A situação de Jair
Bolsonaro ainda não é tão ruim como ele merece. E, infelizmente para o
país, está um tanto longe disso. Escrevi na minha coluna de sexta na
Folha que, hoje, a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a Presidência da
Câmara está mais próxima do que o impeachment do presidente. Com isso,
noto, não estou afirmando que Lira seja o favorito contra Baleia Rossi, o
candidato do PMDB. Só estou lembrando que são necessários 342 votos na
Câmara (dois terços) para que se autorize o Senado a abrir um processo
de impeachment. Mas bastam 257 votos — maioria absoluta — para eleger
aquele que vai comandar a Câmara. Existisse o número na Casa, Bolsonaro
só seria deposto com o voto de... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2021/01/25/popularidade-de-bolsonaro-despenca-mas-impeachment-ainda-esta-distante.htm?cmpid=copiaecola
Popularidade de
Bolsonaro despenca, mas impeachment ainda está distante ... - Veja mais
em
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2021/01/25/popularidade-de-bolsonaro-despenca-mas-impeachment-ainda-esta-distante.htm?cmpid=copiaecola
A situação de Jair Bolsonaro ainda não é tão ruim como ele merece. E,
infelizmente para o país, está um tanto longe disso. Escrevi na minha coluna de
sexta na Folha que, hoje, a eleição de Arthur Lira (PP-AL) para a Presidência
da Câmara está mais próxima do que o impeachment do presidente. Com isso, noto,
não estou afirmando que Lira seja o favorito contra Baleia Rossi, o candidato
do PMDB. Só estou lembrando que são necessários 342 votos na Câmara (dois
terços) para que se autorize o Senado a abrir um processo de impeachment. [os números de outra forma: Bastam apenas 172 votos para jogar o impeachment na lata do lixo.] Mas
bastam 257 votos — maioria absoluta — para eleger aquele que vai comandar a
Câmara. Existisse o número na Casa, Bolsonaro só seria deposto com o voto de pelo
menos 54 senadores. Não há esses números. Por que não? Porque a máquina de
cooptação do governo federal está em ação. E até me dispenso de lembrar aqui
que Bolsonaro havia prometido manter distância do Centrão, grupo ao qual Lira
pertence. Nada do que ele disse em campanha, convenham, estava escrito — em
sentido metafórico e literal. Era tudo conversa mole e delinquência política
berrada nas redes sociais por seus fanáticos — que fanáticos continuam, pouco
importam os fatos.
O que constato aqui implica que a mobilização que começa em favor do
impeachment é inútil? A resposta, obviamente, é "não". [mobilização? onde?quando? com meia dúzia de adeptos do 'quanto pior, melhor'? Eles são muitos, mas são covardes o bastante para não se exporem.] É utilíssima.
[e duplamente criminosa - primeiro por vociferar contra um presidente da República eleito democraticamente com quase 60.000.000 de votos e segundo, aglomeração é crime na maior parte das capitais.] Digamos que se percorreram os primeiros metros do que pode ser uma maratona. De
início, os respectivos impedimentos de Fernando Collor e Dilma Rousseff
pareciam impossíveis. E vimos o que vimos. Sim, havia fatores específicos em
cada caso. O primeiro não contava com milícias digitais organizadas, que se
misturam com apoio popular ainda expressivo.[apoio que com o decréscimo da pandemia - inevitável, por ser mera questão de tempo, e recuperação da economia, dobrará, no mínimo.] Dilma tinha contra si a Lava Jato
— o verdadeiro ninho da serpente bolsonarista. Por sua vez, como resta
evidente, nenhum daqueles governos contava com quase 220 mil mortos nas costas,
número que nas costas, número que caminha célere para os 250 mil. [só que NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, pode ser apontado - e provado - contra o capitão.]
E, como resta
evidente, o morticínio tem as marcas do governo federal: as da ação e as da
omissão. A obra macabra de Bolsonaro parece que vai, finalmente, colar-se à sua
biografia — ainda que distante, por ora, do devido mérito. No começo de
dezembro, segundo o Datafolha, apenas 32% consideravam o governo ruim ou
péssimo; agora, são 40%. Os que o viam como ótimo ou bom caíram de 37% para
31%. É uma deterioração importante em tempo tão curto. Segundo levantamento do
Exame/Ideia, em uma semana, a aprovação à gestão caiu 11 pontos: de 37% para
26%. E a reprovação saltou de 38% para 45%. [percentuais calculados sobre 2.030 entrevistados, por telefone.]
O Datafolha quis saber ainda quem mais atuou para enfrentar a pandemia.
Disseram que foi João Doria 48% dos ouvidos pelo Datafolha. [João Doria atuou como adido comercial da República Popular da China - sendo governador de um estado, é licito atuar em prol de uma país estrangeiro? mas, a vacina do Joãozinho continua enrolada, e das duas aprovadas é a de menor eficácia = em 100 vacinados,imuniza 51 - a da Fiocruz, em100 vacinados, imuniza 78.] Mas existem
incríveis 28% que dizem ter sido Bolsonaro. É claro que isso não se explica por
nenhum juízo objetivo nem pode ser atribuído à diversidade de gostos, assim
como uns preferem sorvete de uva, e outros, de abacaxi. Trata-se de alinhamento
que pode, sim, sem qualquer abuso do sentido da palavra, ser chamado de
"ideológico".
Quando a gente olha o alinhamento dos astros, este não
é o melhor para Bolsonaro. A imunização em larga escala ainda está distante. O
que há de mais próximo e viável, se a China enviar o Ingrediente Farmacêutico
Ativo, é a vacina da CoronaVac. Os desastres na Saúde, como aquele que se vê em
Manaus, assombram as pessoas. A cada dia, mais gente se dá conta de que o
governo é omisso, incompetente — e, sabemos, criminoso também — na
administração da crise.
O
impeachment, hoje, ainda é uma miragem, como era nas duas outras vezes quando
no início da maratona. Agora é preciso observar a dinâmica dos fatos — de maus
augúrios para Bolsonaro — e testar a resiliência daqueles que estão se
organizando em favor do seu impedimento. Fácil não é, embora nenhum presidente,
na história brasileira, tenha merecido perder o cargo com a carga de verdades
que lhe cabe. Já são 23 crimes inequívocos de responsabilidade entre agressões
à Lei 1.079 e a fundamentos da Constituição. É uma pena não haver modo de
defenestrá-lo 23 vezes.
Reinaldo Azevedo, jornalista - Coluna no UOL