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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Sem chance - Nas entrelinhas

Tanto o Congresso quanto o Supremo, ao contrário do que o presidente da República se queixa, colaboram com o governo no enfrentamento da crise”

No rumo em que vai, o governo Bolsonaro não tem chance de dar certo, isso não significa que o impeachment do presidente da República venha a ocorrer. O problema é que as variáveis de sucesso conspiram para que as coisas deem errado. A primeira delas é o conceito de governo. Bolsonaro fez uma opção por um governo de colisão com os demais poderes e esferas de poder, anda às turras com o Congresso e o Supremo, os governadores e os prefeitos. No lugar do presidencialismo de coalizão, optou por uma estratégia de centralização de poder e confronto. Montou um time de militares para operar a administração, mas não deixa que os generais do Palácio do Planalto façam uma política de conciliação à la Duque de Caxias. Seu estilo está mais para Gastão de Orléans, o Conde d’Eu.
[pergunta que não quer calar:
- qual governo consegue dar certo sofrendo oposição sistemática do Congresso Nacional e interferência constante do Poder Judiciário, do primeiro grau ao Supremo Tribunal Federal?
Ex. 1 - Quando o Congresso Nacional aprova alguma lei com aparência de pró combate aos efeitos nefastos da pandemia, traz um ônus pesado para a União Federal, com riscos de trazer de volta a hiperinflação (cheque em branco para governadores e prefeitos compensarem prejuízos da decorrentes da pandemia = sendo notório que governadores e prefeitos, com raríssimas exceções, se destacam por gastar muito e gastar mal.)]
Ex. 2 - O Poder Judiciário interfere nos assuntos do Executivo, interferência que vai de decisão de juiz federal de primeiro grau ( proibindo inclusão de palavras em ordem do dia do Ministério da Defesa, suspensa pelo ministro Dias Toffoli )- à suspensão,  via decisão monocrática de ministro do STF, de nomeação para cargo do Poder Executivo.] 

Governança e governabilidade caminham de mãos dadas, Bolsonaro cria instabilidade política permanentemente, força os limites do regime democrático. A segunda variável de sucesso seria um método adequado de governança. Aparentemente, é um assunto com o qual não se preocupa. Confronta permanentemente a elite do serviço público, desestabiliza até as atividades-fins, como aconteceu com a Saúde, num momento decisivo para achatamento da curva da epidemia de coronavírus. Se tivesse colado no então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, estaria usufruindo dos mesmos índices de popularidade que o auxiliar ostentava, mas errou feio. E continua errando, embora aparentemente tenha caído a ficha para o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, de que, neste momento, é loucura relaxar a política de isolamento social.

No mesmo caso se enquadra a ruptura com o ex-ministro Sergio Moro, que saiu do governo acusando o presidente da República de interferências indevidas na Polícia Federal. [revelando conversas  com o presidente da República, com deputada que além de amiga teve o ex-ministro como padrinho de casamento.
Vale registrar que o educado ex-ministro teve o cuidado de apagar outras conversas do seu celular,sabendo que o mesmo seria periciado pela PF.] O depoimento de Moro no inquérito que investiga o caso, divulgado ontem, frustrou a oposição, que esperava denúncias mais contundentes do que aquelas que já havia feito. O problema de Moro é que a maioria de suas afirmações depende de confirmação do estado-maior do governo. Embora todo ocupante de cargo público tenha compromisso com a verdade, nada garante que os generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil), ao interpretar os fatos, corroborem as acusações de Moro; resta saber o que dirão os delegados da Polícia Federal (PF) Ricardo Saad, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, Alexandre Saraiva, Rodrigo Teixeira, Maurício Valeixo e Alexandre Ramagem.

Moro não conta com a solidariedade política do Ministério Público Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF), que vão investigar o caso numa linha de ponderação e equilíbrio. Não pretendem ser protagonistas, no momento atual, de uma crise institucional. No depoimento de Moro, além das acusações contra Bolsonaro, também há contradições e lacunas que podem ser usadas contra o ex-juiz. Apesar de contar com grande prestígio na opinião pública, Moro agora enfrenta uma guerra nas redes sociais, para a qual não estava preparado. Continua sendo um nome fortíssimo para a disputa da Presidência em 2022, mas terá de atravessar o deserto sem camelo, se digladiando com os inimigos declarados e ocultos que amealhou ao longo de sua atuação, inclusive nos tribunais. O caso Moro, porém, tira de Bolsonaro a bandeira da ética.

