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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Conversa de bêbado - É vergonhoso quando tentam transformar servidores públicos em uma casta de privilegiados quando são, em sua maioria, um monte de f. ...

O debate sobre a reforma da Previdência lembra conversa de bêbado com delegado. Não busca entendimento nem sequência lógica. Nada do que é dito pelo bêbado tem ligação com uma realidade factual e faltam ao delegado argumentos incisivos para neutralizar os delírios do interlocutor.

Há no Brasil regimes bem diferentes de aposentadoria. Para começar, o Regime Geral, para trabalhadores do setor privado (empregados e autônomos), e o Regime Próprio, para funcionários públicos civis e militares. Somem-se as regras diferenciadas de contribuição e recebimento de benefícios entre homens e mulheres, entre trabalhadores urbanos e rurais e regras especiais para professores e políticos. Lembrando Noel Rosa, “entre outras bossas, são coisas nossas”.

Em números redondos, cerca de 55 milhões de trabalhadores do setor privado contribuem para a Previdência e 26 milhões recebem aposentadoria e benefícios. O valor médio da aposentadoria deste setor é de R$ 1.120. De outro lado, são cerca de 6 milhões os contribuintes do setor público e 3,5 milhões recebem aposentadoria e benefícios. Estes brasileiros especiais recebem, em média, R$ 7.500. São tão especiais que o valor é quase 7 vezes maior que o dos brasileiros comuns. [MENTIRA VERGONHOSA - O Blog Prontidão Total, mostra e demonstra de forma didática, por A mais B,  a razão da diferença entre o que o servidor público recebe de aposentadoria e o recebido pelo contribuinte da empresa privada.

O bêbado defende ante o delegado os aposentados do setor público e diz que não há um déficit crescente da Previdência estrangulando as contas públicas. Mas o fato é que há uma desproporção absurda entre o total pago aos 3,5 milhões de empregados do setor público (R$ 254 bilhões, ou 4,25% do PIB) e o que é pago aos 26 milhões de aposentados do setor privado (R$ 454 bilhões, ou 7,6% do PIB). No delírio, esquece que os 26 milhões de brasileiros do setor privado geram um déficit de cerca de R$ 86 bilhões, enquanto os distintos 3,5 milhões (de canadenses ou escandinavos?) do setor público castigam a Previdência com um rombo de R$ 132 bilhões.

O que dá mais graça às nossas bossas são os valores das aposentadorias. Brasileiros do setor privado recebem de R$ 880 a R$ 5.189,82, limite superior imposto ainda que o salário na ativa tenha sido bem maior. Já os brasileiros servidores públicos, ao se aposentarem, recebem o salário integral que tinham na ativa. Entra-se aí no obscuro território de uma sociedade de castas colonial. Curiosamente, aqui o bêbado e o delegado se entendem: Para que mexer nesta história sem nexo? Para que reformar a Previdência, se o objetivo dos políticos de esquerda, direita e “meia-volta volver” (centrão?) é manter tudo como está?

Em 2016 a Previdência Social (INSS) arrecadou R$ 358 bilhões, bem abaixo do que teve de pagar em benefícios: cerca de R$ 508 bilhões. A diferença gerou um déficit de R$ 150 bilhões. A conta não fecha, obviamente, mas o bêbado insiste em que não só fecha, como teria superávit. A narrativa é de que não haveria déficit, não fosse a desoneração da folha de pagamentos e renúncias de maior impacto, como o Simples Nacional, filantrópicas, apoio à exportação rural e microempreendedor, entre outras, que foram aplaudidas pelo bêbado quando estava sóbrio. Os números mostram algo diferente: a soma das renúncias legais chega a R$ 42,8 bilhões, valor claramente aquém do déficit.

Não se dando por vencido, aponta a Desvinculação de Receitas da União (DRU) como uma das causas do déficit e, se extinta, geraria superávit na Previdência. Mas a DRU permite que a União utilize livremente 30% da arrecadação vinculada ao orçamento da Seguridade Social (saúde e a assistência social). Não incide sobre o que o INSS arrecada com as contribuições.

A esta altura, cabe ao delegado dizer claramente ao bêbado que, se nada for feito, o déficit, que cresce aceleradamente, tornará a Previdência Social insustentável, pondo em risco a aposentadoria de milhões de brasileiros. Como, aliás, já acontece com o funcionalismo de vários Estados.

