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domingo, 4 de junho de 2023

Pague com seu rosto: depois do Pix e do cartão por aproximação, biometria facial abre nova era nos pagamentos

Que tal entrar numa loja sem celular, cartão ou identidade e pagar uma compra com apenas um sorriso?  
Essa cena que até parece uma piada já é realidade no comércio brasileiro. Depois dos cartões sem contato e das transferências instantâneas via celular, varejistas e empresas de pagamentos digitais estão investindo em uma nova frente de inovações baseadas na biometria para dar mais comodidade aos clientes e agilizar transações. Para especialistas, essa tecnologia pode revolucionar o setor de pagamentos e, em pouco tempo, se tornar tão popular no Brasil quanto o Pix.

A novidade ainda dá os primeiros passos no mundo, mas vai acelerar seu crescimento até o fim da década, tendo o Brasil como uma das principais frentes. De acordo com o relatório “O Futuro dos Pagamentos”, lançado em abril pela Mastercard, o mercado global de pagamentos biométricos deve crescer 62% até 2030.

É uma das principais tendências na área de pagamento sem contato, que deve movimentar US$ 9,8 trilhões no mundo até 2026. A China é referência nesse tipo de tecnologia, com o uso do reconhecimento facial inclusive em transportes públicos como o metrô.

Para Wagner Cunha, gerente de Estratégia e Inovação para Serviços Financeiros da consultoria BIP, o Brasil tem vantagens em relação a outros países para assimilar rapidamente esse tipo de pagamento, já que o brasileiro adere facilmente a novidades tecnológicas e não tem muito receio em compartilhar dados pessoais quando enxerga vantagens.

Biometria facial é novidade em pagamentos, depois de Pix, cartões e celulares

Biometria facial é novidade em pagamentos, depois de Pix, cartões e celulares

O uso do rosto para autenticação de operações financeiras já é mais comum do que se imagina por aqui, seja na validação de compras com carteira digital, em que o correntista aproxima o celular de uma maquininha de cartão; na abertura de contas em bancos digitais e fintechs; e até para autorizar transferências em aplicativos de grandes bancos. O país caminha agora para a fase em que será comum fazer compras em lojas físicas sem nenhum apetrecho.

Digitalização bancária
Cunha também destaca o fato de o Brasil ter um setor bancário muito digitalizado e um grande número de desenvolvedores capacitados. Ele estima que pagamentos com biometria facial se tornem corriqueiros em cerca de cinco anos, tempo suficiente para a criação de novas soluções que possam democratizar e dar mais segurança à tecnologia:— O Banco Central está mais aberto a inovações, a exemplo do Pix e do real digital. Nosso sistema financeiro é muito seguro comparado aos de outros países, então temos bastante a agregar mundo afora para evitar fraudes. 
 
A C&A é uma das varejistas que já conta com pagamento por biometria facial em lojas de todo o país. Para usar, o cliente precisa baixar antes a carteira digital da rede de vestuário, o C&A Pay, e validar o rosto para pagamento
Depois, pode ir a qualquer unidade fazer compras sem levar nem o celular. Além da captura da imagem no caixa, é necessário digitar o CPF e uma senha para efetuar a compra. O valor dos produtos vai diretamente para a fatura do cartão da loja. 

 
Economia - O Globo  - MATÉRIA COMPLETA
 
 
 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Ação de Graças - Rodrigo Constantino

Monstagem sobre a gravura <i>Pelgrims Holding Bibles</i> / Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Montagem sobre a gravura Pelgrims Holding Bibles / Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

O que poucos sabem, porém, é que as primeiras colônias fracassaram. E não foi apenas por fatores relacionados à sorte. Uma das primeiras colônias a instalar-se na América do Norte foi a Plymouth Colony, estabelecida onde hoje é o Estado de Massachussets, nos anos de 1620. Numa experiência inédita até então, um contrato coletivo estabelecia um sistema no qual as propriedades seriam todas comuns. Trocando em miúdos, os Estados Unidos começaram como um experimento socialista.

