Grupo
quer o comando da Comissão de Direitos Humanos da Casa
A bancada da bala está de volta. Renovada e mais
forte. O grupo
já listou as suas metas e escolhe nesta terça-feira os coordenadores da Frente Parlamentar da Segurança Pública, nome "oficial" da bancada. Uma
das prioridades será aprovar o fim da chamada maioridade penal, hoje em 18
anos, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Mas eles não querem mais reduzir para 16 ou
14 anos. Defendem
o fim de qualquer limite mínimo de idade para responsabilizar criminalmente uma criança e adolescente que comete algum delito. — A
sociedade brasileira tem assistido o crime organizado aliciar menores para
prática de crimes bárbaros. Adolescentes de 12, 14 e 16 anos são utilizados
como testa de ferro dessas organizações. Temos visto adolescentes de 17 anos
praticarem latrocínio e ao completar 18 anos são postos em liberdade. Essa
situação absurda não existe em nenhum local do mundo. Os
falsos defensores de direitos humanos não adotam esses menores, não fazem
abrigos para acolhê-los por meio de suas ONGs, mas querem deixá-los nas
ruas se drogando e matando — disse o deputado
Alberto Fraga (DEM-DF), da Polícia
Militar, parlamentar mais votado no Distrito
Federal, completando: — Na Europa e na América do Norte, bem como
na América do Sul, o menor é responsabilizado. Países como Alemanha, Espanha e
França possuem idades de inicio da responsabilidade penal juvenil aos 14, 12 e
13 anos.
Reunião da 'bancada da bala'. Da esquerda para a direita os dois de
costas são João Campos e Delegado Waldir; na sequência: Alberto Fraga,
Capitão Augusto, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Delegado Éder Mauro,
Gilberto Nascimento, Delegado Edson Moreira, Cabo Sabino e Laerte Bessa - Evandro Éboli / O Globo
O nome bancada da bala é uma denominação que o agrada.
— Eu gosto do nome bancada da bala — disse
Fraga, na primeira reunião do grupo, há duas semanas.
O Delegado Waldir (PSDB-GO), da
Polícia Civil, com a maior votação no seu estado e eleito com o número 4500, "45 do calibre do revólver e
00 da algema", seu slogan de
campanha, também não quer limite mínimo para punição a menores. — Essa discussão está ultrapassada. O melhor
modelo é o americano e o inglês. Se o jovem tem o conhecimento que a conduta é
ilícita, responde por essa conduta. Não interessa a idade. Não se vê nesses
países manifestação do pessoal dos direitos humanos porque um adolescente foi
preso se matou uma ou duas pessoas — disse Waldir.
A bancada pretende ainda
restringir os benefícios dos presos e acabar com os "saidões", quando os presos ganham direito a
passar alguns dias fora da prisão em datas especiais, como o Natal, e até o fim das visitas íntimas. Outra proposta é
reduzir a burocracia e facilitar o acesso ao porte de arma. Os membros da bancada ainda querem
fazer a maioria na Comissão de Direitos Humanos e eleger um de seus
representantes presidente desse colegiado.
Com uma representação nunca tida
antes - 21 deputados são egressos de corporações
policiais e militares - ainda querem um site
próprio para defender suas posições, rede de
comunicação no “Whatsapp” entre eles e mobilização
no plenário quando alguém da turma estiver discursando. —
Vamos fazer apartes e dar apoio a proposta um do outro. Temos que estar unidos
— disse um dos deputados presentes na reunião duas semanas atrás. Jair Bolsonaro (PP-RJ), outro campeão de
voto, estava preocupado em arregimentar o grupo para garantir sua eleição para presidente da Comissão de Direitos
Humanos. Há um ano ele perdeu a
disputa por um voto. — Se fecharmos com dez votos aqui, a eleição
está garantida. Vamos fechar? — disse Bolsonaro, que fez um prognóstico
caso vença. — Se eu ganhar, o povo vai
sentir saudade do Marco Feliciano (PSC-SP) — disse, se referindo ao
polêmico ex-presidente da comissão.
Ao
discutirem projetos prioritários, como a redução da idade penal, apontaram as
dificuldades. — Há mais de 30 projetos desses aqui, mas o Luiz
Couto (PT-PB) é o relator e, não adianta, a coisa não anda — disse o coordenador do grupo, João Campos (PSDB-GO), também delegado da Polícia Civil.
Couto é um militante dos direitos humanos.
O Delegado Edson Moreira (PTN-MG) endossou
o apoio à redução. — Na Bolívia, a idade penal é 11
anos. Um absurdo. Um país bem mais atrasado que o nosso — disse.
Ao
falarem de proteção aos policiais, Bolsonaro lembrou a morte de um cabo do Exército, em
dezembro, que atuava na força de pacificação no complexo das favelas
da Maré, no Rio. — Essa história de soldado engajado contra o crime organizado... Atirar
e sair é outra história. Agora, ter que ficar lá?! Não dá! Mataram um cabo na
Maré e não houve resposta. Tem que ser na porrada. Tem que ser na bala! —
afirmou Bolsonaro, acompanhado por Alberto Fraga. — Na bala. É a única linguagem que eles
entendem.
PROGRESSÕES
DE PENA
O capitão Augusto (PR-SP), da Polícia Militar, circula fardado pelos corredores
e plenário da Câmara. Além de querer reduzir o direito
às progressões de pena, Augusto apresentará projeto que torna votações
no plenário que envolvam temas de segurança pública fechadas. Ou seja, sem que
seja dada a publicidade de como votou cada deputado. — É
preciso mudar o regimento e ter votação sigilosa para alguns projetos, como o
fim da visita íntima. Quem vai ter coragem de votar contra se o voto for
aberto? Tem medo (o deputado) de sua
integridade física — disse o capitão, que afirmou que é preciso "segregar os marginais". — É preciso ter coragem para falar e segregar
os marginais mesmo. Digo os marginais que não têm
recuperação: 92% são reincidentes, são contumazes — disse.
AUTO
DE RESISTÊNCIA
A
bancada quer barrar também a votação do projeto que acaba com o auto de
resistência, pronto
para ser votado no plenário. O projeto acaba com a possibilidade de as lesões
decorrentes de ações policiais serem justificadas por meio de auto de
resistência, alegando que o policial estava se defendendo. — Isso
é um absurdo. Um de nós tem que ser relator disso aí — disse o delegado Edson
Moreira. Durante a reunião, foi citado o fato de os parlamentares da área de
segurança pública serem batizados como bancada da bala.
— Não gosto desse nome! Não sou
financiado pela indústria da bala — disse o Major Olímpio Gomes (PDT-SP). — Eu gosto — disse Fraga. Uma certa informalidade também marcou a
reunião e abriu espaço para algumas brincadeiras. Gilberto Nascimento (PSC-SP),
outro delegado de polícia, disse que a segurança pública é um problema que
atinge toda população, não um segmento ou outro. —
Quando fala em segurança pública, pega todo mundo. Preto ou branco; rico ou
pobre; coronel ou gay — disse, seguido de risadas gerais.
Quando o
delegado Éder Mauro (PSD-PA) entrou na reunião, Bolsonaro o saudou: — Chegou um humanista.
Mauro respondeu:
— Humanista! Que defende os direitos dos
'mano'.
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