do lítio. Ou, nas palavras de Arce, “um tipo de Opep do lítio”.

A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) ficou famosa por chantagear o restante do mundo como forma de manipulação de preço. Hoje a Opep detém a produção de 40% do petróleo mundial, e, quando deseja, provoca escassez de produção, para forçar o aumento de preços. O que derruba a economia global e fortalece empresas estatais ligadas a regimes ditatoriais.
Ilustração: Shutterstock


Teremos uma Opep do lítio? O artigo da Time coloca essa possibilidade em dúvida. “Para começar, o lítio não é petróleo. Embora a demanda deva explodir de 23.500 toneladas em 2010 para até 4 milhões de toneladas em 2030, por enquanto o lítio ainda é comercializado como um produto químico especializado, em vez de uma commodity importante. Isso torna mais difícil definir ou manipular um preço padronizado. Em segundo lugar, a janela na qual a América Latina pode exercer influência significativa no mercado global de lítio pode estar se fechando. Embora a região represente um terço da produção global em 2022, espera-se que essa participação diminua nas próximas décadas.”

Possuir reservas gigantescas de lítio é uma coisa; extrair e refinar esse lítio é outra. Onde entra a mão do Estado, os recursos tendem a diminuir. Como disse Daniel Jimenez, ex-executivo da empresa chilena SQM e atual consultor da iLiMarkets: “Nessas condições, não acho que nenhuma empresa sensata colocará seu próprio dinheiro em tal exploração”. Querendo o monopólio estatal, o regime esquerdista chileno pode ter dado um empurrão na indústria de refino do lítio — na Austrália e na Argentina, que, segundo a agência Reuters, não impuseram tantas regulações à sua própria produção. 

O peso da China
Temos outro problema sério. A China comanda os mercados de processamento e refino desses minerais e controla cerca de 77% da capacidade mundial de fabricação de baterias para veículos elétricos.
Para evitar essa perigosa dependência da China, o governo norte-americano criou o Mineral Security Partnership (“Parceria de Segurança Mineral”), em parceria com governos de países aliados, como Austrália, Canadá, Finlândia, França, Alemanha, Japão, Coreia do Sul, Suécia e Reino Unido. O Brasil não está na lista. O acordo para manter abertas as cadeias de suprimentos inclui outros minerais críticos, como cobalto, níquel, gálio e 17 minerais raros.Mina de extração de lítio na China | Foto: Reprodução/Xinhua

Cullen Hendrix, da Escola de Estudos Internacionais Korbel, da Universidade de Denver, escreveu para a Foreing Policy, em novembro do ano passado, que os chineses estão em “posições de liderança na refinação e na fundição global de alumínio (66,6% da capacidade global), refino de lítio e cobalto (80% e 66%, respectivamente) e produção e refino de grafite (cerca de 80%)”.

O mundo vai se render à China? Essa situação vai levar a conflito internacional, como nos tempos de Vasco da Gama? Cullen Hendrix, em seu artigo para a Foreing Policy, aponta três razões para otimismo; e outras três para pessimismo. 
Fontes de energia renováveis não consomem minerais em base constante. Eles não precisam ser alimentados desses minerais raros o tempo todo, como um navio precisa de óleo diesel sem parar. Fica mais difícil que países produtores usem de chantagem, como os árabes, no embargo de petróleo de 1973, ou como a Rússia usou seu gás para tentar subjugar a Europa na invasão da Ucrânia.
Minerais críticos não estão em poder de estatais tanto quanto o petróleo. De 66% a 80% das reservas de gás e petróleo são controladas por empresas estatais. Em contraste, todos os seis maiores produtores de lítio (representando dois terços do mercado global) são empresas privadas. Metade dos maiores produtores de cobalto está em mãos da iniciativa privada. Isso impede que se tornem instrumentos nas mãos de ditadores.
A maioria dos minerais críticos pode ser reciclada. Óleo diesel queima para sempre. O cobre (por exemplo) pode ser reciclado indefinidamente, sem perda de funcionalidade.
No lado mais negativo da questão, tanto os EUA quanto a China dependem de matérias-primas que não estão em seus territórios. Isso pode levar a agravamentos de conflitos por fornecedores, especialmente na África e na América Latina.
O mercado de minerais críticos é muito pequeno, o que o torna, segundo Hendrix, muito mais vulnerável a manipulações estratégicas. A soma total de exportação de cobalto em 2020 foi menos de US$ 5 bilhões. Para efeito de comparação, só a Apple teve um lucro de mais de US$ 90 bilhões em 2022. Os preços do níquel na Bolsa de Londres, por exemplo, dobraram temporariamente em março, por manipulação de mercado.
Minerais críticos estão concentrados em poucos países, geralmente governados por ditaduras brutais e instáveis. O Congo tem 60% da produção global de cobalto. Outro país africano, a Guiné, com apenas 14 milhões de habitantes, tem um quarto das reservas globais de bauxita e metade das exportações. Essa situação torna esses países vulneráveis a influências externas. A China está cada vez mais presente na África, reciclando velhas práticas colonialistas de influência e dominação. A Rússia usa a brutalidade do grupo de mercenários Wagner para ampliar sua influência em países miseráveis da África.Produção de baterias de lítio para carros elétricos | Foto: Shutterstock
 
