Policiais
civis, militares e homens do Exército terminaram por volta das 4h desta
sexta-feira (11) a reconstituição da morte da vereadora carioca Marielle Franco
(PSOL), no centro do Rio. O crime completa dois meses na próxima segunda-feira
(14). A
vereadora e o motorista Anderson Gomes foram mortos quando voltavam de um
debate na Lapa, no centro do Rio, e iam em direção à Tijuca, zona norte. No caminho,
no bairro do Estácio (centro), um carro emparelhou com o de Marielle e disparou.
Ela morreu na hora com quatro tiros na cabeça.
Por volta
das 2h, sacos de areia utilizados para aparar as balas foram colocados e um
boneco levado para a cena do crime. Os primeiros disparos que simularam o
assassinato de Marielle e Anderson foram efetuados após o toque de uma sirene
às 2h49. Foram duas rajadas seguidas, de cerca de quatro tiros cada uma,
parecendo uma pistola com repetidor. A sirene
foi novamente acionada às 3h14. Desta vez, foi efetuado apenas um disparo. Nova
rajada única de tiros, parecida com a de uma metralhadora, foi disparada às
3h32.
PREPARATIVOS
Os
preparativos para a reconstituição do crime começaram por volta das 23h
dessa quinta. Para realizar a simulação, duas ruas foram bloqueadas
para veículos e pedestres em um perímetro de cerca de 1 km. O espaço
aéreo foi restringido a aeronaves e drones também foram proibidos no local. No
entroncamento das ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, local exato onde a
vereadora foi morta, imensas lonas de plástico preto foram estendidas por
militares para preservar testemunhas e evitar que imagens
fossem capturadas pela imprensa e curiosos. Dois caminhões das Forças
Armadas com imensos refletores iluminaram as vias. A imprensa não pode
acompanhar a simulação.
Na
esquina onde o carro da vereadora foi atingido, policiais colocaram sacos de
areia para conter as balas que foram disparadas na madrugada. Um carro
do tipo Gol, diferente do da vereadora, serviu de modelo para a simulação.
Em cartaescrita de dentro do presídio, obtida pelo jornal O Dia, o ex-policial também negou participação no crime. Ele também desacreditou o depoimento da testemunha, que seria um ex-colaborador de um outro grupo miliciano. Orlando Araújo chega a citar nominalmente o delator, apesar de sua identidade ter sido preservada na reportagem do diário carioca. A testemunha que ligou os dois ao homicídio da vereadora alegou ter trabalhado para o grupo e em três depoimentos deu detalhes sobre encontros onde o assassinato supostamente teria sido decidido. Pelo menos três homens teriam sido mortos depois do assassinato de Marielle, como queima de arquivo. Carlos Alexandre Pereira Maria, 37, o Alexandre Cabeça, e Anderson Claudio da Silva, 48, foram mortos pelos milicianos, segundo a acusação divulgada pelo jornal.
Em cartaescrita de dentro do presídio, obtida pelo jornal O Dia, o ex-policial também negou participação no crime. Ele também desacreditou o depoimento da testemunha, que seria um ex-colaborador de um outro grupo miliciano. Orlando Araújo chega a citar nominalmente o delator, apesar de sua identidade ter sido preservada na reportagem do diário carioca. A testemunha que ligou os dois ao homicídio da vereadora alegou ter trabalhado para o grupo e em três depoimentos deu detalhes sobre encontros onde o assassinato supostamente teria sido decidido. Pelo menos três homens teriam sido mortos depois do assassinato de Marielle, como queima de arquivo. Carlos Alexandre Pereira Maria, 37, o Alexandre Cabeça, e Anderson Claudio da Silva, 48, foram mortos pelos milicianos, segundo a acusação divulgada pelo jornal.
Passava
de 1h quando dois carros, um onix branco e um sedan prata, foram usados na
reconstituição. Eles manobraram várias vezes, em vários pontos das ruas.
Policiais civis fotografavam tudo. Para
manter o sigilo, policiais civis que participaram da reconstituição receberam
uma pulseira que dava acesso ao local. Do alto de uma cobertura de um
prédio próximo, a reportagem da Folha conseguiu acompanhar a
reconstituição. Além dos
investigadores, também estavam presentes o chefe da Polícia Civil, Rivaldo
Barbosa, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) e a mulher de Marielle, a
arquiteta Mônica Tereza Benício. Um homem, vestindo balaclava preta para não
ser identificado, acompanhava os policiais em vários pontos das ruas.
