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quarta-feira, 21 de junho de 2023

CPMI do 8 de Janeiro vira confissão de culpa para governo Lula - O Estado de S. Paulo

Planalto joga cada vez mais na escuridão porque é a única coisa que lhe interessa nessa história

A atitude geral do governo Lula diante da CPMI que investiga os atos de violência do dia 8 de janeiro em Brasília está se tornando uma confissão de culpa.  
Há uma suspeita que só um trabalho sério de investigação poderia afastar a de que o governo permitiu que os ataques fossem feitos, ou até coisa pior, para se fazer de vítima de uma tentativa de “golpe” e, por conta disso, apertar a repressão contra os seus adversários políticos. 
Como tirar essas dúvidas da frente e apresentar a verdade ao público? 
Só há uma maneira: esclarecendo os fatos com honestidade e competência. O governo age de forma exatamente contrária.
O ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques durante depoimento na CPMI do 8 de Janeiro
O ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques durante depoimento na CPMI do 8 de Janeiro Foto: Wilton Júnior/Estadão
Por que essa insistência em ocultar o que realmente aconteceu? 
O governo diz, desde o dia das depredações, que a “direita”, os “bolsonaristas” e as suas vizinhanças estavam tentando derrubar o presidente da República com o seu quebra-quebra; o próprio Lula declarou que está “provado” que houve tentativa de golpe, e queBolsonarocomandou tudo. 
Não há um átomo de prova, e nem de simples lógica, numa afirmação dessas – a começar pelo fato de que jamais houve, em toda a história humana, uma única tentativa de golpe em que os golpistas não tinham nem sequer uma espingarda de atirar em passarinho, mas bandeiras do Brasil e cadeirinhas de praia
Mas Lula é assim mesmo; ninguém espera, de seus discursos irados, nada que tenha algum contato com a verdade. 
Deveria ser diferente com a CPMI. 
Afinal, para quem se apresenta como vítima, não poderia haver uma oportunidade mais óbvia de se apurar os fatos e revelar os culpados
Por que, então, o governo está fazendo tudo para impedir que os fatos sejam apurados? 
O que o público não pode ficar sabendo?
Os deputados e senadores do governo que estão na CPMI tentaram impedir, por exemplo, o depoimento do general G. Dias, íntimo de Lula, responsável pela segurança dos locais naquele dia e indispensável para se saber o que aconteceu de fato. 
Ele estava dentro do Congresso durante as depredações – quem melhor para ser ouvido? Ou: como investigar com seriedade alguma coisa se um dos principais envolvidos não pode falar?  
Mas os parlamentares governistas proibiram a convocação do general; acham que vai ser ruim se ele for interrogado em público. Proibiram, também, a convocação do ministro da Justiça, que como o general e dezenas de outras pessoas do governo, foi informado previamente das violências, mas não fez nada para impedir, nem ele e nem os demais; o ministro, inclusive, viu tudo da janela do seu escritório. Por que ele não pode falar?  
O governo, cada vez mais, joga na escuridão – é a única coisa que lhe interessa nessa história.
 
J. R.Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Amazônia - Autopromoção do governo causa caos na terra yanomami - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

Os corpos de oito garimpeiros foram encontrados na região yanomami. 
Foi morto um agente de saúde de etnia indígena, num confronto com garimpeiros; há dois feridos que, segundo a informação oficial, estavam perseguindo uma canoa de garimpeiros que estavam em fuga e revidaram com tiros de espingarda. Agora aparecem garimpeiros mortos, jogados na água, inclusive a flechadas.  
Houve também mais quatro garimpeiros mortos em confronto com a Polícia Federal. Quem fez isso, o que está acontecendo por lá?
 
Vou usar a informação oficial: destruíram os acampamentos dos garimpeiros, uma destruição muito grande, de 327 acampamentos. Depois, impediram que os garimpeiros saíssem de lá: destruíram 18 aviões, dois helicópteros, centenas de motores, bombas, barcos, escavadeiras. Seriam 20 mil garimpeiros sem chance de sair. 
Os garimpeiros alegam que os indígenas também estão passando fome e atacam os garimpeiros por causa de comida, já amarraram garimpeiros.
 