Remédios psiquiátricos, graxas e usinas nucleares
A fama do lítio está ligada a baterias, como as que movimentam os carros elétricos. Mas o mineral tem muitos outros usos:
- os sais de lítio produzem graxas lubrificantes de alta qualidade;
- o óxido de lítio melhora as propriedades de vidros e cerâmicas, usados desde fogões elétricos até telescópios;
- o lítio é usado em remédios psiquiátricos, para controlar oscilações no humor, transtornos bipolares e depressão;
- é utilizado na metalurgia, para aperfeiçoar ligas como alumínio e cobre;
pela sua capacidade de absorver nêutrons, é usado na blindagem de reatores nucleares, além de combustível para reatores de fusão;
- usado em fogos de artifício;
- o lítio possibilita a fabricação de ligas leves para a indústria aeronáutica, em combinação com o alumínio;
- o hidróxido de lítio é usado no tratamento de água, controlando sua alcalinidade e acidez;
- o brometo de lítio é usado em sistemas de ar-condicionado.

Segundo o USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos), a Bolívia tem as maiores reservas de lítio do mundo, com 21 milhões de toneladas métricas. Logo abaixo vêm Argentina (com 20 milhões), EUA (12 milhões), Chile (11 milhões), Austrália (7,9 milhões) e China (6,8 milhões). Segundo esse levantamento, o Brasil está em 16°, com 730 mil toneladas métricas. O Serviço Geológico do Brasil aposta que, se continuar no atual caminho, o país pode chegar a produzir 5% do mercado mundial nos próximos dez anos. Atualmente, nossa participação é de 1,5%.

Calcula-se que a liberação da produção, através do Decreto 11.120, tenha o potencial de viabilizar mais de R$ 15 bilhões em investimentos até 2030, segundo a revista Forbes. Outras empresas estão presentes no mercado, como a nacional Companhia Brasileira de Lítio e a norte-americana Atlas Lithium Corporation.

Não há tempo a perder com retrocessos
. Baterias de lítio podem ser superadas num futuro razoavelmente próximo por baterias de sódio — e a China está muito à frente nas pesquisas nesse sentido
Baterias de sódio são basicamente alimentadas de sal, um dos elementos mais abundantes da natureza. Poderão custar, segundo reportagem do New York Times, de 1% a 3% do preço do lítio. Ou o Brasil aproveita a atual onda do lítio, ou poderá ficar para trás antes mesmo de ter ido para a frente.Ilustração: Shutterstock

Leia também “Tragédia das chuvas: a vida depois da catástrofe”
 
 

quarta-feira, 6 de julho de 2022

O nióbio é nosso - Revista Oeste

Artur Piva

Mina chinesa de nióbio, em Catalão, Goiás| Foto: ANM
Mina chinesa de nióbio, em Catalão, Goiás -  Foto: ANM 

O investimento em tecnologia e a atuação discreta ao longo de quase 70 anos fizeram com que a empresa se tornasse hegemônica na oferta global. Em 2021, cerca de 90% do consumo mundial de produtos de nióbio (ligas e óxido) saiu da fábrica da CBMM em Araxá, cidade de pouco mais de 100 mil habitantes localizada a 360 quilômetros de Belo Horizonte.

