A
Petrobras tem desafios de longo prazo, em um mundo em transição para novas
energias, e problemas de curtíssimo prazo para enfrentar: o do aumento da
incerteza jurídica no país. O presidente da estatal, Ivan Monteiro, acaba de
voltar de Londres e Paris, de conversas com empresas de petróleo. Ouviu que há
muito interesse no Brasil, mas muitas dúvidas. Uma delas é sobre o que acontecerá
com os preços.
Outro
problema é o da suspensão da venda de ativos, que interrompeu o programa de
desinvestimento que pretendia atingir US$ 21 bilhões até o fim deste ano para a
redução da dívida. — A
Petrobras tem a maior dívida corporativa do mundo, apesar de toda a redução que
já ocorreu. E tem uma parcela de pagamento de juros anual muito expressiva que
chega a US$ 7,5 bilhões. Isso equivale a todo um sistema de produção do
pré-sal. A Petrobras deixa de fazer um sistema de produção no pré-sal para
honrar o pagamento de juros da dívida. Isso é insustentável a médio e longo
prazo — afirmou Ivan Monteiro, em entrevista no meu programa na Globonews.
Ivan
Monteiro assumiu no meio da crise do preço do diesel, na greve do transporte de
carga, quando Pedro Parente se demitiu durante as grandes críticas à fórmula de
reajuste dos preços dos combustíveis. Monteiro disse que a Petrobras aderiu às
regras do subsídio, que prevê a redução do preço, mas ainda não recebeu
ressarcimento: — A
expectativa é que a empresa seja ressarcida, não só ela, mas todas as empresas
que aderiram.
A
importação de diesel caiu desde a crise, porque empresas privadas deixaram de
importar o produto. A Petrobras vai aumentar a sua capacidade de produção nas
refinarias, porque estava com redução da utilização da capacidade, pela
competição com o produto importado. — Viemos
de uma experiência do passado que foi muito ruim para a companhia, quando houve
intervenção na liberdade que a Petrobras tem de fixar preços. O projeto de
recuperação da saúde financeira da empresa tem quatro pilares, um deles é o da
política de preços.
A liminar
concedida pelo ministro Ricardo Lewandowsky, que paralisou a venda de ativos da
empresa, levou a uma espécie de audiência pública sobre o tema, e Monteiro
disse que a empresa vai participar para mostrar a importância das vendas
programadas.
— Um dos
projetos era a venda das refinarias, que são dois clusters, cada um com duas
refinarias, onde a Petrobras se tornaria minoritária, vendendo 60%. Isso é
muito importante porque nós queremos aumentar a competição no refino. A
produção aqui no Brasil tem a competição do produto importado, mas com a venda
do controle dessas refinarias efetivamente se iniciaria o processo de quebra do
monopólio da produção — explicou.
Nem todos
os processos de venda foram paralisados, apenas os que envolvem a transferência
de controle. No caso da Braskem, a Petrobras está negociando com a empresa
holandesa LyondellBasell a venda da sua participação e do prêmio de controle.
Ivan Monteiro disse que a empresa está analisando as duas possibilidades, ou
vender as suas ações ou ficar na empresa se tornando sócia de um player global
na área. A
Petrobras vai recorrer da ação trabalhista de R$ 17 bilhões que perdeu no TST,
assim que for publicado o acórdão. Monteiro disse que tomará todas as medidas
para defender a empresa. Admite que este é um dos problemas que elevaram a
insegurança jurídica da empresa, que se transforma em taxas de juros maiores
cobradas das empresas pelos financiadores.
As
empresas de petróleo já estão mirando o mundo das novas energias, quando fazem
seu planejamento estratégico. A Petrobras fará um agora no fim do ano. Segundo
Ivan Monteiro, haverá investimentos em energia solar e eólica, tanto em terra
quanto no mar, aproveitando a estrutura das plataformas. Mas ele acredita que o
pré-sal é tão competitivo que outros centros de produção serão abandonados
antes do nosso nessa redução do uso do petróleo no futuro. Além disso, o Brasil
tem muito gás associado a petróleo no pré-sal, que será usado como energia de
transição. Mas a Petrobras quer trabalhar junto com a norueguesa Equinor,
ex-Statoil, para a produção de energia renovável em alto mar.
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