Entre as
muitas dúvidas a pairar nestas eleições de contornos inéditos, há pelo menos
duas certezas neste momento. A primeira é que o candidato do PSL, Jair
Bolsonaro, é o único com vaga assegurada no segundo turno. A outra é que o
volume da campanha subiu de tom desde a saída de cena do ex-presidente e atual
presidiário Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) negar o registro da candidatura do petista, o congestionamento de
candidatos à Presidência da República se dava entre as vozes mais comedidas do
espectro ideológico — o Datafolha de 22 de agosto mostrava Geraldo Alckmin
(PSDB) e Marina Silva (Rede) empatados tecnicamente atrás de Bolsonaro e
seguidos por Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo),
todos com desempenho de um dígito.
Agora, o cenário passou a ser de
polarização. Bolsonaro, Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), donos dos
discursos mais extremados da campanha, hoje acumulam juntos quase 50% das
intenções de voto, o equivalente a 60% dos votos válidos. Já os cinco
candidatos mais próximos do centro têm apenas 30% das intenções, ou 40% dos
votos válidos. Tecnicamente, porém, Haddad, Ciro, Alckmin e Marina estão
empatados.
Desses
últimos, Haddad é o que tem hoje mais chances de crescer. E não apenas porque
registra um baixo índice de rejeição entre os candidatos mais bem posicionados,
mas sobretudo pelo imenso potencial de votos que pode vir a colher no Nordeste,
reduto de seu padrinho. Caso o poste de Lula consiga 45% dos votos na região [lembrando que por absoluta falta de autoestima, Haddad foi rebaixo de poste a LARANJA de Lula] —
meta considerada modesta diante do histórico petista, acima de 50% nas duas
últimas eleições —, isso significará que aos atuais 9 pontos que detém, segundo
o Datafolha, Haddad acrescerá 10 pontos, chegando a 19% — um capital e tanto
quando se leva em conta a fragmentação da atual disputa eleitoral. [oportuno lembrar que apesar de 'engessado', Haddad tem grandes chances de catalisar o voto útil.]
O
espetáculo armado para selar a candidatura de Haddad foi planejado por Lula. O
ex-presidente atribuiu a Ricardo Stuckert, seu fotógrafo e amigo, a missão de
transformar o anúncio, que já era esperado fazia mais de um mês, em um ato
histórico — ainda que, ao final, o evento não tenha reunido mais que 500
pessoas. Desde que foi preso, em abril, o petista cultiva a ideia de construir
símbolos e mitos em torno de si. Da cela de 15 metros quadrados da
Superintendência da Polícia Federal, ordenou: “O anúncio tem de ser aqui onde
eu estou. O mundo inteiro precisa ver isso”. Até então, a direção do PT
planejava oficializar a troca de Lula por Haddad num evento com a presença de
intelectuais e estudantes no teatro da Pontifícia Universidade Católica (PUC),
em São Paulo.
Na tentativa
de conquistar a militância petista e os votos que eram do ex-presidente, Haddad
tem escolhido como alvo o setor financeiro. Na quinta-feira 13, em comício no
centro de Osasco, na Grande São Paulo, defendeu a volta dos subsídios
governamentais para os combustíveis, “como no governo Lula”. [os eleitores que gostam de subsidios devem ter presente o péssimo resultado da eletricidade mais barata - nos tempos de Lula e Dilma, pagaram menos pela energia e agora, em plena recessão, estão tendo que devolver com acréscimo o que receberam.] Semanas antes,
dissera em um encontro com comerciantes, em Brasília: “Temos de dar um basta à
oligopolização dos bancos, e isso não virá sem dor para os banqueiros”. Em
privado, Haddad vem suavizando parte de seu discurso.
Ele falou ainda em soltar presos que tenham cometido pequenos delitos, “para
sanar a lotação carcerária”, e convocar referendos e plebiscitos para decidir
questões de interesse nacional, como a participação da Petrobras no pré-sal. [lembrem-se que o que f ... a Venezuela foram os plebiscitos e referendos. Para transformar o Brasil em Venezuela, é só adotar o governo plebiscitário - não esqueçam que o Brasil não tem em sua fronteira um Brasil.]
Único
candidato a visitar até agora os nove estados do Nordeste, Haddad deve voltar à
região a partir desta semana. Será o epicentro de sua campanha. Ele viajará
acompanhado da ex-diretora de jornalismo da Rede Globo Olga Curado, encarregada
de amenizar sua dicção acadêmica e seu sotaque paulistano, além de ensiná-lo a
emular a fala nordestina, sem artigos definidos, e fazê-lo aparecer no horário
eleitoral com chapéu de cangaceiro.
Ciro
Gomes, que rivaliza com Haddad no campo da esquerda, sinalizou que aumentará a
estridência dos ataques também à direita. Em sabatina feita pelo jornal O
Globo, na quarta-feira 12, chamou o vice de Bolsonaro, general Hamilton
Mourão, de “jumento de carga”, e disse que, se fosse presidente, teria demitido
e posto “em cana” o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Dias
antes, Villas Bôas dissera em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo
que o ambiente político conflagrado poderia deixar sob questionamento a
“legitimidade” do próximo governo. Na outra ponta da linha, cada vez mais
estirada, o “jumento de carga” não deixou por menos e aventou a hipótese de que
o novo presidente dê um “autogolpe”.
Em meio à
desidratação do discurso moderado, Alckmin e Marina, afirmam analistas, só
terão possibilidade de sobreviver na disputa se capturarem o voto útil de quem
não quer nem a volta do PT nem a vitória de Bolsonaro. Por esse ângulo, o
tucano pode ter mais chance de crescer do que a candidata da Rede. Isso porque,
ao contrário de Marina, Alckmin não vem caindo nas pesquisas. Além disso, ele
tem as vantagens da grande estrutura partidária e dos espetaculares cinco
minutos diários de tempo de TV. “Se Alckmin apresentar, nas próximas semanas, um
crescimento de 3 ou 4 pontos, ultrapassará Marina e ficará emparelhado com
Ciro, tornando-se mais competitivo para receber o voto útil. É uma eleição que
será definida nos últimos dias”, afirma Pereira, da FGV. Marina, por sua vez,
pode voltar ao jogo se conseguir atrair o voto dos indecisos, que somam hoje 7%
dos eleitores, segundo o Datafolha. Atualmente, o grupo de indecisos é composto
majoritariamente de mulheres das classes C e D, justamente as camadas da
população em que a ex-senadora tem seu melhor desempenho.
Colaborou Roberta Paduan - Veja
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