Com esse componente, a indústria conseguiu grandes avanços. Além do material para as baterias, foram criadas, por exemplo, ligas de aço mais leves e resistentes. As aplicações abrangem uma extensa lista, que vai de equipamentos médicos de ponta a telescópios espaciais.

A CBMM faz a exploração por meio de uma parceria com o governo mineiro. A empresa é controlada pelo Grupo Moreira Salles, que está entre os principais acionistas do Banco Itaú Unibanco. A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, órgão estadual, detém os direitos de metade da mina de Araxá, motivo pelo qual fica com 25% do lucro líquido da operação. 
A história do mercado mundial de nióbio data do meio do século 20 e está umbilicalmente ligada à família de banqueiros do Brasil.
Décadas de produção discreta
Em 1953, o geólogo Djalma Guimarães encontrou, em Araxá, jazidas de pirocloro, o mineral de onde se extrai o nióbio. Dois anos mais tarde, a norte-americana Molycorp fundou a CBMM. Passada uma década (em 1965), Walter Moreira Salles, fundador do Unibanco, comprou a maior parte da companhia. 
A empresa desenvolveu o mercado para a aplicação do metal. 
Em 2007, a sociedade se desfez, e família Moreira Salles ficou com o negócio. Atualmente, ela detém 70% das cotas. Os 30% restantes estão divididos em partes iguais de 15% entre dois consórcios: um chinês e outro formado por capital sul-coreano e japonês.

De acordo com Eduardo Ribeiro, que deixou o cargo de CEO da CBMM no fim de junho, até o início de 2011 a companhia pertencia completamente à família Moreira Salles. A chegada dos novos sócios “foi uma visão estratégica para buscar acionistas que pudessem nos ajudar a desenvolver o mercado”, disse o executivo, em entrevista ao jornal O Tempo.

Riqueza desconhecida
Apesar do interesse de grandes banqueiros e de um mercado de décadas, o nióbio era desconhecido por brasileiros comuns até bem pouco tempo atrás. Um dos primeiros políticos a falar do assunto foi Enéas Carneiro famoso pelo bordão “Meu nome é Enéas” —, no começo da década de 1990. O outro foi Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil.

Em outubro de 2021, com mais de meio século de atraso, ocorreu a 1ª Feira Brasileira do Nióbio. Encabeçado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, o evento foi realizado em Campinas (SP), a cerca de 200 quilômetros da capital, São Paulo. O local escolhido foi o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais — vinculado à pasta. Bolsonaro e representantes da CBMM estavam lá.

O valor da tonelada do nióbio é US$ 40 mil. Para comparação, cada tonelada de minério de ferro que o Brasil exportou no ano passado saiu por US$ 200

“O Brasil tem as maiores reservas conhecidas de nióbio do mundo, é o principal país produtor, com uma produção que cresce de forma sustentada e representa 90% da oferta global, disse, na abertura, Pedro Paulo Dias Mesquita, um dos secretários do Ministério de Minas e Energia. “Essa realidade se tornou possível a partir da união entre mineração e tecnologia e da parceria entre os setores público e privado, para a construção de centros tecnológicos excelentes.” 

Mercado atual
Das vendas da CBMM, cerca de 90% vão para a indústria do aço, na forma de ferronióbio. São pequenas pedras metálicas brilhantes. Esse modelo de negócio gerou o lucro líquido de R$ 4,5 bilhões em 2021. A receita ficou em R$ 11 bilhões. O valor da tonelada do nióbio é estimado em US$ 40 mil. Para comparação, cada tonelada de minério de ferro e seus concentrados que o Brasil exportou no ano passado saiu do país ao preço médio de US$ 200. Ou seja: o nióbio beneficiado vale 200 vezes mais.

Ricardo Fonseca Lima, vice-presidente da CBMM, descreveu esse minério como um “metal que possui alta condutividade térmica, alta condutividade elétrica, alta resistência à corrosão, ao calor e ao desgaste”. Entre as propriedades, o ponto de fusão próximo a 2.500 graus Celsius — enquanto o ferro derrete a partir de 1.500 graus Celsius e a água evapora em 100 graus Celsius.

