Quando ex-presidente ensaiava ser apresentar como o defensor dos direitos trabalhistas e previdenciários, toma na testa a acusação de chefe de uma organização criminosa
Sim, o
comando do PT vibrou com o show estrelado por Deltan Dallagnol nesta
quarta-feira. E, como sabe todo jornalista bem-informado a respeito do
que vai nos bastidores da Lava-Jato, parte da força-tarefa sentiu,
depois de alguns minutos de iniciado o evento, que o espetáculo pode
custar muito caro. Investigadores sensatos consideram, e eu concordo,
que se tratou de um tiro no pé. Mas o PT e a defesa de Lula vibraram com
o quê? Com as consequências imediatas para o partido? Claro que não!
No curto
prazo, as consequências são obviamente negativas — se é que há espaço
para a reputação do partido cair ainda mais. As eleições municipais já
seriam um desastre antes desta quarta. Depois dela… Por mais que os
candidatos do PT escondam a estrela, seus adversários se encarregam de
recuperá-la. No momento em que Lula ameaçava alçar voo por aí e em que
os protestos de rua ensaiavam ganhar algumas adesões fora do
petismo-esquerdismo, Dallagnol estampa aos olhos de todos o organograma
em que o grande líder figura como o chefe da organização criminosa — o
antigo chefe de quadrilha.
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Por mais
que Lula pretenda, mais uma vez, usar a acusação para posar de vítima,
idiota não é. Sabe o peso que isso tem, especialmente quando o seu algoz
assumia as vestes de uma espécie de anjo vingador, a dizer com ar
impoluto e a retórica inflamada dos justos: “propinocracia,
propinocracia, propinocracia”. E, segundo a espada vingadora, o chefão
petista é o general da bandalheira.
Do ponto
de vista estritamente partidário e eleitoral, isso empurra Lula ainda
mais para o gueto. Ele já tinha decidido que correria o país a falar em
nome dos direitos trabalhistas, que estariam sendo ameaçados por Temer. É
mentira, claro! Mas desde quando os petistas precisam da verdade para
fazer política? Ele já estava azeitando o discurso contra a reforma da
Previdência. A pregação contra as privatizações também já estava na
ponta da língua.
Pois é…
Terá de haver um recuo nisso tudo. Um problema bem mais alto se
alevanta. Lula não terá muito como se ocupar de criar embaraços para o
governo Temer. Ele tem agora de cuidar da sua reputação e da sua defesa.
O chefe de uma organização criminosa, segundo o Ministério Público
Federal, vê comprometida boa parte da pouca reputação positiva que
conservava. A partir de agora, seus juízos estão contaminados por uma
acusação grave. É bom lembrar que o Ministério Público Federal não o
coloca apenas como o centro irradiador da roubalheira do partido. Ele
também é acusado de se beneficiar pessoalmente das safadezas apontadas.
E o que o
PT comemora? Obviamente, não são as dificuldades novas. Como já afirmei
aqui, o que se viu na decisão precipitada da Lava-Jato foi uma vereda
para a defesa. Seus advogados, a partir de agora, estarão menos
empenhados em jogar para a galera — isso que fique para o partido — do
que em apontar as fragilidades técnicas da acusação nos tribunais.
Do ponto
de vista político imediato, é claro que o partido está às voltas com um
novo desastre. Qual será o caminho? Fica para outro texto.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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