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quarta-feira, 22 de julho de 2020

O boiadeiro de Chicago - O Estado de S.Paulo

Rosângela Bittar

Imposto, contribuição ou sigla terão a carga negativa da velha CPMF

Então, eis que o polivalente [sic] Paulo Guedes, anunciado como Posto Ipiranga por suas mil e uma competências, adere à tática oportunista do colega ministro e aproveita a porteira aberta da mortal pandemia para fazer passar sua boiada.  A primeira e mais vistosa delas transforma a extinta CPMF em imposto sobre transações financeiras, agora renomeado como CP, sem perder a imagem odiosa A nova CPMF já vingou como projeto, adiado apenas provisoriamente pelo desgaste histórico, revivido a partir do seu relançamento. Seguirá numa segunda etapa da reforma tributária iniciada ontem. E que os responsáveis por sua negociação não se prendam à semântica, como costuma fazer este governo quando lhe faltam argumentos. Imposto, contribuição ou sigla terão a carga negativa da velha CPMF, que, há muito, migrou da economia para a política.

Seja tributando transações eletrônicas ou transações digitais, operações de consumo ou contribuição de pagamentos, a nova CPMF renderá mais que seu antigo modelo. Terá incidência universal, já que as operações não digitais estão em extinção. Não haverá condescendência com pobres e remediados, em nome de quem, ironicamente, será cobrada. Além da vantagem (para o governo) de ter a alíquota facilmente majorável, conforme a demanda do momento. Injustamente cumulativo, como denunciam tributaristas, o imposto é reiteradamente desejado pelos governos de qualquer ideologia.  A fácil arrecadação e a ampla base o tornam irresistível.

No governo Lula sua ressurreição foi orçada em R$ 40 bilhões; e o dobro, R$ 80 bilhões, no governo Dilma. Com a amplitude da concepção atual, resultará em soma ainda não avaliada devidamente. Na estratégia não escrita de negociação do imposto, argumenta-se que a CPMF tem mais chances, agora, devido ao calendário. A sucessão está distante e haverá tempo para reduzir a indignação de todos até a campanha. Além de maior viabilidade de aprovação, ao contar com o apoio do Centrão. Não tendo impeachment no horizonte, o bloco será convidado a saldar sua fatura com a votação da CPMF. E não se fará de rogado, pois estará gerando as verbas que vai manejar.

Criado em 1997, apesar de provisório, durou 10 anos. O imposto teve diferentes justificativas oficiais, diferentes finalidades, diferentes apelos e diferentes alíquotas: 0,25% na criação, subiu para 0,38%, depois recuou para 0,30%, em seguida voltou a 0,38%, quando foi extinto, em 2007.[o de agora, aparentemente, sendo de 0,2% cobrará de TODOS, 0,4%=incide na hora de receber e na de pagar.] Ao longo do tempo, já foi imprescindível [sic] para sobrevivência do sistema previdenciário; para socorro à saúde; manutenção da ameaçada Bolsa Família; reforço ao auxílio-desemprego; afastamento do risco ao abono salarial.

Neste ano e meio de governo Bolsonaro, alegou-se ser a CPMF necessária para o combate à sonegação, desoneração da folha e, por último, criação do programa Renda Brasil. De repente, o destino principal voltou a ser a desoneração. Desoneração essa que, aprovada pelo Congresso, foi vetada pelo sempre ambíguo Bolsonaro. Lícito concluir, então, que o governo quis restaurar, com o veto, a melhor barganha de aprovação da CPMF. 
Para uma solução como esta, de pouca imaginação, não precisaria o presidente recorrer a Paulo Guedes, com sua marca da escola de Chicago e o poder de centralizar o comando de quatro ministérios: Fazenda, com todos os bancos federais; Planejamento, que autoriza e administra os gastos; o do Trabalho e o da Indústria e Comércio Exterior. Além de uma ascendência ímpar sobre o presidente da República.

O economista Guido Mantega, cujo currículo não impressiona, propôs exatamente a mesma solução para os mesmos problemas aos dois presidentes petistas com quem trabalhou. Guedes poderia ter sido mais original na formulação da política pós-pandemia, dispensando o imposto estigmatizado pela sociedade. 