A aplicação de 100 gramas de nióbio em 1 tonelada de aço é suficiente para deixar a liga mais resistente. Desse modo, menos material é necessário, criando estruturas mais leves e baratas. A economia em dinheiro é estimada em 17%. Daí a valorização. É preciso levar em conta, entretanto, que existem outros metais que podem substituí-lo mas com menos eficiência. Na lista estão: vanádio, molibdênio, tântalo, tungstênio e háfnio.

Consumo global
Em 1975, o mercado global de ferronióbio não chegava a 4 mil toneladas. No ano de 2021, aproximadamente 120 mil toneladas dessa liga foram consumidas no planeta. No ranking de uso, a China aparece em primeiro lugar, com 35 mil toneladas. O top cinco também é composto de União Europeia (22 mil toneladas), Estados Unidos (15 mil toneladas), Japão (9 mil toneladas) e Coreia do Sul (8 mil toneladas).

Com 400 clientes espalhados em mais de 50 países, a CBMM afirma ter capacidade para produzir 150 mil toneladas de ferronióbio. A operação de extração em Araxá, nos moldes atuais de consumo, consegue suprir a demanda mundial por 100 anos, segundo a companhia.

Futuro próximo
A Toshiba firmou uma parceria com a CBMM e a Volkswagen, a fim de criar baterias com óxido de nióbio para veículos elétricos um material que tem alto grau pureza e parece uma areia fina. Os testes já começaram na unidade da montadora em Resende (RJ). O antigo CEO da mineradora garante que, em 2023, os ônibus da Volks com essa tecnologia vão circular em Araxá.

Graças ao componente com nióbio, o tempo de carregamento das baterias pode cair de horas para minutos. “Estamos falando de veículos de passageiros de carga total de seis a oito minutos versus horas hoje”, comentou Ribeiro. A empresa projeta que cerca de 35% de suas vendas virão do mercado de baterias em 2030.

Com a aproximação da Toshiba, também foi possível uma colaboração com a unidade brasileira da chinesa Horwin, fabricante de motocicletas. Juntas, as três pretendem colocar o modelo CR6 nas ruas brasileiras em 2024. O veículo tem 6.200 watts de potência de motor, 150 quilômetros de autonomia e bateria de lítio com nióbio com tempo para carregamento de dez minutos e capacidade para 20 mil recargas. São 3 milhões de quilômetros com a mesma bateria.

Para atender a todos esses projetos, a CBMM prevê investir R$ 1,2 bilhão na construção de uma nova fábrica em Araxá. O local será dedicado à produção do óxido de nióbio. Outras duas unidades estão nos planos da empresa. Os investimentos feitos até 2030 devem somar R$ 9 bilhões. “Nosso foco são produtos de nióbio, usando a reserva de minério de longo prazo da empresa”, explicou Ribeiro, ao jornal Valor Econômico, citando a estratégia de agregar valor. A empresa quer ampliar a produção de óxidos em 50 mil toneladas.

Reservas de nióbio no Brasil e no mundo
Cerca de 98% das reservas conhecidas de nióbio do planeta estão no Brasil. Elas somam 840 milhões de toneladas. Delas, 75% estão em Minas Gerais, 21% no Amazonas e 3% em Goiás, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil. Existe também uma promessa: estima-se que, em São Gabriel da Cachoeira, Estado do Amazonas, exista um depósito com mais de 2 bilhões de toneladas de nióbio. Se confirmado, ele está sob terras indígenas e em área de reserva florestal. [se trata de um material de alta e crescente demanda  mundial, elevado valor e que pode levar o Brasil a uma posição econômica privilegiada, situação que torna o assunto de interesse da SEGURANÇA NACIONAL, o que permite uma solução simples e justa: Desapropriação da terra situada em área indígena - terras ociosas - ressarcindo os donos da reserva com terras em outros locais em redução da área de forma que possa ser explorado pelos novos donos.]
 
Além da CBMM
No setor brasileiro de extração e beneficiamento de nióbio, também atuam outras duas empresas. A chinesa CMOC, segunda maior, detém 8% da produção mundial, com as operações de extração ocorrendo na mina de Catalão (GO). Na terceira posição, a peruana Tabocas Mineração explora a jazida em Presidente Figueiredo (AM).

