Você pode estar votando contra o que pensa. Como se defender desse risco? Tendo sorte, talvez. Chamar os universitários não adianta
Vamos
fazer de conta que todos os que se dizem candidatos vão mesmo ser candidatos
(não vão ─ mas no Brasil acontecem tantas coisas estranhas que, de repente,
pode até ser que os candidatos estejam falando a verdade). O líder
das pesquisas, Jair Bolsonaro, lembra com saudades o regime militar, em que a
presença do Estado na economia foi gigantesca. Já se manifestou em favor de
mais Estado na economia. Mas seu principal guru econômico é Paulo Guedes,
seguidor da Escola de Chicago, que defende menos Estado na economia e mais
iniciativa privada.
Alckmin é
do mesmo PSDB de Fernando Henrique, que privatizou a Vale, os telefones, muitas
rodovias. Mas foi Alckmin que vestiu a jaqueta ridícula cheia de nomes de
empresas estatais, num debate com Lula, para provar que era contra
privatizá-las. O PSB inclui, em seu nome, a ideia socialista. Mas pode acabar
apoiando Alckmin, que nada tem de socialista. Ou Ciro, que se diz de esquerda,
mas foi quem implantou o Plano Real.
Lula não
pode ser candidato, por causa da Lei da Ficha Limpa. Mas quer ser o candidato
preferencial da esquerda. Em seu Governo, empreiteiras e banqueiros jamais
ganharam tanto, nem foram tão agradecidos. O caro
leitor escolhe com carinho o candidato que exprime suas ideias. Mas pode estar
votando contra o que pensa. Como se defender desse risco?
Difícil:
tendo sorte, talvez. Chamar os universitários não adianta.
A hora
dos salgadinhos
A festa
está começando: a convenção do PDT lança a candidatura de Ciro Gomes nesta
sexta-feira. Quem será o vice? Depende: pode ser um socialista, do PSB, pode
ser um conservador, do DEM. Pode ser Benjamin Steinbruch, dono da Companhia
Siderúrgica Nacional, do PP. Alckmin não tem nomes: quer alguém do Nordeste,
onde precisa crescer. Mas, gostaria de ter o paranaense Álvaro Dias, que
bloqueia seu crescimento no Sul. E boa parte de seus aliados gostaria mesmo é
de trocá-lo por João Doria Jr.
Lado A,
lado B
Nem Lula
está sossegado: Tarso Genro, que foi seu ministro, gostaria de ver o PT
apoiando Guilherme Boulos, do PSOL (o partido de sua filha, Luciana Genro). E quem
seria o vice de Lula, se pudesse ser candidato? Há dois palpites: Jaques Wagner
e Fernando Haddad. Um dos dois, mais provavelmente Haddad, será indicado por
Lula para candidato do PT.
Jair
Bolsonaro deve ser lançado candidato oficialmente neste domingo, na convenção
do PSL. Seu vice? Depois de pensar no senador Magno Malta, evangélico, e
desistir (o partido de Malta é o PR, de Valdemar Costa Neto, que sabe
direitinho quanto vale seu apoio), quer agora o general Augusto Heleno, PRP,
que foi o primeiro comandante das tropas da ONU no Haiti, com trabalho
elogiado, e comandante militar da Amazônia. Bolsonaro tem sete segundos de TV.
Com o PRP, passa a 19 segundos.
Jacaré
com cobra d’água
O
presidente do diretório estadual do MDB de Minas, Antônio Andrade, que sugeriu
um acordo com o DEM para apoiar Rodrigo Pacheco para o Governo, foi derrubado
pelos deputados do partido. O MDB, partido de Michel Temer, está prontinho para
aderir ao governador Fernando Pimentel, do PT, partido do Fora, Temer.
Renovação
O eleitor
está cansado dos políticos? É verdade: está. Está desiludido? É verdade: está.
E está disposto a mudar? Não, não está. Um balanço rápido mostra que a taxa de
renovação no Congresso será reduzida. Às vezes irá ocorrer uma troca de nomes,
mas de políticos conhecidos por políticos até mais conhecidos. Minas: os
candidatos favoritos ao Senado são Aécio e Dilma. São Paulo: Suplicy. Bahia:
Jaques Wagner. Goiás: Marconi Perillo (embora o candidato ao Governo Ronaldo
Caiado, seu adversário político, tenha o triplo das intenções de voto do
sucessor que indicou). Paraná: Roberto Requião e Beto Richa. Ceará: Cid Gomes,
Eunício Oliveira.
Ótima
notícia
A pedido
do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, a presidente do Supremo,
ministra Cármen Lúcia, suspendeu a medida pela qual os operadores de planos de
saúde poderiam cobrar dos segurados até 40% do valor das despesas. A decisão já
vale, mas pode ainda mudar: o plenário do STF a analisará depois das férias
judiciárias. Em sua decisão, Cármen Lúcia lembra que, mesmo editadas por
entidades administrativas, as normas não podem violar ou inovar o que está na
lei. Mais: nas palavras da ministra, “saúde não é mercadoria, vida não é
negócio e dignidade não é lucro ─ ademais, direitos conquistados não podem ser
retrocedidos sequer instabilizados”. Mas, é preciso tomar cuidado: quando o
Estatuto do Idoso proibiu discriminação a quem tivesse 60 anos ou mais, os
seguros-saúde e convênios passaram a multiplicar os preços quando o segurado
faz 59 anos. [o diretor da ANS não gostou muito da intervenção do Judiciário e diz não ser aquela Agência órgão de defesa do consumidor - saiba mais.]
Publicado
na Coluna
de Carlos Brickmann
Nenhum comentário:
Postar um comentário