Fonte: O Estado de S.Paulo 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Advogados da União já receberam R$ 286 milhões 'extras' só em 2017

O valor é um honorário pago em razão de causas ganhas pelos advogados ao defender os interesses da União e suas autarquias

O governo federal já pagou a advogados públicos R$ 286 milhões em "extras" neste ano. No País, 96% dos municípios têm orçamento inferior ao volume total de recursos transferidos como "bônus" a 12.555 funcionários da Advocacia-Geral da União (AGU), segundo dados da Frente Nacional de Prefeitos (FNP).

Concursados para defender o setor público em disputas judiciais, advogados da União, procuradores federais, procuradores da Fazenda Nacional e procuradores do Banco Central ganharam um "bônus" mensal de R$ 3,5 mil em seus contracheques, além de seus vencimentos entre R$ 19 mil e R$ 25 mil. A média se refere aos pagamentos efetuados entre janeiro e junho deste ano - últimos dados disponíveis. O órgão não divulga o repasse individualizado por servidor.

O valor é um honorário pago em razão de causas ganhas pelos advogados ao defender os interesses da União e suas autarquias, assim como ocorre na iniciativa privada. Quando uma parte - uma empresa, por exemplo - perde uma ação judicial, ela tem de indenizar o Estado e pagar esse "extra" aos defensores públicos. Chamadas de sucumbências, essas parcelas variam de 10% a 20% da causa - fica a cargo do juiz definir o porcentual.

"Do ponto de vista da eficiência administrativa, é uma forma de investir no retorno ao cofre público", afirmou Lademir Gomes da Rocha, procurador há 20 anos e presidente do Conselho Curador dos Honorários Advocatícios (CCHA), que administra os recursos de sucumbência - o órgão foi criado por lei no fim do ano passado. Antes da regulamentação, segundo Rocha, o governo vinha perdendo servidores qualificados porque não conseguia competir com salários do setor privado.

Na avaliação de Rocha, os honorários tratam-se de uma medida "inteligente" para atender ao interesse público. "Só existe pagamento (aos advogados públicos) se há êxito na ação. Isso significa que ele é um porcentual daquilo que ingressou no cofre público ou que deixou de sair do cofre público e quem paga é a parte que perdeu, não a União", argumentou o procurador.
 
Divergência
A ideia de pagar servidores públicos que já recebem salários relativamente altos em relação à média da população brasileira não é consenso entre juristas. Para Floriano Peixoto de Azevedo Marques Neto, professor de Direito do Estado da Universidade de São Paulo (USP), essas categorias recebem "o bônus sem o ônus".

"Na advocacia privada, se você não tem cliente, ninguém te paga. Se você perde causas importantes, corre o risco de ser demitido. Essas categorias já têm salários bons e estabilidade, independentemente do êxito nas causas. Transferiu-se o bônus do setor privado, mas sem qualquer tipo de ônus (para os advogados do setor público)", afirmou. [não ocorre com esse pagamento nenhum prejuízo aos cofres públicos, em face que o valor só é pago se o Governo ganhar a causa e o dispêndio é pago pela parte perdedora.
Vale lembrar que os servidores ganham - a matéria acerta em cheio quando diz:" servidores públicos  já recebem salários relativamente altos em relação à média da população brasileira" - salários relativamente altos, não por serem bem remunerados e sim pela média salarial da população brasileira ser baixa.]
 
O professor, porém, não discorda inteiramente do pagamento de honorários para defensores do governo. Marques Neto propõe, contudo, um cálculo que considera mais justo: subtrair os valores que a União perdeu em ações dos valores ganhos, e aí "repartir o bolo".

Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), não apenas é favorável aos honorários para advogados públicos, como também a juízes e a promotores. "Um escritório privado, por melhor e maior que seja, não cuida de valores patrimoniais da proporção do patrimônio do Estado", disse.

O jurista também afirmou, assim como Rocha, que advogados públicos migram para o setor privado quando não recebem bem. "Sei que os salários podem parecer altos, se comparar com o salário mínimo. Em geral, advogados ganham mais do que a média, mas não adianta culpar as carreiras, tem de resolver as desigualdades social e salarial, não punir servidores", afirmou Serrano.
 