Definitivamente, o nióbio é brasileiro. [o que vale dizer de mais de 200.000.000 de brasileiros, que não podem deixar de beneficiar da  exploração de tal riqueza para favorecer alguns poucos milhares de indigenas, também brasileiros, que ocupam terras ociosas.]

Leia também “Um país fora dos trilhos — Parte 2”

Artur Piva, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 10 de junho de 2021

CPI da Covid - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo 

Aula de matemática na CPI da Covid

Senador Otto Alencar (PSD-BA) tentou constranger o coronel Elcio Franco na CPI com uma pergunta sem importância, mas se deu mal. Nesta quarta-feira (9), o senador Otto Alencar (PSD-BA) perguntou ao depoente do dia da CPI da Covid, o coronel Élcio Franco, que foi número dois na gestão Pazuello no Ministério da Saúde, se ele sabia o percentual da população brasileira em relação à população do mundo. Alencar é o tipo de pessoa que tem a necessidade de mostrar conhecimento sem que ninguém tenha perguntado, e costuma fazer perguntas quando já tem a resposta.

O coronel Élcio, que deve ser bom em matemática, já que a profissão dele exige isso, olhou para cima e disse que a porcentagem é de um trinta e cinco avos. Para quem gosta de matemática foi ótimo, assim como para mim.  O parlamentar disse apressadamente que o coronel estava errado e que o correto era 2,7%. Só que se você fizer a conta Elcio errou por um décimo, o resultado dele apontaria 2,8%.  Mas isso não é relevante porque ele fez a conta de cabeça e com fração e porque ninguém sabe certamente qual é a população do mundo e há uma margem de erro. É muito feio quando alguém tenta corrigir outra pessoa.
 
Eu ouvi de um operador da Bolsa de Valores de São Paulo que só em maio o investimento estrangeiro na B3 é equivalente à metade do que já foi investido neste ano no mercado brasileiro de ações. Segundo ele, foram aplicados US$ 12,8 bilhões.  Em um único dia, contou ele, o banco americano Goldman Sachs investiu no Banco do Brasil o equivalente a R$ 270 milhões. É bom que se diga que estrangeiro não investe com o intuito de perder dinheiro. Eles não queimam dólar. Pelo contrário, fazem de tudo para ganhar mais.

Os estrangeiros estão confiando na economia brasileira porque percebem o potencial do nosso país. No Brasil está cheio de apátridas, como me ensinou um ex-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, que torcem contra o país. É uma pena!  Os investidores internacionais estão aplicando dinheiro na Bovespa de uma forma que deixa bem claro o que eles pensam do futuro da nossa economia.

Lei de inovação nos EUA
Os americanos estão se protegendo da China. O Senado dos Estados Unidos aprovou uma lei de inovação para investir US$ 250 bilhões para estimular a pesquisa, a inovação e o desenvolvimento.  O objetivo é produzir semicondutores, microchips, baterias de carro elétrico, medicamentos e principalmente produtos para o mundo digital. Isso dá uma sacudida nos brasileiros, porque o futuro também vem com investimento em ciência e tecnologia.

Argentino engraçadinho
Vocês lembram quando o papa Francisco brincou falando que o brasileiro bebe muita cachaça e reza pouco? Pois agora outro argentino falou mal do Brasil. O presidente Alberto Fernández disse em evento público em Buenos Aires que “os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros vieram das selvas e os argentinos vieram dos barcos” europeus.

Depois ele disse que não pretendia ofender ninguém e pediu desculpa. Eu assisti o discurso pelo site da Casa Rosada página da web da presidência da República Argentina — e foi normal. Não houve nenhuma censura na fala dele.
 

A "democracia" da Nicarágua
Eu não entendo quem fala em democracia a todo momento, mas tem como ídolo Daniel Ortega (Nicarágua), Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fidel Castro (Cuba) e Rafael Correa (Equador) — que está foragido na Bélgica por suspeita de corrupção enquanto era presidente.

O atual presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, mandou prender opositores ao seu governo. Entre os cinco detidos, dois deles são pré-candidatos à presidência.

