'Bolsonaro não é volta dos militares, mas há o risco de politização de quartéis', diz Villas Bôas
Para o comandante do Exército, o presidente eleito é mais político do que militar
Leiam a
excelente entrevista concedida pelo general Eduardo Villas Bôas,
comandante do Exército, a Igor Gielow na Folha deste domingo. O general
afirma que a eleição de Jair Bolsonaro “liberou uma energia, algum
nacionalismo que estava latente e que não podia ser expresso” e vê,
nesse particular, algo positivo.
O general
observa que Bolsonaro é um político, não um militar no poder. Na
verdade, ele se preocupa com o risco de politização dos quartéis e é
explícito: “Alguns militares foram eleitos, outros fazem parte da equipe
dele, mas institucionalmente há uma separação. E nós estamos
trabalhando com muita ênfase para caracterizar isso, porque queremos
evitar que a política entre novamente nos quartéis.”
O
comandante do Exército reconhece aspectos “meio messiânicos” no discurso
de Bolsonaro e aponta que, em certas áreas, o presidente eleito ainda
esta apenas “tateando” — é o caso, por exemplo, da política externa.
E os
discursos mais agressivos de Bolsonaro, alguns evidenciando intolerância
com instâncias da democracia? Villas Bôas considera que é “marketing” e
aposta: “O país está amadurecido, tem um sistema de freios e
contrapesos que não permite que essas coisas prosperem a ponto de
ameaçar a eficiência do processo democrático.”
Leiam trechos da conversa.
*
(…)
O sr. esteve com o presidente na terça (6). Como foi a conversa?
Era mais uma visita de cortesia. Tivemos uns dez minutos de conversas específicas. Aqui no Exército será alguém da turma dele, e os quatro generais mais antigos são da turma dele. Sugeri que colocasse um civil na Defesa. Com o ministério com tantos militares, teria um equilíbrio interessante. Mas ele insistiu que fosse um oficial-general de quatro estrelas.
Era mais uma visita de cortesia. Tivemos uns dez minutos de conversas específicas. Aqui no Exército será alguém da turma dele, e os quatro generais mais antigos são da turma dele. Sugeri que colocasse um civil na Defesa. Com o ministério com tantos militares, teria um equilíbrio interessante. Mas ele insistiu que fosse um oficial-general de quatro estrelas.
Eu sugeri que o general [da reserva
Augusto] Heleno fosse para o GSI [Gabinete de Segurança Institucional], e
ele já estava com essa ideia na cabeça.
Daí falamos um pouco sobre política
externa, questionei quem eles tinham em mente para o Itamaraty. Achei
curioso, eles estavam em um nível bem superficial, com vários nomes,
inclusive de pessoas que eles não conheciam e estavam prospectando.
Senti que em alguns setores eles estão com a coisa bem definida, e em outros, ao contrário, estão tateando.
Bolsonaro
é o primeiro militar eleito pelo voto direto desde 1945, é o primeiro
no poder desde o fim da ditadura. Como o Exército vê um membro de seus
quadros hoje na Presidência?
A imagem de Bolsonaro como militar é uma imagem que vem de fora. Ele saiu do Exército em 1988. Ele é muito mais um político. Ele foi muito hábil quando saiu para se candidatar a vereador, passou a gravitar em torno dos quartéis, explorando questões que diziam ao dia a dia dos militares. Ele nunca se envolveu com questões estruturais da defesa do país. Mas aí criou-se essa imagem de que ele é um militar.
A imagem de Bolsonaro como militar é uma imagem que vem de fora. Ele saiu do Exército em 1988. Ele é muito mais um político. Ele foi muito hábil quando saiu para se candidatar a vereador, passou a gravitar em torno dos quartéis, explorando questões que diziam ao dia a dia dos militares. Ele nunca se envolveu com questões estruturais da defesa do país. Mas aí criou-se essa imagem de que ele é um militar.
Estamos tratando com muito cuidado essa
interpretação de que a eleição dele representa uma volta dos militares
ao poder. Absolutamente não é.
Alguns militares foram eleitos, outros fazem parte da equipe dele, mas institucionalmente há uma separação.
E nós estamos trabalhando com muita
ênfase para caracterizar isso, porque queremos evitar que a política
entre novamente nos quartéis.
(…)
Desde que o presidente foi
eleito, ele tem buscado fazer gestos simbólicos de deferência à
Constituição e à democracia. Ao mesmo tempo, ele tem feito ameaças
explícitas a órgãos de imprensa, como este jornal e outros, que não
falem o que ele considera ser a verdade. Aliás, ele sempre fala em
verdade…
Uma coisa meio messiânica, né?
Uma coisa meio messiânica, né?
Isso. Mas enfim, é compatível a defesa da democracia e esses chutes na canela de instituições que fazem parte da democracia?
Acho que, se nós olharmos da perspectiva dele, esse é um marketing que ele faz em torno de si, que explora. Eu não creio que ele vá materializar isso a ponto de ameaçar o funcionamento das instituições. O país está amadurecido, tem um sistema de freios e contrapesos que não permite que essas coisas prosperem a ponto de ameaçar a eficiência do processo democrático. (…) Íntegra aqui
Acho que, se nós olharmos da perspectiva dele, esse é um marketing que ele faz em torno de si, que explora. Eu não creio que ele vá materializar isso a ponto de ameaçar o funcionamento das instituições. O país está amadurecido, tem um sistema de freios e contrapesos que não permite que essas coisas prosperem a ponto de ameaçar a eficiência do processo democrático. (…) Íntegra aqui
Blog do Reinaldo Azevedo
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