Toda a produção deveria ser entregue para armazenamento comunitário, do qual cada indivíduo receberia uma fração igual, não importando com quanto contribuísse. Esse coletivismo levou rapidamente a economia da colônia ao caos. Em 1623, apenas dois anos após a chegada dos primeiros pilgrims, a fome já era a regra. William Bradford, que viria a ser governador da província algumas vezes, assim descreveu aquele triste momento da história americana em seu famoso diário: “Aquela experiência durou alguns anos… E bem evidencia a vilania deste conceito de Platão e outros patriarcas antigos, aplaudido por muitos ultimamente, segundo o qual se acabarmos com a propriedade, em prol da riqueza comum, isto fará a comunidade feliz e próspera… Para esta nossa comunidade (até onde aquilo poderia ser chamado de comunidade), o experimento causou muita confusão e descontentamento. Os homens… lamentavam ter de gastar seu tempo e esforços trabalhando para as mulheres e as crianças de outros homens, sem que obtivessem qualquer recompensa…

O liberal João Luiz Mauad assim explica a reviravolta que ocorreu: “Encurralada pelas terríveis circunstâncias, a liderança dos colonos resolveu abolir a estrutura socialista, que engessava qualquer possibilidade de progresso, transferindo para cada família uma parcela das terras, e permitindo o usufruto de tudo quanto seu trabalho produzisse. A eliminação da propriedade comunal em favor da propriedade privada logo mudou o panorama. Os colonos rapidamente começaram a produzir muito mais do que eles mesmos poderiam consumir”.

Não tardou para que o comércio também florescesse e os excedentes da produção fossem trocados com os índios, que lhes entregavam carnes de caça e peles, estas últimas exportadas com largas margens de lucro para a nobreza europeia. “Esta decisão foi um grande sucesso, pois tornou todas as mãos diligentes e industriosas”, escreveria Bradford pouco tempo depois. Mauad apresenta a razão para esse sucesso:  “Uma das virtudes da propriedade privada é justamente estabelecer a conexão entre esforços e ganhos, custos e benefícios, criando incentivos para que as pessoas produzam conforme as suas necessidades e ambições. Porém, o direito de propriedade é também, e acima de tudo, a melhor arma contra a barbárie, a garantia de que o pão obtido com o suor do próprio rosto não será tomado de ninguém arbitrariamente.”

“O capitalismo de livre mercado, baseado na propriedade privada e troca pacífica, é a fonte da civilização e do progresso humano”, sintetiza Thomas DiLorenzo, autor de How Capitalism Saved America, livro em que resgata a transição redentora do socialismo ao capitalismo nas primeiras colônias.

Esse modelo cria um claro incentivo ao ato conhecido como “free ride”, ou seja, pegar carona no esforço alheio

Os primeiros colonos chegaram a Jamestown no ano de 1607 e encontraram um solo incrivelmente fértil, além de muitos frutos do mar e frutas. Entretanto, dentro de seis meses, 66 dos 104 colonos que vieram estavam mortos, a maioria por causa da fome. Dois anos depois, a Virgínia Company mandou mais 500 “recrutas” para se estabelecerem em Virgínia, e, dentro de seis meses, 440 tinham morrido de fome ou doenças.

DiLorenzo argumenta que a ausência de direitos de propriedade destruiu completamente a ética de trabalho desses colonos. Afinal, não existiam incentivos para o trabalho, já que a recompensa pela produtividade não era do próprio trabalhador, mas de “todos”. Esse modelo cria um claro incentivo ao ato conhecido como “free ride”, ou seja, pegar carona no esforço alheio.

Em 1611, o governo britânico enviou Sir Thomas Dale para servir como high marshalna colônia de Virgínia. Dale notou que, apesar de a maioria dos colonos ter morrido de fome, os sobreviventes gastavam boa parte do tempo em jogos. Dale logo identificou o problema: o sistema de propriedade comum. A propriedade privada logo foi adotada, e a colônia imediatamente começou a prosperar, inclusive praticando trocas voluntárias com os índios.

Os investidores no Mayflower chegaram em 1620 a Cape Cod, assumindo um grande risco financeiro, já que os investidores em Jamestown tinham perdido quase todo seu investimento. Ainda assim, eles cometeram o mesmo erro de seus antecessores, estabelecendo propriedade coletiva da terra. Cerca de metade dos 101 aventureiros que chegaram a Cape Cod estava morta em poucos meses. O principal investidor do Mayflower, o londrino Thomas Weston, chegou à colônia disfarçado para examinar a ruína do empreendimento. Mas os problemas logo seriam solucionados da mesma forma que ocorrera em Jamestown. A propriedade coletiva foi abandonada e, em 1650, as fazendas privadas já eram predominantes em New England.

Mas esses colonos, agora prósperos, estavam cada vez mais preocupados com outra ameaça: o governo britânico e sua tentativa de impor o mercantilismo nas colônias. A Declaração de Independência Americana condenava a tirania da Coroa Britânica, assim como sua postura econômica em relação às colônias americanas. A Declaração menciona diretamente o fato de o governo britânico cortar o comércio das colônias com as outras partes do mundo, e o rei foi acusado de criar impostos sem consentimento dos colonos. Nesse sentido, a Revolução Americana foi contra o mercantilismo, e a favor do capitalismo.