Rosângela Bittar  jornalista - O Estado de S.Paulo




terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Nas ruas, rir é resistir - José Casado

O Globo

A sátira transborda pelos blocos

Está nas ruas uma nova e bem-humorada devassa política. Resulta das desilusões coletivas com os “vigários” de gravata, como canta a São Clemente: “Brasil, compartilhou/ viralizou, nem viu!/ E o país inteiro assim sambou/ Caiu na fake news!”

É um salve-se quem puder, avisa a União da Ilha, ao relatar a anarquia no Rio de tiroteios, intercalados pela “solidariedade” de governantes aos baleados: “Esse nó na garganta, vou desabafar/ O chumbo trocado, o lenço na mão/ Nessa terra de Deus dará... Eu sei o seu discurso oportunista/ É ganância, hipocrisia/ Seu abraço é minha dor, seu doutor.”

Na cidade de Marcelo Crivella, lembra a Unidos da Tijuca, só resta a súplica aos céus: “O Rio pede socorro / É terra que o homem maltrata / Meu clamor abraça o Redentor.” Virou zona de intolerância, protesta a Grande Rio: “Pelo amor de Deus/ Pelo amor que há na fé/ Eu respeito seu amém/Você respeita o meu axé.” Foi esse Rio que deu ao país Jair Messias Bolsonaro, evocado pela Mangueira na saga de Jesus da Gente, filho de carpinteiro desempregado com Maria das Dores Brasil: “Favela, pega a visão/ Não tem futuro sem partilha / Nem Messias de arma na mão.”

A sátira transborda pelos blocos (pura ironia num país cujo Congresso analisa mais de 60 projetos para restringir a liberdade de expressão). Não se esquece o governador Wilson Witzel vendendo bactérias Cedae: “Tem dó de nós, governador/ Tem dó de nós, governador/ Água amarela e com cheiro de cocô (bis).”

Inesquecível, também se tornou o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele caiu na rede dos Marcheiros: “Se eu contar, ninguém acredita/ Tive um sonho e acordei passando mal/ O meu insider trader virou parasita/ E o boletim não chegou na ‘pactual’... Fugi pra Disney, pra escapar desse BO/ Eu de doméstica ali na imigração/ O americano, veja só.../ Falou, tchuchuca, tenha dó/ Não tem escola de Chicago ou tubarão/ Pode algemar e manda pra deportação!/ ... Ai que baixo astral/ Que foi o meu pesadelo liberal/... E o pibinho, ó...”
“Sorrir é resistir”, ensina o Salgueiro em reverência a Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil.


José Casado, jornalista - Coluna em O Globo

 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O fim do Bolsa Família - Nas entrelinhas

“Pautado por medidas disruptivas dos programas sociais e decisões ultraconservadoras, o governo Bolsonaro não tem uma marca, exceto o dedo no gatilho no quesito segurança pública”

O ovo de Colombo do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a fusão dos programas de transferência de renda herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso, alguns originários do governo Sarney, num único programa: o Bolsa Família. A lógica do programa era a mesma, a focalização do gasto social nos mais pobres, em detrimento das políticas sociais universalistas, estratégia imposta pelo grupo social-liberal da equipe do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan à sua ala desenvolvimentista, porém, a escala foi ampliada.

Do ponto de vista do combate às desigualdades e da redistribuição da renda, o salário mínimo, a indexação das aposentadorias e as aposentadorias rurais tiveram e ainda têm um peso muito maior no combate à pobreza, mas, do ponto de vista da marca de um governo que se pretendia mais popular, o Bolsa Família foi um indiscutível sucesso de marketing político. Em todo o Brasil, mais de 14,1 milhões de famílias são atendidas pelo programa, ou seja, cerca de 56 milhões de pessoas. Vem daí a resiliência dos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e boa parte da sua capacidade de transferência de votos.

A primeira tentativa do governo Bolsonaro no sentido de capturar esse eleitorado foi manter o Bolsa Família, cujo valor médio hoje é de R$ 186,23, e agradar a seus beneficiados com uma parcela a mais do benefício, a 13ª Bolsa. A mudança, porém, não alterou o DNA do programa, daí a desejo de substituí-lo, a pretexto de incluir no sistema de proteção social oficial milhões de crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade que não recebem benefício do governo federal.