Está havendo um confronto lá dentro. Quem é o responsável por isso? Muitas vezes há uma espécie de união: índio se torna garimpeiro, índio é sócio de garimpeiro, explorando na própria reserva, isso acontece em toda a Amazônia. 
Mas parece que o governo quis se promover, fazer publicidade, e estão aí as consequências: mortes. Não houve uma logística de retirada dos garimpeiros, e temos de pensar a respeito. [considerando que esse DESgoverno não tem nenhum plano de governo - exceto o de acabar com os DIREITOS CONSTITUCIONAIS dos brasileiros e apresentar mortes como algum tipo de satisfação aos que fizeram o L e agora estão arrependidos, é perfeitamente normal que monte circos para exibir feitos. 
Qual a necessidade de viajar um trio de ministros - inúteis em Brasilia e também na terra ianomani - para contar mortos? Uma das ministras, a da Saúde, enquanto se exibe nas viagens desnecessárias,  defende o aborto = assassinato de seres humanos inocentes e indefesos.]

Censores preveem derrota no Congresso e querem apelar ao STF

Depois que os governistas que queriam censurar as redes sociais perceberam que não teriam voto para isso e adiaram a votação, estão falando agora em resolver o impasse recorrendo ao Supremo.                Mas não existe impasse; existiria se fosse algo que tivesse de ser solucionado imediatamente.  
]Mas não foi o povo que inventou esse projeto; ele é obviamente apoiado pelo tradicional monopólio da informação, que não quer que o povo tenha voz, quer continuar dominando o povo; e apoiado pela ideologia que quer que o Estado domine a opinião pública, e que a opinião pública não seja dominada pelo público. 
Só para eles há impasse; para o povo brasileiro, não.
 
Além disso, Supremo não é órgão legislativo, não tem a procuração para fazer leis dada pelo voto popular a deputados e senadores, muito menos para mexer em assuntos que a Constituição (da qual o Supremo é o guardião) já baniu em 1988
Está lá escrito, no artigo 220, parágrafo 2.º: “É vedado todo e qualquer tipo de censura”
Então, esse é assunto que nem sequer se possa discutir, porque está banido pela Constituição.
 
Supremo agora adota o julgamento no atacado
Falando em Supremo, temos agora julgamentos por lote, julgamentos coletivos. 
Foram 100, depois 200 de uma vez só, agora está julgando 250. Julgamento por atacado, coisa que já vimos na parte mais triste da história da humanidade. 
Só os ministros André Mendonça e Nunes Marques têm divergido; todos os outros estão confirmando as denúncias, uma parte como “executores” e outra parte como “incitadores” de uma tomada violenta do poder que não aconteceu, e nem aconteceria. 
Ficaram todos lá se olhando, coisa que a CPI mista vai esclarecer, ouvindo todos os personagens desse 8 de janeiro. 
O interessante é que este nem sequer é um julgamento presencial, é via digital, é pelo voto eletrônico, que converte em réus um grupo de 250 pessoas de uma vez só, sem aquela personalização do réu, como aconteceu, por exemplo, no julgamento de Nuremberg.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 10 de maio de 2020

Luvas de pelica - Merval Pereira

O Globo

Congresso e STF dão tapa com luvas de pelica em Bolsonaro
Churrasco era amoral

[ontem, sábado, 9 de maio, a TV Globo de Brasília, exibiu no DF-TV, matéria do dia 8, sexta-feira, na qual mostrava claramente o presidente Bolsonaro falando para um apoiador: 'não vai haver churrasco'. Frase que deixou claro não ser intenção do presidente realizar nenhuma comemoração.

Assim, o presidente da República apenas jogou uma isca para o MBL - que se apressou e ingressou na Justiça com ação para impedir o presidente de realizar o churrasco.]

 A decretação pelo Congresso e Supremo Tribunal Federal de luto oficial por três dias por termos atingido a fatídica marca de mais de 10 mil mortos devido à Covid-19 é o segundo tapa com luva de pelica que o presidente Bolsonaro recebe esta semana. Enquanto isso, ele andava de jet ski no Lago Paranoá.

O primeiro desferiu o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, que se portou com altivez diante da afronta que o presidente fez ao praticamente invadir a sede do STF para pressioná-lo pelo fim do isolamento, justamente no dia em que o país registrava mais de 700 mortes por dia e chegava ao número macabro de 10 mil mortos, indiferentes para o presidente. 

Toffoli salientou o bem que o isolamento social tinha trazido ao país, reduzindo o número de mortes, e sugeriu com enorme presença de espírito que o governo coordenasse uma ação conjunta de diversos ministérios para traçar planos de combate à Covid-19 juntamente com Estados e Municípios que, pela Constituição, são os responsáveis pelas ações regionais. [Fica difícil para o Governo Federal coordenar estados e municípios na elaboração de táticas de combate à Covid-19, quanto decisão recente do STF concede autonomia àqueles entes federativos.
Doria, Witzel, Caiado e outros vão oferecer dificuldades na implantação de qualquer medida apresentada pelo Governo Central.] 