Novo cenário
A terceira variável do sucesso é a construção de um ambiente favorável para o governo. Impossível isso ocorrer a curto prazo. No plano mais objetivo, a pandemia de coronavírus e a recessão mundial modificaram completamente as circunstâncias nas quais Bolsonaro governa. Um governante que chegou ao poder mais pela sorte do que pelas virtudes tem grandes dificuldades de lidar com mudanças de envergadura. É o caso de Bolsonaro. Aves podem fazer coisas como mergulhar e falar, mas não pode dar leite. É assim que a economia funciona. No cenário de desestruturação das atividades econômicas por causa da epidemia, a política econômica ultraliberal do ministro Paulo Guedes foi para o espaço; não pode ser implementada sem um custo social muito alto no imediato pós-epidemia. Essa é uma contradição com a qual Bolsonaro não contava. No mundo inteiro, se discute o que será o “novo normal” na vida social e econômica. Não é possível, simplesmente, voltar ao que se fazia antes, como imagina.


O ambiente político também mudou muito, embora o governo venha fazendo um esforço para aumentar seu cacife no Congresso. A aproximação de Bolsonaro com os partidos do chamado Centrão blindará o governo diante das tentativas de impeachment da oposição, mas isso não melhora seu desempenho administrativo, que deixa muito a desejar, nem garante a hegemonia no Congresso, além de afastar setores da opinião pública identificados com Moro. Além disso, o estresse institucional criado por Bolsonaro atrapalha as negociações políticas. Tanto o Congresso quanto o Supremo, ao contrário do que o presidente da República se queixa, vêm atuando no sentido de colaborar com o governo no enfrentamento da crise provocada pela pandemia. Nesse aspecto, deveria até agradecer, em vez de tanto reclamar.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


terça-feira, 6 de agosto de 2019

“Governadores do Nordeste querem a divisão do País”, afirma Bolsonaro na Bahia - Entrevista com o presidente

O Estado de S. Paulo

Presidente concede entrevista ao "Estado" durante visita à Bahia e mantém tom de confronto com governadores da região

 

O presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista exclusiva ao Estado que, em seu entendimento, governadores do Nordeste agem para “dividir o País”, enquanto ele trabalharia para unir. Bolsonaro deu uma carona para a reportagem enquanto se deslocava em Sobradinho, na Bahia, na sua segunda viagem ao Estado em menos de um mês após controvérsia com políticos da região, quando, em um áudio captado pela TV Brasil, Bolsonaro disse que o governo federal não devia dar “nada” para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Ele nega que na ocasião tenha usado o termo “paraíba” de forma pejorativa.

Sobre as polêmicas causadas por declarações recentes, o presidente disse que tenta ser um pouco mais polido, mas que o seu estilo é o mesmo da época da campanha. Aos que o criticam, afirmou: “Paciência. Já sabiam que eu era assim. A gente procura se polir um pouco mais, mas acontece”. 

Leia os principais trechos da entrevista:
O sr. fez nesta segunda-feira, 5, um discurso inflamado dizendo que o Brasil não pode se dividir. Pode explicar melhor?
O PT lançou a divisão entre nós. E nós temos de nos unir. Agora mesmo estão tendo indícios de que, se não todos, a maioria dos nove governadores do Nordeste quer começar a implementar a divisão do Nordeste contra o resto do Brasil.


(...)

Boa parte do seu eleitorado diz que gosta do chamado “Bolsonaro raiz”. O sr. está voltando a ser “Bolsonaro raiz” depois das eleições de outubro?

Não há diferença do que eu pensava na campanha e do que eu penso agora. Eu quero implementar o que eu falei em campanha. Pela primeira vez na história do Brasil um presidente está buscando honrar aquilo que prometeu durante a campanha. Agora, palavrão sai de vez em quando, isso é natural, pô. Agora, alguns falam que isso não é linguajar para um presidente. Paciência. Já sabiam que eu era assim. A gente procura se polir um pouco mais, mas acontece. Mas isso não vai me aborrecer, essas conotações que dão, quando a gente fala um pouco mais com o coração do que com razão.


(...)
Como o sr. avalia as críticas em relação ao seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, ser embaixador nos Estados Unidos?
Num primeiro momento, por ser filho meu, foi bombardeado. O (Donald) Trump mesmo, semana passada, falou que acompanha meu trabalho, me chamou de “Trump dos Trópicos”. E citou meu filho Eduardo Bolsonaro como uma pessoa que ele conhece. E quer melhor referência do que essa? Impossível? Agora, obviamente (a indicação) passa pelo Senado, por comissão no Senado.