A proposta está sendo analisada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, com base num estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) intitulado “Uma proposta para a unificação dos benefícios sociais de crianças, jovens e adultos pobres e vulneráveis”, divulgado ontem. A ideia é fundir o Bolsa Família, o Salário-Família, o Abono Salarial e a Dedução por Dependente no Imposto de Renda da Pessoa Física, políticas públicas voltadas à proteção da infância e dos vulneráveis à pobreza no país. Os pesquisadores Sergei Soares, Leticia Bartholo e Rafael Guerreiro Osório, autores do estudo, consideram o sistema de proteção social existente uma colcha de retalhos, construída ao longo dos anos, mas com buracos e sobreposições.

Nova marca
Segundo os dados oficiais, 1,6 milhão de crianças recebem Salário-Família e Bolsa Família, outras 400 mil crianças recebem Salário-Família e dedução no Imposto de Renda. Em contrapartida, de um total de 52 milhões de crianças no Brasil, 17 milhões não têm benefício social. O novo ovo de Colombo, porém, é a manutenção do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. Isso significa mais recursos para os mais pobres? Negativo, a ideia é redistribuir o montante atual, ou seja R$ 52,8 bilhões, mirando principalmente crianças e jovens.

O sistema teria três benefícios: um de R$ 45 reais por criança e jovem com menos de 18 anos de idade, universal e independente da renda
outro, de R$ 90 por criança de até quatro anos, pagos integralmente até a linha de elegibilidade e regressivo à medida que a renda aumentasse; 
e, finalmente, o terceiro, de R$ 44, pagos a todos na condição de extrema pobreza, com ou sem filhos.

Pautado por medidas disruptivas dos programas sociais, decisões ultraconservadoras em relação aos costumes, regressivas quanto ao meio ambiente e até mesmo obscurantistas em matéria de ciência, de educação e de cultura, o governo Bolsonaro não tem uma marca, exceto o dedo no gatilho no quesito segurança pública. Até mesmo a bandeira da ética, que embalou sua campanha e foi incorporada ao governo com a nomeação do ex-juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça, por causa do caso Queiroz, está sendo esgarçada. Do ponto de vista da política econômica, a reforma da Previdência e a anunciada política de privatizações não são uma bandeira popular. No curto prazo, é difícil reverter o cenário de 11,8 milhões de desempregados, segundo os últimos dados oficiais.

Nada garante que as reformas da Previdência e tributária resolvam esse problema no curto prazo, até porque a inflexão feita na política econômica, depois do fracasso da política nacional-desenvolvimentista do governo Dilma, foi a troca de uma breve política social-liberal no governo Temer pela estratégia ultraliberal. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, fez doutorado na famosa Escola de Chicago e acompanhou de perto a reforma econômica do governo Pinochet, como professor da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile, então sob intervenção, a convite de seu diretor, Jorge Seleme, secretário do Tesouro de Pinochet. Para ele, o mercado resolve.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O poder civil e os jabutis

“As exonerações em massa na Casa Civil, que tendem a se reproduzir em outras pastas, eram esperadas. Os cargos comissionados serão ocupados por quem venceu as eleições”


O sucesso de Jair Bolsonaro depende muito mais do poder civil do que do grupo de militares que cercam o presidente da República. Para ser mais claro, a médio e longo prazos, não é a retórica ideológica nem o esculacho da oposição que garantirão esse êxito, mas o desempenho dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro. Os generais terão um papel importante, principalmente para o governo não sair do próprio eixo, como parece acontecer no Itamaraty, mas isso dependerá também de suas concepções de gestão. Vamos por partes.

Paulo Guedes encontra uma casa arrumada do ponto de vista financeiro, não foi à toa que trouxe importantes integrantes da equipe econômica anterior para o time que montou, ainda que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ontem, tenha levantado dúvidas sobre a movimentação financeira do governo no último mês. Na máquina federal, a correria para fazer empenhos e efetuar pagamentos em atraso no último mês do ano fiscal é normal. O problema do governo é outro: o deficit fiscal. Não há possibilidade de retomar o crescimento e enfrentar o desemprego em massa sem a reforma da Previdência.