Uma das primeiras leis mercantilistas impostas aos colonos foi o Molasses Act, de 1733, que criou uma elevada tarifa para a importação de melaço. Uma série de leis conhecidas como Navigation Acts representou mais um grande passo em direção ao mercantilismo imposto na América. Essas leis foram importantes como causa da Revolução, segundo DiLorenzo.  O grau de imposição mercantilista nas colônias aumentou consideravelmente após o término da Guerra dos Sete Anos, em 1763. Apesar da vitória britânica contra a França, a Inglaterra estava com um enorme déficit e um império gigantesco cada vez mais caro de manter. Uma série de novas medidas para aumentar impostos foi adotada para subsidiar o Império. Em 1764, o governo britânico criou o Sugar Act, que aumentou impostos para a importação de açúcar. Em 1765, o Stamp Act criou a obrigação do uso de selos do governo para todas as transações com papel nas colônias. Em 1767, os Townshend Acts impuseram várias tarifas novas de importação de produtos ingleses.

Em 1773, novas tentativas de aumento de impostos ocorreram. Dessa vez, o Tea Act iria impor tarifas maiores para a importação de chá. Os comerciantes americanos, temendo a ruína econômica com esse ato, se uniram e orquestraram a famosa Boston Tea Party, onde colonos vestidos de índios jogaram toneladas de chá no mar. A Revolução Americana pode ser vista, então, como uma luta contra o mercantilismo, em defesa dos principais pilares do capitalismo de livre mercado, que tinham permitido a prosperidade das colônias.

Nesse feriado de Ação de Graças, muitos vão festejar sem a devida compreensão do que ele representa, especialmente numa época em que a esquerda promove enorme desinformação sobre o passado e o legado da nação. O economista Don Boudreaux resume bem: “Seremos como perus se não conseguirmos compreender a verdadeira fonte de nossa prosperidade. Essa fonte não é a terra em si — não é a sorte —, não é Deus, inexplicavelmente, sorrindo para os europeus que ocuparam o norte do continente americano: é a consistente e generalizada confiança dos mercados na propriedade privada”.

Leia também “A cidadania corre perigo”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 28 de julho de 2021

Câmeras do prédio mostram apenas clausura da deputada Joice - Alexandre Garcia

Suspeita de agressão

A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados emitiu nesta terça-feira (27) duas notas informativas sobre o caso Joice Hasselmann, a deputada do PSL de São Paulo que diz ter sido agredida dentro de casa. A primeira nota informa que do dia 15 (quinta-feira) ao dia 20 de julho (terça-feira) ela não saiu do seu apartamento. É praticamente uma clausura?

A nota diz ainda que ninguém alheio entrou ou saiu do imóvel da Câmara onde ela estava. Também informa que foram examinadas imagens de 16 câmeras, que há vigilância armada, porteiros, ronda frequente e segurança no prédio, o que impediria qualquer tentativa de atentado contra um parlamentar. [a Polícia Legislativa informou o óbvio, portanto, público, notório e já esperado. A invasão só existe na imaginação da parlamentar. O grande problema não é a suposta agressão à deputada - e sim se saber se ela foi agredida.]

Câmeras JoiceDeputada Joice Hasselmann contou à polícia que suspeita ter sido agredida dentro do próprio apartamento. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Na terça-feira, Joice diz ter saído para o hospital. Ou seja, ela entrou em casa na quinta-feira, na noite de sábado para domingo teria acontecido o "atentado", e só na terça-feira ela procurou auxílio médico. É tudo muito estranho!  Joice teria sofrido cinco fraturas no rosto, na costela, na cervical, joelho e dois dentes. Ela foi até a Polícia Civil e teria levado um objeto, segundo ela sem marcas de sangue, que encontrou no sofá do apartamento. Não sei como apareceu um objeto lá se não entrou ninguém. E agora, nove dias depois do incidente, ela fez exame toxicológico e de corpo delito no IML.

E como eu havia previsto, a Polícia Legislativa mandou o caso para o Ministério Público Federal (MPF), porque trata-se de alguém com um mandato parlamentar federal. Só que o promotor devolveu dizendo que quer mais laudos. É uma questão muito grave porque envolve a suspeita de um atentado a uma representante do povo.