Com relação à Amazônia, o sr. acha que existe interesse estrangeiro por trás dos dados que mostram aumento de 40% no desmatamento da região?
Tinham interesse por essa área antes mesmo de o Brasil ser descoberto. E aí, é uma loucura minha? 1492. Descobriram a América. O que aconteceu em 1494, dois anos depois? Tratado de Tordesilhas. 1500, descobriram o Brasil. Por coincidência ou não, essa área não seria nossa. O espírito aventureiro do brasileiro, do português, é que fez com que esse tratado não fosse respeitado e fosse revogado. Então, a conquista vem daí. Agora, (a Amazônia) é a área mais rica do mundo. Está sentado à sua esquerda aqui a pessoa que já comandou o Comando Militar da Amazônia e conhece muito bem, melhor do que eu (aponta para o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno Ribeiro). É a área mais rica do mundo, sem comentários. São incalculáveis as riquezas minerais que têm por ali, a biodiversidade.


(...)

O sr. faz críticas à imprensa, mas ao mesmo tempo tem atendido jornalistas com frequência. Como está essa relação?
Uma coisa é você que está na ponta da linha, o cara que opera uma câmera. A outra é lá em cima, o editor e o dono do jornal. Eu gostaria que o que eu vou falar aqui não fosse verdade, e essas palavras aqui não são minhas, mas eu assino embaixo: “Quem não lê jornal, não está informado. Quem lê, está desinformado”. Eu queria que essa máxima deixasse de existir. (Nesse momento, o presidente abre sites de notícias no celular e passa a comentar notícias.)


E a relação do sr. com os demais Poderes da República?
Toffoli (ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal), por exemplo, como ele está sob ataques, o pessoal (da imprensa) quer dizer que eu seria um Toffoli do Executivo. O que eu penso do Toffoli: ele é o chefe do Poder Judiciário. E tem de ter respeito e consideração por parte do chefe do Executivo. E vou tratá-lo com todo respeito e consideração, não interessa o que seja discutido lá dentro do Supremo. O que porventura eu não goste, sou obrigado democraticamente a aceitar. E ponto final.


Sobre a sucessão na Procuradoria-Geral da República, o senhor vem sendo muito sondado?
Têm ministros e autoridades de vários Poderes (sondando). Essa decisão passa pela minha caneta Bic, pô. E é uma função que a responsabilidade vai ser minha. O que eu quero do futuro chefe da Procuradoria-Geral da República? Que queira ajudar o Brasil com suas ações. Não um cara que fique lá só preocupado de forma xiita com questão ambiental ou de minoria. Quero uma pessoa que vá ao Parlamento e converse comigo, converse contigo da imprensa e ajude a tirar o Brasil dessa situação.


(...)

Como o senhor se informa todos os dias? Recebe muitas coisas dos ministros?
Olha, eu tenho uma rede de “zap” (WhatsApp) que você está vendo aqui, olha (mostra o telefone). No momento eu tenho 64 pessoas para responder. Logicamente que não dá para atender a todo mundo. Mas, de acordo com o grau de amizade e de responsabilidade e confiança, a gente prioriza as pessoas para ouvir e que tenha notícias por aqui. Eu não preciso procurar o site O Estado de S. Paulo, por exemplo, para saber se tem uma boa ou má notícia lá. Alguém vai passar para mim.


Mas o senhor acessa diretamente os sites também?
Sim, inclusive O Estado de S. Paulo está entre os meus prioritários aqui (abre no celular no site do ‘Estado’ e comenta as notícias do dia). É só botar o “E” e já vem (o endereço do site) O Estado de S. Paulo aqui, ó (mostra o buscador no aplicativo do celular. Na sequência, relembra que colaborou com o ‘Estado’ quando era adolescente. Bolsonaro teve 21 palavras cruzadas de sua autoria publicadas no jornal entre 1971 e 1976. O presidente também trabalhou como entregador de jornal).


No caso dos hackers e do vazamento de mensagens de procuradores, o sr. saiu em defesa do ministro Sérgio Moro. Por quê?
É fazer justiça, não é proteção. Quer ver uma coisa, é um crime invadir o celular dos outros. Assim com é um crime roubar um carro. Agora, se alguém rouba um carro e vende o carro, quem recebe está praticando crime de receptação. Eu entendo da mesma maneira. Quem recebe algo que foi recebido de forma criminosa, como os dados dos telefones, está praticando receptação também, mais nada.


Quanto ao acordo da União Europeia com o Mercosul, o senhor acredita ser a maior conquista do seu governo até aqui?
Olha, está há 20 anos no papel, não é? O governo (Michel) Temer deu um passo muito bom nesse sentido. E nós simplesmente fechamos. Tinha pequenos acertos para serem feitos, como a questão do vinho, a questão do leite. E nós conversamos com os vinicultores, com o pessoal produtor de leite também. Foi feito um acordo entre nós, como reduzir imposto por parte deles para não perder competitividade. E esse acordo abre espaço enorme para o comércio com a Europa. Os países do Mercosul e Europa têm um mercado de quase 800 milhões de pessoas. Um mercado consumidor enorme. E temos aí 25% do PIB pela frente. Tanto é que o Japão e a Coreia do Sul vão acelerar o acordo conosco. O Donald Trump (presidente dos Estados Unidos) quer conversar e já está conversando conosco nesse sentido. Então, o Brasil ganha.