Ninguém se iluda, há um alinhamento político favorável ao sucesso da nova equipe econômica. Como defendeu Guedes, o “projeto liberal democrata” de Bolsonaro não vive o dilema de quem pega o violino com a mão esquerda e toca com a direita. “A aliança de centro-direita, entre conservadores, em princípios e costumes, e liberais na economia”, como definiu Guedes, é robusta, porque conta com o apoio da maioria da população. Enfrentará resistência das corporações, inclusive militar, mas o maior perigo é a recidiva do patrimonialismo dos que vivem à custa das rendas e benesses do Estado. Eles aparecem onde menos se espera.

Abrir a economia, privatizar as estatais, controlar gastos, reformar o Estado, desregulamentar, simplificar e reduzir impostos e descentralizar os recursos para estados e municípios não são um “estelionato eleitoral”. O governo foi eleito com essa pauta. Se vai dar certo é outra história, mas, desta vez, as chances realmente são maiores. E as políticas sociais? Bolsonaro somente prometeu prioridade para o ensino fundamental e a saúde das crianças, o resto vai jogar no colo dos estados e municípios. É a receita da Escola de Chicago, aplicada na Alemanha, no Japão e no Chile. No fim da guerra, com seus países em ruínas, alemães e japoneses estavam comendo ratos; no Chile de Pinochet, era chumbo mesmo. No Brasil, num cenário completamente diferente, o sucesso do projeto será um novo “case”.

Corrupção e violência
A outra perna do poder civil está no Ministério da Justiça, que nunca concentrou tanto poder e instrumentos de atuação como agora. Combate à corrupção e ao crime organizado são bandeiras de Bolsonaro sob a responsabilidade de Sérgio Moro, que também encontrou a casa arrumada, em particular, o recém-criado Sistema Unificado de Segurança Pública. Como levou para sua equipe os principais parceiros da Operação Lava-Jato, Moro também partirá de um patamar mais elevado no combate à corrupção.

A estratégia de endurecimento das penas e a política de liberação da compra de armas pelos cidadãos, condizentes com o discurso de Bolsonaro, garantem amplo apoio popular ao novo governo, mas têm eficácia duvidosa quanto aos presídios e às mortes violentas. Há estudos realizados no Brasil e, principalmente, nos Estados Unidos sobre isso. Na Califórnia, essa política fez explodirem a população carcerária e os gastos com manutenção de presídios.

E os militares? Essa é outra história. Se trabalharem com a centralização e a verticalização da gestão, como é da cultura mais tradicional de nossas Forças Armadas, de inspiração francesa e alemã, vão burocratizar e paralisar a administração. Ao contrário, se adotarem como método a coordenação e a cooperação, a grande influência norte-americana junto aos oficiais que integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial, vão ajudar o governo a melhorar sua performance administrativa e capacidade operacional.

Houve uma gritaria grande por causa das exonerações em massa na Casa Civil, que tende a se reproduzir em outras pastas, principalmente dos cargos comissionados. O ministro Onyx Lorenzoni justificou a decisão como uma necessidade de alinhamento com a nova política do governo. Os petistas já haviam sido desalojados com a saída da presidente Dilma Rousseff, exceto àqueles que aderem a qualquer governo. O estrilo da oposição não faz sentido, porque é até uma questão de respeito à vontade das urnas ocupar esses cargos com quem venceu as eleições. O ministro, porém, vai descobrir o que é um jabuti em cima da árvore. Como se sabe, jabuti não sobe em árvore, alguém pôs ele lá, como na velha fábula.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB



quarta-feira, 18 de julho de 2018

“Escolha cuidadosamente. E daí?”



Você pode estar votando contra o que pensa. Como se defender desse risco? Tendo sorte, talvez. Chamar os universitários não adianta

Vamos fazer de conta que todos os que se dizem candidatos vão mesmo ser candidatos (não vão ─ mas no Brasil acontecem tantas coisas estranhas que, de repente, pode até ser que os candidatos estejam falando a verdade).  O líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, lembra com saudades o regime militar, em que a presença do Estado na economia foi gigantesca. Já se manifestou em favor de mais Estado na economia. Mas seu principal guru econômico é Paulo Guedes, seguidor da Escola de Chicago, que defende menos Estado na economia e mais iniciativa privada.

