Se não der para levar Don Giovanni, que tal seu Leporello, Paulo Okamotto? Dilma, infelizmente, não pode ser convocada!
Representantes
da oposição chegaram a falar na possibilidade de convocar Luiz Inácio
Lula da Silva e Dilma Rousseff para a nova CPI da Petrobras, da Câmara,
que vai ser instalada na quinta-feira. Depois, houve um recuo. Vamos
ver. A governanta não pode ser convocada por uma Comissão Parlamentar de
Inquérito nem como investigada nem como testemunha. O mesmo vale para
os ministros do Supremo. A consciência jurídica considera que isso
feriria o Artigo 2º da Constituição, que estabelece: “São Poderes da
União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e
o Judiciário”. Se uma CPI pudesse convocar o chefe do Executivo, a
independência seria arranhada. Dado, no entanto, que o texto
constitucional afirma que os Poderes são harmônicos, talvez ela pudesse
se oferecer para falar, não é? E Lula?
Ah, Lula
pode, sim. É apenas um ex-presidente, e não há princípio que o proteja
de prestar contas se convocado for. E acho que tem de ser, ainda que eu
atente para os riscos. Quais? Lula é um orador poderoso. Não que tenha
sido dotado pela natureza da fluência de um Cícero ou que se iguale na
retórica a Marco Antônio — o de Shakespeare…
Não! Sua força não está
propriamente nele, mas no imaginário que despertou, ainda hoje
alimentado por mistificadores. Numa CPI, não tenham dúvida, dispararia
impropérios os mais variados. Transformaria aquela cadeira num palanque,
rendendo quilômetros de títulos. Assim, admito o risco de o tiro da
oposição sair pela culatra, mormente porque muitos parlamentares, como
diz a molecada, “pagaria pau” para o Babalorixá de Banânia.
Mas eu não
gosto nada, nada dessa democracia a meio pau que muitos pretendem
instaurar no Brasil. “Ah, não! Lula na CPI, não! Seria demais!” Ora,
“demais” por quê? Ele não está acima da lei. E os parlamentares da
oposição que se preparem para enfrentar a sua metralhadora de insultos à
inteligência e de demonização do passado. Assim, defendo que seja
convocado porque se trata de uma prerrogativa de que dispõem os
parlamentares. Numa democracia, nos limites do que faculta a lei, todos
os assuntos podem e devem ser debatidos.
Digamos,
no entanto, que se considere não ser o caso de convocar o Don Govanni de
Garanhuns e São Bernardo. Bem, nesse caso, é inescapável chamar Paulo
Okamotto, seu Leporello. Afinal, esse rapaz está sempre em todas.
Admitiu, por exemplo, que andou conversando com empreiteiras. Há muito
tempo, ele serve para, como posso dizer?, distrair a atenção daqueles
que são enredados pelas espertezas de seu chefe e, consta, sócio. Para
lembrar: segundo afirmou Marcos Valério em depoimento ao Ministério
Público, ele foi ameaçado de morte por Okamotto caso falasse demais. O
pajem de Don Giovanni nega, é claro.
Defendo
Lula na CPI como parte de uma operação simbólica para devolver este
senhor à terra, eliminando aquela espécie de campo de força que o
protege de dar explicações a quem quer que seja. Ele certamente tentaria
fazer uma pantomima. Mas chegou a hora de enfrentar o mito dos pés de
barro.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
Lava
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