Entrevista - O Estado de S. Paulo

 

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Rodrigo Maia não vai conseguir demolir o governo do nosso presidente Bolsonaro - vai ter que nos engolir também em 2022

Tiros no pé

“Maia procura limpar o terreno para aprovar a agenda econômica que pode facilitar a retomada do crescimento, mas Guedes retroalimenta o confronto do governo com o Congresso”
É incrível a capacidade de o governo dar tiros no próprio pé, às vezes, em questões vitais para seu próprio sucesso. Foi o que aconteceu ontem, em razão das críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao Parlamento. Em conversa com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), disse que “o Congresso é uma máquina da corrupção”. A afirmação, em linha com as críticas sucessivas do próprio presidente Jair Bolsonaro ao Parlamento, provocou a indignação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Em nota, diante da repercussão negativa das palavras de Guedes, o Ministério da Economia desmentiu a declaração do seu titular, mas o leite já estava derramado. É muita falta de senso político criar um mal-estar dessa ordem no mesmo dia em que a Comissão Especial que discute a reforma da Previdência na Câmara encerrou sua discussão, que contou com a participação de 127 dos 154 deputados.  O relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), prepara seu relatório com objetivo de conseguir mais apoio entre os partidos. Segundo o presidente da comissão, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), a votação do relatório deverá ficar para a semana que vem. Um dos temas em negociação é a inclusão de estados e municípios na reforma, que haviam sido retirados pelo relator. Somente os governadores do Ceará, do Piauí, de Pernambuco e da Bahia são contrários à proposta e resistem a convencer os parlamentares dos seus estados a votarem a favor da medida. Rodrigo Maia articula a inclusão.

Nesse cenário, os ataques sistemáticos contra o Congresso e uma violenta campanha feita por partidários do presidente Jair Bolsonaro contra o presidente da Câmara nas redes sociais fogem à racionalidade.  [o deputado que preside a Câmara age como um quinta coluna contra o governo Bolsonaro - isto tem que ser denunciado, ele precisa entender que seus planos para ferrar o governo do capitão foram descobertos.
Em 2022 não tem para ele.]  Rodrigo Maia é grande esteio para aprovação da reforma e de outros projetos de interesse do próprio governo, como a reforma tributária e o novo marco legal das parcerias público-privadas. O parlamentar procura limpar o terreno para aprovar a agenda econômica que pode facilitar a retomada do crescimento, mas Guedes retroalimenta o confronto do governo com o Congresso.

Aeromula
Enquanto nos bastidores o conflito era entre Guedes e Maia, em plenário o assunto mais debatido era o caso do sargento da Aeronáutica detido na Espanha com 39kg de cocaína, transportados no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que serve à equipe de apoio da comitiva do presidente da República. O fato teve grande repercussão internacional e revelou a fragilidade do dispositivo de segurança da Presidência. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, tentou se justificar: “Só se o GSI tivesse bola de cristal” conseguiria “prever” que um sargento militar seria preso transportando 39kg de cocaína em sua bagagem. O presidente em exercício, Hamilton Mourão, classificou o militar preso como uma “mula qualificada”.

A prisão ocorreu quando o avião da Força Aérea Brasileira pousou às 14h (horário local) no Aeroporto da Andaluzia. A aeronave servia como reserva para o presidente Jair Bolsonaro, que viaja em outro avião para participar da reunião do G20 em Osaka, no Japão. O militar realizou 29 viagens ao exterior na comitiva presidencial, servindo a três presidentes da República. Não se sabe desde quando o sargento é um traficante de drogas, mas o fato é que ninguém transporta tamanha quantidade de droga sem um esquema sofisticado de apoio. Especialistas calculam em 2 milhões de euros o valor da cocaína apreendida pelas autoridades espanholas. Bolsonaro determinou uma investigação rigorosa sobre o caso, que gerou grande constrangimento para a FAB e o GSI.

Em sua primeira participação na cúpula de líderes do G20, em Osaka, Bolsonaro tem previsão de se reunir com os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da França, Emmanuel Macron. Também deve se reunir com o presidente da China, Xi Jinping, e com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. O encontro mais esperado no Japão, porém, será entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping, em razão da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.


Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB 


segunda-feira, 10 de junho de 2019

“Jogando fora o gol feito” e outras notas de Carlos Brickmann

Por uma série de circunstâncias, Bolsonaro não parece ter percebido que navega a favor do vento



Por uma série de circunstâncias, o presidente Jair Bolsonaro tem a chance de implantar reformas que mudarão as estruturas e a fisionomia do país. Até partidos reconhecidamente adeptos do “é dando que se recebe” decidiram colaborar, talvez por perceber que é impossível ordenhar uma vaca que está ficando sem leite. A inflação de maio, 0,13% (não esqueça: inflação é um dia, não quer dizer que todos os preços tenham subido só isso), é a menor deste mês nos últimos 13 anos e se acredita que a inflação anual ficará em 4,03%, abaixo da meta de 4,25%. A reforma da Previdência, sem a qual não haverá recursos para governar, deve sair e quase tão ampla quanto a que foi proposta. Há uma reforma tributária em andamento, para que o produtor não seja punido por produzir; um pacote anticrime, a ser analisado, proposto por Sergio Moro, o mais popular ministro do Governo; e um pente fino nos benefícios do INSS, que podem pegar muita gente que recebe sem motivo.

Por uma série de circunstâncias, Bolsonaro não parece ter percebido que navega a favor do vento. Trabalha mais para piorar a segurança do trânsito, já precária (brigando contra os radares, aumentando o número de pontos com que a carteira de habilitação é suspensa), acirrando a movimentação de estudantes e professores contra seu Governo (com um ministro que se arvora em imitar Gene Kelly), brigando com os aliados (seu filho Carluxo, o 02, voltou a atacar o vice Mourão). O que poderia ser um triunfo vira comédia.

A inflação
Nunca pergunte a quem faz compras como está a inflação: a resposta será de que subiu muito mais do que o Governo admite. Claro: quem compra se irrita com o que aumenta (cenoura, 15,74%, leite longa vida, 2,37%), e acha normal o que abaixa, e cujo peso no bolso é bem maior: feijão carioca, -13,04%, tomate, -15,08%. O fato é que a inflação vem sendo contida. Isso teria impacto favorável na imagem de Bolsonaro se o Governo não estivesse ocupado em identificar aliados que possam ser transformados em inimigos.

Imagem forte
Mesmo com metade de seu time jogando contra a outra metade, o presidente continua muito influente, diz pesquisa do Ibope. Exemplo: teste das opiniões sobre a privatização da Petrobras. Os participantes foram divididos em dois grupos. Para um, disseram que Bolsonaro apoiava a privatização, para o outro nada disseram. Entre os que acham o Governo bom ou ótimo, mas não sabiam da posição do presidente, 45% apoiaram a privatização. Entre os que sabiam de seu apoio, o número subiu para 57%.

Entre os que consideram o Governo ruim ou péssimo, mas não sabiam da opinião de Bolsonaro, 33% apoiaram a privatização. Entre os informados da posição do presidente, o apoio caiu para 23%. O coordenador da pesquisa, George Avelino, da Fundação Getúlio Vargas, disse ao jornal Valor“A opinião de Bolsonaro polariza o eleitorado. O que Bolsonaro diz mexe com determinados grupos, seja favoravelmente, seja desfavoravelmente”.

Os alvos da guerra familiar
VEJA online informou nesta sexta que Abdul Fares, descendente do fundador do Grupo Marabraz (e que luta na Justiça contra três tios, hoje no comando da empresa) representou ao Tribunal de Ética da OAB de São Paulo contra um dos maiores escritórios de advocacia do país, o Sérgio Bermudes Advogados. Fares alega que procurou o escritório para entrar com ação contra os tios. Diz que entregou documentos sigilosos aos advogados e discutiu a estratégia jurídica a seguir. Mas, diante dos honorários pedidos, que segundo ele seriam de R$ 1,2 milhão, desistiu.

Representa agora contra o escritório porque, após ter desistido de contratá-lo, o escritório aceitou defender o outro lado, de seus tios. Pede providências à OAB e exige a devolução dos documentos que, diz, deixou com o escritório. Um desses documentos, afirma, é um extrato de banco chinês, US$ 1 bilhão. Se um extrato como esse é real e aparece, é uma bomba. Fares promete processar o escritório de Bermudes, tendo como advogada Lilia Frankenthal.

Outro alvo: este colunista
A Marabraz abriu processo também contra este colunista, por uma notícia seca, puramente factual. Está no exercício de seu direito, claro. Mas, embora este colunista não acredite em coisas desse tipo, quem o processa tem sofrido com a falta de sorte. Um ex-secretário de Estado que se candidatou a deputado, e esperava 400 mil votos, teve algo como 20 mil. Desistiu da política. Marconi Perillo, irritado com a notícia do casamento luxuoso de sua filha, também optou pelo processo. Disputou o Senado, com duas vagas, ficou fora. Kajuru se elegeu. Seu candidato ao Governo perdeu. Enfrenta mais de 15 investigações, até por relações com a Odebrecht. Foi preso pela Polícia Federal (e logo libertado). Até seu advogado tem problemas: foi condenado a seis anos de prisão, em primeira instância (recorre em liberdade) por formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro.

