Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
O recado das multidões às lojinhas de porcentagens
Multidão observa Nilo Peçanha durante a campanha Reação Republicana (à esq.); manifestantes pró-governo em ato na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (à dir.) | Foto: Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil/Reprodução
Tinha
9 anos de idade quando soube que o tamanho dos comícios permitia
adivinhar quem seria prefeito da cidade onde nasci. Divididas entre
janistas e ademaristas, as famílias da classe média não escondiam
preferências políticas, e bastava a contagem dos portadores de um mesmo
sobrenome para constatar-se que, de novo, o embate estava empatado no
centro urbano. O desfecho do duelo, portanto, dependeria dos eleitores
pobres. Quem quisesse descobrir o nome do vitorioso deveria avaliar com
precisão o aglomerado humano sitiando palanques montados nas vilas e nos
distritos. Deveria, sobretudo, medir com olhos de comerciante sovina a
plateia reunida por cada candidato no comício de encerramento.
Em
1959, por exemplo, a comparação do público informou que, no último dia
do confronto, meu pai discursara para o dobro de gente.A apuração
confirmou que Adail Nunes da Silva fora eleito com o dobro de votos. Em
outras ocasiões, ele se valeu desse critério para compreender que a
direção dos ventos lhe era desfavorável. “Quando o adversário promove um
grande comício, a única resposta convincente é realizar um ainda
maior”, dizia. “Se não conseguir, convém preparar-se para cumprimentá-lo
pela vitória assim que a apuração terminar.” Ao recenseamento das
plateias somavam-se outros instrumentos de medição. Só haveria chances
de salvação, por exemplo, para candidatos que fossem imediatamente
cercados por no mínimo cinco eleitores ao entrarem num bar.
Essa
metodologia tão singela quanto eficaz começou a ser aposentada nos anos
1980 pela pesquisa de intenção de voto. As lojinhas de porcentagens
viraram praga na virada do século e, apesar do imenso acervo de erros
desmoralizantes, hoje exibem proporções pandêmicas. Colisões frontais
entre os índices atribuídos aos candidatos e a paisagem das ruas são
menosprezadas pelos gerentes, todos agarrados ao mesmo bordão: “Pesquisa
é retrato do momento”.Erros medonhos são justificados com o palavrório
de sempre: houve uma mudança brusca às vésperas do pleito, brasileiro
decide em quem votar ao entrar na cabine eleitoral, a tendência foi
detectada nas horas finais e outras vigarices.
Jornalistas de botequim se preparam para enfrentar o golpe de Estado previsto desde a chegada de Bolsonaro ao Planalto
Neste
7 de Setembro, o descompasso entre os índices produzidos em escala
industrial e as formidáveis manifestações populares registradas em São
Paulo, em Brasília e no Rioampliaram a procissão de interrogações sem
respostas.
Como é possível que pesquisas realizadas num mesmo momento
apresentem diferenças de até 15 pontos percentuais (sempre com Lula na
liderança)?
Se em 2018 o Datafolha naufragou ao prever que Jair
Bolsonaro seria derrotado no segundo turno por qualquer adversário, por
que estaria certa a profecia reprisada neste 2022?
Por que o favorito
Lula não traduz a suposta vantagem em manifestações ainda mais
impressionantes?
Por que permanece em casa enquanto o segundo colocado
atrai multidões quase diariamente, e em todos os pontos do país?
À
falta de álibis convincentes, as sumidades da estatística deram início à
dança dos números. Os manifestantes ainda voltavam para casa quando
levantamentos saídos do forno reduziram dramaticamente a distância entre
Lula e Bolsonaro ou se refugiaram em empates técnicos.
A seita que tem
num presidiário seu único deus ficou atarantada com o coro dos pacíficos
indignados.
Em São Paulo, confrontado com a Avenida Paulista atulhada
de gente, Lula desandou na comparação amalucada: “O 7 de Setembro
parecia a Ku Klux Klan”, balbuciou. Há poucos dias, o ministro Luís
Roberto Barroso enxergou uma única utilidade no espetáculo do povo nas
ruas: “Saberemos quantos fascistas existem no Brasil”.
Mesmo que tenha
deixado fora dos cálculos as crianças de colo, as que chegaram de mãos
dadas com os pais e os idosos em cadeiras de rodas, descobriu que são
milhões.
