Sitiado por denúncias e críticas no próprio partido, Fernando Pimentel sonha com a reeleição no governo de Minas, mas enfrenta dificuldades para sair à rua em campanha
Três invernos
atrás era festejado como símbolo da renovação do Partido dos Trabalhadores.
Hoje se vê sitiado pelos antigos aliados do partido e do sindicalismo no setor
público, que há 30 meses incitam greves em protestos contra privatizações e
atrasos nos salários. Fernando
Pimentel, governador de Minas Gerais, é caso curioso de político que sonha com
a reeleição em outubro, mas enfrenta dificuldades para sair à rua em campanha.
Coleciona denúncias por corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e
caixa 2 eleitoral, e, ao mesmo tempo, administra um estado virtualmente falido,
com o funcionalismo em convulsão.
Semana
passada, grevistas invadiram os jardins do Palácio da Liberdade, onde ele se
entretém no desenho de ideias para resgatar sua administração do naufrágio —
elas têm sido exorcizadas pelo próprio partido, sob a premissa da rejeição ao
“neoliberalismo”.
Minas
gasta com funcionalismo o equivalente à receita de uma companhia como a Vale.
Foram R$ 49,8 bilhões no ano passado, 13% mais do que conseguiu arrecadar em
tributos. A
principal fonte de renda do estado, o ICMS, não cobre o gasto com os quase 400
mil servidores, que consumiram R$ 42 bilhões.
Desde
2015, Pimentel aumentou custos de pessoal em cerca de 20%. Decretou calamidade
financeira logo no primeiro ano de governo. E se tornou refém de uma folha de
pagamentos onde a Polícia Militar (R$ 10,5 bilhões) custa 25% mais que os
serviços de Educação. O gasto
com servidores na Educação supera a despesa com pessoal das maiores empresas
privadas de Minas. Deve aumentar na próxima semana, quando a Assembleia aprovar
reajustes retroativos (até 14%) para os professores. Entre eles, há 96 mil
temporários. Sua incorporação é reivindicação antiga, mas foi bloqueada na
Justiça pelo PT de Pimentel, anos atrás.
Pesado,
também, é o custo do Judiciário mineiro (R$ 4,5 bilhões). A despesa com a folha
já ultrapassa o valor anual da arrecadação de outro imposto estadual, o IPVA.
São 24 mil servidores trabalhando com três processos pendentes para cada caso
novo registrado.
A Justiça
estadual sustenta um expressivo número de privilegiados entre os 978 juízes,
com rendimento mensal acima de R$ 50 mil. O recorde em maio foi de um juiz
aposentado que recebeu remuneração de R$ 387.346,67. Equivale a R$ 12,9 mil por
dia de aposentadoria, ou R$ 537,5 por hora de inatividade.
Pimentel
procura alternativas. Tentou vender a sede administrativa do governo (290 mil
metros quadrados) e parte das ações da empresa de saneamento (Copasa), promover
concessões em metrô, aeroportos, estradas, presídios e escolas e centros de
saúde.
Não
conseguiu. Agora insiste numa obscura operação com debêntures de R$ 2 bilhões e
a estatal Codemig, que recebe 25% da receita de produção de nióbio, um metal
raro no mundo, mas abundante em Araxá (MG), e que é essencial à indústria de
alta tecnologia.
Nessas
iniciativas, seu maior adversário tem sido o próprio partido. A uma dúzia de
semanas da eleição, o PT já não reconhece “Jorge”, antigo militante da
guerrilha VAR-Palmares, olha para Pimentel, candidato à reeleição, e enxerga um
petista privatizador. [Pimentel também é acusado de ser consultor fantasma - recurso utilizado por políticos corruptos para lavar dinheiro de propina;
sempre foi atabalhoado o atual governador de Minas, até nos seus tempos de terrorista - tentou sequestrar o embaixador americano e foi atropelado pelo quase sequestrado.]
José Casado, jornalista - O Globo
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