O pleito no país será no dia 7 de novembro. Mas essa não é a primeira vez que isso acontece, ele já prendeu dois outros pré-candidatos. Entre os opositores estão: Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente do país Violeta Chamorro; Juan Sebastián Chamorro García, sobrinho de Violeta; Arturo Cruz Sequeira e Felix Maradiaga.  Esse é um modelo de democracia, infelizmente, para muita gente aqui no Brasil.
 
Alexandre Garcia, colunista - VOZES - Gazeta do Povo

domingo, 24 de março de 2019

Anatel: bloqueio de celulares ‘piratas’ chega a todo o Brasil

Fase final do projeto Celular Legal chega a AP, AM, RR, PA, MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE, BA, MG e SP neste domingo



O bloqueio de celulares “piratas“, aqueles que não tem certificação, foi expandido para todo o país neste domingo, 24, pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) expandiu neste domingo, 24. Na fase final do projeto Celular Legal, deixarão de funcionar os aparelhos irregulares em 15 estados. Antes, 244.217 celulares de outros 11 estados e do Distrito Federal haviam sido boqueados desde o início do ano.

Entrem no bloqueio a partir deste domingo os seguintes estados: Amapá, Amazonas, Roraima, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.

Deixarão de funcionar os aparelhos sem certificação da Anatel, cujos roubos tenham sido notificado às autoridades e aparelhos com IMEI (International Mobile Equipment Indentity) adulterado o número único de identificação de cada aparelho, que aparece na caixa do produto ou em um adesivo na bateria.

Celulares comprados fora do Brasil não serão bloqueados desde que atendam certificações internacionais aceitas pela Anatel. O iPhone, celular favorito dos brasileiros em compras fora do País, obedece as exigências. O desligamento, diz a Anatel, é justificado porque os aparelhos piratas podem ser perigosos para saúde dos usuários, pois costumam ter grande quantidade de chumbo e cádmio, não têm garantias de limites de radiações eletromagnéticas e usam materiais de baixa qualidade, como carregadores e baterias sujeitos a quebras e explosões. Além disso, os bloqueios combatem a falsificação e clonagem de IMEIs.  Para saber se um celular é certificado pela Anatel basta procurar por um selo presente no carregador e no verso da bateria.

Estadão Conteúdo

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A quem responderá o general brasileiro no Texas

Alinhamento será posto em xeque em caso de ação militar

Quando o general brasileiro Alcides Faria Jr., hoje num comando de brigada em Ponta Grossa (PR), desembarcar no Forte San Houston, em San Antonio, no Texas, no fim de abril, para assumir suas funções de subcomandante das Forças Armadas americanas, já terão se esgotado todos os prazos dados pelos Estados Unidos para que a Venezuela aceite a remessa de alimentos e remédios enviada ao país.
Comida num país que passa fome, é comandado por um ditador e tem um governo paralelo é um ativo evidente nas mãos de quem esteja disposto derrubar o poder constituído. Como as autoridades americanas já determinaram que a questão não é se a Venezuela vai ou não aceitar mas quando, uma ação militar revestida de ajuda humanitária é um desfecho real. O cenário abre uma lista de dúvidas frente às quais o Congresso Nacional não teve a possibilidade de se confrontar porque não foi consultado e, ao contrário do americano, nem mesmo informado. Se o Pentágono enviar a ordem para o Forte San Houston, o que deverá fazer o general brasileiro? Interromperá a cadeia de comando que passou a integrar ou cumprirá as diretrizes da ação militar do Pentágono? Uma pista é saber quem pagará seu salário, mas não há nem mesmo um acordo público, ou designação já publicada no Diário Oficial, para saber se a tarefa caberá ao governo brasileiro ou americano.

Pelo prazo em que foi anunciado o engajamento do general, no 37º dia do governo Jair Bolsonaro, é provável que o convite e seu aceite tenham se dado na gestão Michel Temer. Não há registro que a cooperação tenha nascido no Ministério da Defesa onde se teme que um engajamento militar do Brasil na Venezuela aumente a pressão de refugiados em Roraima e exponha a inferioridade bélica nacional. Em 29 de setembro de 2015, um tanque blindado de mais de 50 toneladas que saíra de Campo Grande e atravessara a Amazônia, fez disparos na Serra do Tucano, próximo a Boa Vista. Exibido para o vizinho ao Norte, armado de submarinos, baterias de defesa antiaérea e caças Sukhoi, foi um ensaio de teatro amador.
Para convencer os senadores americanos de sua proposta orçamentária, o almirante americano discorreu sobre as ameaças de o Exército Islâmico vir a estabelecer vinculações com narcotraficantes latino-americanos. No governo passado, quem mais deu asas a esta tese foi o ex-ministro do gabinete de Segurança Institucional, o general Sérgio Etchegoyen.