Alckmin é do mesmo PSDB de Fernando Henrique, que privatizou a Vale, os telefones, muitas rodovias. Mas foi Alckmin que vestiu a jaqueta ridícula cheia de nomes de empresas estatais, num debate com Lula, para provar que era contra privatizá-las. O PSB inclui, em seu nome, a ideia socialista. Mas pode acabar apoiando Alckmin, que nada tem de socialista. Ou Ciro, que se diz de esquerda, mas foi quem implantou o Plano Real.

Lula não pode ser candidato, por causa da Lei da Ficha Limpa. Mas quer ser o candidato preferencial da esquerda. Em seu Governo, empreiteiras e banqueiros jamais ganharam tanto, nem foram tão agradecidos. O caro leitor escolhe com carinho o candidato que exprime suas ideias. Mas pode estar votando contra o que pensa. Como se defender desse risco?
Difícil: tendo sorte, talvez. Chamar os universitários não adianta.

A hora dos salgadinhos
A festa está começando: a convenção do PDT lança a candidatura de Ciro Gomes nesta sexta-feira. Quem será o vice? Depende: pode ser um socialista, do PSB, pode ser um conservador, do DEM. Pode ser Benjamin Steinbruch, dono da Companhia Siderúrgica Nacional, do PP. Alckmin não tem nomes: quer alguém do Nordeste, onde precisa crescer. Mas, gostaria de ter o paranaense Álvaro Dias, que bloqueia seu crescimento no Sul. E boa parte de seus aliados gostaria mesmo é de trocá-lo por João Doria Jr.

Lado A, lado B
Nem Lula está sossegado: Tarso Genro, que foi seu ministro, gostaria de ver o PT apoiando Guilherme Boulos, do PSOL (o partido de sua filha, Luciana Genro). E quem seria o vice de Lula, se pudesse ser candidato? Há dois palpites: Jaques Wagner e Fernando Haddad. Um dos dois, mais provavelmente Haddad, será indicado por Lula para candidato do PT.

Jair Bolsonaro deve ser lançado candidato oficialmente neste domingo, na convenção do PSL. Seu vice? Depois de pensar no senador Magno Malta, evangélico, e desistir (o partido de Malta é o PR, de Valdemar Costa Neto, que sabe direitinho quanto vale seu apoio), quer agora o general Augusto Heleno, PRP, que foi o primeiro comandante das tropas da ONU no Haiti, com trabalho elogiado, e comandante militar da Amazônia. Bolsonaro tem sete segundos de TV. Com o PRP, passa a 19 segundos.

Jacaré com cobra d’água
O presidente do diretório estadual do MDB de Minas, Antônio Andrade, que sugeriu um acordo com o DEM para apoiar Rodrigo Pacheco para o Governo, foi derrubado pelos deputados do partido. O MDB, partido de Michel Temer, está prontinho para aderir ao governador Fernando Pimentel, do PT, partido do Fora, Temer.

Renovação
O eleitor está cansado dos políticos? É verdade: está. Está desiludido? É verdade: está. E está disposto a mudar? Não, não está. Um balanço rápido mostra que a taxa de renovação no Congresso será reduzida. Às vezes irá ocorrer uma troca de nomes, mas de políticos conhecidos por políticos até mais conhecidos. Minas: os candidatos favoritos ao Senado são Aécio e Dilma. São Paulo: Suplicy. Bahia: Jaques Wagner. Goiás: Marconi Perillo (embora o candidato ao Governo Ronaldo Caiado, seu adversário político, tenha o triplo das intenções de voto do sucessor que indicou). Paraná: Roberto Requião e Beto Richa. Ceará: Cid Gomes, Eunício Oliveira.

Ótima notícia
A pedido do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, a presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, suspendeu a medida pela qual os operadores de planos de saúde poderiam cobrar dos segurados até 40% do valor das despesas. A decisão já vale, mas pode ainda mudar: o plenário do STF a analisará depois das férias judiciárias. Em sua decisão, Cármen Lúcia lembra que, mesmo editadas por entidades administrativas, as normas não podem violar ou inovar o que está na lei. Mais: nas palavras da ministra, “saúde não é mercadoria, vida não é negócio e dignidade não é lucro ─ ademais, direitos conquistados não podem ser retrocedidos sequer instabilizados”. Mas, é preciso tomar cuidado: quando o Estatuto do Idoso proibiu discriminação a quem tivesse 60 anos ou mais, os seguros-saúde e convênios passaram a multiplicar os preços quando o segurado faz 59 anos. [o diretor da ANS não gostou muito da intervenção do Judiciário e diz não ser aquela Agência órgão de defesa do consumidor - saiba mais.]



