Para crescer no segundo turno, PT quer Haddad ‘independente’
Cobrança antiga de aliados e de setores internos, partido quer buscar votos além do eleitorado fiel ao ex-presidente Lula para vencer Bolsonaro
Com Fernando Haddad garantido na disputa de segundo turno pela Presidência da República, o conselho político de campanha do PT concordou em usar as próximas semanas para construir a imagem de um candidato independente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e levar o ex-prefeito de São Paulo a assumir as rédeas da campanha e impor seu discurso.
A nova postura da campanha era uma cobrança de aliados e de parte do PT, mas enfrentava resistência de alas do partido que acreditavam que a transferência de votos do ex-presidente ainda não estava finalizada. O movimento funcionou, especialmente no Nordeste, região onde o PT tem tradicionalmente uma boa votação. Haddad ganhou em oito dos nove estados, exceto no Ceará, reduto eleitoral de Ciro Gomes (PDT). O petista ganhou ainda no Pará.
A diferença de votos a favor de Bolsonaro – cerca de 18 milhões de votos – e a situação “difícil” para o segundo turno levou o PT a reavaliar a estratégia a partir de agora. Ex-governador da Bahia e senador eleito pelo estado, Jacques Wagner, antes cogitado como um possível candidato do PT à Presidência, pediu um presidenciável de mais personalidade no segundo turno.
“O Haddad chega ao segundo turno como a substituição do Lula. Agora o Haddad do segundo turno é o Haddad”, disse Wagner após a reunião em São Paulo que o confirmou na coordenação da campanha do ex-prefeito da capital paulista ao Planalto. Ele destacou que é impossível “descolar” do ex-presidente, mas que “ninguém vive só do que foi”. “Agora é hora de o Haddad dizer ‘o meu programa de governo’.”
A ideia da campanha não é esconder ou esquecer o ex-presidente, mas reafirmar Haddad como candidato, mostrar o currículo e sua capacidade e encontrar seu próprio discurso. O próprio Lula deu liberdade a Haddad para desenvolver sua identidade como candidato, conversar com diferentes partidos, sem se limitar à centro-esquerda e tentar formar uma frente democrata, contou uma fonte.
Outra estratégia do partido é tentar ampliar alianças para fora dos já esperados PDT, de Ciro Gomes, PSB e PSOL, mesmo que seja recebendo apoios individuais. Wagner, encarregado de fazer esses contatos, aponta para a possibilidade de adesões individuais, além de partidos. Ele reforçou que é possível buscar apoios do PSDB e de antigos adversários que queiram derrotar Jair Bolsonaro (PSL).
“Muita gente, na minha opinião, que não é petista, que não é lulista, mas que é amante da democracia sabe que de um lado tem alguém que fala uma porção de impropérios. A gente precisa de todo mundo que queira consertar problemas do presente sem que seja essa beligerância declarada. Na bala ninguém vai resolver nada”, disse o senador eleito.
Estadão Conteúdo e Reuters
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