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

Blog do Augusto Nunes - Veja

 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Greve de caminhoneiros deixa rastro de prejuízos bilionários em todo o País

Com protestos no fim, crise de desabastecimento começa a ser revertida, mas efeitos na economia ainda vão perdurar por muito tempo; perdas com a greve superam R$ 75 bi



Apesar de alguns pontos de manifestação ainda espalhados pelo País, a paralisação dos caminhoneiros dá claros sinais de que chegou ao fim. Em todos os Estados, a vida começa a voltar ao ritmo normal. O quadro de desabastecimento inicia sua reversão: o combustível está chegando aos postos, os alimentos voltam aos supermercados. Os reflexos da crise provocada pelos protestos, porém, ainda devem perdurar por bastante tempo. Nem todos os setores têm um levantamento das perdas. Quem já fez essas contas mostra que o prejuízo será contabilizado na casa dos bilhões. O número dos setores consultados pelo Estado já chega a pelo menos R$ 75 bilhões em perdas.
Mas o impacto na economia será bem maior. Economistas já levam em conta os efeitos da greve nas revisões, para baixo, que vêm fazendo para o desempenho do PIB. O número, que era próximo de 3% no início do ano, agora é de 2%. E há outros efeitos. O governo teme que a paralisação dos motoristas abra caminho para outras greves de forte impacto no País. Os petroleiros já seguiram esse caminho. [atualizando: petroleiros amarelaram e suspenderam o motivo por tempo indeterminado - o 'indeterminado' tem o sentido mais de ano que vem do que próximos dias.].]

Perdas. As projeções preliminares de diversos segmentos da economia após dez dias de greve dos caminhoneiros apontam para perdas de mais de R$ 75 bilhões. Em alguns casos, os prejuízos ainda podem aumentar mesmo após o fim do movimento, pois, dependendo do tipo de atividade, a retomada poderá levar de uma semana a 20 dias.
Também há preocupação sobre como será a volta das atividades. “Não sabemos ainda, por exemplo, como será precificado o aumento do frete”, afirma José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). “Dá arrepios só de pensar.”  O setor calcula que deixou de gerar, até agora, R$ 3,8 bilhões, e precisará de duas a três semanas para retomar totalmente as atividades.

A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) estima que as áreas de comércio e serviços deixaram de faturar cerca de R$ 27 bilhões entre os dias 21 e 28.  “São nítidos os transtornos causados pelo desabastecimento generalizado, que pode provocar danos ainda maiores ao País, como aumento do desemprego, falta de gêneros alimentícios, estoques, baixo fluxo de vendas e prejuízo ao desenvolvimento econômico”, diz o presidente da Fecomércio de Minas Gerais, Lúcio Emílio de Faria Júnior.  Os supermercados contabilizam R$ 2,7 bilhões em prejuízos. Para os distribuidores de combustível, as perdas já atingem R$ 11,5 bilhões.

Volta lenta
Com menos bloqueios nas estradas e a volta, lentamente, do abastecimento de combustíveis, algumas empresas estão retomando operações. Das 167 unidades produtoras de aves, ovos e suínos que estavam paradas em todo o País, 46 reiniciaram atividades nesta quarta-feira, informa a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). As empresas do setor acumulam prejuízos de R$ 3 bilhões e perderam 70 milhões de aves, mortas por falta de ração. Com parte do abastecimento retomado, a mortandade deve acabar.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), a cadeia produtiva da pecuária de corte deixou de movimentar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões. Os produtores de leite perderam R$ 1 bilhão, parte disso com o descarte de mais de 300 milhões de litros de leite. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) calcula que produtores em geral devem levar de seis meses a um ano para se reestruturarem.

O setor têxtil estima perdas de R$ 1,8 bilhão e, até quarta-feira, ainda tinha cerca de 70% das empresas paradas ou prestes a parar. A previsão da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) é de que serão necessários pelo menos 20 dias para que a situação seja normalizada.  Carros. Na indústria automobilística quase todas as fábricas estão paradas desde sexta-feira. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, diz que “a maioria retomará a produção, de maneira gradual, a partir de segunda-feira”. As unidades da Fiat em Minas Gerais e da Jeep em Pernambuco voltam a operar nesta quinta-feira.

A Anfavea não divulgou prejuízos, mas, com base na produção média de veículos em abril, cerca de 51 mil veículos deixaram de ser fabricados. O resultado deste mês poderá interromper uma sequência de 18 meses de alta na comparação interanual.  Até terça-feira as vendas do setor tinham caído 11% em relação a abril (para 192,8 mil unidades), mas ainda devem superar o volume de maio de 2017, de 195,6 mil unidades.
A indústria química soma R$ 2,5 bilhões em perda de faturamento e calcula em dez dias o período para retomada de atividades. 

