Depois de anunciar da tribuna do Senado que votaria contra as medidas
do pacote fiscal do governo Dilma Rousseff, o senador petista Lindbergh
Farias (RJ) justificou seu gesto numa entrevista ao blog.
“Nosso projeto político está indo pro espaço”, ele disse. “Tem uma
rebelião grande no PT contra a política econômica do governo. Alguns
setores preferem fazer a crítica intramuros. Nós decidimos fazer a
disputa política aberta na sociedade —em debates, em passeatas, em todo
lugar.”
Lindbergh explicou que sua declaração de voto não nasceu de uma reflexão solitária. “Essa minha posição veio acompanhada de um manifesto
feito nos últimos dois dias. Assinam o documento pessoas de grande
expressão no PT —economistas como Luiz Gonzaga Belluzzo e Márcio
Pochmann, lideranças do porte do Tarso Genro. Subscrevem também o texto
entidades muito ligadas a nós. Entre elas a CUT, o MST e o MTST.”
Segundo
Lindbergh, a decisão de pegar em lanças contra o ajuste fiscal se deve a
uma convicção. “Estamos convencidos de que esse arrocho fiscal
pretendido pelo governo, combinado com o aperto monetário, vai nos levar
uma uma recessão gigantesca. Neste ano, a taxa de juros já foi elevada
em 2%. Cada subida de 0,5% eleva os gastos públicos em algo entre R$ 7,5
bilhões a R$ 12 bilhões. E isso anula a economia pretendida com o
ajuste fiscal.”
Lindbergh prosseguiu: “Achamos que a estratégia
central da politica econômica tem que ser a retomada do crescimento, com
medidas de proteção ao emprego. Não há dúvida de que o desequilíbrio
fiscal existe. Mas é preciso lembrar que esse desequilíbrio decorre
sobretudo de desonerações tributárias que beneficiaram grandes empresas.
Não é admissível que o governo vá para cima dos mais pobres, dos
trabalhadores. Não dá para aceitar que não haja nenhuma medida voltada
para o andar de cima.”
O manifesto de petistas e de entidades
ligadas ao petismo foi concebido com o propósito deliberado de dar
suporte e oferecer argumentos aos senadores que votarão contra o arrocho
fiscal de Dilma. Onze senadores aderiram ao documento. Do PT, além de
Lindbergh, apenas Paulo Paim (RS) rubricou a peça. Os outros apoiadores
são do “independente” PSB e dos "governistas" PMDB, PDT, PRB, PSD. “A
bancada de senadores do PT está cheia de gente que concorda com tudo o
que estou falando”, confidenciou Lindbergh. “A diferença é que essas
pessoas avaliam que é preciso ter calma. E nós achamos que já basta. A
pior coisa que pode acontecer num quadro como esses é um silêncio
subserviente.”
Na noite desta quarta-feira (20), seria votada a
parte do ajuste fiscal que endurece as regras para o pagamento do
seguro-desemprego e do abono salarial. Porém, após mais de quatro horas
de debates, o governo preferiu retirar de campo o que restou de sua
infantaria e adiar a encrenca para terça-feira (26) da semana que vem. O Planalto temeu ser derrotado. E preferiu não pagar para ver.
Lindbergh
ataca sem meias palavras o ministro Joaquim Levy (Fazenda). “Não temos
nada de pessoal contra o Levy. Ele é um cara honesto em suas posições.
Fala o que pensa. O problema é que ele pensa como um secretario do
Tesouro. Só fala em ajuste e corte. Como formulador de política
econômica, o Levy fica devendo.”
O senador petista pergunta,
apontando para cima: “Será que a presidente Dilma e o Aloizio Mercadante
[chefe da Casa Civil] acham mesmo que, acabado esse ajuste do Levy, a
situação vai melhorar? Não sei o que passa pela cabeça da Dilma e do
Mercadante. Mas creio que eles não estão se dando conta de que essa
política econômica vai nos afundar. Isso não será ruim apenas para o PT,
mas para toda a esquerda brasileira. “A situação já está muito
ruim”, arrematou Lindbergh. “A renda do trabalhador caiu, aumenta a
sensação de desemprego. Esse pessoal está brincando com fogo. Não está
em jogo apenas a popularidade da presidente. Esse caminho em direção à
recessão leva também à degradação social. Essa estratégia é uma
maluquice.”
Fonte: UOL/Notícias
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