 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O tal “liberal-conservador” e três típicas acusações contra Jair Bolsonaro

Você que é conservador — entusiasta do modelo da civilização ocidental (moral cristã, filosofia grega e direito romano) e de um mercado regido por esses itens — não precisa mais pagar pedágio para liberal dizendo que é um ‘liberal-conservador’, do tipo que é ‘liberal na economia e conservador nos costumes’ (SIC), independente de que seja cristão, budista, ateu, etc., só por medo de parecer um esquisitão controlador, intervencionista, que flerta com o socialismo, ou um saudosista da ditadura militar…

Por que digo isso? Porque os conservadores sempre foram a favor de uma economia descentralizada/livre em detrimento de uma economia centralizada/planificada. Até mesmo os católicos mais familiarizados com a Doutrina Social da Igreja e que possuem sanidade mental preferem um modelo econômico mais parecido com o modelo americano do que com o cubano; preferem o modelo econômico do Vaticano ao modelo da Venezuela — eles sabem que o grau de influência do Estado em questões como a assistência aos mais pobres vai variar de acordo com o tipo de governo instalado no país em que vivem, mas também sabem que o ato da caridade também é um dever moral de todos os indivíduos que vivem nesta sociedade.

Nas palavras de Edmund Burke, os conservadores conservam aquilo que resistiu aos testes do tempo. E o modelo econômico que sobreviveu aos testes do tempo é o modelo econômico que privilegia as trocas voluntárias regidas por uma cultura moralmente elevada. Resistiu em detrimento de um modelo econômico em que o Estado proíbe totalmente o comércio (comunismo) e um modelo econômico de trocas imorais, dissociadas de um arcabouço culturalmente elevado (liberalismo/libertarianismo. Este último nunca existiu de tão utópico que é).

A Escola de Salamanca, nas figuras de Francisco de Vitoria, Domingo de Soto, Francisco Suárez e Tomás de Mercado, já alertava sobre a importância do mercado estar atrelado a valores morais desde o século XVI, antes mesmo de Adam Smith sonhar em nascer. O que liberais e libertários fizeram a seguir foi remover essa necessidade intrínseca entre mercado e moralidade e a coisa foi piorando com o passar do tempo. A Igreja, então, desenvolveu a sua Doutrina Social, que não pode ser chamada de terceira via, mas que traz certa luz ao problema, embora muitos religiosos, economistas e filósofos (como o professor Olavo) ainda se envolvam em discussões sobre o status quæstionis do tema.

A Escola de Salamanca, composta por monges católicos jesuítas, já sabia da eficácia do mercado décadas antes do surgimento dos liberais e de sua cria: os libertários. Por óbvia questão cronológica, a Escola de Salamanca é anterior à Escola Austríaca, à Escola de Chicago e aos Libertários adeptos dos delírios de Rothbard. Um católico que adere à ideologia liberal incorre em heresia.

Os monges jesuítas da Escola de Salamanca fizeram observações acertadas sobre a questão da Teoria do Valor já em 1.555 d.C.:
“O valor de uma coisa não depende da sua natureza objetiva, mas antes da estimação subjetiva dos homens, mesmo que tal estimação seja insensata” – Bispo Diego de Covarrubias, (Veterum collatio numismatum, 1555).

Não caiam em chantagem emocional e nem em pressão de grupos liberais em que vocês precisem se assumir liberais na economia a todo momento, porque um sujeito que é liberal na economia é um sujeito que também é um liberal social e cultural, a favor do comércio de drogas, de armas químicas, de explosivos, de órgãos humanos, de pessoas e até mesmo de bebês — em casos extremos de insanidade mental do liberal. Não preciso dizer que um conservador sabe que esse tipo de comércio prejudica a sociedade e que um conservador é cético e prudente quanto a isso, ?

