Depois de semanas de pressão para que o Supremo Tribunal
Federal analise novamente a possibilidade de prisão após condenação em
segunda instância, ministros da Corte discutem hoje, em reunião, uma
possível solução para o impasse em torno do tema. O encontro será no
gabinete da presidente do STF, Cármen Lúcia, que tem resistido a pautar
um novo julgamento dessas ações e do habeas corpus apresentado pela
defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nesta segunda-feira, 19, o ministro Gilmar
Mendes criticou, sem citar nomes, o fato de habeas corpus não terem sido
pautados para julgamento. “A casa do pai tem muitas moradas e o caminho
para a casa do pai é diverso. De modo que discutir se a questão será
julgada em habeas corpus ou em ação direta de inconstitucionalidade não é
importante. O importante é que seja discutido e não se negue
jurisdição. O que é grave para o Judiciário e não pode ocorrer é não
julgar.”
Sorteado relator de habeas corpus coletivo
que pedia a libertação de condenados em segunda instância, Gilmar negou o
pedido. A ação buscava beneficiar os que estão presos e os que se
encontram perto de receber uma ordem de prisão, na fase final dos
recursos. Para ele, há presos que, pela gravidade dos atos, não poderiam
ser beneficiados por decisão que lhes permitissem responder em
liberdade.
Cármen Lúcia vem sendo pressionada a pautar um julgamento
definitivo sobre as ações que discutem a prisão após a condenação em
segundo grau. A defesa de Lula quer ter analisado no plenário habeas
corpus em que pede para responder em liberdade até o último recurso na
ação penal do caso do triplex do Guarujá (SP). Ele foi condenado a 12
anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e pode ter o
recurso analisado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4)
até o fim deste mês.
‘Não cedo’
À GloboNews, Cármen Lúcia voltou a dizer que
não vai pautar o tema, decidido em 2016. “Não há nenhuma razão para que
a matéria volte agora, abstratamente, para levar à mudança da
jurisprudência. Não cedo a que isso venha acontecer.” Segundo ela, a
segunda instância “foi uma conquista do STF e do Judiciário para
garantir a continuidade dos processos de todas essas operações de
combate à corrupção."
Em entrevista à rádio Itatiaia nesta segunda-feira, Cármen
afirmou que o convite para a reunião de hoje foi feito pelo ministro
Celso de Mello, o mais antigo da Corte. “Não é reunião formal, nem fui
eu que convoquei, mas é comum a conversa acontecer. Não tem nada de
convocação, coisa que não fiz, nem tem nada de extraordinário.”
O gabinete de Celso de Mello informou que
ele não comentaria. O decano, defensor da presunção da inocência, é um
dos que têm cobrado publicamente uma data para o julgamento.Na semana passada, o advogado de Lula e
ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence, se reuniu com Cármen Lúcia para
pedir a inclusão do tema na pauta. No mesmo dia, um grupo de 20
deputados do PT também foi recebido por ela, que não deixou espaço para
negociação. A estratégia dos petistas agora será tentar pressionar o
ministro Edson Fachin, relator de um habeas corpus de Lula. Ministros favoráveis à rediscussão do tema
buscam uma solução. Uma possibilidade seria que o ministro Marco Aurélio
Mello, relator das ações que tratam da prisão em segunda instância,
apresentasse questão de ordem que levasse a uma nova análise pelo
plenário da Corte.
Outra opção seria o conjunto de ministros rediscutir a
questão ao analisar embargos de declaração (tipo de recurso) interpostos
contra o acórdão do julgamento de outubro de 2016. A jurisprudência
atual do STF é de que cabe prisão após condenação em segunda instância.
Gilmar indicou que pode mudar de voto, por isso os advogados esperam
novo julgamento. Já Alexandre de Moraes não integrava a Corte quando o
caso foi a plenário e pode votar agora.
Trânsito em julgado
Ministro do Supremo Tribunal Federal
contrário à execução antecipada da pena, Marco Aurélio Mello disse que
poderia rever sua posição se houvesse uma mudança na Constituição que
definisse a condenação em segunda instância como trânsito em julgado.
“Quem sabe a solução estaria aí, em uma emenda para dizer: havendo duplo
pronunciamento com o crivo do Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Federal, após não caber mais recursos nesses tribunais, tem-se o
trânsito em julgado. É uma solução”, disse ele.
Marco Aurélio afirmou ainda que o
ex-ministro da Corte Cezar Peluso propôs a mudança em 2011, que virou
uma proposta de emenda à Constituição (PEC), que não foi adiante. A
alteração, no entanto, caberia ao Congresso. Para Marco Aurélio, a
mudança seria uma solução para a característica de “recursos sucessivos”
que enfrenta a Justiça brasileira no Superior Tribunal de Justiça (STJ)
e no STF. “Se o nosso sistema enseja recursos sucessivos, devemos
modificar o sistema, não o colocar em segundo plano”, disse o ministro.
Questionado se seria simpático à ideia da execução de pena
após decisão do STJ, Marco Aurélio declarou que a tendência é de
reafirmar o voto de outubro de 2016, pela prisão após esgotamento de
todos os recursos. Autor da PEC que propõe a conclusão dos
processos a partir de segunda instância, o senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES) quer que ela seja aprovada para garantir segurança jurídica no
País. “Não há como a gente conviver com essa situação.”
As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
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