Uma visita ao Livro Branco da Defesa Nacional, aprovado há apenas sete anos pelo Congresso Nacional, não poderia ser mais claro sobre as razões pelas quais o Brasil se mantém há 140 anos em paz com seus vizinhos. O país deve se empenhar pela multipolaridade de uma comunidade global participativa e inclusiva e atuar, no entorno sul-americano, contra posturas conflituosas e excludentes. O texto não poderia ter sido mais confrontado pelo depoimento do almirante em que foi anunciada a inédita adesão do general brasileiro ao comando do Texas. Craig Faller quer inimigos que temam os Estados Unidos. Os três maiores que citou, Rússia, China e Irã, são os mesmos que lideram as transações de petróleo por moedas alternativas ao dólar.
Como o depoimento se destinava a justificar a demanda orçamentária do Pentágono para 2020, tratava-se ali de mostrar por que está em jogo, na região, um capítulo do cerco eurasiano que ponha em xeque a moeda do país no seu quintal. Se China e Rússia operam para aumentar esse cerco aos EUA via Venezuela, como mostra o jornalista brasileiro mais enfronhado no tema, Pepe Escobar, no Asia Times, não se deveria esperar outra coisa da Defesa americana senão uma reação. A pergunta que se faz é por que o Brasil deveria ser sócio desta aventura. A barreira que se ergue na Ásia, na África e no Oriente Médio a uma ação militar na Venezuela congrega alguns dos maiores parceiros comerciais e diplomáticos brasileiros. O engajamento na ofensiva confronta os interesses comerciais brasileiros e contraria alguns dos mais estabelecidos princípios da doutrina diplomática e militar do país. Dá asas à ameaça de as grandes potências mundiais balcanizarem a América Latina disputando aliados e jogando uns contra os outros.
Até aqui, as pretensões de alinhamento do governo Jair Bolsonaro com os Estados Unidos foram lideradas pelo chanceler Ernesto Araújo, que recebeu o almirante Faller no Palácio do Itamaraty três dias depois de sua exposição aos senadores americanos do feito de engajar o Brasil à sua tropa de comando. As Forças Armadas, a despeito dos sinais de arrefecido nacionalismo, patente na abertura à venda da Embraer, por exemplo, ainda se mantinham como um anteparo às trampolinagens do chanceler.
Todos os militares da ativa e da reserva que hoje ocupam postos de comando no governo Bolsonaro foram alunos aplicados das doutrinas da defesa nacional mas a era Jair Bolsonaro no poder liberou os instintos mais primitivos. Tem comandante que faz curso nos Estados Unidos e volta com um minibroche da bandeira americana na farda. E outro que toma posse exaltando a parceria com os Estados Unidos em "três guerras", a 1ª Guerra Mundial, a 2ª, e a guerra fria.
A formalização da ida do general para o Texas demonstra que se o alinhamento não nasceu na Defesa já não encontra entre os militares a mesma resistência. Parece uma eternidade, mas há menos de cinco anos, generais brasileiros ainda recusavam convites de escolas militares. Preferiam repassá-los a civis a ver seus oficiais disputando lugar nas filas de latino-americanos fardados a esperar o ticket-alimentação das escolas.
A Guerra da Coreia, nos anos 50, costuma ser citada como o momento mais próximo de um engajamento brasileiro numa empreitada bélica americana, excluindo-se, por óbvio, os grandes conflitos mundiais. A ofensiva, feita entre os governos Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas, resultou numa mobilização espraiada por passeatas, comícios, enterros simbólicos. Entre a resistência brasileira e a pressão americana, Getúlio ficou com o povo. Para que o exemplo histórico influencie Jair Bolsonaro vale até manter em segredo que a liderança da resistência foi do Partido Comunista.
 
Maria Cristina Fernandes - Valor Econômico