Mais difícil será admitir que os manifestantes são apenas
democratas dispostos a enquadrar o autoritarismo criminoso do Supremo
Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, as mentiras
fabricadas pela imprensa velha e o cinismo dos bandidos que tentam
voltar à cena do crime.
Jornalistas
de botequim se preparam para enfrentar o golpe de Estado previsto desde
a chegada de Bolsonaro ao Planalto.
Toparam com brasileiros que
respeitam a Constituição e louvam a democracia. Bestificados,
capricharam na Ópera dos Cretinos.
Uma comentarista, ao afirmar
que o presidente machista insultara as três palavras inscritas na
bandeira nacional, trocou Ordem e Progresso por Independência ou Morte.
Um colunista da Folha reduziu o mar de gente na Paulista a
pouco mais de 30 mil gatos-pingados.
E os partidos assustados com os
ecos da voz do povo recorreram aos aliados de toga: querem que a
candidatura de Bolsonaro seja impugnada “por uso da máquina pública”.
Se
tentarem a revanche nas ruas, Lula e seus devotos estarão expostos à
derrota definitiva. Como nunca aprenderão a cumprimentar adversários
vitoriosos nas urnas, resta-lhes dobrar-se à imagem de Nelson Rodrigues,
sentar no meio fio e chorar lágrimas de esguicho.
Alexandre de Moraes e seu acervo de arbitrariedades
ficaram fora do duelo entre os candidatos à Presidência
Nos
minutos iniciais do debate que reuniu seis candidatos à Presidência da
República, o jornalista Eduardo Oinegue quis saber de Jair Bolsonaro e
Simone Tebet o que farão, caso vençam a disputa nas urnas, para
restabelecer a harmonia perdida no convívio entre os três Poderes. Boa
pergunta. A poucas semanas da eleição presidencial, nenhum tumor no
organismo democrático é mais perigoso que o alimentado por sucessivas
intromissões do Supremo Tribunal Federal em territórios e atribuições
pertencentes ao Legislativo e ao Executivo.
Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva, Simone Tebet e Jair Bolsonaro, durante o debate de presidenciáveis na Band (29/08/2022) | Foto: Suamy Beydoun/Agif/Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
A ofensiva expansionista tornou-se evidente em 2019, quando o presidente da Corte, Dias Toffoli, pariu o inquérito das fake news.
O aleijão constitucional nascido meses depois da posse de Bolsonaro foi entregue aos cuidados de Alexandre de Moraes.
De lá para cá, na gerência da usina de arbitrariedades, decisões insolentes, chicanas e outras agressões ao Estado de Direito, Moraes vem caprichando no papel de Supremo Capataz do Brasil.
Depois de assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, o impetuoso artilheiro do Timão da Toga aparentemente concluiu que isso tudo ainda é pouco. Haja arrogância.
Não é o que pensa a senadora mato-grossense Simone Tebet. Primeira a comentar o tema, a candidata do MDB confirmou que certas manifestações de covardia requerem mais coragem que atos de bravura praticados no clímax de um combate. “É muito simples”, recitou ao iniciar o espancamento do idioma e da verdade. “A harmonia depende excessivamente de um presidente da República que saiba cumprir a Constituição e o seu papel.”
Sem pausas, acusou o adversário de ameaçar a democracia o tempo todo, por menosprezar a imprensa livre e a independência do Supremo, fora o resto. “A política é que está judicializando o Poder Judiciário”, ficou de cócoras Simone.
Em um minuto, Bolsonaro sepultou o falatório da senadora no jazigo das fantasias.
Lamentou o ativismo judicial da maioria dos ministros, que transforma qualquer corte em comitê político-eleitoral. Criticou a ingerência do Judiciário em territórios alheios.
Deixou claro que o Palácio do Planalto é não a fonte, mas o destinatário das provocações.
E introduziu no debate, realizado neste 28 de agosto, um fato que em qualquer país sensato teria dominado o debate.
Dias antes, por ordem do ministro que acumula no monstrengo rebatizado de inquérito do fim do mundo os papéis de vítima, detetive, delegado, promotor, juiz e relator,a Polícia Federal cumprira mandados de busca e apreensão em propriedades de oito empresários que trocam mensagens numa rede social.
Pena que Moraes se tenha dispensado de participar do debate na Band. Ele não precisa de um único voto para achar que manda no Brasil — e fazer o que lhe dá na telha destelhada.
Na versão do Supermagistrado, baseada em outro atentado à língua portuguesa e ao raciocínio lógico cometido por um sherloque de estimação,evidências robustas demonstram que os alvos da prepotência dormem e acordam sonhando com um golpe de Estado que colocaria Bolsonaro no lugar que já ocupa.
