Quatro semanas no curso que analisa o impeachment de Dilma Rousseff
Uma centena de pessoas tentava se acomodar em uma das salas para assistir à primeira aula do curso “O golpe de 2016 no Brasil e o futuro da democracia” numa manhã de abril, na única universidade pública da Baixada Fluminense. A centenária Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) é uma das mais de 15 instituições acadêmicas em todo o país que abriram suas portas para discutir — de forma engajada — como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff entrará para os livros de história.O perfil dos ouvintes do “curso do golpe” — grande parte negros e pardos, de origem socioeconômica das camadas mais baixas e simpáticos a partidos de esquerda — reflete a política de admissão de universitários da Rural, como é conhecida. A instituição oferece mais da metade das 2 mil vagas anuais a alunos cotistas, parcela crescente de seus 20 mil alunos. Sediada em Seropédica, um dos municípios mais pobres do Grande Rio, o campus principal da Rural tem 30.000 quilômetros quadrados — cinco vezes o tamanho de Brasília. É o maior da América Latina. Desde o nome, a Rural zela pelo espírito bucólico em seu campus. Os alunos caminham tranquilos por espaços amplos, exibindo ritmo próprio, mais lento e despreocupado que a correria das grandes cidades. Nos dias normalmente ensolarados e quentes, calças compridas estão em extinção, substituídas por bermudas e chinelos, no caso dos homens, ou shorts jeans e vestidos acompanhados por rasteirinhas, no das mulheres.
O prédio principal é uma construção de estilo neocolonial de três andares, originalmente erguido como sede de uma fazenda imperial, adornado por um jardim interno florido e um lago artificial. A imponência do prédio contrasta com a dificuldade de manutenção do campus. Alunos dizem que alguns institutos estão sem aulas devido à má conservação dos prédios. Reclamam de paredes e vigas com rachaduras, aparelhos de ar condicionado sem funcionamento, caminhos mal iluminados e segurança falha dentro do campus.
Temas como educação pública, movimento negro, militarização e violência
dominaram aulas do curso do golpe, com referências limitadas à queda da
ex-presidente Dilma e à prisão de Lula, ocorrida em abril
Nesse ambiente decadente, com queixas frequentes de asfixia
administrativa por parte da administração de Michel Temer, a existência
do curso do golpe aglutinou opositores diversos do governo mais
impopular da história. Foi inspirado no curso oferecido pela
Universidade de Brasília (UnB) que provocou críticas exaltadas de
Mendonça Filho (DEM-PE), então ministro da Educação. A reação desastrada
do governo gerou uma onda de solidariedade, propagando a ideia para
várias das mais importantes instituições acadêmicas do país — entre elas
UFRJ, UFF, Uerj e Unicamp.
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