Bolsonaro, como sempre, fez aquela exibição para tirar de seu colo os mortos que seu egocentrismo provocou. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e o do Senado, Davi Alcolumbre, fizeram o que os que dirigem o país sem olhar apenas seus umbigos devem fazer em momentos de comoção nacional. Nada mais do que prestar solidariedade à família dos mortos, em vez de programar churrasco que, se realizado, seria mais afrontoso ainda por usar um imóvel do Estado brasileiro para uma confraternização aviltante. [mais rápido do que decretar luto oficial no âmbito das instituições que presidem, foi o presidente do Senado para ingressar na Justiça contra o uso da grana dos Fundos Eleitoral e Partidário em ações de combate à Covid-19.] 

O presidente acha que o povo que deveria presidir é composto de imbecis, pois desmente até mesmo o que os vídeos com suas falas atestam. Dizer que o churrasco era uma fake news de “jornalistas idiotas” é típico de uma pessoa com comportamento antissocial e amoral, incapaz de aprender com as próprias experiências. Ele não realizou o churrasco porque foi obrigado a cancelá-lo devido à péssima repercussão de mais esse gesto amoral de indiferença diante da morte de brasileiros que, infelizmente e muito por causa dele, está longe do fim. Até mesmo porque o presidente da República se esmera em dar exemplos cotidianos que incentivam o não cumprimento das medidas de proteção recomendadas pelas autoridades médicas do Brasil e do mundo. 

Com isso, dá margem a que aliados seus como o pastor Valdomiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, venda por mil reais sementes de feijão supostamente milagrosos contra a Covid-19. [a ação de vender produtos supostamente milagrosos,  configura o crime de estelionato, cabendo prisão em flagrante do estelionatário, ação que é de competência das polícias estaduais (militar ou civil).
Caso o estelionatário não tenha sido preso, cabe ao governador do Estado ver junto ao seu secretário de Segurança as razões da omissão policial.] Mais ou menos o que Bolsonaro fez irresponsavelmente durante semanas seguidas ao receitar a cloroquina como a solução para os pacientes da pandemia, que se demonstrou inócuo em testes científicos. 

Não há um governante sério no mundo que assuma posição tão absurda quanto Bolsonaro. Iguala-se a ele o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que prescreve vodka e sauna para combater a Covid-19, enquanto exige que todos trabalhem normalmente. 
Mas Lukashenko é um ditador há 26 anos à frente da presidência da Bielorrússia, e Bolsonaro é um aspirante a ditador num país em que as instituições democráticas vão resistindo às suas investidas cada vez mais frequentes. 

A sorte dos democratas, que são a maioria da população, é que Bolsonaro e seus seguidores mais fanáticos cometem tantos erros que eles mesmos vão criando obstáculos em seu caminho insensato. Nossa situação é tão dramaticamente ridícula que vizinhos como o Paraguai, Uruguai e Argentina fecham-nos suas fronteiras para evitar o contágio. 
No meio médico internacional já somos classificados como o país que mais fica a dever no combate à Covid-19, e estamos atingindo recordes trágicos de mortes, com uma previsão de superarmos até os Estados Unidos em número de mortos este ano. 

Ao mesmo tempo em que nossa imagem como país vai ladeira abaixo, Bolsonaro volta-se para fazer acordos ilegítimos que tentam salvar seu pescoço. Os manifestantes, bizarros mas perigosos, que mais uma vez aviltaram o Congresso e o Supremo na Praça dos Três Poderes, e o notório Roberto Jefferson bancando o xerife com uma espingarda em punho, defendendo o fechamento do Supremo e o controle de empresas jornalísticas, é o fim que Bolsonaro merece. Sua tábua de salvação é o lumpesinato e o baixo clero do Congresso, onde ele e seus filhos sempre chafurdaram. 
Talvez as luvas de pelica sejam insuficientes para contê-los.

Merval Pereira, jornalista - O Globo





segunda-feira, 13 de maio de 2019

Os vencedores levam TUDO e Eu estou devolvendo meu revólver

Os vencedores levam tudo

Governos passados nos tiraram a esperança e alguns bilhões de dólares. Bolsonaro ameaça tirar pedaços vivos do Brasil

Mas que briga é aquela que tem acolá? É o filho do homem com o seu general. Não pretendo analisar uma luta interna no governo, cheia de insultos escatológicos. 