Depois do flagrante perpétuo, da prisão preventiva sem prazo para terminar, do inquérito sem data para ser concluído, da punição de parentes do autor de crimes secretos, da liberdade de expressão algemada — e depois de resolver que falar mal de ministros do STF é crime hediondo —, Moraes surpreendeu o mundo com outra assombrosa brasileirice: o golpe de Estado modelo WhatsApp, planejado em recados eletrônicos e executado sabe Deus como.
Ainda em sua primeira fala no debate, enfim, o candidato à reeleição constatou que a insistência de Moraes em castigar o deputado federal Daniel Silveiraé um desafio à graça constitucional concedida ao parlamentar pelo chefe do Executivo.
Sobre a epidemia de vigarices protagonizadas por integrantes do Supremo, nem um pio
O país finalmente vai tratar de perigos reais e imediatos, animaram-se profissionais da esperança.
A violência que alvejou empresários inocentes, cujas redes sociais continuam confiscadas, fora considerada excessiva até por editorialistas da imprensa velha, até por jornalistas que se escondem sob rotativas desativadas quando ouvem o nome do carrasco togado, até por entidades de classe que murmuram “amém” ao toparem com qualquer manifesto de rebanho. Os semideuses do Egrégio Plenário enfim seriam confrontados com críticas públicas dos demais participantes do debate, estimulados por perguntas que estão na ponta da língua de profissionais sem medo.
Quem sonha com tão improváveis surtos de altivez deve esperá-los sentado. Nenhum outro jornalista formulou outras perguntas vinculadas ao assunto mais importante do ano eleitoral. Nenhum outro candidato desperdiçou seu tempo com genuínos golpistas. Alexandre de Moraes não teve o nome mencionado uma única vez. O que se ouviu foi o estridente silêncio dos cúmplices. Além dos previsíveis ataques a Bolsonaro, prontamente rebatidos pelo alvo preferencial de novo condenado por crimes futuros, a noitada apresentou aos espectadores o imposto único louvado por Soraya Thronicke, o pungente esforço de Simone Tebetna CPI em que estreitou a amizade com Renan Calheiros e Omar Aziz, o calote sideral planejado por Ciro Gomes em favor dos brasileiros endividados.
A pandemia que acabou há muitas semanas foi revisitada várias vezes. Sobre a epidemia de vigarices e patifarias protagonizadas por integrantes do Supremo e seu atrevido puxadinho batizado de Justiça Eleitoral, nem um pio.
Desde 2019, com o endosso do Alto Comando do Pretório Excelso, Moraes tenta repetir que gente contemplada com o dom da onisciência identifica com clareza solar a mentira e a verdade, o fato e o boato, a informação correta e a notícia enganosa, o que esclarece e o que desinforma. Se é assim, o que espera o ministro que tudo sabe e tudo vê para confirmar, como prometeu no discurso de posse no TSE, que seria “implacável” com difusores de fake news? ]
Até bebês de colo sabem que, desde o tempo das cavernas, seres humanos que se enfrentam em duelos verbais fazem afirmações opostas. Como não há duas verdades antagônicas sobre a mesma coisa, uma afirmação é a certa, a outra é errada. Portanto, uma fake news.
Um Lula cada vez mais bisonho, por exemplo, jurou no debate que foi inocentado pelo Judiciário.
Foi informado que a Lei do CEP inventada por Edson Fachinnão anulou as condenações aprovadas por nove juízes em três instâncias. Alguém mentiu — e Moraes está obrigado a enquadrar o pecador. Também garantiu que Bolsonaro anda vendendo estatais a preço de banana e privatizou a Petrobras, além de uma BR cujo nome não conseguiu lembrar.
E lembrou que, ao contrário do que fez Ciro Gomes, não fugiu para Paris quando começou o segundo turno da eleição de 2018. Nem poderia, retrucou Ciro: para tanto, teria de escapar da cadeia em Curitiba.
Gente assim merece ser levada a sério?
Qual candidato será enquadrado pelo implacável juiz de palanque?
Simone Tebet revelou que, quando vê uma mulher tratada com dureza, primeiro procura descobrir em quem vota.
Se desejar a morte do Grande Satã do Planalto, socorre bravamente a vítima da misoginia.