Vejam o governo de Donald Trump. Ele fez o maior corte de impostos da história dos EUA e continua sendo um presidente conservador, defendendo os valores morais da cultura Ocidental, sem precisar se definir como ‘conservador nos costumes e liberal na economia’.  Dito isso, se a pessoa insistir nessa pataquada, saiba que está diante de um canalha do tipo isentão, que gosta de jogar nos dois lados e ser amigo de todo mundo, que é só mais um covarde que não assume uma posição.

Respondendo a algumas acusações contra Jair Bolsonaro

“Ainn, Bolsonaro é inculto”
Quando alguém chama Bolsonaro de inculto, geralmente é um libertário que acha que cultura é só Rothbard, Block e Hoppe; ou um liberal que acha que cultura é só Mises, Hayek e Friedman; ou um conservador estilo Alex Catharino que acha que cultura é só Kirk, Oakeshott e Burke (e que Jair tem que beber vinho importado).

As coisas são assim porque essas pessoas acreditam que cultura se resume ao material produzido exclusivamente pelos autores de suas ideologias preferidas, e só aquilo que confirma o pensamento deles constitui a verdade e a realidade. Até agora não vi leitores de Virgílio, Dante e Dostoievski cobrando cultura do Bolsonaro.

Interessante, não?
Jair Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Em 1977, concluiu o curso de formação de oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), e o curso de paraquedismo militar na Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro. Em 1983, formou-se em educação física na Escola de Educação Física do Exército, e tornou-se mestre em saltos pela Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro. Em 1987, cursou a Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
Ele pode não ser culto, mas não dá para comparar esse currículo com o de Dilma e Lula.
A prova dos Agulhas Negras é mais concorrida e difícil que o vestibular da USP.
É melhor “Jair” se acostumando.
* * *
“Ainn, Bolsonaro é o Lula com sinal trocado…”
Verdade… se olharmos pela perspectiva correta.
Lula: corrupto, de esquerda, progressista, filhos investigados por enriquecimento ilícito, cachaceiro.
Bolsonaro: ficha limpa, de direita, defende valores conservadores, filhos formados, com patrimônio compatível e que foram eleitos democraticamente, bebe Dolly Guaraná.

Até ontem os liberais estavam querendo vender o Dória como anti-Lula. Capa da Istoé, quem lembra? Que seria o anti-Lula senão o inverso dele, o seu oposto?

Eu até comentei com amigos que era bobagem o Bolsonaro querer reivindicar o papel do anti-Lula, porque o passo seguinte seria descartarem o Dória, chamar o Bolsonaro de ‘outro lado da mesma moeda’ (SIC), de extrema-direita, empurrando o Jair para a ponta do espectro político. Daí depois os liberais acusariam o perigo dos extremismos e diriam que Lula era a TESE, Bolsonaro a ANTÍTESE e o Alckmin seria a SÍNTESE redentora e salvadora. É a tal Janela de Overton.
Dito e feito.
* * *
“Ainn, Bossonaru é populixxxta”
Sim, com certeza…
Um sujeito que é contra COTAS, que é contra o programa MAIS MÉDICOS, que critica o BOLSA FAMÍLIA, que critica o MINHA CASA, MINHA VIDA, que critica o FIES, que critica o ENEM, que é inimigo número um da MÍDIA, que nunca foi elogiado na REDE GLOBO, que é odiado pela CLASSE ARTÍSTICA e que critica os empréstimos do BNDES é um baita de um populista, ?

É o populista do Bolsonaro que passou a fazer propostas irrealizáveis nos 45 minutos do segundo tempo, que é amado pelos colegas parlamentares, que tem vários amigos no Senado, na Câmara, no STF, e que promete realizar um paraíso na Terra só para ganhar voto e militância, ?

Engraçado, eu pensava que ser popular era apenas escutar as demandas do povo, fazer propostas realistas dentro do campo da possibilidade, e dizer que irá tentar realizá-las se eleito, mas parece que o significado mudou e fazer essas coisas agora é populismo.

Popular mesmo é o Lula, o Amoedo, o Alckmin, o Meirelles, que são recebidos por milhares de pessoas em aeroportos e eventos por todo o Brasil, que as pessoas mandam fazer camisas com os seus rostos estampados, que as pessoas adesivam o carros com seus rostos, que as pessoas tiram dinheiro do próprio bolso para espalhar outdoors pelo Brasil, ?
(Se você não sabe a diferença entre popularidade e populismo, seu direito de opinar é zero.)