Economia - O Estado de S. Paulo 

domingo, 31 de maio de 2015

Essa é a miséria que interessa ao PT manter - é desta miséria que seres tipo Lula, Dilma e outros da mesma laia tiram a fortuna e o poder, dos quais não querem abir mãos

Os miseráveis: retrato sem retoques de um Rio de excluídos

Este é o triste destino dos que votam, e votaram,  no PT - muitos ainda pensam em repetir o voto. Afinal, a fome destrói o raciocínio, a lucidez, o ânimo, o interesse pela próprivida.

Essa situação vergonhosa facilita aos atuais donos do poder, por colaborar com os seus planos diabólicos de permanecerem DONOS DO PODER

Não esqueçam: o aqui mostrado é uma fraçã da miséria que está em locais mais visiveis, mais acessiveis. Só que ela também está presente nos locais isolados, ermos, matando, destruindo, aviltando. Locais que uma vez a cada quatro anos vão visitados por prepostos dos políticos à caça dos votos que os manterão no poder e aos miseráveis na miséria crescente.


Estado tem 3,7% de seus moradores na extrema pobreza. Percentual só não é maior do que o do Norte-Nordeste


 O Estado do Rio tem 565.135 pessoas vivendo abaixo da linha da extrema pobreza. A série de reportagens "Os miseráveis" mostra como e onde vive quem precisa driblar dificuldades como desemprego e fome. São 3,77% da população do estado nessa situação, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O percentual é o maior entre todos os estados das regiões Sul e Sudeste, superado apenas pelos do Norte-Nordeste e Mato Grosso, no Centro-Oeste.

Em Japeri, o banho na casa de Roberto e Nilceia da Silva é só de baldeFoto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Pelanca é a sobra da carne, a parte desprezada que pode ir tanto para o cachorro quanto para fábricas de sabão, que usam sebo como matéria-prima. Mas, na casa de Lúcia Pereira da Silva, sem água ou esgoto, num mangue à beira da Baía de Guanabara, em Magé, pelanca é dia de festa. Sinal de que sobraram 40 centavos para comprar um quilo do que, para muitos, é lixo. “Às vezes vem um pedacinho de carne junto. Tempero com louro e ponho no feijão. Fica gostoso”, diz. A 60 quilômetros dali, em Belford Roxo, José Roberto Lima idoso esquálido que vive numa casa sem banheiro lança mão da pelanca para alimentar seus três cães magros. Mas guarda um tanto para a própria sopa, feita com grãos dos mirrados pés de feijão que planta no quintal. Lúcia e José Roberto não fazem parte do Rio do cartão-postal. Estão entre os 565.135 fluminenses que sonham alcançar a pobreza. Porque o lugar deles é outro. Eles vivem na miséria.

A fome está sempre à espreita de quem vive abaixo da linha da extrema pobreza, como José Roberto...Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Na indigência, como os dois, encontram-se 3,77% da população do estado, revelam números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Gente suficiente para encher uma cidade como Niterói. Os dados, que tomam como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, do IBGE, mostram ainda que o Estado do Rio, sexta maior renda per capita do país, fica mal perto de seus vizinhos. Tem um percentual maior de miseráveis do que todo o Sul e Sudeste. No Centro-Oeste, só Mato Grosso está em situação pior. Os deserdados do estado que sediará as Olimpíadas de 2016 são tema da série de reportagens “Os miseráveis”, que O GLOBO publica a partir de hoje. 

Durante um mês, equipes percorreram os bolsões de extrema pobreza para contar as histórias de cidadãos que têm renda per capita inferior a R$ 140,70, quantia necessária para comprar uma cesta de alimentos com a quantidade mínima de calorias, de acordo com os critérios do Ipea.

Valor, aliás, que é um sonho distante para José Roberto. Aos 69 anos, com as mãos calejadas depois de uma vida dividida entre a roça e a construção civil, ele não tem renda. Conta com a solidariedade dos vizinhos, que dão um jeito de dividir a comida para que ele não viva só de feijão. As doações vão parar no fogão a lenha, já que ele não tem R$ 50 para pagar o botijão de gás.  — Eu vivo com o que Deus me dá. E só. Roubar, eu não vou — afirma.

