A condução coercitiva
de alguém para depor no âmbito de uma investigação criminal significa que
contra essa pessoa pesam evidências graves. Insuficientes para um pedido de prisão temporária,
mas fortes o bastante para levar a polícia a solicitar à Justiça algo além de
uma simples intimação. Nessa condição é que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi conduzido ontem à Polícia
Federal para prestar depoimento na nova e nona fase da Operação Lava Jato.
Logo de manhã, representantes da PF e do Ministério Público esclareceram qual
era a situação.
Vaccari foi chamado para contar o
que sabia sobre doações (legais e ilegais) feitas por
empresas que mantinham contratos com a Petrobrás, pois os investigadores o
identificaram como o principal dos 11 operadores que atuavam na Diretoria de
Serviços da estatal, comandada por Renato Duque por indicação do PT.
O nome do tesoureiro apareceu na rede dos
depoimentos feitos sob os acordos de delação premiada. Aqueles em que o depoente
precisa provar o que diz para obter os benefícios pretendidos. Portanto, é de se supor que João Vaccari
tenha alguma dificuldade em continuar sustentando as negativas sobre quaisquer
relações de proximidade com o esquema de propinas, diante das provas já
coletadas.
Pedro Barusco, ex-gerente da Diretoria de Serviços,
informou em seu acordo que Vaccari recebia dinheiro fruto de desvios. É claro
que a polícia e a Justiça não se fiam apenas na palavra dele. Exigem provas. Ou não lhe conferem benefício algum. O tesoureiro do PT até então nada
havia dito a não ser repetir negativas sobre quaisquer envolvimentos e assim,
pelo que transpirou, se manteve em seu depoimento à PF, repetindo o comportamento de seu antecessor Delúbio Soares, hoje em
cumprimento de pena de prisão domiciliar. Os tempos, contudo, são
outros.
De onde se acreditar na declaração do ministro das
Relações Institucionais, Pepe Vargas, segundo a qual
não há o "menor
constrangimento" para o partido nem para o governo com a condução
coercitiva do tesoureiro à PF há uma distância amazônica. Até porque partido e governo deveriam ser os primeiros a manifestar desconforto moral. Seria positivo para ambos uma vez na
vida demonstrar alguma dignidade.
Ainda que para constar. Não se constranger com
acontecimentos dessa natureza realmente é comportamento de quem não se acanha
diante de coisa alguma. Verdade que o ministro é o mesmo que equiparou a derrota na disputa à
Presidência da Câmara a episódio superável com uma rodada de "cervejinha".
Mas, para o PT não poderia haver momento pior que a ocasião dos 35
anos de fundação do partido a ser comemorada hoje em Belo Horizonte
diante de um triste paradoxo: de um
lado a conquista do quarto mandato presidencial consecutivo, de outro uma crise
profunda. A cabeça no Planalto e o restante do corpo
atolado no pântano até o pescoço. Realidade
que não foge ao alcance do ministro, da presidente da República nem de nenhum integrante
do partido, cujos problemas internos e externos são inúmeros, sucessivos e tão
grandes que não há tapete capaz de cobrir a quantidade da poeira acumulada.
Cenografia. O presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, cumpriu o compromisso com os eleitores de não
criar obstáculo à instalação de nova CPI da Petrobrás. Daqui em diante,
no entanto, não é com ele. Uma coisa é a
formação, outra bem diferente é o funcionamento, a eficácia da comissão de
inquérito.
Frente ao adiantado dos trabalhos da Polícia
Federal e da Justiça, a CPI fará, como se dizia antigamente, "visagem".
Por: Dora Kramer, colunista do Estadão
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