Quanto
tempo, dinheiro, energia e criatividade o pessoal da Odebrecht gastou para
montar e manter por tantos anos o tal "departamento de operações estruturadas"?
O sistema
supervisionava, calculava e executava os pagamentos de comissões - propinas,
corrige a Lava Jato - referentes a grandes obras no Brasil inteiro e em
diversos outros países. Considere-se ainda que os pagamentos deviam ser
dissimulados, o que trazia o trabalho adicional de esconder a circulação do
dinheiro e ocultar os nomes dos destinatários. Coloquem na história os
funcionários que criavam os codinomes dos beneficiários - Casa de Doido,
Proximus, O Santo, Barba Verde, Lampadinha - e a gente tem de reconhecer:
os caras eram eficientes.
Nenhuma
economia cresce sem companhias eficientes. Elas extraem mais riqueza do capital e do trabalho
e, com isso, reduzem o custo de produção, entregando mercadorias e serviços
melhores e mais baratos. Pois o "departamento de operações estruturadas"
foi eficiente na geração de uma enorme ineficiência. Tudo aquilo é parte do custo
Brasil - encarece as obras, elimina a competição,
afasta empresas de qualidade e simplesmente rouba dinheiro público.
Há
aqui dois roubos: um
direto, o sobrepreço que se coloca nas obras para fazer o caixa que
alimenta as propinas; o outro roubo é indireto e mais espalhado. Está no
aumento dos custos de toda a operação econômica. Na última terça, a Fundação
Dom Cabral divulgou a versão 2016 do ranking mundial de competitividade, que
produz em associação com o Fórum Econômico Mundial. O
Brasil apareceu no 81o. lugar, pior posição desde que o estudo é feito, atrás
dos principais emergentes, bem atrás dos demais Brics.
Mais
importante ainda: se o Brasil caiu 33 posições nos
últimos seis anos, os demais emergentes importantes ganharam posições
com reformas e mais atividade econômica. Prova-se assim, mais uma vez, que a
crise brasileira é "coisa nossa", genuína produção nacional.
Os
governos Lula 2 e Dilma foram tão eficientes na geração do desastre quanto a Odebrecht com Suas
operações estruturadas. Uma política econômica que provoca recessão -
por três anos seguidos - com inflação em alta, juros elevadíssimos e dívida
nas alturas, tudo ao mesmo tempo, com quebradeira geral das maiores estatais -
eis uma proeza que parecia impossível.
Para
completar, a eliminação de qualquer critério de mérito
na montagem do governo e suas agências arrasou a eficiência da administração
pública e, por tabela, da empresa privada que tinha negócios com esse
governo. Em circunstâncias normais, numa economia de mercado, a empresa privada
opera tendo como base as leis e as regulações que devem ser neutras e iguais
para todos. A Petrobrás precisava ter regras públicas para contratação de
obras e serviços. Em vez disso, o que a Lava Jato nos mostrou? Um labirinto de negociações escondidas, operações
dissimuladas, manipulações de lei e regras.
Às vezes,
a gente pensa: caramba, não teria sido mais simples fazer a coisa legal? Sabe
o aluno que gasta enorme energia e capacidade bolando uma cola eficiente e
acaba descobrindo que gastaria menos estudando? A diferença no
setor público é que o estudo não dá dinheiro. A cola dá um dinheirão para
partidos, seus políticos, amigos e companheiros.
Nenhum
país fica rico sem ganhos de produtividade. O Brasil da
era PT perdeu produtividade. Mas pior que isso, criou sistemas ineficientes e
corruptos desde os principais setores da economia - construção civil, indústria
de óleo e gás - até os mais simples serviços públicos, como a concessão de
bolsa pescador ou auxílio-doença.
Sobrando
dinheiro. Como o Brasil do pré-sal, a Noruega também descobriu enormes
jazidas de petróleo. Também constituiu uma estatal - a Statoil -
para extração e produção. Mas os noruegueses tomaram a decisão de guardar a
receita do óleo. Constituíram um Fundo Soberano, alimentado com os ganhos
da Statoil, fundo esse que passou a investir sobretudo em ações pelo mundo
afora. Esses investimentos deram lucros - e este dinheiro, sim, é gasto pelo
governo. E o Fundão é reserva para as aposentadorias. O Fundo
norueguês é hoje o maior do mundo - tem um capital investido de US$ 880
bilhões.
Já
o Brasil gastou antes de fazer o dinheiro. O pré-sal está atrasado, perdemos o boom dos preços
astronômicos do petróleo e a Petrobras é a empresa mais endividada do
mundo. Outro dia mesmo, vendeu um poço para a Statoil, para fazer caixa.
E Dilma dizia que estava construindo o futuro. De
quem?
Fonte: Carlos Alberto Sardenberg - www.sardenberg.com.br
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