Caso a agredida simpatize com o chefe do governo federal, como a doutora Nise Yamagushi, repassa o serviço para a senadora Leila. [por respeito ao nobre esporte praticado por Ana Paula Henkel e a própria, suprimimos o termo do vulgo da senadora do DF.]
Está certo isso, doutor Moraes?
No momento, o presidente do TSE não tem tempo para responder a tais miudezas. Está ocupado demais. Precisa impedir que Roberto Jefferson e Daniel Silveira sejam candidatos a qualquer cargo.
Ou que golpistas digitais usem o 7 de Setembro para desencadear a quartelada que levará Bolsonaro ao cargo que já ocupa.
Ou, ainda, que extremistas conservadores insistam em difamar a urna eletrônica promovida a orgulho nacional por gente que envergonha o Brasil que pensa e presta.
Terminado o duelo, entraram em cena os analistas de debate. Dez minutos mais tarde, decidiu-se que Simone Tebet triunfara, que Ciro levara a medalha de prata,que Lula só não vencera por falta de explicações para a roubalheira inexplicável.
O perdedor, claro, fora Bolsonaro, abalado por duas fraturas expostas: a mania de maltratar mulheres que o maltratam e a economia fragilizada. [o 'capitão do povo' não perdeu o embate, bem foi ao bate-boca para ganhá-lo e sim para ganhar as próximas eleições.]
Nesta semana, o júri de galinheiro foi empurrado para as cordas pelo cortejo de boas notícias: o PIB cresceu, o desemprego diminuiu, a inflação caiu, o preço dos combustíveis baixou, a renda dos brasileiros aumentou. Os profetas catastrofistas tentaram reagir com um “mas”:no ano que vem as coisas vão piorar.
Foram nocauteados na sexta-feira, quem diria, por uma pesquisa do Datafolha que finalmente permitiu a Bolsonaro ultrapassar a faixa dos 30%. Falta pouco para a eleição. A apuração dirá se Alexandre de Moraes consegue ser implacável com falsidades publicadas por companheiros de luta.
Vitorioso no julgamento de Daniel Silveira, o Supremo foi nocauteado pelo indulto presidencial
O Supremo Tribunal Federal pode muito,afligiram-se milhões de
brasileiros neste 20 de abril. Uns encastelados em estranhas cabines de
acrílico,outros prorrogando em casa a quarentena iniciada há mais de
dois anos,dez dos 11 ministros mandaram às favas a Constituiçãoque
lhes cumpre proteger e transformaram o julgamento do deputado federal
Daniel Silveira num constrangedor monumento à onipotência. Era preciso
que todos soubessem o que acontece a quem enxerga defeitos de fabricação
nas sumidades que mandam no país.
André Mendonça (à esq.) já lançou livro com Alexandre de Moraes em homenagem a Dias Toffoli (ao centro) - Fotos: Felipe Sampaio/SCO/STF
Primeiro, o grupo que controla o STF
decidiu que Paulo Faria, advogado do réu, teria de passar pelo teste de
covid-19 para entrar no templo que o doutor Kakay frequenta trajando
bermudas. Em seguida, o réu e o também deputado Eduardo Bolsonaro foram
proibidos de acompanhar o julgamento porque,até que termine a pandemia
que acabou,as portas só não estarão fechadas para bacharéis em Direito.
Ao abrir a sessão, o presidente Luiz Fux (indicado por Lula)
recomendou à OAB que investigue a “recalcitrância” do defensor de Daniel
Silveira. Até o começo da noite, textos constitucionais foram tratados a
socos e pontapés. No derradeiro ato da ópera dos superjuízes de araque,o parlamentar foi castigado com a cassação do mandato, a suspensão dos
direitos políticos, uma multa de bom tamanho e uma temporada na prisão
de quase nove anos.
Caso se animem a contestar o decreto presidencial, os ministros terão de renegar incontáveis discurseiras que sedimentaram a jurisprudência da Corte.“Essa questão de indulto, esse ato de clemência constitucional é um ato privativo do presidente da República”, afirma Moraes num vídeo divulgado em 2018, último ano do governo Michel Temer. “Podemos
gostar ou não gostar, mas esse ato não desrespeita a separação de
Poderes. Não é uma indevida ingerência do Executivo na política criminal
que, genericamente, é estabelecida pelo Legislativo e concretamente
aplicada pelo Judiciário. Até porque indulto — seja graça, perdão
presidencial, seja individual ou coletivo — não faz parte da política
criminal. É um mecanismo de exceção, contra o que o presidente da
República entender como excessos da política criminal.”