MATÉRIA COMPLETA, CLIQUE AQUI
Ao menos três testemunhas também participaram da simulação para tentar reconhecer o som dos tiros para auxiliar a polícia na identificação da arma utilizada pelos assassinos.
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Ao menos três testemunhas também participaram da simulação para tentar reconhecer o som dos tiros para auxiliar a polícia na identificação da arma utilizada pelos assassinos.
A polícia
ainda não descobriu o tipo de arma usada no crime —se foi uma pistola ou uma
submetralhadora, ambas calibre 9 mm. Apesar de terem o mesmo calibre, o som que
cada arma faz é diferente. Do lado
de fora da reconstituição, duas mulheres entoavam em uníssono: “Marielle,
presente!”, que se transformou no grito de guerra e homenagem à vereadora
morta.
DELEGADO
O
delegado titular da Delegacia de Homicídios do Rio, Giniton Lages, disse que a
reconstituição simulada é uma forma de recolher possíveis provas para o
inquérito, já que não há registro de imagens do homicídio pelas câmeras de
trânsito e de segurança da região. "Com
as testemunhas presenciais, aqui no cenário do crime, através das percepções
auditivas e pessoais, é possível reconstituir a dinâmica do crime. É preciso
ter a movimentação exata dos veículos, saber como foram os disparos realizados,
se foram rajadas ou intermitentes, tentar determinar qual foi o tipo de
armamento”, afirmou o delegado.
TESTEMUNHA
Perto de
completar dois meses, o assassinato da vereadora ainda não foi solucionado. Na
última terça (8), porém, reportagem do jornal O Globo mostrou que uma
testemunha apontou o vereador Marcello Siciliano e o ex-PM Orlando Oliveira de
Araújo como mandantes do crime. Preso, o
ex-PM é suspeito de chefiar uma milícia que atua na zona oeste, reduto
eleitoral do vereador, também apontado como tendo ligação com grupos
paramilitares. Orlando comandaria a milícia de Jacarepaguá (zona
oeste) e Curicica. Os dois negam as acusações.
Ainda de
acordo com a reportagem, Marielle estaria atrapalhando os planos do grupo de
expansão de territórios para outras localidades da região, como a Cidade de
Deus, atualmente dominada por traficantes. Marielle estaria denunciando abusos
policiais em seguidas operações na favela. Segundo a
Folha apurou, milicianos veriam com bons olhos as investidas policiais
contra traficantes da favela, que mais tarde poderia vir a ser dominada por
paramilitares. Siciliano
negou qualquer envolvimento no crime e disse não conhecer o ex-PM, preso desde
outubro sob suspeita de homicídio e participação em milícias.
O corpo
de Alexandre Cabeça foi encontrado em 8 de abril, mais de três semanas depois
da morte de Marielle, dentro de um carro, por PMs do 18º Batalhão da PM
(Jacarepaguá). Alexandre era colaborador de Siciliano e chegou a ser ouvido
pela polícia sobre o assassinato da vereadora. Já o
policial reformado Anderson Claudio da Silva foi morto com vários tiros,
inclusive de fuzil, ao entrar em seu carro, na praça Miguel Osório, no Recreio
dos Bandeirantes. Silva dirigia uma BMW blindada. Ele se aposentou como
subtenente em 2015, após ser baleado em operação no Complexo do Chapadão.
Nesta
terça, poucas horas após a divulgação da reportagem, um outro policial militar
foi morto. O sargento Luiz Felipe de Castro Moraes, do 16º Batalhão (Olaria)
foi assassinado em Brás de Pina (zona norte) após deixar o serviço. Ele havia
sido homenageado na Câmara dos Vereadores do Rio em novembro, justamente por
iniciativa de Siciliano. Nesta
quarta-feira, o jornal O Globo divulgou segunda reportagem que aponta que a
mesma testemunha relatou que dentro do carro de onde foram disparados os tiros
contra Marielle estaria um PM do 16º Batalhão e um ex-PM que serviu no batalhão
da favela da Maré.
Folha de S. Paulo
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