Divisão
O rateio é feito entre servidores ativos e inativos - com um escalonamento para quem acabou de entrar ou se aposentar. Na divisão, tampouco há diferença se o servidor tem cargo de confiança: qualquer um dos 363 funcionários comissionados que já recebem um "extra" por cargo de confiança nessas quatro categorias podem acumular o honorário no fim do mês.
Goiás
No site da Advocacia-Geral da União (AGU), está disponível o quanto foi repassado para o Conselho Curador dos Honorários Advocatícios (CCHA) mês a mês. Não há, no entanto, nomes dos servidores e valores. Por isso, em julho, o Ministério Público Federal de Goiás solicitou que o órgão desse mais transparência dos recursos no portal, individualizando os repasses. 

De acordo com o presidente do conselho, Lademir Gomes da Rocha, isso não foi feito nos últimos seis meses por problemas operacionais. A Controladoria-Geral da União (CGU) foi acionada pela AGU e informou, por meio de nota, que os valores - até mesmo, retroativos - estarão disponíveis a partir de outubro. 
 
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
 
 

 

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Temer deu a senha para desidratar a reforma da Previdência

O próprio presidente da República disse, em entrevista a "O Estado de S. Paulo", que aceita uma versão minimalista da reforma da Previdência. Está aberta, assim, a temporada de reduções no projeto.

Michel Temer chamou de “atualização”. Ou seja, começa a abandonar a palavra “reforma”. O presidente jogou a toalha, praticamente. Isso enfraquece o projeto. Vai tocar a reforma para dizer que fez. A senha foi dada. Os grupos de interesse pressionarão para que nada mude. Temer saiu enfraquecido da votação da denúncia, na semana passada. Ele está vulnerável a esse tipo de pressão.  

A própria proposta da idade mínima, mesmo se for mantida, terá uma aplicação lenta. A regra começa com 54 anos e só chegará aos 65 para homens e 62 para mulheres após uma prolongada transição. Se aprovada dessa forma, seria uma reforma pra inglês ver.

Quem está certo é o presidente da Câmara dos Deputados, que delimitou a discussão. Ele diz que o único ponto de discordância é a regra de transição para quem entrou no setor público antes de 2003, quando Lula fez a reforma para novos servidores. E Maia diz que é preciso votar o projeto em setembro. Mas Temer agora avisou que aceita a versão reduzida do projeto.  

Fonte: Blog da Miriam Leitão  - O Globo
 

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A Corte dos amigos e parentes

Nenhum problema quando a família atua no setor privado. Mas a coisa muda quando se chega ao setor público

Capitalismo de amigos em um ambiente de capitalismo de Estado, com o governo distribuindo verbas, créditos e obras para as empresas da casa — isso destruiu a economia brasileira. Mas a coisa vai além. Temos uma República inteira de parentes e amigos. Três casos exemplares chamaram a atenção nesta semana. Começou com o procurador-geral, Rodrigo Janot, pedindo o cancelamento do habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes que tirou da cadeia o empresário Eike Batista. Segundo Janot, o ministro estaria impedido porque a mulher dele, Guiomar Mendes, é sócia do escritório de advocacia Sergio Bermudes, do qual Eike é cliente.

Logo a bola voltou para Janot, cuja filha, Letícia Ladeira Monteiro de Barros, advoga para a OAS e para a Braskem, do grupo Odebrecht, empresas que estão no dia a dia da Lava-Jato e suas ramificações. O procurador deveria ser impedido nos casos daquelas empresas, disse o advogado Sérgio Mendes, que saiu em defesa do casal Mendes.  O terceiro caso está no Congresso. Parece diferente, mas, pensando bem, é um caso da Corte política. O deputado Newton Cardoso Jr. foi designado relator de uma medida provisória que permitia o parcelamento de dívidas com a Receita em até cinco anos. Pois o deputado incluiu no seu relatório perdão de juros e multas, dobrou o parcelamento e mais tantas bondades com devedores, todas medidas que beneficiam diretamente as empresas de seu pai que acumulam mais de 30 processos fiscais.

Todos os envolvidos responderam com a mesma lógica. Algo mais ou menos assim: qual o problema? Sou imparcial e republicano, sei separar o público do privado (familiar, nos casos).  Na área jurídica, a argumentação em defesa de Janot e Mendes, feita por eles e por outros, foi quase idêntica. A filha de um e a esposa do outro advogam no cível e os casos da Lava-Jato e ramificações estão obviamente no âmbito criminal. Logo, não tem problema.