Pergunto apenas se vale a pena tantos militares no governo, com ataques permanentes contra eles e uma certa ambivalência de Bolsonaro. Se a ideia é apanhar pelo Brasil, talvez não seja a melhor aposta. O risco de desgaste das Forças Armadas é grande. E os resultados até agora, desanimadores.  Os termos que certos setores do bolsonarismo colocam são, na verdade, uma armadilha. Não respondê-los significa um silêncio constrangedor para quem participa do mesmo projeto de governo. Respondê-los é cair numa discussão de baixo nível, um filme onde todos morrem no final.

A única experiência que tive com Olavo de Carvalho foi um trecho de seu livro O Imbecil Coletivo. Nele, Olavo diz que não tenho competência nem para ser sargento do Exército de Uganda ou do Zimbábue, não me lembro.  Foi há muito tempo. Minha reação foi esperar que o Exército de Uganda, ou o do Zimbábue, protestasse. Como não disseram nada, também fiquei na minha. [de nossa parte nunca decidimos perder tempo lendo qualquer coisa do aiatolá de Virginia; 
depois do seu estúpido festival de insultos escatológicos, decidimos 'decididamente', pela prática do já gasto: não li e não gostei.]
 
Todo esse vespeiro no governo Bolsonaro é também resultado da fragilidade da oposição. Mas, observando as consequências, percebo que o Congresso vai preenchendo o vazio de poder não para oferecer uma alternativa mais sensata à sociedade, mas para garantir um retrocesso no aparato de controle da corrupção. Um dos pilares da Lava-Jato é a integração das instituições. O Congresso quer impedir que a Receita Federal e o Ministério Público compartilhem informações. Numa comissão da Câmara, tiraram o Coaf das mãos de Moro, um outro desmanche dos pressupostos da Operação Lava-Jato.

E não é só o Parlamento. O STF sente-se mais tranquilo para blindar os deputados estaduais, que só podem ser presos com autorização das Assembleias. Algo que sabemos muito improvável. Outro passo: autorizar anistia para crimes de colarinho branco, validando o decreto de Temer. [aqui pedimos vênia para discordar do ilustre escriba: 
O STF apenas confirmou que o presidente da República pode exercer atribuições que a Constituição Federal, estabelece como sendo privativas do chefe do Poder Executivo Federal.
Se a Constituição não limitou tais poderes, eles não podem ser revogados, exceto por 'emenda constitucional'.] 
 
Bolsonaro se apresentou com a bandeira anticorrupção. No entanto, no mundo real, há vários indícios de retrocesso. Não houve competência nem para evitá-los, quanto mais avançar numa agenda que interessou a milhões de eleitores. Os tropeços de Bolsonaro e dos seus ardentes defensores abrem um espaço de poder, até agora percorrido pelo Congresso com seus objetivos claros.  Enquanto isso, ele se diverte dando tiros de retórica. Ele prometeu que vai fazer de Angra dos Reis uma Cancún brasileira. São ideias de quem está no mar e pisou pouco em terra firme, nos morros e favelas de Angra.

Esta semana, houve tiroteio, dias depois da passagem do governador Wilson Witzel. Ele foi a Angra num helicóptero e disse: “Vou acabar com a bandidagem”. Deu uns tiros, inclusive em tendas de oração, felizmente desertas, hospedou-se num hotel de luxo e voltou para o Rio. Outra fixação de Bolsonaro é acabar com a Estação Ecológica de Tamoios, próxima ao lugar onde foi multado por pesca. Estação ecológica é de acesso limitado aos cientistas porque é uma permanente fonte de pesquisa.

No passado, critiquei publicamente o senador Ney Suassuna, que comprou um barraco de um posseiro dentro da Estação de Tamoios e nela queria construir sua mansão. Uma década depois, a ideia do senador acaba se impondo sobre a minha. Cancún implica construir muitas , e mandar para o espaço nossa riqueza biológica concentrada ali naquela unidade de conservação.  A política de meio ambiente de Bolsonaro parte da negação do aquecimento global, e em todas as áreas ambientais tem dado sinais negativos. O consolo é que há mais gente lutando para proteger seu território. No entanto, certos danos podem ser irreversíveis. O licenciamento de agrotóxicos é o mais liberal da história, num momento em que o mundo se preocupa não apenas com a saúde humana, mas também com o desaparecimento das abelhas, dos insetos e das borboletas.