O Supremo pode muito, mas não pode tudo, descobriram no dia seguinte os ministros que, horas antes, haviam submetido a Constituição a uma selvagem sessão de tortura.O Pretório Excelso não pode, por exemplo, agir como se fosse maior e melhor que os demais Poderes. O sinal amarelo foi aceso pelo presidente da Câmara dos Deputados: Artur Lira avisou que as punições impostas a Daniel Silveira teriam de ser avalizadas pelo Legislativo. O sinal vermelhofoi acionado no começo da noite de 21 de abril pela surpreendente entrada em cena do presidente Jair Bolsonaro, que resgatou Daniel Silveira do buraco negro com a concessão do indulto individual.
O instrumento constitucional da graça devolveu ao prisioneiro particular de Alexandre de Moraes (indicado por Michel Temer) o direito de ir e vir, o acesso a meios de comunicação, a utilização de redes sociais, o pleno exercício do mandato e a liberdade de expressão.
Livrou-o também do presídio, da multa e outras perversidades concebidas pelo carrasco de toga disfarçado de relator do caso. A pena de prisão foi superior a oito anos, por exemplo, para que o condenado começasse a cumpri-la em regime fechado.
Outro vídeo, que registra um dos inúmeros bate-bocas entre Luís Roberto Barroso (indicado por Dilma Rousseff) e Gilmar Mendes (indicado por Fernando Henrique Cardoso), as sobrancelhas impecáveis revidam a acusação do beiço beligerante (“Vossa Excelência, quando chegou aqui, soltou José Dirceu!”) com um esclarecimento que fortalece a argumentação de Bolsonaro: “José Dirceu foi solto por um indulto da presidente da República”. Por que Bolsonaro não poderia fazer em favor de um inocente o que Dilma fez para libertar um bandido? Tudo somado, Alexandre de Moraes terá de engolir sem engasgos o decreto presidencial. Isso se lhe sobrar algum juízo.
O grande momento do relator do julgamento durou apenas um dia — mas foi um dia e tanto. Já no início da leitura do seu voto, Moraes resolveu reescrever o artigo 53 da Constituição. O texto em vigor desde 1988 comunica que “os deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer opiniões, palavras e votos”. Depende, imagina o campeão da truculência, que acrescentou a ressalva indigente na forma e intragável no conteúdo: “A liberdade de expressão existe para opiniões contraditórias, jocosas, sátiras, opiniões, inclusive errôneas, mas não para opiniões criminosas, imputações criminosas, discurso de ódio, atentado contra o Estado de Direito e democracia”. A colisão com o texto constitucional reduz o argumento a farrapos. O “quaisquer” que precede “opiniões” significa “todas”. Sobretudo, adverte que, nos regimes democráticos, crimes cometidos com palavras não dão cadeia. Desde que não ofendam integrantes do Supremo, teima o relator. Quem faz isso merece cadeia.
O caçula do STF preferiu gaguejar um voto levemente envergonhado e terrivelmente vergonhoso
Kassio Nunes Marques, primeiro dos dois ministros indicados por Bolsonaro, foi o único a discordar — e por isso mesmo só ele sobreviveu sem desonra ao dia mais infame da história do Supremo. Para tanto, bastou-lhe a opção pela verdade. Num voto curto e sem latinórios, apoiado em artigos constitucionais e nos fatos, Nunes Marques provou que Daniel Silveira é inocente e absolveu o réu.
Tal postura tornou ainda mais repulsivo o desvio percorrido por André Mendonça, que também deve o emprego a Bolsonaro. Cem a cada cem brasileiros com mais de 50 neurônios acreditavam que o ex-ministro da Justiça do atual governo recorreria a um pedido de vista para adiar o julgamento e, assim, permitir que Daniel Silveira se reelegesse deputado. O caçula do STF preferiu gaguejar um voto levemente envergonhado e terrivelmente vergonhoso. Os pecados cometidos pelo réu não justificam castigos excessivos, murmurou. Mas são suficientes para obrigá-lo a redimir-se no cárcere.