Curioso que, se esse argumento está correto, Janot não poderia pedir o impedimento de Mendes. Do mesmo modo, o advogado Sergio Bermudes não poderia dizer que o procurador-geral deveria ser impedido.  E se os dois lados estiverem certos, um contra o outro? Ok, o escritório Sergio Bermudes só advoga para Eike nos processos civis. Mas Bermudes, conforme admitiu, aparece como advogado do empresário no processo criminal e chegou a acompanhá-lo pessoalmente numa audiência.

Prestigiou o cliente num momento difícil, claro, mas olhem pelo outro lado, o do juiz do caso. Ele olha e vê ali um cliente do doutor Bermudes, o que não é pouca coisa. Trata-se de um dos mais brilhantes advogados brasileiros, titular de um superescritório, com sócios do primeiro time. Faz diferença, não é mesmo?

Janot se defendeu em nota oficial com uma tese que pode ser assim resumida: ele, procurador-geral, não atuou pessoalmente, não assinou nenhum ato em partes do processo envolvendo a empresa OAS; e o que envolve executivos da OAS está a cargo dos promotores do Grupo de Trabalho da Lava-Jato.  Mas a empresa e seus executivos estão na Lava-Jato e quem manda na operação, em última instância, é Janot.

De maneira que a história vai mais longe. Janot, Mendes e Bermudes parecem convencidos de suas posições e seus argumentos. Nota-se mesmo uma indignação de todos os três quando dúvidas ou suspeitas são levantadas de um lado para outro. É que, no ambiente da Corte, essas relações familiares e de amizade têm sido consideradas normais há tanto tempo que o pessoal estranha quando alguém estranha.

Ok, é normal que filhos sigam a carreira dos pais. Há famílias de médicos, jornalistas, advogados. Nenhum problema quando a família atua no setor privado. Mas a coisa muda quando se chega ao setor público.  Claro que a filha de Janot e a mulher de Gilmar Mendes podem ser advogadas. Mas pai e marido deveriam admitir, quando assumem altos cargos no Judiciário, que de duas, uma: ou eles passam longe de qualquer caso no qual atuam filha e cônjuge ou estas não atuam em casos que podem chegar a seu pai e marido.

Simples assim. Qualquer outra situação gera as dúvidas que este caso está suscitando — e enfraquece o Judiciário e, pois, o governo e a República.  Qualquer pessoa de bom senso percebe isso. Esqueçam as tais argumentações técnicas, de alto teor jurídico. Não pode o juiz decidir sobre um caso que envolve ainda que remotamente um parente ou mesmo um amigo.

É a mesma situação de Palocci e Dirceu, que ganhavam dinheiro fazendo consultoria para empresas clientes do governo do PT. Como se pode imaginar que saía daí uma consultoria independente? E tem mais: o pessoal da alta Corte acha normal que advogados que atuam nos tribunais superiores sejam amigos do peito de juízes que decidem seus casos. Dividem jantares, festas, viagens.
Não pode, é claro.
Eis outro efeito indireto da Lava Jato. Está exibindo as perigosas relações da Corte.

Fonte: O Globo - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Ajuste, por bem ou por mal

Número de funcionários nos municípios simplesmente dobrou. E os salários reais, em média, subiram coisa de 50%

É difícil tirar uma tendência de eleições municipais num país tão amplo e tão diversificado. Mas, observando os principais centros políticos, as capitais estaduais e as cidades mais dinâmicas e de maior peso regional, pode-se dizer que a agenda de esquerda — a ideia de que o governo e suas estatais podem tudo — foi dizimada. Quanto à agenda liberal, o seu contrário, não se pode dizer que teve uma vitória esmagadora. Mas é certo que avançou em boa parte do país. 