Cresce apoio ao voto impresso
Uma pesquisa do PoderData mostrou que nos dias 25 e 26 de maio, 46% das pessoas não queriam voto impresso e 40% queriam. Agora, no dia 21 de julho, inverteu: 46% querem voto impresso e 40% não querem. Está acontecendo uma virada. As pessoas estão tomando consciência de que precisam valorizar seu próprio voto. O voto é secreto, a apuração tem que ser transparente e entendida por todos. 
Não é botar em uma caixa preta digital e depois as decisões serem tomadas lá dentro sabe lá com que algoritmo. A gente não sabe. 
Eu me baseio muito em um tribunal alemão que diz que o eleitor comum tem que entender o processo de apuração.
 
Notícia auspiciosa
O Ministério da Saúde mostrou que, de 25 de junho para 25 de julho, os casos de Covid-19 no Brasil caíram 40% e as mortes caíram 42%. É uma notícia auspiciosa.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Bolsonaro recebe alta após passar a noite em observação no HFA

O presidente Jair Bolsonaro foi avaliado pela equipe médica na manhã desta terça-feira (24/12) e teve alta sob orientação de repouso 

O presidente Jair Bolsonaro recebeu alta do Hospital das Forças Armadas de Brasília (HFAB) na manhã desta terça-feira (24/12) após ter sofrido uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada. De acordo com nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, Bolsonaro passou a noite em observação e sem intercorrências.

Ele foi avaliado pela equipe médica e teve alta sob orientação de repouso. O comboio presidencial deixou a unidade de saúde, que fica no Sudoeste, por volta das 7h da manhã. O presidente levou um tombo na noite de segunda-feira (23/12), na residência oficial da Presidência da República. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, foi às redes sociais tranquilizar os seguidores sobre o estado de saúde do presidente. “Estamos no hospital, Jair está em observação devido à queda que ele sofreu. Nada grave graças a Deus”, escreveu em seu perfil no Instagram.
 
Histórico de saúde 
No último dia 11, Bolsonaro esteve no Hospital da Força Aérea de Brasília (HFAB), para retirar lesões no rosto e na orelha. Ele também fez uma cauterização de sinais no tórax e no antebraço. Na ocasião, o presidente chegou a dizer que estava investigando a possibilidade de um câncer de pele. No último sábado, ao receber repórteres no Palácio do Alvorada, ele afirmou que os exames não confirmaram a doença. 
 
Correio Braziliense


 



 

sábado, 2 de setembro de 2017

Ejaculação pública no rosto constrange?

O juiz libertou o agressor porque não viu “violência” no ato. Pensaria o mesmo se a vítima fosse sua mãe, sua mulher, sua filha? 

O ajudante de serviços gerais Diego Ferreira de Novais, de 27 anos, pegou um ônibus na cidade de São Paulo na terça-feira e, quando passava pela Avenida Paulista, sacou o órgão sexual, masturbou-se e ejaculou no pescoço de uma passageira, que estava sentada. Dá nojo imaginar a cena. Mas é real.  “Entendo que não houve o constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus, quando foi surpreendida pela ejaculação.” Esse foi o argumento do juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto para soltar Diego no dia seguinte. Diego não é novato em crimes sexuais. Cometeu 15, registrados ao longo de cinco anos. Como está solto, não se acha criminoso. São só “atos obscenos”. [Este Blog mantém sua posição: todo e qualquer estuprador merece uma punição severa e o impossibilite de repetir seu crime.
No caso de Diego, que tudo indica ser doente mental, deveria ser submetido a castração química e passar uns dois dias em uma cela superlotada para propiciar alguma diversão  aos companheiros de cela e sentir dor para compensar que seu favorecimento pela castração química - que é indolor.
Mas, estupradores não doentes devem ser submetidos à castração física, sem anestesia, seja por esmagamento dos testículos ou então retirar, com faca, e de forma bem lenta o saco escrotal do criminoso - ele consciente e vendo tudo, passo a passo.
Por isso mulheres, nas eleições de 2018 não votem em candidatos de esquerda e lembrem-se que só um candidato da direita poderá solucionar de vez - mudando a Constituição, o que inclui, sem limitar, a remoção das CLÁUSULAS PÉTREAS, já que são elas que favorecem a manutenção no texto constitucional de artigos que só favorecem à impunidade. ]
Os passageiros do ônibus, revoltados, impediram Diego de sair. Ele poderia ter sido linchado, se estivesse em lugares menos nobres e mais remotos no Brasil. Mas estava na Avenida Paulista. Foi preso. Indiciado por estupro. A lei brasileira mudou em 2009. Já não é preciso haver “conjunção carnal” para caracterizar estupro. Qualquer ato sexual praticado contra alguém sem seu consentimento, até mesmo toques íntimos, é estupro em nossa legislação. A pena vai de seis a dez anos de prisão.