A conversão de Mendonça entusiasmou os gerentes da Corte. Dias Toffoli (indicado por Lula), por exemplo, desandou no falatório transcrito a seguir sem correções nem retoques: “Entre as grandes virtudes de um homem ou mulher está a coragem. E aqui registro nesse sentido a coragem do ministro André Mendonça. Todos nós sabemos que Sua Excelência sofreu pressão, mas pressão todos nós sofremos. A cadeira e a toga nos dá autonomia para não nos sujeitarmos a ela”. O espancamento do idioma recomenda que o ex-assessor de José Dirceu, duas vezes reprovado no concurso para ingresso na magistratura paulista, seja condenado a frequentar por oito anos e nove meses um curso intensivo de português. Mas o elogio faz sentido: certos atos de covardia exigem mais coragem que demonstrações de bravura em combate protagonizadas por heróis de guerra.
O decano Gilmar Mendes ficou feliz com Mendonça,mas condecorou o relator:“Gostaria de destacar o papel que o ministro Alexandre tem desempenhado nesse contexto tão difícil a partir da relatoria daquilo que chamamos de inquérito das fake news ou atos antidemocráticos”, enrolou-se no improviso. “Isso nada tem a ver com liberdade de expressão e nem está coberta pela imunidade parlamentar, que conhece claros limites”. Ansiosa por agradar ao atual mentor, Cármen Lúcia (indicada por Lula) caprichou no falatório indecifrável: “O relator Alexandre atuou com coragem. A demonstração de coragem que se tem demonstrado, não deixando de afrouxar quando tem de afrouxar, e apertar naquilo que precisa ser cumprido”. Num exame do Enem, não escaparia do zero com louvor. Completaram o elenco os figurantes Ricardo Lewandowski (indicado por Lula), Rosa Weber e Edson Fachin (ambos indicados por Dilma)
No dia 20, nunca pareceram tão confiantes os ministros que sonham com a impugnação da candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro. No dia 21, nunca pareceu tão sideral a distância que separa o Brasil real do bando de advogados que viraram juízes graças ao voto de um presidente da República. O Supremo começou a semana se achando maior que o Planalto. Terminou-a com os hematomas de quem perdeu o duelo na Praça dos Três Poderes. Alguns doutores em tudo certamente pensam em revanche. Fariam um favor ao Brasil, e a si próprios, se tratassem de respeitar a Constituição.
A eleição que virou um duelo entre bolsonarismo e
lulismo
A nova
pesquisa do Ibope mostra que a corrida presidencial mudou de cara. Há uma
semana, cinco candidatos ainda pareciam ter chance de vitória. Agora a disputa
se afunila para um plebiscito entre o bolsonarismo e o lulismo. Jair
Bolsonaro se consolidou na liderança. Ele oscilou positivamente e chegou a 28%
das intenções de voto. Fernando Haddad deu um salto expressivo e aparece com
19%. O petista abriu oito pontos de vantagem para Ciro Gomes, que estacionou em
11%.
Os
números apontam para um duelo final entre Bolsonaro e Haddad. No entanto, as
campanhas passaram a trabalhar com outra hipótese. Com a polarização, o eleitor
pode antecipar a decisão para o primeiro turno. “Acho dificílimo, improvável,
mas não impossível”, diz o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. “Vai
depender do voto útil. Do jeito que a população está chateada, pode haver um
movimento para decidir logo”.
Considerando
apenas os votos válidos, Bolsonaro tem 36% e Haddad tem 24%. Os dois estão em
alta e tendem a crescer mais na reta final. Se ficar claro que um deles será
presidente, eleitores de outros candidatos devem engordá-los com o voto útil. A
taxa de abstenção e a soma de brancos e nulos terão peso decisivo. Bolsonaro
fará o possível para atrair quem topa tudo para evitar a volta do PT. O capitão
tentará recrutar eleitores de Geraldo Alckmin e dos nanicos Alvaro Dias,
Henrique Meirelles e João Amoêdo. O desafio de Haddad é buscar quem se
desiludiu com o PT, mas não deseja entregar o país a um militar que já pregou o
fechamento do Congresso e o fuzilamento de adversários. Ele já começou a
ensaiar uma guinada ao centro. Agora deve se apresentar como a única “opção
contra a barbárie”.
Ciro
ficou espremido em sua tentativa de terceira via. Agora precisa rezar por um
tropeço dos líderes. Salvo uma reviravolta, Alckmin e Marina Silva parecem fora
do jogo. A campanha do tucano tende a se transformar numa crônica diária de
traições, com o centrão se dividindo entre Bolsonaro e Haddad. A da ex-senadora
caminha para um fim melancólico. Em 14 dias, ela perdeu metade dos votos. Quase
todos para o escolhido de Lula.