O processo vai ser acentuado também no Brasil. E, sem abelhas, como é que vão polinizar nossas plantas? Dando tiros de espingarda? Se apenas brigassem entre si, os bolsonaristas provocariam menos danos que a briga permanente do governo contra a natureza.
Governos passados nos levaram a esperança e alguns bilhões de dólares. Bolsonaro ameaça levar pedaços vivos do Brasil.

Fernando Gabeira (publicado no Blog do Gabeira)
Eu estou devolvendo meu revólver

Eu estou oferecendo de bel grado, a quem quiser e estiver com o dedo coçando, a arma que o decreto presidencial me outorgou como sendo de direito e tiroteio. Matem-se a gosto com a minha Taurus. Teçam à queima roupa suas considerações finais sobre como vai a humanidade e como é vil o vizinho da cobertura – tudo agora com o beneplácito cidadão do cano quente oferecido pela legalidade bolsonara. Metam bronca uns nos outros. A justiça, sempre tão cágada, terá agora a urgência necessária.

Peço apenas que o futuro portador de minha Glock, por gratidão a este que ora lhe faz tamanho bem, não atire de imediato no jornalista. Breve, uma vírgula mal colocada, uma opinião pelo avesso, e este aqui fará por merecer o arrebite corregedor. Por enquanto, me deixe acabar o texto. Guarde-se para mais adiante o inevitável estampido da justiça Magnum.  A nova lei privilegia jornalistas da cobertura policial, o que, admito, não é inicialmente o meu caso. Sou um anotador de irrelevâncias, especialista no que antiga seção da Veja – e eu era repórter exclusivo dela – chamava “Vida Moderna”. Faz tempo. Acabaram com a editoria. Vida moderna no Rio se limita aos novos armamentos com mira telescópica que chegaram ontem ao porto, malocados num contêiner.

Toda cobertura jornalística no Rio tem viatura de luzes vermelhas piscando e policial esculachando geral. Matava-se de amor no Largo do Estácio. Hoje, na área de Cultura, acabaram de prender na Penha, sob suspeita de tráfico, o DJ do Baile da Gaiola, o mais interessante acontecimento musical da cidade. A polícia também esteve na editoria de gastronomia e, pelo crime de notas frias para ajudar a corrupção do governador, levou o chef do japonês do Leblon.

Por isso, transformado em repórter policial pelas evidências da cena carioca, eu me enquadraria na ordem bolsonara de portar uma Smith&Wesson 9mm. Poderia cumprir pautas com segurança. O coldre ostensivo sobre a barra da calça jeans talvez me fizesse soar mais convincente diante da fonte que, a princípio , balbuciasse o clichê do nada a declarar. Neste faroeste caboclo, bastaria rodar o tambor da Beretta e o lead viria já na primeira pergunta.

Fiz entrevistas com Bezerra da Silva no Cantagalo e numa delas o sambandido me cantou em primeira mão um samba da pesada: “Você com um revólver na mão é bicho feroz/ Sem ele anda rebolando e até perde a voz”. Eu agradeço o esforço bolsonariano de permitir  ao repórter policial mirar no exemplo do supremo mandatário e, se assim lhe aprouver, matar dentro da lei – mas melhor não. Jornalistas portam perguntas, puxam gatilhos de dúvidas, ricocheteiam ideias, fazem saraivada de investigações e, armados de persuasão, disparam críticas. Nada que deixe cheiro de pólvora na mão. A propósito, aos que quiserem se atirar no novo bang-bang civilizatório, eu ofereço as cinco mil munições do calibre mais arrombador, outra gentileza decretada como salvaguarda e manutenção da paz. Metam-se bala sem parcimônia. Tô fora.

Jornalista no faroeste brasileiro quer apenas o direito de poder chegar no meio do saloon e repetir o forasteiro que Clint Eastwood interpretou em “O estranho sem nome”. Depois de constatar o estado lamentável do estabelecimento, a desordem geral da espelunca, Clint Eastwood se fez curto e grosso: “Está na hora deste lugar mudar de xerife”.

Joaquim Ferreira dos Santos - O Globo
 

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O jardim das aflições



Patrulha de cineastas de esquerda boicota filme “de direita” em festival, em guerra de patotas 

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. Boicotam um filme no Festival de Cinema de Pernambuco. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam o cineasta maldito, matam o contraditório, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho na sala escura, rouba o projetor e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada.

