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segunda-feira, 16 de abril de 2018

O fim do império do fuzil



Devemos recompensar quem apreende um fuzil à altura da importância social disso. Recompensar de verdade, com valores significativos: R$ 10 mil, R$ 15 mil por peça

A população do Rio de Janeiro se acostumou de tal forma à barbárie que perdeu a capacidade de estranhar um fenômeno singular: convivemos com fuzis em nosso cotidiano como se fosse normal. Roubam-se padarias de fuzil em punho, roubam-se carros usando fuzis. A polícia, para estar em pé de igualdade, se arma deles.

Cidades de veraneio já os recebem, como forma de proteção de território e de combate contra as forças policiais. A banalização de seu uso é gritante. Mas tratamos do assunto como se fosse normal. Não atentamos para o fato como ele é: são armas de guerra. Seu uso, mais do que crime, é um ato de terror. Essa desatenção tem um custo. Ela provoca um encorajamento dos bandidos, que usam a arma não para assaltar, mas para demonstrar força e dissuadir as reações contrárias de quem estiver portando armas menores. Inclusive a polícia. 

O bandido famoso só é temido por causa de seu poder de fogo, a facção criminosa só é mais violenta por causa de seu poder de fogo, tudo isso baseado no armamento que possuem. Tirar os fuzis das ruas é uma medida urgente porque terá efeitos em cascata. A começar pela contenção desse encorajamento das gangues armadas. 
Devemos recompensar quem apreende um fuzil à altura da importância social que isso tem. Recompensar de verdade, com valores significativos: R$ 10 mil, R$ 15 mil por peça apreendida. E à medida em que forem diminuindo as apreensões, aumentam-se os incentivos. 

Esqueçamos as caçadas humanas para prender chefes de quadrilhas. Nossa próxima “estação de caça” deve ser aberta contra o fuzil. Sem dúvida será um incentivo à polícia. Andar armado com ele — rotina sobretudo nas comunidades dominadas por traficantes — não será um bom negócio. Assaltar à luz do dia utilizando-se fuzis, muito menos.  Com o tempo, se bem-sucedida, a inciativa fará com que a polícia retome sua posição privilegiada nos confrontos, nos quais será respeitada. Policiais são forçados a atuar como soldados de guerra. Daí é legítimo a recompensa para quem há muito tempo já faz mais do que lhe é cabível. Adota-se uma política de segurança não contra as pessoas, mas contra o que, nas mãos de qualquer um, pode fazer um mal cada vez maior, ceifando vidas, mutilando corpos e tirando a paz, questão básica para uma sociedade civilizada.

Como a dita política de pacificação não funcionou, [nem vai funcionar: só haverá paz quando apenas um dos lados estiver armado, bem armado; e este lado tem que ser a polícia.] adotemos então uma política econômica da oferta e procura, estimulando a entrega dessas armas. Diminuindo-se o uso de fuzil, a população terá um alento. Os casos de balas perdidas diminuirão, pois, o alcance descomunal dessas armas que espalham o terror para muito além das regiões centrais dos conflitos armados. Policiais poderão cumprir seu dever correndo riscos menores. 

Já podemos imaginar quantos benefícios virão em não termos e sentirmos a todo tempo que um fuzil pode estar apontado em nossa direção. Quem sabe assim teremos um futuro que seja melhor para nossos filhos do que tem sido o presente para nós. 

Raphael Mattos é advogado
 

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