Essa discussão, no fundo, é a seguinte: o que fazer no pós-PT? Debate, aliás, que envolve até a esquerda. Como sobreviver sem o PT e, sobretudo, sem Lula, que está com seus dias políticos contados?  É verdade que tal discussão não apareceu explicitamente em boa parte dos municípios. Mas dava para perceber. Por exemplo, quando os candidatos petistas e/ou de esquerda esconderam a estrela, Lula e Dilma, estavam dizendo que uma era havia acabado. Quando candidatos de diversos partidos se diziam “não políticos”, estavam refletindo a crítica ao excesso de Estado, aos aparelhamentos. E, sobretudo, quando candidatos ao centro prometiam diminuir a máquina e cortar cargos, estavam apontando para o necessário ajuste de contas. Na mesma direção, muitos falaram de necessidade de parcerias com o setor privado para novos investimentos.

Os prefeitos eleitos que não trataram desses temas vão encontrá-los em janeiro na forma de uma dura realidade. Os municípios estão quebrados. Há exceções, claro. Há cidades médias bem administradas e, sobretudo, há municípios que têm boa capacidade econômica para gerar receitas e atrair investimentos privados. Mesmo esses, porém, estão necessariamente em regime de restrição. Os problemas estão ali onde os políticos menos gostam: no próprio setor público e, dentro deste, na folha de pessoal.

De 2001 para cá, surfando na bonança econômica que trouxe expressivos ganhos de receita para os governos federal, estaduais e municipais, o setor público gastou boa parte disso contratando pessoal e concedendo aumentos salariais.  O número de funcionários nos municípios simplesmente dobrou nesse período. E os salários reais, em média, subiram coisa de 50%. No geral, os prefeitos, como muitos governadores, administraram como se nunca houvesse a possibilidade de uma redução nas receitas. Era como se todo ano houvesse mais dinheiro que no anterior.

Ou seja, querendo ou não, os prefeitos eleitos terão diante de si um ajuste fiscal. A reação imediata de muitos deles, talvez da maioria, é correr para Brasília. Podem levar alguns trocados, mas nada que resolva, dada a situação de penúria também do governo federal.
A alternativa é dura: ou fazem o ajuste ou logo faltará dinheiro para pagar as contas do dia, inclusive salários, o que já ocorre em algumas cidades.

Dito de outro modo, a agenda liberal é inevitável: enxugar a máquina, cortar gastos de investimento e custeio, dar um jeito de segurar a folha nada de novas contratações e reajustes de salários buscar eficiência na gestão, concentrar o dinheiro que tiver em saúde e educação e chamar o setor privado para as necessárias obras.  Quem não fizer isso vai fracassar. Quem fizer, terá de ser muito bom político para vender a agenda como positiva, ao menos no início da gestão. Esse tipo de programa impõe sacrifícios na partida, deixa a administração com alguma folga nos anos finais, os mais perto da nova eleição municipal e no momento do pleito nacional e estadual.

Tudo considerado, temos um período interessante pela frente. O PSDB, o grande vencedor, terá de mostrar que toca efetivamente uma agenda liberal e exibir resultado nas principais conquistas, como a cidade de São Paulo. É com elas que vai se apresentar em 2018. O DEM renasceu e vem forte com alguns nomes importantes, a começar pelo prefeito de Salvador, ACM Neto. O PMDB, bem, todos sabem, buscará a agenda mais adequada para o momento, que é a do ajuste.

Os demais partidos, os pequenos, que tiveram boas vitórias serão testados. Na verdade, não os partidos, mas os prefeitos pessoalmente, já que, para eles, a fidelidade partidária não existe.  O Rio com Crivella e o projeto evangélico é um caso à parte. Vai depender de como andar a administração. O PT? Parte quer simplesmente deixar e/ou acabar com a legenda. Outra parte quer que o partido se legitime como esquerda socialista, declarando-se pela extinção do capitalismo. Se for assim, uma parte acaba, a outra vai para o gueto da esquerda. 

A ver.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg - http://www.sardenberg.com.br/


terça-feira, 28 de junho de 2016

Silêncio no sindicalismo

A quietude sobre maracutaias no crédito aos servidores, na Petrobras e nos fundos de pensão é a trilha sonora das fissuras na base sindical do PT: 46% da CUT são do setor público

Mais de 800 mil servidores públicos federais foram vítimas de fraude no sistema de créditos consignados. A imposição de taxa extra sobre cada pagamento realizado nos últimos cinco anos por funcionários endividados proporcionou ganho lotérico (mais de R$ 100 milhões) a pessoas vinculadas ao PT, na maioria emergentes do ativismo sindical. A polícia prendeu um ex-ministro de Lula e Dilma, Paulo Bernardo. 