Mesmo assim, Diego foi solto. Há quem considere a lei severa demais. Hoje, no Brasil, constranger alguém a permitir “ato libidinoso” é crime de estupro. E o próprio juiz escreveu isso na sentença que liberou Diego. Mas disse que não houve “violência”. E se a vítima fosse a mulher do juiz, a mãe, a filha, a irmã, a neta do juiz? Ele acharia que não houve “violência” quando Diego ejaculou no pescoço da passageira no ônibus?

O juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto admitiu que “o ato praticado pelo indiciado é bastante grave, já que se masturbou e ejaculou em um ônibus cheio” (se estivesse vazio, seria diferente?) “e a passageira ficou, logicamente, bastante nervosa e traumatizada” (mas não sofreu violência?).  O magistrado disse que Diego necessita de “tratamento psiquiátrico” para evitar condutas assim, “que violam gravemente a dignidade sexual das mulheres, mas que, penalmente, configuram apenas contravenção”. Contravenção penal? Atentado ao pudor seria se tivesse ficado nu no ônibus. A sentença do juiz favorece a impunidade e estimula a reincidência, de Diego e de outros.


O pai de Diego, um aposentado de 65 anos, discorda do juiz. Acha que o filho deveria ficar preso. “É perigoso que uma pessoa dessa fique solta, e o delito que ele pratica não é justo. Em casa não posso ficar com ele. É muito forte e agressivo. Acho que viajou para a Bahia. Se ficar aqui, os caras matam ele”, disse o pai, que mora na periferia da Zona Sul de São Paulo.

Abusos em ônibus, trens e táxis são assustadoramente comuns. A escritora Clara Averbuck, de 38 anos, denunciou ter sido estuprada por um motorista do Uber. “Estava bêbada. Não me envergonho. Sou uma mulher livre, adulta, solteira, pago minhas cachaças. Quando é homem bêbado, ninguém nem pergunta, mas mulher tem de viver numa aura de castidade para merecer ser respeitada”, disse Clara. “O nojento do motorista aproveitou meu estado, minha saia e enfiou um dedo imundo em mim.” Clara não foi à polícia. “Não confio. Quantas mulheres são assassinadas e têm BO [boletim de ocorrência]. Quem diz que eles [os policiais] vão prender. Ele sabe onde eu moro.” [o estuprador merecia ter, no mínimo, o dedo arrancado sem anestesia, ou esmagado. Mas, convenhamos que a vítima, não ajuda muito as mulheres - pelo tipo de vida que ela assume viver, favorece em muito a que doentes mentais ou criminosos safados, tentem se aproveitar das mulheres -  - a favorecê-los ainda existe uma legislação leniente.
E ao se dizer escritora a vítima assume sua capacidade de ajudar a formar opiniões e deve conhecer o  sentido das palavras que emprega em seu comentário.]

Um dedo na vagina. Uma ejaculação no pescoço. Horrível. Ainda bem que podem gritar. Não sofreram um estupro coletivo ou um assassinato. Segundo o Ministério da Saúde, hospitais registraram média de dez estupros coletivos por dia no país em 2016. A grande maioria abafada. E as mortes? A cada quatro dias, um feminicídio é registrado só no estado de São Paulo. Que não sejam chamados de “crimes passionais”. Matar “por paixão”, não, não vale. É por ódio mesmo. Muitas mulheres são mortas por ser mulheres. É muito triste.

Tivemos dois casos chocantes e recentes no Rio de Janeiro.
Uma farmacêutica grávida foi morta, supostamente, numa armadilha de seu ex-namorado, um dentista. Ele tinha uma noiva, queria que a ex abortasse. O outro caso foi gravado por uma câmera: uma estudante grávida de quatro meses jogada em frente a um ônibus por seu ex, um estudante de Direito. Ele queria viajar sozinho para seu intercâmbio no Canadá. Ela e o bebê se salvaram.

Essas tragédias não acontecem só no Brasil. Para mudar, precisamos denunciar os crimes, protestar contra a impunidade, reformular a educação em casa e nas escolas. Ter mais mulheres em postos de poder e influência. Um mundo menos engravatado. Precisamos de mais Cármens Lúcias. Nós, homens e mulheres, temos de revolucionar a percepção de gênero, pelo bem de filhos e filhas, netos e netas.


Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época