Principal conselheiro e facilitador das medidas a serem adotadas pelo presidente eleito
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, vem acumulando “golaços” aos
olhos de seus principais interlocutores. Para alguns entusiastas, a ida
do general Augusto Heleno para o Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) foi o principal deles. O perfil conciliador e estrategista do
militar é avaliado dentro da equipe de transição como a ferramenta que
faltava para otimizar as engrenagens no Palácio do Planalto.
A
expectativa de Bolsonaro é de que Heleno cumpra mais do que as funções
típicas de um ministro-chefe do GSI: cuidar da segurança pessoal do
presidente da República, prevenir crises e evitar potenciais riscos à
estabilidade institucional. O general será, também, um conselheiro e
mediador. A palavra final das principais políticas a serem adotadas
ficará a cargo de Bolsonaro, mas determinados assuntos caberão ao futuro
ministro.
Sabedoria
Carta branca
A liderança exercida por Heleno ao longo da carreira militar, na
coordenação política durante a campanha e agora, no período de
transição, o credencia a mediar as relações entre ministros.
Interlocutores avaliam que Bolsonaro não vai arbitrar tudo e pode deixar
que Heleno o auxilie a resolver eventuais desavenças na equipe
ministerial. A ida dele para o GSI, cujo gabinete fica no Planalto, é um
facilitador. Se o general ficasse no Ministério da Defesa, como era
cogitado até o início da semana passada, a missão seria até
geograficamente mais complicada.
O perfil de
conselheiro é uma das principais qualidades dele, reconhecida pelo
próprio Bolsonaro. Em chamada de vídeo ao vivo na sexta-feira, o
presidente eleito disse estar “felicíssimo” com a ida do general para o
GSI. “Estará do meu lado. Quem não quer um jovem que está com 70 anos
para te aconselhar? Um homem que serviu por quase 50 anos o Exército,
comandou a Amazônia e esteve no Haiti?”, declarou.
Muitas
das decisões do presidente eleito são adotadas com o aval de Heleno. O
recuo na intenção de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel
Aviv para Jerusalém tem dedo do futuro ministro. O mesmo vale para a
opção em manter o Acordo de Paris, tratado que versa sobre medidas de
redução de emissão de dióxido de carbono a partir de 2020. A aproximação
do pesselista com a China, depois de acenos a Taiwan, também.
A
escolha do ministro das Relações Exteriores terá participação efetiva
de Heleno, cravou o cientista político Paulo Kramer, colaborador da
equipe de transição de Bolsonaro. “O presidente o ouve muito, e isso é
bom. Jair junta a expertise e a sabedoria do general ao grupo”,
destacou. “Ele certamente vai atuar naquilo que o presidente tiver
necessidade que atue, mas, sem, jamais, tirar a autoridade dos seus
colegas de equipe, digamos assim. Ele sempre será uma voz de moderação.”
Ministros
de Bolsonaro podem esperar por uma moderação afável, porém firme. A
deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) conhece Heleno há 18 anos e
reforça que ele é enérgico até com o próprio presidente eleito. “Heleno é
adaptável e não vai ficar enrolando. É direto e comandou muita gente
assim. Não espero algo diferente dele como ministro”, disse.
A
atuação de Heleno, inegavelmente, também se estenderá à área política. A
agenda proativa no setor, no entanto, ficará a cargo do futuro ministro
da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O cientista político Antônio Flávio
Testa, integrante da equipe de transição, ressalta que ele será alguém
que Bolsonaro poderá recorrer para a tomada de decisões importantes e
até dilemáticas. “Não será alguém que ficará cuidando de assuntos
pequenos. Estará acima dos assuntos do dia a dia, resolvendo crises
internas”, pondera.
O futuro ministro do GSI
desfrutará de um poder que nem todos os auxiliares de Bolsonaro terão: o
da “maçaneta”. Testa assegurou que ele ganhará carta branca para entrar
no gabinete presidencial na hora que quiser, prerrogativa que poucos
ministros têm. No governo do presidente Michel Temer, essa figura é
ocupada, sobretudo, pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e
pelo ministro de Minas e Energia, Moreira Franco. Na gestão da então
presidente Dilma Rousseff, essa autoridade era exercida, sobretudo, por
Aloizio Mercadante, quando comandou a Casa Civil.
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