Fabio Schvartsman e Andrew Mackenzie somam 80 anos de experiência em gestão. Ainda têm chance de resgatar seu histórico bem-sucedido do lodo da Samarco
Está
virtualmente fechado um dos maiores negócios da indústria de mineração. Os
executivos Fabio Schvartsman, da Vale, e Andrew Mackenzie, da australiana BHP
Billiton, chegaram a um acordo sobre o futuro da Samarco. Se mantido, a Vale
deverá anunciar em breve a compra da participação (50%) da sócia Billiton no
controle da empresa, cujas operações estão paralisadas há dois anos.
Schvartsman
e Mackenzie lideram dois dos maiores e lucrativos grupos mundiais de mineração.
São, também, responsáveis pelo atual impasse nas ações da subsidiária para
restaurar vida e paisagem numa área de 70 mil quilômetros quadrados, entre
Minas e Espírito Santo, devastada no rompimento de uma barragem de rejeitos da
Samarco em Mariana (MG). É o maior desastre ambiental no país. Schvartsman
herdou o problema do antecessor, Murilo Ferreira, que deixou a Vale há 14
meses.
Já se
passaram 890 dias desde a quinta-feira 5 de novembro de 2015, quando uma
avalanche de compostos quimicamente estáveis (éter, arsênio, cádmio, mercúrio,
chumbo, manganês e ferro, entre outros) se espraiou por 800 quilômetros da
Bacia do Rio Doce até o Atlântico. Sob a lama foram encontrados 17 cadáveres. Até
agora, no entanto, a subsidiária comandada por Schvartsman e Mackenzie fez
muito pouco sobre as sequelas. É o que demonstram relatórios do Ministério do
Meio Ambiente, Ibama, governos de Minas e do Espírito Santo, dos municípios e
do Comitê da Bacia do Rio Doce.
Em
janeiro, esses organismos fizeram uma revisão do acordo (“Termo de Transação e
Ajustamento de Conduta”) assinado pela Samarco e seus acionistas, Vale e BHP
Billiton. Concluíram que as empresas descumpriram os compromissos de forma
“reiterada e inequívoca”. Cobraram “soluções eficazes e definitivas antes do
próximo período chuvoso”, a partir de outubro, para evitar “a continuidade da
poluição”. As
empresas responderam no mês seguinte, com 8,6 mil palavras distribuídas em 24
páginas sob o timbre da fundação criada para reparações no Rio Doce. Delas
sobressaem verbos sobre um futuro indeterminado e expressões sobre o presente
incerto, como “planos em elaboração”, “alternativa estudada”, “solução em fase
de projetos”, “estudos complementares”, “monitoramento adicional em andamento”,
e, “em avaliação”.
Nem o
tratamento da água dos rios está sendo feito. Tecnologia específica foi
identificada, informa a fundação. É usada em canais de esgoto urbano. Até foram
feitos “testes”, porém, “não foram avaliadas as questões da biodiversidade, nem
as autorizações para aplicar produtos químicos diretamente” nos rios. Mês
passado, o Ibama analisou as explicações e propostas. Definiu como
“superficiais”, “excessivamente conceituais”, “sem esclarecimentos ou conteúdos
técnicos relevantes” e “inconsistentes”. Concluiu que as empresas adotaram a
tática do rodízio: entregam cronograma, em seguida, atualizam e, logo, adiam.
São
posturas defensivas, para contenção de danos às imagens corporativas — a BHP
Billiton fez algo parecido em 1984, na Papua Nova Guiné, quando lançou 80 mil
toneladas de compostos de cobre, cádmio e zinco nos rios Ok Tedi e Fly e
envenenou a floresta.
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