Lúcia, a senhora de 63 anos que engana o estômago com a pelanca, também dá seu jeito. Vive, junto do marido desempregado e tuberculoso, e do filho de 21 anos, tampouco com trabalho, com menos de R$ 200 do Bolsa Família. Não dá nem R$ 70 por pessoa — dinheiro insuficiente para pagar um cafezinho diário. Água, ela bebe a que é dada pela chuva. Está difícil para Lúcia, mas é o casal Luiz Cláudio Feliciano e Alana da Silva quem leva uma vida de cachorro. E não é figura de linguagem. Os dois moram, com os filhos, de 2 anos e de 10 meses, num canil em Tanguá, município com o terceiro maior percentual de miseráveis, atrás de São Francisco de Itabapoana e Porciúncula, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social. O local foi adaptado, mas ainda é possível ver as divisórias para os animais. A família vive no espaço de três delas, e foi parar lá após Luiz Cláudio perder o emprego na vizinha Itaboraí. Como tantos excluídos, depende dos R$ 180 do Bolsa Família.
O eletrodoméstico que denuncia a penúria: na casa da família Ferreira, em Japeri, a geladeira praticamente só tem água - Márcia Foletto / Agência O Globo

DESEMPREGO QUE ANGUSTIA
Luiz Cláudio acorda todos os dias às 5h para procurar trabalho. Mas, em Belford Roxo, a reação de Marco Saboya diante do desemprego é outra. Desde que foi dispensado de uma obra, onde ganhava R$ 700 para sustentar a mulher, Mônica, e os filhos Adriel, Diana e Kailane, de 8, 6 e 5 anos, respectivamente, passou a ter crises de ansiedade. Acorda sem conseguir respirar e bota, a cada minuto, a mão no peito, desconfiado de um infarto que o médico já descartou é angústia o que sente.  Às vezes, ele sai gritando pela rua, tenho que ir atrás. Tento fazer bicos, mas é difícil porque Marco não põe os filhos para a escola — diz Mônica, que ganha R$ 182 do Bolsa Família.

As enchentes já carregaram o pouco que a família tinha, levando Adriel a decretar: — Vou estudar e ganhar muito dinheiro para comprar outra casa.  Teresa Cosentino, secretária estadual de Assistência Social, argumenta que a redução da miséria no Rio, que tem um programa próprio de complementação de renda, é significativa. Em 2003, eram 1.109.863 indigentes. Em 2011, 481 mil. Em 2012, subiu para 550.140, e, em 2013, cresceu para 565.135. — É um movimento natural. Quando você está de dieta, perde mais peso no início ou no final? No fim, é mais difícil mesmo — diz Teresa.

Especialistas não têm uma explicação única para o desempenho do Rio, segundo estado que menos diminuiu proporcionalmente a miséria, entre 2003 e 2013, atrás apenas do Maranhão. Para eles, são vários calcanhares de Aquiles.  — O Rio tem uma periferia da periferia, como Japeri. São Paulo, por exemplo, tem subcentros importantes economicamente na área metropolitana e no interior. Nós, não — diz a economista Sônia Rocha, pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).

Outra explicação pode estar na estrutura do mercado de trabalho fluminense, dizem os economistas Valéria Pero, Adriana Fontes e Samuel Franco. Eles lembram que o Rio tem, entre os mais pobres, uma taxa de desemprego maior do que a média nacional. A população mais desfavorecida acaba buscando alternativas na informalidade, que, por sua vez, não leva à superação da pobreza.

Outro fator é a elevada desigualdade no estado. E é justamente a melhor distribuição de renda, aliada ao crescimento econômico, uma das receitas para reduzir a pobreza. Para piorar, o desenvolvimento do Rio nos últimos anos, impulsionado pelo petróleo, ocorreu mais fortemente fora da Região Metropolitana, que concentra 74% da população.


Geladeira vazia

Geladeira vazia, a expressão que, dos remediados para cima, significa que a ida ao mercado está atrasada, tem um significado literal na casa de quem já cruzou a linha da pobreza rumo à miséria. Na maioria das vezes, o eletrodoméstico guarda só água. Ou, em dias de bonança, uma panela de arroz com feijão ou quatro espigas de milho, como no cômodo em que Roberto da Silva Paiva mora com a família, no centro de Japeri. Contando com os R$ 620 do Bolsa Família para sustentar a mulher, cinco filhos e três netos, Roberto, quando consegue um terreno para capinar, acrescenta R$ 50 ao orçamento. E se vê às voltas com uma escolha de Sofia: — Tenho que decidir se compro arroz para todos ou leite para o Abraão, meu netinho. Ele tem três meses e nasceu com sífilis. Pegou da mãe.

Dúvidas sobre o que guardar na geladeira, Sirlene Henrique, que vive em Sumidouro, na Região Serrana, não tem. A dela está desligada da tomada: Não tenho nada para colocar dentro mesmo. Uso como armário.

A nutricionista Ana Paula Bucar enumera as consequências de uma dieta tão pobre: — A deficiência proteica pode causar perda de massa muscular, afetar o funcionamento do coração, prejudicar o raciocínio. Para uma pessoa ter o mínimo diário de 1.500 calorias, teria que comer pelo menos 30 colheres de sopa de arroz. E mais trinta de feijão.

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