A vantagem de Bolsonaro mostra onde está, de fato, a rejeição
Durante
as próximas três semanas você vai ler, ver e ouvir um oceano de explicações
perfeitas sobre o que aconteceu nas eleições deste domingo – e em todas elas,
naturalmente, os cérebros da análise política nacional dirão ao público o
quanto acertaram nos seus pronunciamentos durante a campanha eleitoral, embora
tenha acontecido em geral o contrário de quase tudo que disseram. A mesma
cantoria, com alguns retoques, deve ser feita daqui para frente para lhe
instruir em relação ao desfecho do segundo turno, no próximo dia 28 de outubro.
Em favor da economia de tempo, assim, pode ser útil anotar algumas realidades
básicas que o primeiro turno deixou demonstradas.
1 – A grande
força política que existe no Brasil de hoje se chama antipetismo. É isso que
deu ao primeiro colocado, Jair Bolsonaro, 18 milhões de votos a mais que o
total obtido pelo “poste” do ex-presidente Lula. Esqueça a “onda conservadora”,
o avanço do “fascismo”, as ameaças de “retrocesso” – bem como toda essa
discussão sobre homofobia, racismo, machismo, defesa da ditadura e mais do
mesmo. Esqueça, obviamente, a força do PSL, que é nenhuma, ou o esquema
político do candidato, que não existe. O que há na vida real é uma rejeição
tamanho gigante contra Lula e tudo o que cheira a Lula. Quem melhor soube
representar essa repulsa foi Bolsonaro. Por isso, e só por isso, ficou com o
primeiro lugar.
2 – O PT,
como já havia acontecido nas eleições municipais de 2016, foi triturado pela
massa dos eleitores brasileiros. Seu candidato a presidente não conseguiu mais
que um quarto dos votos. Os candidatos do partido a governador nos Estados de
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul tiveram votações ridículas.
Todos os seus candidatos “ícone” ao Senado, como Dilma Rousseff em Minas
Gerais, Eduardo Suplicy em São Paulo e Lindbergh Farias no Rio de Janeiro foram
transformados em paçoca, deixando o PT sem um único senador nos três maiores
colégios eleitorais do Brasil. Mais uma vez, o partido só tem a festejar a
votação no Nordeste – e mais uma vez, ali, aparece aliado com tudo que existe
de mais atrasado na política brasileira.
3 – A
força política de Lula, que continua sendo descrito como um gênio incomparável
no “jogo do poder”, é do exato tamanho dos resultados obtidos nas urnas pelo
seu “poste”. As mais extraordinárias profecias vêm sendo repetidas, há meses,
sobre a sua capacidade de “transferir votos” e a sua inteligência praticamente
sobre-humana em tudo o que se refere à política. Encerrada a apuração, Lula
continua exatamente onde estava – trancado num xadrez em Curitiba e com muito
cartaz do “New York Times”, mas sem força para mandar em nada.
4 – Os
institutos de “pesquisa de intenção de voto”, mais uma vez, fizeram previsões
calamitosamente erradas. Dilma, segundo garantiam, ia ser a “senadora mais
votada do Brasil”. Ficou num quarto lugar humilhante. Suplicy, uma espécie de
Tiririca-2 de São Paulo, também era dado como “eleito”. Foi varrido do mapa. Os
primeiros colocados para governador de Minas e Rio de Janeiro foram ignorados
pelas pesquisas praticamente até a véspera da eleição. Tinham 1% dos votos, ou
coisa que o valha. Deu no que deu.
5 – O
tempo de televisão e rádio no horário eleitoral obrigatório, sempre tido como
uma vantagem monumental — e sempre vendido a peso de ouro pelas gangues
partidárias — está valendo zero em termos nacionais. Geraldo Alckmin tinha o
maior espaço nos meios eletrônicos. Acabou com menos de 5% dos votos. Bolsonaro
não tinha nem 1 minuto. Foi o primeiro colocado. Parece não valer mais nada,
igualmente, a propaganda fabricada por gênios do “marketing eleitoral” da
modalidade Duda Mendonça-João Santana – caríssima, paga com dinheiro roubado e
criada numa usina central de produção. A votação de Bolsonaro foi construída
nas redes sociais, sem comando único e sem verbas milionárias.
Daqui até
28 de outubro o público será apresentado a outras previsões, teoremas e choques
de sabedoria. É bom não perder de vista o que acaba de acontecer antes de
acreditar no que lhe anunciam para o futuro.
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