Roubados, também, foram mais de 500 mil sócios dos fundos de pensão de Petrobras, Caixa e Correios. Devem atravessar as próximas duas décadas com cortes na renda de aposentadorias e pensões. Os negócios suspeitos da última década corroeram o patrimônio de Petros, Funcef e Postalis, que somaram déficit de R$ 33,6 bilhões apenas no ano passado. Metade da conta será paga pela sociedade, via aportes extras das empresas estatais. 

As estranhas transações foram realizadas por gestores vinculados ao PT de Lula e Dilma e ao PMDB de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. A maioria teve origem no ativismo sindical e ascendeu no loteamento político. Sindicalismo não é sinônimo de rapinagem. Porém, merece reflexão o fato de que nos últimos 12 anos os principais gestores dos fundos de Petrobras, Banco do Brasil, Caixa e Correios tenham saído das fileiras do Sindicato dos Bancários de São Paulo. Vieram dali, também, expoentes da burocracia do PT como Ricardo Berzoini, ex-presidente, e João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido, arquitetos de outra iniciativa que redundou em fraude, a Bancoop. 

A opção pela alavancagem de ativistas sindicais ao papel de gestores, no loteamento político das estatais e fundos de pensão, foi uma característica dos governos Lula e Dilma. Foi assim que Petrobras ganhou dois Josés (Dutra e Gabrielli). As razões tiveram mais a ver com perspectivas de poder e negócios do que com ideologias. Havia um projeto de mando, desenhado desde os primórdios do PT e da CUT, por Luiz Gushiken, então presidente dos bancários de São Paulo. 

Casta emergente no PT, os sindicalistas atuaram como força-tarefa, privilegiando algumas empresas no acesso às gôndolas de dinheiro público, como o Fundo de Amparo ao Trabalhador, fonte dos recursos subsidiados do BNDES. Exemplar é o caso de Marcelo Sereno, antigo dirigente do PT e chefe de gabinete da Casa Civil sob José Dirceu. Sereno é personagem recorrente nos escândalos da Loterj, mensalão, da Petrobras e dos fundos de pensão. Sua biografia une a direção da CUT-Rio, Dirceu, os ex-governadores Anthony Garotinho e Benedita da Silva, o presidente do PT-Rio Washington Quaquá, o deputado suspenso Eduardo Cunha e figuras como Ricardo Magro, dono de 21% do grupo Galileo. 

Preso ontem, Magro está no centro de uma fraude a 350 mil associados da Petros e Postalis negócio de R$ 80 milhões com debêntures de universidades, que prejudicou também 15 mil estudantes no Rio, na maioria pobres e dependentes do crédito governamental. É notável o silêncio sobre as maracutaias no crédito consignado ao funcionalismo, na Petrobras e nos fundos estatais, entre outras. É a trilha sonora das fissuras na maior base sindical do PT: 46% dos vinculados à CUT pertencem ao setor público.

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Presidente Dilma promete o que não pode garantir

Está além da capacidade do governo fazer o país crescer em 2015. A presidente Dilma Rousseff, portanto, promete o que não pode garantir, em sua mensagem encaminhada ao Congresso, ao dizer que não haverá recessão em 2015.

Isso porque o governo perdeu a capacidade de estimular a economia. Depois de fechar o ano de 2014 com um déficit primário de R$ 31 bilhões e um déficit nominal (inclui pagamento de juros) de R$ 343 bilhões, ou 6,7% do PIB, não há mais espaço para gastos públicos neste ano de 2015. A dívida bruta subiu nove pontos nos últimos quatro anos. O setor público este ano vai jogar contra a economia, aumentando impostos e reduzindo gastos.

Ao mesmo tempo em que o governo não consegue fazer o país crescer, o setor privado também tem suas próprias dificuldades. A confiança está baixa, a inflação, elevada, falta água e energia barata. Não há poupança interna para financiar investimentos e o país já está usando demais a poupança externa, como mostra o forte déficit em conta corrente, acima de 4% do PIB.

Diante de um quadro tão difícil, só resta à presidente tentar manter a confiança. O problema é isso vai passar um sinal contrário aos agentes econômicos, de incompreensão do quadro atual.

Fonte: Blog da Miriam Leitão