É uma paródia do poema “No caminho com Maiakóvski” (1968), de Eduardo Alves da Costa. Ajuda a ilustrar a pataquada de diretores de sete filmes que retiraram seus curtas do festival. Começaria no dia 23 de maio para celebrar 21 anos de vida. O motivo maior do boicote foi um documentário de 81 minutos, O jardim das aflições, sobre o filósofo de direita Olavo de Carvalho. Os revoltados afirmaram, em nota, que a escolha “favorece um discurso partidário alinhado a grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016”. O festival foi adiado por causa da debandada. A seleção era de nove filmes. Não seria isso o que se chama diversidade?

“Não é possível ter debate, só entre esquerdistas”, me disse o diretor Josias Teófilo. Ele revelou que sua vida ficou “insustentável” em Brasília depois de resolver filmar Olavo de Carvalho. “Grandes festivais disseram que eu não era bem-vindo e que nunca mais eu conseguiria dirigir nada. Esse documentário foi feito com crowdfunding porque seria impossível tentar a Lei Rouanet. Vivemos a tirania da coletividade sobre o indivíduo. Quem está fora desse establishment de esquerda só encontra má vontade no campo do cinema.”

A patrulha, de esquerda ou de direita, não é só burra, primária e insuportável. É perigosa. Favorece o obscurantismo, a ignorância. Na chamada esquerda brasileira, há grupos numerosos, especialmente no PT, que fazem distinção entre “a censura do bem” e a “censura do mal”. “As ditaduras do bem”, como Cuba e Venezuela, e “as do mal”, de direita. É de uma insensatez frenética e fanática a forma como tantos intelectuais relativizam prisões, torturas, arbitrariedades, corrupção, censura, preconceito sexual, força do Estado... desde que o regime seja de esquerda.

Esses cineastas que boicotaram o Festival de Pernambuco conseguem ser piores que Mao e Hitler, que assistiam aos filmes antes de censurar. Leonid Brejnev proibiu um filme de Tarkovski, mas assistiu antes. Esse grupo aí não viu e não gostou”, disse o diretor Josias Teófilo. “O jardim das aflições é muito mais metafísico que político. Fala de Aristóteles e Platão. O documentário traz uma mensagem a favor da individualidade. Discorre sobre a morte. Não tem motivo esse desespero todo. Mandei mensagens simpáticas aos colegas revoltados, agradecendo pela divulgação. Eu não podia pagar assessoria de imprensa.”

Olavo de Carvalho tem 70 anos, vive hoje em Petersburg, uma cidade americana de 30 mil habitantes com 80% deles negros. Dá curso on-line de filosofia para 3 mil alunos. É apontado como um dos mentores do conservador Movimento Brasil Livre (MBL), embora recuse esse título e critique “a direita emergente”. É fervoroso opositor do PT e de Dilma. E crítico do governo Temer, que considera ilegítimo. “Como vice, Temer não tem rabo preso, ele é um rabo preso”, disse ao repórter João Fellet, da BBC Brasil, em sua casa.

Militou no Partido Comunista durante a ditadura, foi amigo de José Dirceu, escondeu armas. Já se envolveu com esoterismo e astrologia. Mas se aproximou da Igreja Católica. Hoje, reza antes de dormir. Mantém uma espingarda sobre a cama para defesa pessoal e tem 30 rifles de caça. Olavo de Carvalho é um provocador, um polemista, a favor da “democracia plebiscitária”.

Uma das diretoras que se retiraram da mostra em Pernambuco, Gabi Saegesser, do curta Iluminadas, disse que “O jardim das aflições vai contra qualquer possibilidade de diálogo”, ao falar sobre “um dos maiores representantes do conservadorismo de direita”. Para a cineasta, a presença do título na programação “é como se o festival desrespeitasse a visão política e social de outros filmes”. Não é só Olavo o alvo do boicote. Há outro filme, o longa de Rodrigo Bittencourt sobre as origens do Plano Real. Entre os diretores rebelados, estão Savio Leite, Cíntia Domit Bittar, Eva Randolph, Leo Tabosa.

Na arte, como na política e na vida, o Brasil passa por um momento delicado de torcidas e patotas que urram a favor e contra, distorcem a realidade e tentam calar o outro com discurso de ódio ou de vitimização. Tapar os ouvidos e os olhos a quem discorda de você é um atestado de fraqueza e autoritarismo. Você pode ou não acreditar que Lula não tem nenhuma influência sobre o PT. A cabeça é sua ainda. A aflição também.

 Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época